Gears of War Ultimate Edition | Remasterizando o massacre Locust!

É muito difícil escrever uma resenha a respeito de Gears of War que não pareça óbvia aos elementos que são de conhecimento popular de todos que possuem um contato com a franquia ou que ao menos já ouviram falar da série. Até porque tudo que existe aqui, em Ultimate Edition, não é novidade, e sim uma remasterização de algo incrível e que conseguiu ficar ainda melhor!

Lançado em 2006, um ano após a Microsoft lançar o Xbox 360, Gears of War se fez notar graças uma série de elementos que só melhoraram com o tempo em suas sequências.

Na época a ideia de um personagem travado era algo diferente do que se via nos blockbusters rotineiros do mercado. A mobilidade tanque de guerra era peculiar. Os controles davam a sensação de peso, não havia como pular, apenas uma curta cambalhota para frente ou para o lado, o andar era lento e correr travava a câmera em um ângulo fechado que dificultava a visão em campo aberto, o som da armadura e o porte dos personagens era de pequenos gigantes. Era algo novo, algo diferente.

O sistema de cobertura também despertou a atenção dos jogadores. Afinal, com personagens tão pesados, o confronto direto era suicídio! Em nada se parecia com aquela agilidade que Halo e personagens que pulavam como se não houvesse gravidade possuíam na época. Gears of War renovou as batalhas de guerra com coberturas, na qual se proteger era tão importante quanto atacar. Hoje talvez isso parece trivial, mas eu arrisco dizer que até hoje são poucos os jogos que conseguem fazer um cover tão impactante quanto o de Gears of War.

Tudo isso numa roupagem de mundo apocalíptico, onde a história não começa no minuto em que o game se inicia. De fato Gears of War começa quase no fim de uma guerra que é travada a mais de 14 anos! Quanto a campanha de Gears of War começa, há um zilhão de histórias que você não sabe que aconteceu. Personagens, que hoje são queridos dos fãs, que até já morreram! Claro, na época não sabíamos nada disso, mas havia essa impressão de que Gears of War não era o ponto zero desse universo e que ele já nascera assim em 2006, com as portas abertas para muitas histórias, porque esse não era apenas um jogo de guerra, mas um conto pela sobrevivência da humanidade, numa guerra onde eles já haviam perdido há muito tempo!

É daí que veio o sucesso de trailers como de Mad World, que retratava esse sentimento de que aqueles personagens, aqueles brutamontes, possuíam uma história. De que havia uma aura cinematográfica em Gears of War. E é por isso que talvez ele nunca funcionasse em primeira pessoa. Foi de extrema importância o jogo ser em terceira pessoa, para podermos ver e conhecer estes personagens e seus rostos e expressões.

Somada a uma visceral campanha, contra criaturas realmente assustadoras, em um mundo totalmente destruído, em um clima totalmente de “tudo deu merda”, ainda havia espaço para um multiplayer online, que já em 2006 era genial. Os jogadores eram colocados uns contra os outros, para travar batalhas de guerras, em pequenos mapas, escolhendo armas e granadas espalhadas nas fases, tudo com um clima intenso de viver ou morrer. Em uma época onde muitos ainda estavam conhecendo o mundo do multiplayer online e da competitividade com qualquer outra pessoa em qualquer parte do mundo. Havia um quê de “humano” naquele multiplayer, os jogadores pensavam, planejavam, investiam em estratégias. Não era apenas sair atirando em tudo que se moviam na tela, até porque em Gears of War, se proteger, dar cobertura aos companheiros, andar em grupo era muito mais crucial do que outros multiplayers da época onde era cada um por si e o melhor jeito de jogar era correr como um louco para tudo quanto é lado (e muitos multiplayers online até hoje são assim, não que isso seja necessariamente algo ruim). Gears of War proporcionava uma imersão que poucos games conseguiam naquele começo de geração.

9 anos depois…

Muito desse sentimento, destrinchado nos parágrafos acima, se repetem nesta versão remasterizada deste sucesso do Xbox 360. E indo além, Gears of War Ultimate Edition é talvez uma das melhores remasterizações já feita nestes últimos anos.

O tratamento gráfico pela qual esta nova versão passou é inacreditável. Tudo bem que o game de 2006 já era um colírio para os olhos, mas tinha problemas com carregamento de texturas, com a paleta de cores e com as próprias limitações que o Xbox 360 tinha quando começou a sua carreira. Tanto que Gears of War 3, que foi desenvolvido muitos anos depois, já mostrava que o primeiro Gears of War ainda não estava nem perto de atingir o seu limite gráfico.

Então esta versão Ultimate Edition se esforça ao máximo para criar um visual gráfico que em nenhum momento vá te fazer lembrar que é um game de 2006. Todas as custscenes do game foram refeitas e estão fantásticas. Parece até uma animação de cinema. E os gráficos do jogo estão soberbos, agora sem engasgos, sem texturas que demoram a carregar e com uma paleta de cores ainda mais viva, sem que se haja a perda da sobriedade que o título possuía na época e que a história pede para que assim seja.

É muito difícil lembrar as limitações de jogabilidade que o primeiro Gears of War tinha em 2006. Isso porque a série foi crescendo exponencialmente e é claro que as jogabilidades mais avançadas se fazem presente frente as lembranças mais antigas e limitadas dos primórdios da série. E foi por isso que o estúdio, a The Coalition, renovou a jogabilidade deste primeiro Gears of War e o tornou muito semelhante a jogabilidade de Gears of War 3, considerada pelos fãs como o melhor título da série em termos de mecânicas, porém sem retirar todo o peso do clássico. Houve uma preocupação em mesclar a jogabilidade destes games e tornar a versão Ultimate Edition em perfeito equilíbrio entre moderno e clássico. E o resultado é animal!

Eu apenas senti falta de algumas mecânicas que acabei percebendo e lembrando que só vieram em games posteriores, como a possibilidade de colar a granada em qualquer superfície (mas ainda dá para colar nos inimigos) e de ao saltar sobre uma cobertura para conseguir dar um chute, meio que empurrão, num adversário que estiver contrário a esta cobertura (isso no multiplayer era um movimento fatal para quem estivesse relaxado na cobertura). Tirando estes dois fatores, está tudo ali, coberturas que “colam” o personagem, recargas com dano extra se realizadas no tempo certeiro, a corridinha com tela colada na sua bunda, as armas mais clássicas, com direito a Gnasher apelona, com os companheiros bots que não servem pra muita coisa, ou com inimigos com a inteligência artificial meio questionável as vezes, porém totalmente brutais – eles avançam sem medo de morrer, causando tensão ao jogador. E tudo isso realmente fez parte da história desse primeiro Gears of War. Não são elementos que poderiam ser eliminados a meu ver.

Multiplayer com serradas e muita gnasher!

Dissertar sobre o multiplayer da franquia Gears of War como um todo, talvez precisasse um dia todo e uma reflexão gigante à parte. É um dos pontos mais contraditórios e polêmicos da série, afinal, em cada sequência muitas coisas mudaram e foram criadas, para o bem ou para o mal. Porém sempre existiu um consenso entre a comunidade de que o multiplayer de Gears of War se tornou algo muito grande e complexo e que a Epic Games nunca o conseguiu condensar para se tornar tão divertido e prazeroso quando sua versão clássica.

Gears of War Ultimate Edition nesse ponto fez seu dever de casa. Nada de multiplayer megalomaníaco, com trezentos mil modos de jogos, entre social e competitivos, entre modos de combates que dividiam jogadores, times e que zoavam o multiplayer. Tudo foi magistralmente condensado. O modo social ainda existe, mas com apenas alguns modos de game, como mata-mata em equipe ou rei do pedaço, enquanto o modo competitivo mantém o maior número de modalidades, incluindo as clássicas Warzone e Execution.

Pra mim, nem precisaria dividir social e competitivo (o famoso rankeado). Dividir os mesmos modos entre estas duas categorias só divide ainda mais os jogadores online, porém a divisão foi muito melhor e mais condensada do que era a confusão de Gears of War 3, que acabou resultando em modos de multiplayer onde nunca reuniam jogadores o suficiente para as partidas. Ao menos agora, enquanto Gears of War Ultimate Edition está em alta, não há modos ou modalidades onde não hajam jogadores querendo jogar.

Diria apenas que existe um mínimo bug quando a sala fecha com seis ou sete jogadores, e o sistema de busca demora além do normal para encontrar um ou dois jogadores perdidos para encaixar na sala, que ao todo precisa de 8 jogadores. Nestas situações foi muito mais rápido sair do lobby e buscar uma partida novamente. O sistema parece priorizar sempre a formação de novas salas, ao invés de encaixar todos nas salas já existentes, em especial naquelas que faltam dois ou três jogadores. E não que a busca seja infinita nestes casos, ela apenas demora mais que o normal. E 5 minutos esperando no looby é a receita para o sistema achar 1 jogador, enquanto outros 2 já pularam fora, o que faz a sala demorar a ser fechada.

Gostei também da possibilidade de votar para pular mapas, e de quando a partida acaba, ainda que se volte ao lobby, os jogadores continuam na mesma sala e se ninguém sair, outra já começa de imediato. Muito melhor do que a minha experiência em Halo Collection onde uma partida encerrada desconecta todo mundo e manda irmos buscar no lobby por novos jogadores e salas.

E é aquele multiplayer clássico de volta. Nada de granadas coladas em paredes pegando todo mundo de surpresa. Com muitos confrontos aberto de Gnasher. Serradas em quinas e cantos de quem está marcando bobeira. Corrida pelas armas do mapa. Esconde esconde quando se está perdendo. Nada de jogadores malucos correndo com a Retro Lancer (rá! mas eu gostava disso). Tudo isso em mapas mais fechados e clássicos da franquia. Todos remasterizados e visualmente incríveis.

De longe, é o melhor sistema de multiplayer de Gears of War. Mais equilibrado, menos megalomaníaco, mais competitivo e que te compele a jogar em equipe, mesmo que não haja comunicação! Times dispersos morrem fácil nas partidas, fique junto de seus companheiros!

Claro que dá saudades do modo Horda? Sim, dá pra caramba! Eu não me importaria de um DLC acrescentando essa outra modalidade de multiplayer. Mas vale lembrar que a Horda só surgiu no segundo game da série e eu particularmente gosto muito mais do sistema de defesa implementado no terceiro game. Faz sentido ela não existir aqui na versão Ultimate, porém não seria impossível que não houvesse um jeito de encaixar. O fato é que até Gears of War 4, ainda tem muito chão e locusts para serrar. Quem garante que melhorias não virão? Eu torço para que sim. Não veria qualquer mal.

Em todo caso, para encerrar, o multiplayer do jeito que está, com seus 19 mapas, trocentos personagens, e modos criados certamente se sustenta o suficiente por um ano inteiro, até a chegada de Gears of War 4!

Isso sem mencionar que os 4 games clássicos lançados para o Xbox 360 estão chegando ao Xbox One para todos que comprarem o game até dezembro desse ano, através do sistema da retrocompatibilidade. E aí poderemos jogar a Horda, ver o resto da história (digo, quem ainda não viu), e relembrar um pouco de todos os aspectos da série, enquanto um novo Gears não chega. E de fato, 2016, pelo visto, promete aos donos do Xbox One, ser o ano de Gears of War! Assim espero!

Extra: para entender as origens de Gears of War!

Bem, a resenha do game acabou! Porém quero aproveitar o espaço para contextualizar um pouco a respeito da história da série para quem está chegando agora a franquia e quer entender um pouco mais desse mundo escroto na qual tudo está em ruína e a humanidade está a beira de sua extinção.

Já publiquei aqui no site a linha do tempo dos eventos que antecedem a história de Gears of War Ultimate Edition. Vale a pena ir lá e ler em maiores detalhes o que irei repetir aqui, ok? Mas quem quer uma versão resumida, vamos lá:

– O game não se passa no planeta Terra, mas em um planeta chamado Sera. Existe a Terra no universo de Gears of War? Nunca vi qualquer menção a isso. E também nunca se falou na humanidade explorando o espaço sideral na série. Não há naves espaciais nos games!

– Os humanos de Sera já estavam em Guerra há dezenas de anos, antes dos Locust surgirem. A Guerra do Pêndulo, mencionada no game, foi uma guerra pela disputa de controle do combustível encontrado no planeta, a Emulsão (seria como o Petróleo para a gente). Ela durou 80 anos e só acabou quando Martelo da Aurora surgiu (algo como a nossa bomba atômica, uma arma que pôs medo ao planeta inteiro).

– O Martelo da Aurora é um laser orbital, que tem um poder destrutivo gigantesco (você vê isso no game e especificamente em Gears 2), a ponto de devastar capitais inteiras, tornando tudo cinzas e poeira. Foi inventado por Adam fenix, pai de Marcus Fenix, o protagonista da série.

– Não entrando em detalhes, mas assim, a guerra, o martelo da aurora, e a exploração da emulsão no subsolo do planeta mexeu com o habitat dos Locust, que viviam embaixo do solo, em gigantescas cavernas subterrâneas do planeta. Foi aí que esse exército de seres, comandando por uma Rainha (que tudo indica ser humana) saiu de debaixo da terra e resolveu massacrar a humanidade. Este é o tal Dia da Emergência, onde boa parte da humanidade foi massacrada e em poucos anos após a declaração de guerra, a humanidade quase foi extinta.

– O grande problema na luta contra os Locust, além de seus números absurdos, era a engenhosidade na qual eles criavam criaturas para ser suas armas, além da habilidade de escavar o subsolo de grandes cidades, dificultando o combate aberto contra estes seres.

– A queda da humanidade acontece quando se decide usar o Martelo da Aurora, criado para por um fim a Guerra do Pêndulo, para queimar e pulverizar praticamente todas as grandes cidades do planeta invadidas pelos Locust, e com isso quase terminando de exterminar a raça humana junta. No fim, o ataque massivo do martelo parou o avanço dos Locust, mas apenas momentaneamente.

– 10 anos se passaram desde o Dia da Emergência e a ameaça Locust começa a se tornar mais e mais forte. A batalha final estaria se aproximando. A última cidade da humanidade, Ephyra, está sobre ataque e corre o risco de ser tomada pela horda Locust.

– Ephyra cai. Muitos morrem. A humanidade por pouco não é extinta novamente. E a culpa pela queda recai a um herói de guerra: Marcus Fenix, que desacata uma ordem de seu oficial, Hoffman, e resolve agir por conta própria numa empreitada para salvar seu pai, Adam, encurralado na mansão da família, sobre ataque dos Locust. Adam desaparece no ataque, Ephyra cai, e Marcus vai a corte marcial, se torna um traidor e é confinado em uma das últimas prisões de Sera. E lá fica por 4 anos… até Dom o libertar e começar a história que pode ser vista em Gears of War Ultimate Edition!

Veja que eu tentei sintetizar o máximo possível a história. Há muita mais que poderia ser mencionado, como a mãe de Marcus descobrir os Locust 9 anos antes do Dia de Emergência, todo o mistério em torno de Adam Fenix, a história do irmão do Dom, a batalha de Aspho que é quando Adam de torna um herói condecorado de guerra, a história da Anya e sua mãe Helena Stroud. Enfim, há uma grande mitologia em torno do universo de Gears of War, espalhada entre games, quadrinhos e livros. Para quem é fã, vale muito a pena conhecer!

No fim, só uma coisa importa: se você nunca jogou, você precisa jogar Gears of War! E tenho dito!

Gears of War continua tão intenso quanto foi em 2006
É uma das mais bem feitas remasters dos últimos tempos!
Multiplayer renovado e modernizado faz muita diferença
Entretanto há elementos e mecânicas que dão saudades (horda, armas, execuções diferentes)
Localização 100% em Português, com uma excelente dublagem!
Bônus da retrocompatibilidade impedirá o buraco até Gears of war 4

Reviver a glória de Gears of War da melhor maneiro possível!

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