Eu Sou a Lenda | Leitura concluída! (Opinião)

Terminei há alguns dias a leitura de mais uma das obras literárias na qual iniciei ano passado, um clássico literário de 1954, pertencente ao gênero da ficção científica, horror e suspense, e talvez a obra de maior sucesso de Richard Matheson: Eu Sou a Lenda.

Livro que rendeu três produções para o cinema, duas na qual provavelmente poucos ouviram falar, pois um é de 1964 e o outro de 1971. O mais famoso então é a adaptação de 2007, que leva o nome do livro, e tem o ator Will Smith como protagonista. Um filme que levantou polêmica acerca de seu fim, pois foram filmados duas versões, tanto que posteriormente, quando o filme saiu em DVD e Blu-ray, saiu com ambos os finais, agradando assim quem não curtiu a versão final lançado nos cinemas.

Mas olha só, eu já comentei tudo isso e mais um pouco quando escrevi as impressões iniciais de indicação do livro em uma matéria publicada aqui no site em agosto do ano passado. Hoje vou evitar repetir o que disse lá e até mesmo comparar livro e filme (exceto quando for mencionar a respeito do final do livro). Então, recomendo a leitura do meu primeiro post sobre o livro, basta acessar esse link.

Este texto daqui terá spoilers? Alguns serão inevitáveis. Não vou contar literalmente tudo que ocorre do meio ao final da obra, quanto a isso fique sossegado. Entretanto há passagens e momentos que se você já ficou convencido de que quer ler o livro futuramente pelo meu primeiro texto linkado acima, pare por aqui. Não precisa ler esse texto enquanto não terminar de ler Eu Sou a Lenda. Esteja avisado.

Solidão e aprisionamento

Havia pausado a leitura do livro ano passado justamente em um momento na qual Robert Neville havia passado por um sério momento de aperto no livro. Afinal a primeira passagem da trama é sobre um homem que está preso e sozinho em um mundo abandonado.

Não há pessoas, não existem formas de ir além das fronteiras de meio dia de viagem, pois o único lugar seguro para passar a noite é sua própria casa, totalmente fortificada e preparada para o ataque das criaturas da noite. Robert Neville sofre com a solidão, com sua rotina cansativa de manter suprimentos, consertar e proteger a casa, dormir ao som dos mortos gemendo e chamando por seu nome em seu gramado. Neville sente falta de sexo, se afoga em bebidas alcoólicas e percebe que a sua vida tem cada dia menos sentido. De que adianta ser o último homem vivo no mundo?

A narrativa de Matheson é sombria e agonizante. Neville não é um personagem esperançoso, de fato ele parece ser apenas um covarde que não consegue simplesmente se matar. A primeira parte de Eu Sou a Lenda tem muito dessa melancolia e depressão, enquanto Neville vai lembrando, e assim o leitor vai descobrindo sobre o que aconteceu com o mundo, quem era Neville antes de tudo chegar ao fim e, principalmente, o que aconteceu com sua família.

Gosto do fato da narrativa não ser totalmente linear. As vezes um ou outro capítulo começa e fica aquela dúvida sobre se estamos vendo a história em seu presente pós-apocalíptico ou se voltamos ao passado. O momento em que é apresentado ao leitor o desfecho da família de Neville tem um impacto grande, tanto na trama, quanto para o personagem em si e ao leitor.

Isso ocorre justamente nos dois primeiros atos do livro. O que Matheson reserva ao leitor da metade para o final? Esperança, ou a ilusão dela. Sendo assim parte consigo dividir esta parte da história em três momentos distintos: pesquisa, esforço e aceitação.

Brincando com a esperança

Neville resolve lutar por sua sanidade. Não quero ficar detalhando todas as passagens do livro, então basta saber que após um baque, para se levantar mentalmente Neville passa a pesquisar mais sobre a doença que acabou com todos os seres humanos.

Este é um momento em que o autor do livro apresenta um pouco da ciência de Eu Sou a Lenda, ao menos aquela na qual era possível imaginar na década de 50. O que poderia fazer com que os mortos continuassem quase vivos? A obra é famosa por apresentar vampiros de uma forma diferente da cultura geral, colocando-os quase como zumbis. E é interessante como décadas se passaram e a visão do autor para como seria os vampiros pela ciência dos homens poderia realmente fazer sentido. O que certamente dá um certo calafrio.

Só que ao contrário do filme de 2007, que sabiamente modernizou a ciência da doença e colocou Will Smith como um Robert Neville que de fato é um cientista, enquanto na história original o próprio Robert Neville não sabe muito de ciência. A solução no livro é que Neville meio que é um auto didata, pegou livros e aprendeu sobre vírus, bactérias e germes por si próprio. Conseguiu sangue dos mortos vivos e pesquisou os motivos de existir tal mal e se ele conseguiria curar estas pessoas.

E por um momento ele acredita nisso. Está vendo? Esperança.

Surpresa maior foi encontrar antes do ato final do livro alguns capítulos dedicados a um cachorro que entra na trama. Quando comecei a ler esse livro, a primeira coisa que notei que tornava a narrativa tão diferente do filme de 2007 era justamente a presença canina. Will Smith tinha um companheiro, e por isso não soava tão louco ou depressivo quando o Neville do livro soa no começo da história.

Eu não vou dizer o que aconteceu nesse trecho da história. Mesmo que você saiba o destino do cachorro no filme de 2007, saiba que eu fiquei chocado com a versão original do livro. Os eventos são diferentes, a passagem de tempo é cruel, e os momentos finais dessa parte da história tornam impossível o leitor não clamar pela esperança depois de um duro golpe de realidade.

Este ato canino, eu classificaria como esforço. Neville se esforça para criar um elo com um animal abandonado, faminto e que não confia nele em nenhuma circunstância. Não é como o cachorro bem treinado do filme. É um daqueles momentos que prepara o leitor para o ato final.

Esforce, reze e acredite que nem tudo esta perdido. Pobre Neville.

Aceitação (sobre o final)

Eu Sou a Lenda é um livro curto. Originalmente ele possui 160 páginas. A versão que li, lançada pela Editora Aleph no Brasil, é meio pocket, porém o texto não encolheu por conta de páginas menores. Pelo contrário, a editora manteve um bom tamanho tanto de letramento quanto de espaçamento. Isso fez o livro passar a ter 336 páginas nessa versão. Com alguns extras no final que levaram a versão em capa dura fechar com aproximadamente 382 páginas.

Isso significa que é um livro de rápido leitura. O peguei desta vez para terminá-lo e foram necessários apenas dois dias de leitura. Foi muito rápido porque o final instiga o leitor a continuar sem parar até ver o desfecho da história de Neville. O primeiro texto do ano passado tão somente foi até a metade justamente porque não queria escrever somente um único texto ou comentar as minhas impressões com o final da história em mente.

Sendo breve, Matheson não tem uma narrativa extensa, detalhada e complexa sobre a criação do universo de Eu Sou a Lenda. A história não é sobre um mundo pós-apocalíptico, e sim de um homem enfrentando uma solidão irreversível. Tudo acabou. Não lhe resta nada. E ao fim, o que você pode esperar disso? Não muito eu acho.

Claro que as explicações existem. Por que o mundo se tornou o que é apresentado no livro existe. Porém sem grandes detalhes, como se o próprio fosse um personagem secundário da obra. Não é. Muito menos os vampiros, até certo ponto ao menos.

O livro trabalha com a mente humana. Com angustias, com o sofrimento e a tristeza de um homem solitário. E com um espaço tão pequeno de páginas, não há como ir além. Talvez por isso o final não seja realmente tão interessante como todo o resto do livro.

Até então vinha achando interessante esse mundo. Neville começa a história sabendo um pouco das coisas, porém ele aprende muito mais conforme a trama se desenrola. A caçar tais seres, a sobreviver sem ter que se matar o dia todo protegendo sua casa, até mesmo a se divertir um pouco com pequenos prazeres, ainda que seu passado e a saudade constantemente bata em sua porta.

O final do livro quebra essa barreira. Tal como o filme quebra. Nem tudo é como Neville acha que é. Ele não está vivenciando o fim da raça humana, mas o início do próximo estágio evolutivo do homem. Há algo nas sombras que só é apresentado ao leitor nos momentos finais do livro, que nos deixa com aquela sensação de que jamais saberemos mais a respeito, porque não é uma história sobre estes seres, e sim sobre Robert Neville.

Tal como o filme de 2007 há um momento bem próximo ao final da obra em que Matheson poderia tomar outra direção narrativa na obra. Neville faz um determinado ato ou não faz absolutamente nada. Não vou dizer o que ele decide no final do livro, entretanto eu torci justamente para que o autor da obra decidisse por aquilo que justamente ele decidiu não fazer.

Não que isso tenha estragado o final pra mim. Aceitação é um dos temas finais da obra. Neville precisa aceitar algumas coisas, e é justamente isso que torna o final da história tão dividida. A vida é feita de escolhas. É interessante a forma como o autor bravamente decide encerrar a história.

Tendo terminado o livro, acredito que o filme de 2007 com o Will Smith tenha ficado um pouco melhor pra mim. Não que eu já não gostasse dele, mas o final no filme é tão polêmico quanto no livro. São personagens diferentes, passagens diferentes, mas ainda assim a faísca de ambas as obras tem uma sintonia muito impressionante.

Vale a penar ler para quem já assistiu o filme? Vale com certeza, especialmente para aqueles que gostaram do conceito desse mundo devastado por uma doença e de um homem vivendo sozinho, em dúvida sobre os motivos pelos quais ele deveria continuar vivo. As passagens do livro e filme são muito diferente. Os personagens, seu passado, os momentos de ação e até as criaturas são relativamente diferentes. O filme adaptou e modernizou o conto, mas o livro original é onde está a essência de tudo. Conhece-lo foi algo muito bacana.

E sobre o fim… ele pode não agradar muitos. Isso é verdade, mas não acho que isso estrague toda a jornada que Robert Neville teve nos três anos na qual se passa a história. Ele aprendeu algo nesse tempo, e o leitor também. E a vida é meio assim, uma jornada na qual não necessariamente precisamos aceitar a forma como inevitavelmente ela irá se encerrar.

Ficou interessado? É possível encontrar o livro em qualquer livraria física, ou online em sites como Amazon BR, Submarino, Saraiva ou até mesmo no site da Aleph que agora também vende seus livros (e faz promoções semanais de seu catálogo, então vale a pena ficar de olho).

Genuíno clássico literário
Rápida e agradável leitura
Pertupador mundo pós apocalíptico
Robert Neville é um ótimo protagonista
Há passagens que marcam e mexem com o leitor
Final não é tão marcante quanto o resto do livro

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2 Comentários

  1. Cara, agora fiquei empolgado em adquirir o livro. Tem algum tempo que namoro esse livro nas livrarias, só que são tantos da Aleph que quero levar pra casa, ai acabo adiando.

    Provavelmente eu o pegue, depois desse texto, fica difícil não querer ler.

    Thiago, eu gosto bastante da versão filme o Will Smith, mas a versão de 64 com Vincent Price é fantástica, apesar da limitação da época. Recomendo que assista, se puder.

  2. Pô, como assim? Aquele final é massa. Já o filme de 2007 achei uma grande droga, prefiro mil vezes os antigos, datados, mas melhores que o de 2007. Mas com certeza o livro tem que ser lido. Li no começo dos anos 2000 e até hoje sou fã. hehe

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