Shigatsu wa Kimi no Uso | Um olhar monocromático após um colapso mental…

De tempos em tempos fico a caça de algum animê de maior qualidade ou que pelo menos saia da mesmice do gênero. Isso porque já faz um bom tempo que o auge dos animês passou pra mim. Verdade seja dita, há muitos animês ruins, repetitivos e clichês sendo produzidos anualmente no Japão. Sei que é algo cultural, assim como aqui no Brasil há novelas sendo feitas exaustivamente e que são todas farinha do mesmo saco, idem para os Estados Unidos e boa parte dos seriados “enlatados” que saem por lá. Ou seja, os animês geralmente vislumbram os fãs mais novos pelo teor, seja pela violência, pela sexualidade ou pelos temas ali discutidos que não são encontrados nos desenhos animados infantis normais, e é natural nessa fase você querer ver mais do que realmente precisaria. Entretanto é fácil com o tempo se cansar das mesmas histórias, dos mesmos clichês e das mesmas situações e isso é um fenômeno natural no mundo do entretenimento.

Estava então olhando o acervo da Crunchyroll Brasil (não sabe o que é isso? saiba mais aqui!), aproveitando os dias de folga devido ao carnaval, já que o catálogo lá é grande, mas com muita gordura desnecessária. Há muitos títulos parecidos, e não ajuda em nada os cartazes deles quase todos semelhantes entre si, sem transparecer as vezes o diferencial de um título, uma coisa que a Netflix andou percebendo nestes últimos meses e está mexendo constantemente nas imagens de seus títulos de acervo justamente para tornar o cartaz um chamariz para o espectador a procura de algo que desconheça. A Crunchyroll deveria olhar um detalhe pequeno como esse com mais atenção.

Resolvi começar a procurar novos animês através da guia “popular” na Crunchyroll e depois de uns cinco títulos ruins, encontrei Shigatsu wa Kimi no Uso e aqui fiquei. Que maravilha encontrar um animê com uma qualidade de animação e roteiro tão impactante escondido no meio de outros títulos sem qualquer carisma. É sempre animador encontrar um bom título que você nunca ouviu falar, sem aquela pulguinha chamada “expectativa” e de repente está ali, querendo ver todos os episódios de uma só vez!

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Shigatsu wa Kimi no Uso conta a história de um garoto, que sofreu um colapso mental quando menor, devido a morte da mãe, e que desde então vê um mundo sem cores, monocromático, porque sua maior paixão, seu talento, morreu junto com sua mãe.

A história de Arima Kousei não é contada de uma só vez, você acaba descobrindo ao longo dos primeiros episódios. O que fica bem claro é que Kousei tocava piano quando criança, e tocava excelentíssimamente bem. Mas com uma doença que levou embora sua mãe, que também era sua instrutora, Kousei sofre um colapso e não consegue mais ouvir as notas que saem de seu piano. Só que o animê começa anos depois desse evento, quando Kousei está mais velho, e agora vive uma vida normal, mundana.

Tudo muda quando uma amiga de infância apresenta um nova garota a Kousei. Essa garota, Miyazono Kaori, é uma jovem violinista, que toca de forma tão apaixonante, que isso desperta um mundo de memória que Kousei enterrou em seu âmago. Kaori traz a tona a paixão que Kousei tem pela música e pelo piano e agora ele deseja enfrentar seus temores, seu problema e vencer seu trauma e é aí que o animê vai ficando mais tenso e pesado, principalmente a relação que o jovem tinha com a mãe e os momentos finais da vida dela.

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O animê é incrivelmente bem animado pelo estúdio A-1 Pictures, com traços que dão elegância a trama, fora que não é fácil animar cenas que envolvem personagens tocando violino e piano de forma tão apaixonante e vívida como são mostradas em Shigatsu wa Kimi no Uso. A sonoplastia do animê casa e anda de mão dada com a animação, o que torna o resultado em algo muito acima da média dos animês normais da temporada japonesa (ainda que tecnicamente, ele seja da “temporada passada”).

Vale destacar que Shigatsu wa Kimi no Uso é baseado num mangá, que terminou neste mês de fevereiro Japão (fevereiro) em 11 volumes, e que a série animada ainda está em exibição por lá, sendo que ela tem previsão para acabar no final de março, com 22 episódios. Não li o mangá, mas tenho minhas dúvidas se ele consegue ser tão intenso quando o animê, até pelos recursos visuais e musicais que a história tem para si. Ver Kaori ou Kousei tocando na TV deve ser bem diferente de ver as cenas sem cores e movimentos do mangá. Não querendo desprezar o original é claro, estou apenas apontando que estou feliz por ter conhecido esse material através do formato que me parece melhor casar com esse tipo de história, que precisa de música e ritmo para se acompanhar.

A Crunchyroll Brasil está andando juntinha com a série no Japão, afinal é este um dos grandes méritos do serviço, que se orgulha do formato de transmissão simultânea (e merece mesmo se orgulhar). Mas como o animê começou em outubro de 2014, você já tem uma quantidade considerável para assistir até chegar nos atuais. Eu gostei tanto que dei uma freada na trama após o 11º episódios, para aproveitar e degustar dos demais com mais calma.

O legal é que por se tratar de um animê de curta duração, em contrastes com aqueles gigantes, como Fairy Tail ou One Piece, a trama flui com uma excelente agilidade. Não dá para cansar e as competições musicais que surgem após os episódios iniciais são de tirar o fôlego de tão imersivas podem se tornar.

E vale também tecer elogios para o bom humor da trama, que mesmo sendo uma história reflexiva em torno de um trauma, ela também sabem ser juvenil, com boas cenas de comédia entre os amigos de Kousei, não deixando a história cair no dramalhão pesado ou cansativo. Você torce pela superação do protagonista, ao mesmo tempo que também sorri das situações na qual Kaori o força a se superar. Nem mesmo aquele clichezinho do amor juvenil e do triângulo amoroso incomoda, porque é feito com um cuidado para que não se sobreponha a trama principal e a originalidade da história.

Shigatsu wa Kimi no Uso (Your Lie in April nos EUA) é excelente porque sabe se equilibrar entre uma trama que poderia muito bem ser baseada na vida real, dosando animação de qualidade, fomentando aquele tino musical que todo mundo possui, com boas cenas de humor, incríveis cenas instrumentais e também personagens carismáticos e simpáticos. Se você já não tem muito saco para animês novos, porque eles são sempre mais do mesmo, recomendo que veja Shigatsu wa Kimi no Uso, para lembrar como é bom encontrar um animê de qualidade acima da média atual da produção japonesa. E o melhor, está fácil para assistir porque tem aqui na Crunchyroll.PT!

Fica a dica!

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Obs: gostaria de indicar um animê? Faça aí nos comentários. Eu mesmo estou sempre de olho em dicas e sugestões dos leitores aqui no blog. Por exemplo, em breve, espero poder escrever por aqui sobre The Seven Deadly Sins, que por sinal começa a ser lançamento em mangá aqui no Brasil em março pela JBC. Uma pena que neste caso, o título não tenha sido licenciado na América Latina pela Crunchyroll devido a problemas de quem obteve a licença do mesmo nos Estados Unidos…

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14 Comentários

    1. Vixe, eu não pesquei a semelhança… talvez porque openings de animês são todas meio que iguais em sua grande parte? O_o (ah a parte dos rivais é uma regra dos mangás né? então lembra Bakuman nesse sentido).

  1. Mushishi, PSYCHO-PASS 2, Aldnoah.Zero, Death Parade, Durarara!!x2… Anime bom e que foge do comum é o que não falta, basta procurar um pouquinho. Acho até curioso você falar isso e citar The Seven Deadly Sins, sendo que ele é mais um desses shonen de mil episódios…

  2. Muito obrigado pela indicação Thiago! Desde o ano passado que ando procurando algum anime realmente bom pra assistir. O último que assisti e realmente gostei foi Valvrave the Liberator em 2013.

  3. O mangá é ainda melhor que o anime. Por não ter essa limitação de fechar certinho nos 22 episódios, o mangá teve mais tempo pra se aprofundar nos sentimentos dos personagens e construir todo um drama ao redor de algumas cenas, algo que o anime não teve tempo pra fazer.

    A cena em que o Kousei toca, sozinho, a despedida pra mãe dele é uma das coisas mais incríveis que já vi num mangá, me emocionou Pra quem vê o anime, recomendo, pelo menos, a leitura dessa cena, que começa no cap. 24 e termina NO FINAL do cap. 25 (Pra comparar, essa cena durou só meio episódio no anime)

  4. Um com tema musical que amo, e tem 3 temporadas, é Nodame Cantabile, pra mim não é muito focado em romance, mas sim mais em música, sou totalmente surtada por Nodame Cantabline, pois me conquistou de uma forma absurda..outro que recomendo e que não tem nada a ver com música é Kuragehime, tem seus clichês mas é legal… Higash no Eden é outro anime que recomendo -q
    Essa é a primeira vez que venho aqui e já saio recomendando D:

  5. Acompanho o blog a muito tempo, ja vi o auge com várias postagens e colaboradores, vi mudanças de layouts e vi a “decadência” (não que seja) com um volume menor no blog em todos os aspectos. No entanto nunca deixei de visitar o blog, muitas vezes sem achar nada que realmente me interessasse, mas sempre voltava novamente nem sei pq, sem abandoná-lo. Hoje eu cheguei a conclusão que fiz a decisão acertada em continuar a vir no blog. Cheguei ao 11 epi desse anime e tenho que dizer obrigado Thiago, realmente uma obra de arte, melhor anime que eu vejo em um zilhão de anos. Diálogos, animação, trilha sonora, personagens, sensibilidade etc… poderia ficar aqui falando das qualidades desse anime por horas. Meu amigo estou embasbacado simplesmente FODA.

  6. Foi um dos melhores animes que vi no ano e olha que anime assim aparece um ou dois no ano inteiro e ele me cativou de uma forma que não teve como me emocionar no final. Estou na mesma situação a cada temporada eu estou pegando cada vez menos animes pois não estão fazendo animes bom como na época que comecei a ver e estão focando muito em animes ecchi que eu não gosto muito então shigatsu para mim caiu do céu kkkkk, não vou citar lista mas veja Kiseijuu Sei no Kakuritsu que é um anime de parasitas focado mais na questão dos humanos que pé bem diferente do vários clichês e outro é o death parade que é voltado para vida pós morte e está visualmente bonito e com uma história boa.

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