Opinião | Posso defender um pouco Saint Seya Ômega?

O conceito da série é tão ruim assim? Ou nós que envelhecemos demais? Estão estragando a magia de infância que você tinha por Cavaleiros do Zodíaco?

Quarta-feira é sempre dia de puxar um assunto mais nipônico aqui no blog. Pensando nisso resolvi falar um pouco sobre um animê que me diverte (na medida do possível) sempre que resolvo ver alguns episódios: Saint Seya Ômega. O fato é que antes da estréia da série tinha bastante gente empolgada com ela, mas depois de alguns meses pós-lançamento parece que já caiu no esquecimento de grande parte dessa galera, isso quando não retorna em algum lugar pra tirarem sarro das bizarrices que eles inventam na história regularmente. Mas eu continuo assistindo.

Quer dizer, mais ou menos. Não assisto regularmente, toda semana. Estou sempre baixando os episódios, mas geralmente os deixo acumulando no PC e assisto (somente) quando dá vontade. E aí vejo de dois a três episódios seguidos. Dias atrás peguei para assistir os episódios 12 e 13, e eles foram o suficiente para me deixar animado a escrever sobre o assunto aqui no blog. Apesar do Portallos já ter feito um “primeira impressões”, não fui o autor da matéria na ocasião. Então este é meu primeiro texto no blog sobre o assunto.

Acho que vale a pena posicionar o meu conhecimento em torno da série Cavaleiros do Zodíaco pra quem está chegando agora. De fato não sou expert no assunto. Sou fã de Cavaleiros do Zodíaco do tempo da TV Manchete. Quando a série chegou ao seu auge na saga das 12 casas dos cavaleiros de ouro e ficou tempo demais naquele looping maldito de recomeçar do zero toda vez que o Seya chegava para enfrentar o Aiolia, o Cavaleiro de Leão. A luta começava, mas nunca terminava. Mas sobrevivi às reprises, terminei a saga das 12 casas. Cheguei a ir aos cinemas assistir aquele filme que nem me lembro mais o nome. Vi as armaduras serem reformuladas depois na saga de Poseidon e quando tudo começou a ficar parecido demais com a saga das 12 casas (Athena presa tipo aquelas situações de “Os Apuros de Penélope Charmosa” e os cavaleiros tendo que correr contra o tempo) eu parei de assistir a série porque minha paciência com reprises já tinha ido pro saco. E na época tinha coisas mais interessantes e diferentes pra acompanhar, como Yu Yu Hakusho. Na verdade acho que acabei crescendo mesmo. Era moleque quando comecei a assistir Cavaleiros e a série nunca terminava, acabei crescendo e perdendo o interesse. A gente chega à adolescência e conhece tanta coisa que aquilo que gostávamos quando moleques acaba sendo desprezada.

Mas pelo que pesquisei no Google cheguei a ir bem longe. Não vi o final da saga do Poseidon, que é quando a série original termina, não vi as OVAS posteriores e nem os spin-offs (que possuem histórias que se passam depois e antes da série original). Atualmente ando lendo o começo de tudo, graças ao relançamento do mangá pela JBC, mas ainda estou bem no início. Então agora, sendo macaco velho, e mais focado, devo chegar até o fim da série original, seguindo o mangá (o que é sempre recomendado, apesar dos péssimos desenhos do autor) e depois vou correr atrás outras séries derivadas (já lançadas por aqui). Eu chego lá. Um dia. Enquanto isso, fiquei sabendo da proposta de Saint Seya Ômega e me peguei interessado nessa idéia de uma nova série dos cavaleiros de Athena, voltada a uma nova geração de jovens, sem as amarras e bizarrices do material original, usando essa base apenas como influencia e inspiração pra uma coisa nova.

E verdade seja dita, tem muita coisa em Saint Seya Ômega que não convence logo de cara, como aquela escola de jovens cavaleiros, as armaduras se tornarem pingentes, os inimigos se chamarem “marcianos”, a existência de um cavaleiro-ninja (deve ter sido reprovado do elenco de Naruto) etc. Entretanto também tinha muita coisa em Cavaleiros do Zodíaco original que também era terrivelmente constrangedor e escrota, por exemplo, quem se lembra do Shun deitado no corpo do Hyoga para aquecê-lo e seus berros melosos pelo Ikki? A história original também tinha seus momentos onde tudo era mal fluida, fora o plot repetitivo, e percebo isso acompanhando o mangá hoje em dia. Tem hora que o roteiro não ajuda em nada, os personagens não convencem e as ameaças são mal trabalhadas. Porém são fatores que acaba sendo relevados, seja porque há que se entender que é um mangá antigo, e até pelo status que Cavaleiros do Zodíaco conseguiu a nível mundial. Saint Seya Ômega também tem suas falhas, mas são falhas comuns das produções atuais, enquanto Cavaleiros tem falhas que remetem ao seu próprio tempo.

O começo de Ômega é bem arrastado, confuso e acaba com a impressão de que a mitologia da série original foi completamente desconstruída, mas não é bem assim. Esse episódio 12, onde o Shun aparece é muito legal porque faz a ponte entre a versão original e os novos tempos. Explicando, por exemplo, porque as armaduras se tornaram pingentes e de onde veio a idéia de que delas adquirirem poderes elementais, o que é sim uma boa sacada. Se os cavaleiros podem sentir o “cosmos” do universo, por assim dizer, por que elementos da natureza não podem ser usados para elevar a “força”? Tem sentido (ou não). Não estão desconstruindo o que era no passado, mas adaptando as coisas. E fica claro que essa idéia de elementos como trevas e luz vem justamente para dar aquela pasteurizada que todo animê tem hoje em dia.

A pasteurização da violência não é novidade alguma. Os animês antigamente eram mais hardcore. Eu vejo Naruto hoje em dia e fico pensando o quanto ele era mais sangrento quando começou. Talvez no mangá não pareça, mas essa suavização é óbvia na versão animada. Até me assustei estes dias assistindo Hunter X Hunter #44 com a luta de personagens que não decorei o nome, com sangue, tiros na cabeça e pescoços quebrados. Ficou impressionante, mas ainda assim me pareceu errado, algo que não é típico de um animê moderno (baseado num mangá já meio antigo) que também poderia ser visto por crianças até um arco antes do atual. Mas eu, um adulto hoje, vibrei de não terem pasteurizado de forma boboca esse momento da história de HxH. Mas é uma situação que traz muito problema na área de mercado global, na hora de vender a produção pro resto do mundo.

Ômega parece, até onde vi, se preocupar com isso. Ser uma série que respeita a base na qual serviu de inspiração, porém sem a necessidade de se tornar um problema de censura na hora de exportar o produto para fora do Japão.  E acho que está correto existir essa preocupação, em tornar o produto mais acessível a mais pessoas e não apenas ao mercado de nicho japonês. Por isso batalhas com golpes elementais, com menos orelhas decepadas, e menos sangue espirrando na cara do telespectador. Não que toda produção animada tem que ser politicamente correta, mas em minha opinião, essas produções precisam ser honestas e dizerem a que tipo de público elas se objetivam. Um bom exemplo é a produção americana Family Guy, que é um desenho de adultos, pensado nesse tipo de público e não recomendando para crianças. E é sempre bom lembra que “não recomendando” não é igual a “proibido”. E acredito que Saint Seya Ômega não é um animê de adultos. É uma animação infanto-juvenil. É realmente pensando numa galerinha mais nova, que não teve contato com a obra original, enquanto também não tira o divertimento do mais velhinhos, que cresceu assistindo Cavaleiros do Zodíaco. Mas tem que ser assistido com essa visão, de um mundo de produções pasteurizadas.

Não que eu seja contra o sangue e a violência em animações. Não sou até certo ponto. Eu sou a favor de boas histórias. Tem animações que as pessoas só elogiam e gostam pela sanguinolência gratuita. Se dentro de um contexto, precisa rolar uma esguichada de sangue, e se dá pra fazer isso sem exagerar (o que não é uma característica do modo de animação japonesa), tudo bem. Mas tem maneiras de fazer isso de forma sutil, sem criar aquele efeito apelativo. Há momentos e momentos, situações e situações.

Outra reclamação constante que vejo por aí é quanto ao traço do animê. Sinceramente acho bobeira essa discussão. São estilos diferentes. Tem uma pegada mais estilizada, normal nos tempos atuais. Não é isso que vai me incomodar numa animação. Pra dizer a verdade a única coisa que me incomoda numa animação japonesa é quando os japoneses misturam animação tradicional com animação por computação gráfica, como rolou com Letter Bee, que tinha uma belíssima animação tradicional e estragava toda a imersão quando surgiam os monstros em CG. Aí é um problema de imersão. E não tenho esse problema de imersão com a animação de Ômega.

No geral venho curtindo o plot da série. Achei meio xarope à passagem pela academia de cavaleiros, mas ela durou poucos episódios. Ainda bem, pois era Harry Potter demais o conceito de uma escola de cavaleiros, com regras de não confronto e aulinhas de “aprenda a usar seu cosmos”.  Gostei do filho do Shiryu, o tal Ryuho. O cara é fraquinho, tem lá suas deficiências, assim como o Shiryu também se acabou ao longo da série original. O Souma que vem como uma versão jovem do Aioros também é uma boa adição, melhor do que o Shun ou o antipático do Hyoga. E a mocinha, Yuna, já que estamos em tempos modernos e Cavaleiros do Zodíaco não tem que ser algo só pra meninos é uma boa saída ter uma personagem feminina. Acho bacana se preocupar também com o público feminino e tornar a série bacana para todo mundo. A coisa só vira trollagem mesmo quando entra o tal Haruto, o cavaleiro-ninja. É um personagem que parece deslocado. O que vem depois? O cavaleiro-pirata, da constelação do Barba Negra? E achei aquele tal Eden meio babaquinha, uma versão do Ikki inspirada em Draco Malfoy de Harry Potter. Complicado viver num mundo onde nada surge do zero, né? Faz parte.

E gostei da aparição do Shun no episódio 12. Não cometeu nenhuma gafe e não choramingou desnecessariamente. Não pode mais vestir sua armadura rosa (sorte a dele), é médico de uma vila ali no deserto, ajudando as pessoas como pode, e ainda chutou a bunda de um cavaleiro de prata que estava pentelhando o novo grupinho de jovens cavaleiros, que já estavam meio surrados por confrontos anteriores. Por sinal, não mencionei o Kouga. Acho que de todo o elenco da série, ele é o mais piegas. Odiei a voz que deram pro personagem, que dublador japonês irritante. O personagem em si também não se ajuda muito,é quase tão irritante quanto o Seya. E a história está só no começo, todo mundo ali é fraco, estão aprendendo a lutar e é melhor da forma como está sendo feito do que um arco de treinamento (como Bleach fazia demasiadamente). Tem hora que me lembra Guerreiras Mágicas de Rayearth, se é que dá pra se considerar isso como elogio.

Saint Seya Ômega no final das contas é um reflexo do que é a atual geração de animações. Sofre dos males de um mundo globalizado, onde as coisas precisam ser pasteurizadas, de roteiros que precisam se inspirar em obras já existentes, já que criar do zero é tarefa quase impossível. Mas ainda assim consegue ser divertido. Ficaria curioso por saber a opinião de um jovem que nunca assistiu a série original. Que a desconheça por completo. O que será que essa pessoa acharia da série?

Minha única crítica com Saint Seya Ômega é que ela acaba sendo politicamente correta demais. Sem ousadia, sem um diferencial do que existe atualmente. Asérie clássica tinha sua originalidade, assim como diferencial e ousadia. Apenas se inspirar no clássico Saint Seya é suficiente para chamar atenção? Mas aí você não está visando um público errado? Enfim, eu só vi 13 episódios. Atualmente está no 21º. Se agora ela é ao menos bacaninha, talvez melhore com o tempo. E parece ser um animê que não teria problemas em ser exibido na TV aberta aqui no Brasil. E sempre torço pela inclusão de animês na TV aberta. Os tempos são outros,o que requer produções diferentes daquelas na qual assistiamos na saudosa TV Manchete. Não acha?

Obs: antes que alguém venha me puxar a orelha, eu sei que Saint Seya Ômega não tem dedo algum do autor original de Cavaleiros do Zodíaco, o  Masami Kurumada.

Obs 2: a ilustração galhofa do Keep Calm encontrei neste link no DeviantArt. Alias, esse dizeres estampado numa camisa ia ficar massa demais. XD

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50 Comentários

  1. Qual o problema do shun esquentar o yoga e usar armadura rosa? A armadura e os poderes eram tao fortes como de qualquer outro. Eu acompanhei tudo, e posso dizer que suas opinioes sao muito amadoras.

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