Cinema: Harry Potter e o Enigma do Príncipe – Eu Fui!

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Alerta! Alerta!
Risco de spoiler! Se você é alérgico, não continue!

O melhor FILME de Harry Potter até agora.

Filas gigantes, desorganização, cosplayers, roda de violão e brigas. Isso foi o que vi na pré-estréia de “Harry Potter e o Enigma do Príncipe” aqui em Cuiabá – MT. A Cine Araújo (empresa que gerencia o cinema que fui) deveria se planejar melhor para essas grandes estréias. Tinham apenas uns cinco ou seis funcionários perdidos naquela multidão, dava dó de ver. Mas, nem toda a confusão do mundo foi capaz de ofuscar o brilhantismo do filme. Estamos acompanhando Harry Potter nos cinemas há quase dez anos e é nítida a evolução e o amadurecimento da série, que começou como uma simples aventura do Menino Que Sobreviveu e que agora chega ao ápice com um drama pesado e tenso.

Voltem para o início deste post e veja o que escrevi: “O melhor FILME de Harry Potter até agora.”. Sim, filme. O roteirista Steven Klovens finalmente decide ir além do texto escrito por J. K. Rowling e se arrisca adicionando cenas que funcionam maravilhosamente bem. A cena do ataque ao Beco Diagonal e que culmina com um ataque a Londres é fantástica e serve para retratar que tanto o mundo bruxo quando o mundo dos trouxas estão ameaçados pelo Lorde Das Trevas. Tem também um ataque a casa dos Weasleys, que apesar de curta, adiciona um drama extra ao longa. Ah, já ia me esquecendo da cena inicial, que faz um gancho direto com “A Ordem da Fênix”: Harry e Dumbledore no Ministério da Magia cercado de jornalistas e fotógrafos, enquanto ouvimos frases memoráveis como “Eu matei Sirius Black!” e “Ele está de volta!”. Coisa de gênio.

Apesar das inúmeras cenas dramáticas é um alívio notar que não esqueceram de todo o romance e comédia que o sexto livro possui. Quase todos os seus personagens possuem seu momento na tela grande: Rony Weasley com a poção do amor, Hermione e seu ciúmes, Luna e seu hilário chapéu de leão e por aí vai. Esses momentos cômicos são muito bem vindos e servem para aliviar um pouco a tensão do filme. Assim como as cenas românticas servem para estreitar ainda mais a relação entre os personagens e o espectador e também para passar uma mensagem importante: mesmo nas situações mais difíceis, o amor ainda consegue surgir. Essa é uma mensagem recorrente no texto de Rowling e que pelo visto passou batido por muitos fãs, já que as cenas românticas foram as mais criticadas. Ouvi comentários de que “parecia um episódio ruim de Malhação” mas eles se esquecem que todos os personagens do filme estão nessa época conturbada de descobrir o sexo oposto e todo o drama que a puberdade traz. E realmente, as cenas românticas ganham maior importância e deixam de lado o desenvolvimento do mistério em torno do Príncipe do título.

Deixa eu aproveitar a deixa e falar das atuações. As melhores da série até agora. Simples assim. Daniel Radcliffe finalmente se sente confortável no papel principal e até consegue ser engraçado na cena onde ele toma a poção Felix Felicis. Emma Watson como sempre é a melhor do trio principal e consegue transmitir muito bem os sentimentos de Hermione. Rupert Grint é o alívio cômico da turma e não faz muito mais do que isso. Mas como sempre, o elenco adulto é que rouba a cena. Jim Broadbent está simplesmente brilhante, ele consegue transformar o personagem do Profº Horácio Slughorn em um homem perturbado e ao mesmo tempo engraçado. É tocante a cena onde ele relembra a morte de Lilian Potter. Alan Rickman finalmente ganha mais tempo em tela e consegue personificar o Profº Snape que Rowling criou. Ele tem fala calma, suave e totalmente cheia de ódio e desdém. Mas quem me impressionou de verdade foi Tom Felton, o detestável Draco Malfoy. Ele deixou de ser uma inimizade de Harry para se tornar um inimigo cheio de angústia e mortal. Não ficaria surpreso, se houver alguma indicação de Oscar para qualquer um desses atores, eles realmente fizeram um trabalho memorável. Outro detalhe do filme que com certeza ganhará uma indicação a estatueta é a fotografia. Bruno Delbonnel transmite todo o clima pesado do filme em uma paleta de cores escuras, quase monocromáticas. Tornando a presença de cores fortes um elemento estranho, que contrasta com a tristeza do mundo ao redor.

“Enigma do Príncipe” é sem dúvida o filme com menos ação da série – assim como o livro – mas isso não quer dizer que ela não exista. As cenas de ação estão lá, mas distribuídas durante todo o filme e são todas muito bem produzidas. Os efeitos especiais e as jogadas de câmera são de tirar o fôlego. Mas o foco principal do filme é o desenvolvimento dos personagens e a preparação do terreno para os dois últimos filmes da série. E isso ele faz extremamente bem. Aliás, o que mais gostei foi que não mostraram as consequências da morte de tal personagem, que deverá ser melhor trabalhada nos filmes seguintes.

Não se deixe levar pelos comentários dos fãs, “Harry Potter e o Enigma do Príncipe” é sem dúvida o melhor filme da série. Tomando diversas liberdades com o texto de Rowling, eles criaram um filme dramático com foco no roteiro e não nos efeitos especiais, coisa rara de se ver em filme dessa magnitude.

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