Seasons After Fall | O poder de alterar as estações do ano! (Impressões)

Seasons After Fall é um daqueles indie games que inicialmente não parecem empolgar muito. É sua direção de arte que acaba segurando o jogador nesse primeiro contato, deixando-o curioso para ver até onde o visual é interativo para com a proposta do game, além de atiçar a curiosidade do que mais isso poderá oferecer. Felizmente antes mesmo que o jogador se dê conta, ele é fisgado por uma trama instigante, na qual a curiosidade lhe pega de forma desprevenida. Depois disso não tem como parar enquanto o Seasons After Fall não for concluído.

O título foi desenvolvido pela Swing Swing Submarine, um pequeno estúdio francês que já produziu outros jogos (a meu ver) menores, enquanto que Seasons After Fall aparenta ser o título mais autoral do estúdio até então. Aliás, um novo game da equipe está para ser anunciado em algumas semanas, na Gamescom 2017. Seasons After Falls foi distribuído em parceria com a Home Focus Interactive, que tem apoiado bastante indies nessa geração, como The Surge, Call of Cthulhu, a série Styx entre diversos outros.

O que ou quem é você?

A história de Seasons After Fall começa de uma forma bem enigmática, até meio abstrata. Existem lacunas que acabam sendo preenchidas por pura interpretação do jogador, ainda que mais próximo do final certos elementos vão ficando mais claros – ou mais confusas, dependendo do que você conseguir absorver dos elementos narrativos na qual o game se propõem a apresentar.

A sinopse oficial do jogo não é totalmente honesta com o jogador, e dá entendo os motivos após jogar o game. Na sinopse se diz que é um jogo onde você irá controlar uma raposa que tem o poder de alterar as estações do ano… mas não é bem assim. A raposa é uma mera ferramenta. Na verdade o jogador inicia o game em um ambiente um tanto quanto abstrato, despertando como uma pequena luz brilhante de energia, na qual instantes depois essa luz acaba sendo apelidada de Little Seed (pequena semente) por uma agradável e amigável voz feminina que meio que não aparenta ter forma corpórea e não se intitula de nada, mas conforme a aventura progredirá você descobrirá mais a seu respeito.

O caso é que Little Seed não pode fazer muita coisa nessa forma de luz na qual nasceu, então essa voz lhe traz um presente: uma pequena raposa na qual você irá tomar posse de seu corpo e vontade. Por quê? Porque segundo essa voz, você é responsável por restabelecer o equilíbrio das estações do ano, pois aparentemente os guardiões dela estão em um misterioso sono profundo.

Essa voz lhe dá uma missão então. Vá encontrar os fragmentos em posse de cada um destes guardiões e traga o poder das estações de volta ao local de seu nascimento, faça o ritual para estabelecer a ordem natural das coisas. A raposa, porém, acaba possuindo um grande peso e significativo mais a frente, e isso é muito legal.

Bem, parece uma missão simples e fácil, não? Até você descobrir que nem tudo é exatamente o que aparenta ser…

Relaxe e curta a paisagem

Seasons After Fall é um game bem tranquilo. Ele é um mistura de elementos de plataforma, exploração e puzzles com leve influência de walking simulator, ou seja, o jogador passa um tempo considerável do game apenas andando por cenários, indo de ponto a ponto em busca apenas de chegar ao destino final.

Não há inimigos ou ameaças durante toda a experiência do game. Morrer é quase impossível, apenas em algumas particulares situações em um ambiente específico do jogo. Não há barra de saúde ou qualquer outra coisa parecida. O game até lhe tenta botar medo inicialmente, ao apresentar os guardiões, como se você tivesse que enfrentá-los, mas não se engane, não há qualquer tipo de batalha ou ação aqui.

É um game para realmente relaxar e desestressar, com sua beleza gráfica e ótima trilha sonora orquestrada. Tem um certo toque, mas bem moderado de metrodvania, no sentido de que o jogador terá que retornar a áreas previamente visitadas para ver e descobrir aquilo que era impossível na primeira vez que passou por tal ambiente.

Basicamente o desafio do título acaba sendo seus puzzles, que consistem em alterar a estação do ano para aquela que lhe permitirá avançar diante de uma plataforma ou obstáculo que esteja lhe impedindo de ir para onde precisa ir. Depois disso, é pular corretamente em plataformas e observar um pouco ao seu redor para entender o que o game quer que você faça. Os puzzles não são impossíveis, são até bem simples, porém requer atenção do jogador em algumas situações bem pontuais.

Alterar as estações é a grande proposta de sua mecânica, e é realmente algo impactante. Toda a paleta de cores e minuciosos detalhes mudam quando o jogador ativa esse poder, e tudo isso ocorre em tempo real. Verão permite que ramos cresçam e bulbos se transformem em trampolins, inverno faz água congelar, outono cria vendavais enquanto a primavera pode fazer árvores crescerem. E isso são apenas alguns recursos, pois existem outros que o jogador vai descobrindo conforme as situações se fazem necessárias ao longo de sua jornada, incluindo algumas envolvendo tipos de insetos.

O game possui quatro grandes áreas para serem exploradas, uma para cada guardião e seu respectivo fragmento que representa uma das quatro estações do ano. Todas estas áreas podem sofrer a mudança do poder de alterar a estação, ou seja, elas possuem quatro variações de layout, uma para o verão, primavera, outono e inverno. Porém talvez sejam mais lineares do que talvez devessem ser.

Comentei no começo desse texto que o jogo parece não empolgar ao se iniciar justamente porque seu início consiste em basicamente correr para estas áreas inicias, pular plataformas, resolver os primeiros puzzles (e por isso são simples demais) para chegar ao final de cada áreas atrás do fragmento que lhe dará o poder de alterar a estação. Depois disso, é preciso voltar pelo mesmo caminho, sem fast travel, até voltar ao ponto de origem (o santuário onde o jogo se inicia). Inicialmente isso é meio tedioso.

O que segura o game nesse momento é realmente a sua história. Essa voz feminina vai conversando com o jogador, dando contexto ao que está acontecendo, falando mais de si mesmo, dos guardiões e do que aconteceu nesse mundo. Isso e a certeira direção de arte segurando o game até que esse arco introdutório do game se conclua, que é justamente quando o jogador tem pleno poder de alterar as quatros estações. Depois disso o game ganha bem mais ritmo.

Pena que para alguns jogadores brasileiros a barreira linguística pode ser um problema, pois Seasons After Fall não possui localização em nosso idioma, nem mesmo em legendas. Mancada.

Depois de vencido esse primeiro ato inicial da história (que deve levar uma hora, no máximo duas horas), Seasons After Fall se abre e fica mais divertido. Algo acontece, não vou revelar o que, e aí o jogador deve retornar as quatro áreas previamente visitadas, para liberar quatro pedras sagradas e, posteriormente, encontrar quatro altares. Nesse momento também é possível vasculhar o ambiente atrás de um ponto de história secreto (local onde o jogador irá dormir) e também germinar pequenas flores que funcionam como colecionáveis do game.

Claro que seria chato retornar as áreas previamente visitadas se não houvessem novos pontos a serem descobertos. E sim, existem novos locais que inicialmente o jogador não consegue acesso. Funcionam como novas dungeons, onde é preciso resolver algo bem mais elaborado do que o primeiro ato do game, como se guiar por um labirinto completamente escuro ou encontrar meios de destruir pontos que bloqueiam a passagem de vento ou descobrir como criar uma sequência de símbolos corretamente. São momentos engenhosos, admito, que dão uma sensação recompensadora ao jogador quando vencidos.

Isso pode ser feito em qualquer ordem. As quatros áreas ficam abertas e o jogador pode ir encontrar estes locais em qualquer ordem que desejar. Dá uma certa sensação de liberdade. Enquanto a trama em si vai ficando mais pesada, mais séria e uma nova voz, desta vez masculina, vai servir de guia para esse outro momento da aventura.

Bug irremediável (relato)

Feito todas as explanações acima, sinto que poderia partir para as considerações finais de Seasons After Fall se não houvesse nada mais a relatar. Só que infelizmente tenho algo que preciso passar adiante: um bug do game que pode travar e impedir o jogador de terminar o game, sem que seja possível corrigir isso, obrigando-o a começar toda a aventura novamente.

Gostaria que fosse algo raro, de uma em um milhão. Infelizmente pelos relatos que podem facilmente serem encontrados no fórum do game na Steam não me parece algo tão raro assim. E infelizmente fui um destes azarados que teve o bug e fez o meu game travar aos 92% da aventura estar concluída. Basicamente só precisava de mais 10 ou 15 minutos de gameplay para encerrar o game e não consegui. Tive que ir ver o final da história no You Tube (porque eu realmente estava pilhado para saber o final da história). Vou explicar melhor do que se trata esse bug.

Em certo ponto do game, algo irá acontecer e o jogador receberá a missão de encontrar quatro altares, que precisam ser ativados para que o jogo seja concluído. E estes altares não podem ser encontrados pelo jogador a menos que uma mudança aconteça em todas as quatro áreas do game. Para isso os desenvolvedores animaram quatro cutscenes que apresentam tal mudança e dizem ao jogador que esta é a hora de ir procurar tal altar.

Elas ocorrem em três momento do jogo. Dois altares são liberados simultaneamente, quando duas áreas (não importa a ordem) são vencidas ao se liberar as pedras sagradas, então ocorre duas cutscenes em sequência. A terceira precisa acontecer ao se liberar a terceira pedra sagrada e o quatro altar acontece logo após liberar a quarta pedra. Se algumas destas cutscenes não acontecer logo na sequência relatada ao se liberar as tais pedras sagradas, nem deixe o game salvar, resete-o imediatamente e faça essa área novamente.

Despercebidamente não tive justamente a cutscene que deveria surgir depois de vencer a terceira área do game. Como o game liberou duas ao mesmo tempo, achei que só depois de liberar mais duas pedras sagradas é que mais dois altares seriam liberados. Foi meio que um choque ao vencer a quarta área e perceber que apenas um altar se tornou acessível.

Mas não é realmente possível acessar, mesmo sem a cutscene? Não, não é. Não tem malabarismo que libere essa área. No meu caso, foi na área onde um lago congelado deveria ser drenado, tornando um buraco a conexão para uma área nova, que é quase como uma sala secreta. Sem a cutscene, o lago não é drenado. Sem isso não tem acesso ao altar da região e não tem como terminar o game.

É muito ruim que existe algo tão perigoso dentro da programação do game. Não há opção de salvar o jogo em múltiplos slots, então nem se eu quisesse carregar um save mais antigo, não teria essa possibilidade. Só mesmo começando de novo e ficando mais atento a estas quatro cutscenes. E segundo pesquisei por aí, é um bug bem mais comum do que deveria.

Há relatos disso no fórum da Steam (a versão de PC pode ser corrigida mexendo no código do save, basta pedir ajuda do desenvolvedor lá no fórum) e comentários de vídeos de walkthrough do game no You Tube. Esse bug na versão de console não tem solução, a menos que um patch futuro corrija isso, ou você perceba na hora que a cutscene não aconteceu e resete o game imediatamente antes do mesmo salvar (já que o salvamento é automático). Cheguei a mandar um e-mail ao suporte técnico da Swing Swing Submarine mas até o momento da publicação dessas impressões não tive qualquer retorno.

Ao fim, não é um bug que ocorre 100% das vezes. O índice de pessoas que concluíram o game é muito maior do que daquelas que sofreram com esse bug. Mas diante do fato ter acontecido comigo, senti no dever de relatar e explicar como ele ocorre, afim de alertar aqueles que forem jogar o game e assim ficarem espertos a esse detalhe (para não continuarem o gameplay, como eu fiz, e só perceberem depois que não deveriam ter continuado avançando). Se eventualmente um patch surgir e corrigir isso, tenha certeza que irei retornar aqui e avisar.

Considerações finais

Se não fosse pelo relato peculiar e pessoal feito acima, Seasons After Fall teria sido uma experiência muito satisfatória. É um game visualmente encantador, com um trabalho de voz incrível, que pega fácil o jogador por meio de uma trama gostosa de se acompanhar, que mexe com a curiosidade de querer saber mais de seu mundo. E o final é mágico mesmo. Valeu a pena ir ver no You Tube – diante da impossibilidade de terminar os últimos 10 minutos do meu save.

A trilha sonora orquestrada também merece elogios. Há momentos em que ela toca na alma do jogador, ainda que não faça isso a todo o momento do game. Existem momentos singulares em que ela se destaca de todo o resto do jogo, principalmente quando entra os toques de violino.

A ausência de inimigos e de qualquer sistema de combate não me incomodou totalmente. Senti sim uma pontinha de que talvez isso tenha feito um pouco de falta sim, mas não arruinou a experiência. Só achei que poderia ter rolado alguma batalha puzzle contra os guardiões em algum momento da trama, o que infelizmente não acontece. Os guardiões possuem um design tão impactante e possuem uma participação tão pequena. É uma pena.

É um indie game que vale a pena experimentar. Inicialmente parece um indie game curto, mas não é. Fica na média de seu gênero, entre 6 a 8 horas para ser concluído 100%. Se não se interessar agora, talvez quando o ver em uma promoção na sua plataforma preferida você possa dar uma chance ao jogo. Quem busca aquele estilo de jogo mais artístico, certamente irá se sentir bem ao jogar Seasons After Fall.

Galeria

Belíssima direção de arte
Trama contagia rapidamente o jogador
Jogabilidade meio simples demais
Boa dublagem (inglês) e ótima trilha sonora
Começa lento, mas melhora de ritmo rapidamente
Cuidado com o bug que corrompe o save

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