Bayonetta é "pervertido" na medida certa? Impressões de um sucesso infalível!

“Perversão” é uma palavra complicada.  Muitas vezes ela é usada de forma pejorativa, maldosa e chegando até, em casos extremos, a ser até equiparada como uma doença. Não leve a utilização desse termo nesse texto desta forma mais extremista da palavra. Perversão também aquilo que é anormal à um grupo. E se o mundo todo fosse normal, não haveria graça alguma nele. Todos somos um pouquinho anormais perante a visão de algumas pessoas. O próprio conceito de anormalidade é mutável ao longo da história da humanidade.

Ressalvas feitas, é hora de falar de Bayonetta. O game realmente traz alguns elementos que não são tão habituais assim nos videogames. Não que isso o torne politicamente incorreto, pois ele não tenta em nenhum momento parecer algo que possa realmente existir, lembrando mais um “conto de fadas” feito especificamente para o público adulto.

Mas se fosse apenas isso, Bayonetta não seria um game brilhante. Ele é brilhante graças à experiência e a genialidade da PlatinumGames ao trazer um gameplay viciante, numa estrutura de fases cinematográficas e numa fórmula que visualmente é fantástica, atrelado a um sistema de jogabilidade diversificado e divertido.

Climax ininterrupto?

Foi essa a idéia principal que tive jogando as primeiras horas de Bayonetta. O game começa de forma tensa, continua assim por um bom números de capítulos e praticamente dobra todo o clímax criado quando você chega ao fim do game. É um game que te deixa com níveis de adrenalina lá no alto do começo ao fim. E olha que não é fácil um game tirar o fôlego do jogador assim desta maneira.

Só a título de comparação, enquanto Assassin’s Creed II tem uma curva de aprendizado lento, que leva horas e mais horas, até que o personagem aprenda a lutar, esconder, esquivar etc. Em Bayonetta o jogador despenca numa tela de apresentação onde já está rolando uma luta intensa entre alguns personagens da história do game. Claro que nessa tela não há barra de energia e não é possível morrer. Você cai ali só para ir testando combos e botões enquanto a história continua sendo narrada ao fundo e você possa já ir sentido o gostinho do que lhe espera a seguir. Mas é assim, Bayonetta já dá o garfo e a faca ao jogador desde o início do primeiro minuto do game e pede para ele se virar como puder.

É realmente interessante isso. Jogadores casuais ou não habituais podem se sentir sufocados num game assim, mas a Platinum parece que realmente não estava a fim de ensinar o “alfabeto” aos jogadores. Você aprende a jogar Bayonetta no velho estilo aperte e veja o que acontece. Claro que algumas coisinhas vão sendo explicadas com o tempo, como o poder de parar o tempo por alguns segundos ao se desviar de um golpe no momento exato ou dos métodos de torturas que gastam a barra de magia. Mas fora isso, caso o jogador queira testar os combos e golpes, só mesmo na tela de loading (onde é possível travar ela, apertando “back” no controle do X360) e ficar ali só testando até onde vai a complexidade dos golpes. Uma lista de combos nessa tela também será extremamente útil mais à frente, quando você perceber que apenas uma única sequência de combos não dá para ir muito longe.

Conotações sexuais e uma bela protagonista!

Uma outra prova de que o game não foi desenvolvido para qualquer um, é o teor sexual do mesmo, mostrando que não é brincadeira o selo “mature” (+18 anos) estar estampado em sua capa. Não que haja sexo no game, mas Bayonetta não tem travas na língua. O famigerado “fuck” que os americanos tanto adoram para xingar ou mostrar que um programa de TV é mais adulto do que outros, está ali, sendo falando por incontáveis vezes.

Mas como eu disse, Bayonetta parece tão ficcional, que não há aquele perversão exagerada. Tudo até que faz sentido dentro de um certo contexto. Quando games de ação tem protagonistas masculinos, já é meio clichê que seja brutamontes, ou boca-sujas, ou “fodões”, daqueles que derrubam um prédio de 20 andares com um chute, sabem? Então é até bacana ver uma protagonista feminina que seja tão badass quanto os modelos masculinos.

Bayonetta realmente é extrovertida, boa de mira e exageradamente forte. Quem jogou ou viu no YouTube os chefes enormes que o game tem e que Bayoneta os vence com as mãos “nuas”, sem necessitar de uma bazuca, uma engenhoca ou algum acessório enorme que favoreça a vitória. Sendo assim, ela tem mais do que o direito de brincar com sua sexualidade, sem parecer promíscua alias, o que é interessante, porque em geral quando se brinca muito assim como uma personagem feminina, rapidamente a tacham disso, muitas vezes injustamente.

Não leve a sério tudo que rola em Bayonetta. Nem mesmo a história se preocupa em fazer tanto sentido. Ela existe e mais para o final até vai fazer você ficar interessado para saber o que vai dar de toda essa guerra angelical, mas ela age mais em favor do gameplay do que qualquer outra coisa.

É de elogiar também o excelente tratamento que a PlatinumGames deu a Bayonetta, que se mexe e contorce com uma realidade de se espantar. Claro que ainda é um personagem 3D, irreal, mas os esforços do estúdio para que os gamers mais taradões ficassem mais ligados nas curvas da personagem é notável. Inclusive com os ângulos pra lá de abusivos nas cenas animadas.

Quanto as animações derivados dos ataques do modo tortura, alguns podem mesmo parecer exagerados, mas leve na brincadeira que tudo ali é feito com monstros e assim como os animes, monstros e seres irreais podem à vontade ser despedaçados e judiados sem que a censura se importe com o fato. (É sério isso! É a velha história do sangue roxo versus o sangue vermelho, nunca ouviram?).

De qualquer forma, foi uma decisão bem ousada da Platinum criar Bayonetta neste formado. Não tanto pelo lançamento no Japão, afinal a terrinha do hentai e dos games eróticos não esquenta realmente com isso. Mas Bayonetta é um jogo mundial, saiu em vários países, lugares de culturas diferentes e que trata determinados temas de forma mais fechada. O mais legal é que o jogo não precisa disso para chamar a sua atenção, apesar de ter funcionado também, porque as outras qualidade chegam até mesmo a se sobressair sobre qualquer sexualidade que o game brinca. Não é a toa que vem sendo um sucesso mundial pela crítica, porque tem sim competência de sobra e coloca certos games do mesmo gênero no chinelo.

Alias também foi genial colocar estes seres angelicais monstruosos como inimigos do game, sem que a nenhum momento, seja citado ou feito alguma apologia a determinada religião. É uma forma inteligente de não cutucar nenhuma das religiões existentes, evitando assim qualquer tipo de confronto religioso. Cutucar religião nunca é vantagem, porque é um assunto onde a lógica e a razão nunca funcionam no bom sentido.

Diversidade, originalidade e criatividade!

Três elementos geniais que tornam Bayonetta num game único. E olha que não é fácil achar estas três coisas juntas num game. É interessante notar o tanto de referências de outras franquias famosas da Capcom, já que a PlatinumGames nasceu da Clover Studio, dos tempos em que eram um dos braços (e dos bons!) da Capcom. O game não esconde suas origens. Temos uma certa influência dos aspectos de Devil May Cry. Bayonetta quando se transforma numa pantera de verdade, ao correr elas deixa flores pelo caminho, assim como o Amaterasu, o lobo de Okami. Também é evidente as influências de Viewtiful Joe, outra obra prima dos tempos de Clover, inclusive é fascinante o quanto o game me lembrou de Joe. O efeito slow-motion, as poses e o barulho de máquina fotográfica ao fundo, os “Babys”, a história sendo narrada em alguns momentos como um rolo cinematográfico, tido isso vindo direto das aventuras de Joe, na qual eu torço em todo evento de games, para a Capcom anunciar uma sequência, mesmo que não seja mais com o time da Platinum Games. Até mesmo um dos personagens secretos do game se chama “Zero”. Coincidência ou não, ainda vale a menção, vindo de um estúdio e talentosos desenvolvedores que nasceram na Capcom. Tem mais referências? Deixo para nossos leitores contarem.

Ah e as argolas de Sonic, chamados no game de “Halos”! Não poderia me esquecer delas, emprestadas pela Sega, distribuidora do game!

Esse mix de homenagens mostra o quanto a Platinum foi criativa com tudo, pois o risco de parecer plágio é grande quando se tenta algo assim. Mas o jogo esbanja personalidade própria e tenta ser original em cada estágio criado. Existem até mesmo fases especiais, onde Bayoneta dirige uma motocicleta e um “míssil”, e o formato do gameplay muda completamente e ainda assim é um dos melhores momentos do game. Fiquei espantado com o tamanhos destas fases, já que em geral quando se tem um estágio assim, onde a tela corre automaticamente, elas são curtas pois é preciso muito tempo e muita paciência para desenvolver um trajeto que não parece repetitivo a cada 40 segundos. Fiquei abismado com o tanto de coisa que o estúdio conseguiu colocar nestas fases para poder cada momento dela ser único.

Além destes estágios especiais, o jogo faz um belo trabalho com os estágios, sempre divididos em pequenos trechos chamados “verse”, que valem medalhas (bronze, prata, ouro, platina e pura platina) e estas influenciam a medalha final do capítulo. E cada pedaço é único. O jogo realmente se esforça para colocar o máximo de situações diversificadas possíveis e os novos inimigos surgem a cada capítulo e a cada episódio, é uma variedade assustadoramente grande para este tipo de game. Não que eles não se repitam em vários momentos, mas isso porque o jogo vai exigindo mais e mais do jogador ao colocar mais e mais deles num único verse para que você os derrote o mais rápido possível, com o menor dano possível e combos existentes. Não é tarefa fácil devo dizer. Lá pelos últimos estágios, cheguei a perder a conta o número de vezes em que morri devido a dificuldade destas batalhas. E olha que o game só possibilita ao jogador começar pela primeira vez pelo nível normal. O Hard e o Non-Stop Infinite Climax (Hardest) são habilitados só depois de fechar o game no nível normal, quer dizer, o Hard. O Non-Stop só depois de fechar no agonizante Hard.

Mais inacreditável ainda são os chefes e sub-chefes espalhados pelo game todo. Vários capítulos e verses são dedicados a batalhas épicas contra chefes absurdamente gigantescos, do tipo Shadow of Colossos em tamanho. São momentos daqueles que todo jogador torce para que seu game favorito tenham, sabe? Aqueles que você não irá esquecer tão fácil assim. Pode parecer exagero, mas o game realmente me deixou com essa impressão. Quer um exemplo, a batalha no meio do mar, contra um ser enorme e a Bayonetta numa placa de metal como prancha de surf. Toda essa batalha se passa num mar escuro, sobre uma noite de tempestade, com milhares de ondas por toda a parte e você um único pontinho minúsculo na tela. Pior ainda quando o monstrengo resolve criar um redemoinho gigantesco mais ao final da batalha. Não é uma situação na qual você vê em qualquer game. Produzir esse trecho deve ter sido realmente trabalhoso imagino. E isso é só uma amostra do que o game oferece.  Existem muitos outros momentos badass a qual Bayonetta se encontra com um inimigo 5 a 100 vezes maior que ela, e o jogador precisa entender qual é a estratégia para derrotar o inimigo. Apenas esmagar os botões de soco e chute acabam não tendo um bom resultado.

E se você acha que o game não tem mais nada a oferecer, está enganado. A Platinum Games criou um sistema de armas e acessórios que deixam muitos games por aí no chinelo. Estou falando de um novo sistema de batalhas para cada arma, que vão desde espadas, garras, chicotes à um daqueles patins para esquiar no gelo sabe? E ainda dá para combinar duas destas armas e criar um novo sistema de golpes e combos. Sem mencionar as armas secretas que provavelmente você só conseguirá depois de virar o game uma porrada de games, assim como é com a bazuca da série Resident Evil, sabe? Eu dei uma espiada no YouTube nestas armas e fiquei de queixo caído com o quase sabre de luz que existe para quem virar o game no modo mais difícil do mesmo. Ainda farei uma matéria à parte aqui no Portallos com todos os segredos de Bayonetta que são muitos mesmo. O sistema de acessórios eu quase não pude testar a fundo, porque eles precisam ser comprados com os os halos e são os itens mais caros do jogo. Acabei dando prioridade aos novos golpes e extras da loja e acabei só no quase final do game comprando um acessório para facilitar a ativação do efeito slow-motion, que alias ajudou e muito a minha vida nos momentos finais do game. Até mesmo acessórios secretos existem para aqueles que curtem virar o jogo dezenas de vezes. Isso sem mencionar no challenges secretos. Eu caí em depois de mais da metade do game e levei quase 1 hora para conseguir vencer o desafio. É algo de maluco. Eu vi relatos no YouTube a respeito do Lost Chapter que é insanamente quase que impossível de vencer.

Como podem ver o jogo esbanja diversidade, é totalmente original, não há nada nesta geração que se comparem com a sagacidade do game e a criatividade está em toda a parte. Seja nos extras enormes que o game trás, no completíssimo sistema de batalha para todos os gostos, na criação e desenvolvimento tanto dos inimigos do game quanto dos cenários.

Talvez se for para puxar a orelha, seja mais ao final do jogo, quando a Platinum faz uma coisa meio estágios finais de Mega Man, sabem? Ela utiliza vários trechos de vários cenários do game para colocar batalhas contra muitos chefes e inimigos que você suou para vencer, em algumas situação diferentes. Claro que nesse estágio você está bem mais evoluído no sistema de armas e combos e por isso a experiência acaba sendo algo novo, e não apenas encheção de linguiça. Alias se você for pensar, era assim também com Mega Man, afinal você chegava no fim com armadura nova e todas as armas obtidas, a experiência de enfrentar tudo de novo era algo totalmente diferente. Até nisso Bayonetta se inspirou, mas trouxe num mundo 3D e de forma realmente divertido.

Fora isso, realmente não tenho do que reclamar do game. Bayonetta conseguiu colocar no chinelo muitos games exclusivos das plataformas atuais, onde você encerra um game e não tem mais nada para fazer nele. Isso sem precisar apelar para um modo de multiplayer online. Apenas o single-player para cativar por tantas horas e horas o jogador. Para os curiosos, eu levei 13 horas para fechar o modo normal, explorando o máximo possível e colhendo tudo que desse numa primeira partida. E mesmo assim deixei muita coisa para trás. E existem outras tantas que só são habilitados depois de virar o game por uma segunda e terceira vez. E existe uma conquista no X360 onde é necessário virar o game em apenas 3 horas. Tarefa quase que impossível pra mim. Mas aí você precisa estar armado até os dentes, com barras e energia e magia ao máximo e pular todas as cutscenes existente no game todo.

Bayonetta é uma daquelas gemas de ouro que nascem a cada geração. Se você não jogou, vai perder um clássico. Não é à toa que já se fala numa possível continuação ou num spin-off da série. Mas aí é torcer para que consigam criar um mundo totalmente novo, sem reciclar nada do primeiro. Talvez seja exatamente isso que a Platinum Games pense quando mencionou um spin-off…

OBS: Crédito das fanart do post: Cocox333 e E-Mann

OBS II: Podem esperar por no mínimo mais duas matérias no Portallos sobre Bayonetta. Um edição da coluna “Fim de Jogo” e um especial com os segredos do game em detalhes.

OBS III: E comecei a jogar Darksiders hoje, depois de Bayonetta, fica difícil empolgar com o game… ai, ai.

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