Tron: Uma Odisséia Eletrônica – O Início do Legado [Cinema][Nostalgia]

Nessa semana, entra em cartaz Tron: O Legado, continuação de Tron, um filme lançado pela Disney em 9 de Julho de 1982 e conhecido no Brasil com o sub-título “Uma Odisséia Eletrônica.”

Quer dizer, conhecido sim, mas não muito assistido. É engraçado como Tron é um filme que marcou uma geração inteira, um dos maiores marcos do cinema moderno, e ainda assim pouca gente se lembra de ter assistido, e mesmo quem assistiu, não se lembra muito da história!

Eu ia fazer uma crítica mais detalhada de Tron, mas devido a essa peculariedade resolvi apenas mostrar um pouco do processo de criação do filme, e no final apenas fazer comentários e um pequeno resumo. Recomendo primeiro que você assista a Tron. Não é fácil encontrar o filme, a Disney lançou em DVD faz um tempão, eu até comprei o meu em uma banca de jornal, mas nunca vi ele pra vender em uma loja física. A Disney só vai relançar Tron quando justamente sair Tron: O Legado no mercado doméstico, o que na minha opinião é um ato grotesco. Até faz um certo sentido mercadológicamente, mas isso não facilita nada para nós. Então, vamos lá conhecer um pouquinho sobre Tron?

A Criação de Tron

Tron foi concebido por Steven Lisberger em meados de 1976, quando ele era animador de seu próprio estúdio de animação. Lisberg um belo dia conheceu Pong e ficou apaixonado pelo jogo, não demorando muito para que ele quisesse unir sua antiga paixão (cinema) com seu novo amor (jogos eletrônicos) em um filme.

Lisberg passou incontáveis horas quebrando a cabeça tentando encontrar a forma de realizar seu desejo. No ano seguinte ele e seu sócio Donald Kushnerforam para a Costa Oeste e montaram um estúdio de animação para poderem levar o projeto Tron adiante.

No início, Tron estava sendo produzido como um filme de animação misturado com algumas cenas filmadas, incorporadas com efeitos computadorizados e animação back-lit. Tudo isso custava muito dinheiro, e Lisberger tentou arrecadar recursos oferecendo parcerias com fabricantes de computadores, porém a única a se interessar foi a Information International.

Richard Taylor, da International, sugeriu o uso de fotogramas de cenas filmadas integradas à animação back-lit, que depois seriam recheadas com a animação computadorizada. Depois de refinar o roteiro novamente, Lisberg levou o projeto de Tron para  a Warner, MGM e Columbia, e as três recusaram a proposta.

A Disney entrou no jogo em 1980. A casa do Mickey estava mais aberta à novas idéias. No ano anterior, ela havia lançado o filme O Abismo Negro (The Black Hole), um filme de ficção científica que já usava cenas geradas por computador  em uma tentativa de pegar carona no sucesso de Star Wars. O Abismo Negro fracassou devido ao seu roteiro confuso, mas é inegável que ele se tornou um marco histórico para a Disney. Aliás, uma refilmagem está em pré-produção pelo diretor Joseph Kosinski, o produtor Sean Bailey e o roteirista Travis Beacham, de, olhem só, Tron Legacy! Eu tenho o DVD de O Abismo Negro, eu curto muito, nem parece um filme Disney, especialmente o final dele…

Apesar de muitos estranharem na época o fato da Disney apoiar uma produção tão ousada e conduzida por um diretor inexperiente, não é difícil entender o motivo pelo qual Tron conquistou a Disney. É justamente a ousadia de Tron, sua ambiciosa e original proposta, que lembravam o espírito do próprio Disney. Os funcionários mais velhos da Disney viram em Tron o reflexo da época em que Disney apresentou sua proposta de realizar A Branca de Neve e os Sete Anões.

O Mundo de Tron

Você curte quadrinhos europeus? Então você conhece o mestre Moebius, que foi encarregado de criar os cenários pricipais e os figurinos de Tron. A maioria dos veículos vistos na tela foram concebidas pelo designer industrial Syd Mead (Blade Runner). Estes e outros renomados artistas foram os responsáveis pelo visual tão original e característico de Tron. O livro Neuromancer pode ter criado o conceito de ciber-espaço, mas é Tron que definitavamente, transformou o conceito escrito em realidade visual.

Mas fazer com que o mundo de Tron pudesse aparecer na tela foi um trabalho realmente hercúleo. Quatro das maiores empresas de computação gráfica participaram do filme: a já citada Information, e a MAGI, Robert Abel and Associates, e por fim, Dogital Effects.

Tron é reconhecido como um marco dentro da industria de animação computadorizada. Mas nossos olhos enganam, e na verdade, Tron tem muitos menos cenas feitas em computação do que parece. A maioria da cenas totalmente feitas em computação gráfica são aquelas em que aparecem os veículos, o restante é uma trucagem com as cenas reais.

E não pense que fazer as poucas cenas computadorizadas era coisa fácil. Para você leitor, ter uma idéia, a equipe tinha que trabalhar com um computador com 2MB de memória e com um HD de 330MB. Isso restringia e muito na composição e detalhamento das cenas, e você pode notar que em muitas cenas parece que há uma neblina escura ao fundo. Pense em Turok do Nintendo64, mas com o efeito fog preto.

A História de Tron

Eu assisti Tron quando passou certa vez na Globo, nem lembro quando foi. Mas assim como Star Wars (Guerra nas Estrelas, na época) foi um filme que ficou marcado na minha mente. Eu tinha um Dynavision compatível com Atari 2600. Já curtia muito videogame, e ver Tron foi um deleite visual. A história por outro lado, mesmo naquela época, não me cativou. Ela mostra Kevin Flynn, um engenheiro de software que trabalha na corporação ENCOM, uma fabricante de jogos de videogame.

Ed Dilinger é um colega de Flynn que rouba dele algumas de suas idéias para jogos. Dillinger apresenta os jogos como sendo rição sua, e eventualmente recebe várias promoções até tronar-se vice-presidente da ENCOM, ao contrário de Flynn, que teve a carreira estagnada. Mas Flynn não quer deixar isso passar em branco, e tenta invadir o mainframe da ENCOM para encontrar as provas de que Dilinger roubou suas criações. O mainframe é controlado por pelo programa Master Control (a única criação original de Dilinger), que ao perceber a tentativa de invasão de Flynn, faz uso de uma espécie de Raio laser digitalizador, que manda Flynn para um outro mundo, o ciber-espaço.

Nesse ciber-espaço, Flymm encontra os programas, e os programas são um tipo de representação virtual de seus criadores. São controlados pelo Master Control de maneira tirânica, proibindo que os programas acreditem que os usuários (os criadores dos softwares) existam. Quem desobedece as regras de Master Control é obrigado a batalhar em uma arena de combate, como gladiadores em um coliseu. Nessa arena, quem perde a luta é aniquilado.

Flynn conhece Tron, um programa de segurança criado por Alan Bradley, amigo de Flynn. Como Tron possui a mesma aparência, Flynn imediatamente confia em Tron, o qual conta para Flynn seu plano de derrubar Master Control do controle do ciber-espaço e assim libertar todos os softwares. A dupla é obrigada a batalhar a arena de Light Cycles (as famosas motos de luz), mas conseguem escapar junto com outro programa, o Ram. Eles são perseguidos pelos asseclas do Master Control, e por um triz conseguem sobreviver embra Tron tenha seguido por outro caminho. Bem, menos Dam, que foi severamente ferido. Antes de morrer, Dam percebe que Flynn é um usuário e implora que ajude Tron a acabar com Master Control.

Flynn descobre ter poderes especiais, reconstruindo um Recognizer (um veículo voador de captura) que estava avariado, e logo se reencontra com Tron, para quem revela que é um usuário. Os dois enfrentam Sark, o capanga do Master Control (e que é o proprio programa de Dilinger). Tron passa a atacar Sark e o fere gravemente. Master Control desesperadamente dá á Sark mais energia, e Sark fica gigantesco conforme é reenergizado. Flynn consegue pular no núcleo do Master Control e Tron aproveita a brecha nos escudos de força para atingir Master Control, e a dupla vilanesca é finalmente vencida. Flynn consegue voltar ao nosso mundo com as provas do roubo de Dilinger, e acaba por assumir o posto de CEO da ENCOM, resultando em um mais um final feliz.

Uma Odisséia Eletrônica

É, a história não tem nada de especial, mas sua simplicidade é proveniente da vontade de Lisberger em atingir um grande público, em especial a quem não conhecia jogos eletrônicos. Levando isso em consideração, acho que essa foi uma decisão acertada. Fora algumas bobages em situações, mesmo hoje é possível se entreter com Tron, dando a ele um lugar na lista dos filmes que continuam legais 15 anos depois de assistidos.

Muitos termos e conceitos ligados á iformática hoje parecem engraçados, como na cena em que Bradley pergunta ao Dilinger (então vice-presidente) o motivo dele não poder acessar um programa. Hoje em dia, você liga para o setor de T.I., e não para o vice-presidente de onde você trabalha, não é mesmo?

O visual atualmente pode parecer esquisito, mas quando garoto eu fiquei muito, muito impressionado. O visual inspirado em neon era muito atraente, como hoje vemos nos aparelhos cheios de luzes leds. O conceito de termos um avatar cujo visual é idêntico ao nosso, encontra similiaridade nos nossos avatares da PSN e Xbox Live.

Levando isso em conta, os discos que os programas possuem no mundo de Tron são interessantes. Carregam toda a informação, toda a “vida” do programa. Quando os programas lançam os discos para atacar durante os combates, é como se eles dessem toda a vida naquele ataque, toda a sua força, tudo o que são. Lisberg adora esse conceito e é capaz de discorrer sobre isso por horas. E pensar que nós hoje colocamos em nossos discos de HD nossa vida, por meio de vídeos, fotos, músicas, lembranças…

Um tempo depois que assisti o filme pela primeira vez, ganhei o jogo Tron – Deadly Discs. Fiquei muito contente, e passei horas na arena lançando discos, arriscando minha vida toda para sobreviver, ainda que sem neon e light cycles. Foram lançados outros jogos de Tron, mas infelizmente Deadly Discs foi o único que pude jogar.

Para finalizar é justo dizer que Tron possui um visual meio datado, uma música sem graça, um roteiro sem grandes atrativos e de desenrolar lento, mas seus conceitos originais fazem dele um filme que vale muito a pena de ser visto. E bem, para quem foi assistir um Tron, fica um desafio: encontrar as aparições escondidas de Pac-Man e do Mickey. Pensando bem, esse desafio é muito fácil… Que tal você me dizer qual seriado americano foi fortemente inspirado pelo Tron?

Enquanto você pensa, veja como seria o trailer de Tron, se ele fosse feito nos dias atuais!

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9 Comentários

  1. Eu assisti Tron recentemente em DVD, pois estava ao mesmo tempo entusiasmado com o novo filme e curioso com o original, já que ele é citado com frequência.

    Queria conferir os efeitos, que embora hoje em dia estejam bem ultrapassados, para a época foram um marco. Conhecer a história também, já que ela aborda esses assuntos como games e informática. Nesses aspectos, acho que Tron é um filme que tem um valor histórico.

    Mas sinceramente, é só isso. A ousadia e a proposta do filme são muito boas, mas o enredo, a meu ver, é um fracasso total. Parece que a história está sendo “jogada” no espectator de qualquer forma, com partes desconexas e desnecessárias. Tudo acontece de uma forma meio tonta, como quando Flynn revela que não era um programa. Esse deveria ser um momento chave do filme, mas acontece como se o personagem estivesse apenas comentando alguma coisa banal que fez no final de semana. Aliás, não lembro de ter alguma fala ou passagem mais marcante ou inteligente.

    Repetindo o que eu disse, é um filme com valor histórico pelos efeitos especiais e pela temática (que tinha muito potencial), mas como roteiro não satisfaz. Espero que Tron: O Legado não siga o mesmo caminho.

    Obs.: se tem uma coisa legal no filme são as batalhas de motos e de discos. Gostei bastante do rastro que os veículos deixavam. Quem quiser pode experimentar: http://o-scope.blogspot.com/2010/07/fl-tron-20-game-do-filme-tron.html

  2. Por sorte eu conheço Tron desde muito pequeno, meu pai assisitiu esse filme nos cinemas e desde de cedo tive contato com o mundo da informática.

    Assisti ontem esse filme, para refrescar a memória e concordo plenamente com com o Icaro94 o filme é meio fraquinho, mas tem um peso muito grande na produção de efeitos gráficos.

    Em relação aos jogos, joguei apenas o TRON 2.0 que é uma sub continuação do filme, não deve muito em relação aos jogos da sua época mas peca em não aprofundar a trama original.

    Estou muito empolgado para Tron: O Legado e com o jogo Tron: Evolution que conta momentos antes da trama de O Legado.

  3. seriado? n lembro… talvez o desenho Reboot

    Ja vi parte do Tron antigo, sou d 87 e ja n passava tanto tron na tv na epoca q eu consigo lembrar. Ja quasae assisti na hbo um dia, mas novamente pegando pela metade e n animei a continuar ainda mais pq os efeitos hj são bem fracos

  4. Eu assisti tron pouco tempo antes de saber sobre as primeiras informações do novo filme (o Legado). E falando em jogos, o Tron aparece no jogo Kingdom Hearts 2 (Square Enix/Disney), e ele luta ao nosso lado, há uma parte sobre os ligthcicles (embora diferente do filme) e os chefões do mundo/computador (chamado de Space Paranoids) é justamente o commander Shark e o Master Control Program.

  5. Curiosa coincidencia, tambem adquiri o meu em uma banca de jornal, la no metro Jabaquara em Sao Paulo. Fiquei surpreso ao encontrar esse filme ali, e nao deixei passar a oportunidade.
    Ainda nao li o post todo, mas Tron e um filme que marcou epoca pelo que conseguiu fazer… em sua epoca. Efeitos de computador nao eram a coisa mais comum do mundo no final da decada de 70 / inicio 80 como sao para nos hoje em dia.

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