Cinema: Ensaio Sobre A Cegueira – Eu fui!

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Risco de Spoiler! Se você é alérgico, não continue!

Nem todos conseguirão ver a beleza deste filme.

Fernando Meirelles é um diretor corajoso. É dele o cultuado filme Cidade De Deus e do tocante O Jardineiro Fiel. Mais uma vez ele prova essa coragem ao adaptar para o cinema o difícil livro Ensaio Sobre A Cegueira, do autor José Saramago. Meirelles cria um filme que faz justiça ao livro: é cruel e extremamente real. Talvez por isso esta seja uma obra que não agradará a todos.

Acompanhamos no filme o drama de um grupo de pessoas colocadas em quarentena em um manicômio por estarem sofrendo da inexplicável Cegueira Branca. Uma epidemia que se alastra por uma cidade não identificada e que deixa todos cegos, ou na descrição de um personagem: “como se se encontrasse mergulhado de olhos abertos num mar de leite”. Todos os personagens estão cegos, exceto por um: a Mulher do Médico. Ela inexplicavelmente está imune a epidemia e recai sobre suas costas a responsabilidade de cuidar de todos. Tentando manter a idéia de sociedade, os cegos procuram se organizar na distribuição da comida e no “funeral” dos companheiros. Mas, após pouco tempo trancafiados no manicômio a desordem se instala e nesse cenário é onde o instinto de sobrevivência fala mais alto.

Não veremos no filme a causa da cegueira ou a sua cura, no seu lugar é retratada a decadência da sociedade e a perda de todos os seus valores e o esforço de um pequeno grupo em manter o resto de humanidade que ainda possuem.

Uma característica importante do livro e que Meirelles manteve no filme foi a ausência de nomes para os personagens. Todos são conhecidos por suas profissões (O Médico), seus relacionamentos (A Mulher do Médico) ou suas características físicas (O Menino Estrábico). A fotografia do filme é tomada por um branco saturado que chega a doer os olhos, passando ao público a sensação da tal cegueira branca.

O elenco é incrível, mas a atenção volta-se totalmente para Juliane Moore que interpreta a Mulher do Médico. Sendo a única que pode ver ela carrega a enorme responsabilidade de cuidar não somente do marido, mas também de todos os outros. Ela é excepcional em registrar o desespero velado da personagem.

Gostaria de recomendar o filme para todos, mas não posso. É um filme difícil de ser digerido e que necessita de uma profunda reflexão após ser assistido. É como diz Saramago em seu livro: “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.”

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