Talent Not Included | Suba no palco e se adapte as plataformas cilíndricas! (Impressões)

As vezes tudo que um indie game precisa para chamar a atenção é um única boa ideia. Um único aspecto ou elemento que o torne diferente da enxurrada de outros games pertencentes ao seu gênero. Especialmente se ele for um indie game, o que significa que é preciso visibilidade nesse mar de pequenos games sendo lançados diariamente. Talent Not Included tem uma, talvez duas, ótimas ideias.

O game chegou à Steam no final de agosto do ano passado, e debutou no Xbox One no último dia 15 de abril. No PlayStation 4 ainda não há previsão de lançamento (mas como todo indie game, a gente torce para em breve chegar lá também). Talent Not Included é uma produção canadense, da Frima Studios. E não é um indie essencialmente caro, custando 26 reais na Steam e 29 reais na Microsoft Store. Valor justo pelo conteúdo, mas já entro em mais detalhes sobre isso logo abaixo.

Talvez o mais importante antes de começar seja dizer que Talent Not Included, ou apenas TNI, não é o título mais incrível do mundo. Ele é até simples demais em diversos aspectos, porém sinto que ele é um daqueles games que se existisse na minha época de locadora lá nos anos 90, no Super Nintendo, seria um daqueles títulos que estaria sempre jogando de tempo em tempos. Isso porque é um game gostoso e agradável de se jogar, especialmente para quem é fã de games de plataforma 2D.

Uma pena que o game não esteja localizado com legendas em português. Não há muito texto, mas devido ao contexto da história, que brinca com uma peça de teatro, existe uma certa linguagem contextual na qual torna bem fácil se perder em alguns diálogos. No geral é possível entender, mas o game tem um toque de humor que poderia ser melhor apreciado se uma localização tivesse sido providenciada. Há muitos indies que se preocupam com isso para abraçar públicos ainda maiores.

Aventuras teatrais

A trama de TNI é um dos dois pontos criativos mencionados lá no começo. Ela aborda três demônios que amam destruição, banhos de sangue e… Shakespeare. Pois é, estranho. E eles resolvem criar uma peça de teatro, mas três atores – os personagens na qual o jogador irá controlar no game – começam a se destacar demais, deixando a peça e o que os demônios queriam de uma certa forma… ofuscados.

É uma brincadeira interessante. Muito mais do que se fosse um game medieval estilizado na qual o jogador anda por cenários na qual todo game com essa temática acaba possuindo. A atmosfera de Talent Not Included sabe ganhar o jogador e ela é parte importante do outro ponto, aquele que se sobressai sobre todos os demais elementos do game: as plataformas cilíndricas.

Talent Not Included não é um game 2D side scrolling, ou seja, como um Super Mario ou Mega Man na qual o jogador avança lateralmente pela a tela, podendo ir e voltar na fase. TNI é um game de tela fixa, então toda a ação acontece sem que o jogador avance para frente ou para atrás. A fase é o palco de um teatro, então é ali que o jogador precisa ficar.

E é exatamente aí que entra o sistema cilíndrico da fases, que dividem o palco em  setores na qual os cilindros no chão mudam o cenário de forma dinâmica, pedaço a pedaço conforme a programação do jogo, causando um interessante efeito de constante mudança, na qual o jogador precisa acompanhar o ritmo do cenário, pois o objetivo é pontuar o máximo que puder, sendo aplaudido pela plateia quando maior for sua pontuação.

Explicarei de forma mais detalhada. Cada estágio do jogo tem um determinado tempo. O objetivo do jogador é atuar bem, então ele precisa coletar itens (os doces amarelos que podem ser visto nas imagens ao longo deste texto), derrotar inimigos, ser rápido (pois há bônus de tempo) e não tomar dano (pois isso faz quebrar o combo de ponto). O estágio tem segmentos que precisam ser acionados mediante uma peça que lembra uma engrenagem. Então o jogador precisa coletar, derrotar inimigos e chegar a essa engrenagem o mais rápido que puder. Fazendo isso diversas vezes até o ato (estágio) se encerrar.

O game não tem um sistema procedural, ou seja, as fase são sempre as mesmas. Sem mudanças a cada gameplay. O que permite ao jogador treinar e ficar cada vez mais rápido e esperto, já que a primeira vez pode ter boas surpresas quando os estágios são minuciosamente projetados pelos desenvolvedores ao invés de serem gerados por um código que usa aleatoriedade para formar fases. Isso não funcionaria aqui.

E não pode esquecer que o jogador tem uma barra de energia, os clássicos coraçõezinhos. Se perder todos é Game Over para o estágio, e será preciso jogá-lo novamente desde o início. Não que eles sejam compridos, normalmente duram entre 4 a 6 minutos, alguns podendo durar mais, outros menos.

O game tem todo esse clima de uma peça de teatro. A audiência está sempre cochichando, aplaudindo, ovacionando ou vaiando, depende muito da performance do jogador ao longo de cada estágio. Seu personagem sempre tem esse holofote sobre si. São detalhes assim que torna TNI tão agradável.

Há mais dois fatores que merecem elogios. O primeiro é que o game tem suporte a multiplayer local (2 jogadores). Ótimo para quem gosta de jogar com um amigo ao lado no sofá. O segundo elogio é que a campanha é dividida em 3 atos de 15 estágios cada um (35 fases ao todo), sendo que cada ato é realizado com um personagem diferente: um cavaleiro de espada, uma ladra (ou mercenária) de adaga e um feiticeiro com seu cajado mágico. Cada um possui habilidades e estilos próprios de jogo. Veja os vídeos mais abaixo.

O cavaleiro é mais focado em ataque, ele pode girar no chão e no ar com a sua espada, permitindo alcançar distâncias e pegar inimigos no ar. A ladra é mais esquiva, podendo dar cambalhotas e desviar de projéteis, armadilhas e inimigos, no chão e no ar. E o mago é o mais diferentão, pois ele pode planar com sua capa e também pode se teletransportar a uma curta distância, em qualquer direção e atravessando quase todo tipo de plataforma e obstáculos como armadilhas e inimigos, além de atacar com projéteis mágicos que saem de seu cajado.

E cada personagem tem um cenário próprio, ainda que o estilo das plataformas se repitam em todos, com apenas uma ou outro elemento próprio dedicado as habilidades de cada personagem. Os inimigos, infelizmente, se repetem em todos os cenários de todos os personagens. Poderia ter uma variedade maior nesse aspecto.

O game também possui algumas batalhas contra chefes, acontecendo três vezes para cada personagem (o chefe de cada personagem evolui e progride a cada encontro) e ao fim, há um chefe final que pode ser jogador com qualquer um dos personagem. Um chefe bem complicadinho por sinal, porém não imbatível.

Isso resume bem Talent Not Included, porém as impressões ainda não terminaram. É preciso ter um momento mais crítico para com o game, porque mecanicamente, visualmente e teoricamente tudo parece ótimo, certo? Mas não é bem assim.

Considerações antes de abaixar as cortinas

Talent Not Included é um game bacana, simpático e com algumas ideias bem legais, mas é só isso. Não é algo imperdível ou inesquecível. Fica claro após algumas horas de jogo que as mecânicas e elementos vão se repetir bastante. É um daqueles títulos que cansa se for zerado em uma só sentada. Há uma progressão ao longo das fases, mas é lenta e bem contida.

O game tem algumas fases cabeludas e desafiadoras, mas também são bem pontuais. Fora que morrer em algumas fases pode ser frustrante após inúmeras vezes ao ter que recomeçar o mesmo estágio desde o início (dada a ausência de um checkpoint). São fases curtas, mas morrer no último segundinho para ela acabar é cruel nesse sentido. Uma vez é okey, mas me deparei com dois ou três estágios em que morri mais de seis vezes, sempre na mesma parte, bem próximo do finzinho. Tive que parar um minutinhos antes de reiniciar nas vezes em que isso aconteceu.

Não dá para dizer exatamente o que o game precisaria para ser melhor. Mais fases com certeza seriam bem vindas. Inimigos próprios para cada um dos heróis do game também. Talvez se os personagens progredissem pelos níveis e ganhassem novas habilidades. Uma mudança maior entre os estágios de cada um deles ajudaria bastante. Mas aí penso que se trata de um game indie, que preza pela simplicidade, e que talvez esteja complicando demais ao pedir por certas mudanças.

Acredito que no geral Talent Not Included cumpre o que promete. Eu só queria que ele tivesse me prometido um pouco mais. É divertido, mas claramente ele é humilde demais. Sinto que os desenvolvedores poderiam ter se arriscado um pouco mais e terem feito algo tão redondinho. Quem sabe algo mais maluco. A gente gosta de maluquice hoje em dia, não?

Atmosfera teatral cria um charme autêntico
Plataformas cilíndricas é uma ideia legal
Três personagens distintos funciona
Falta diversidade ao longo da campanha
Aposta no humor, mas carece de localização PT-BR
Divertido, porém dá a sensação de ser simples demais
Chefes legais e coop local são pontos positivos

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