Homem-Aranha Noir: A Face Oculta | Opinião

O Aranha encara o racismo e os preconceitos da humanidade!

E as aventuras em estilo noir continuam! Depois de conhecer Homem-Aranha e X-Men, a Panini volta a investir nas continuações da série, e acabei de ler a segunda edição do Aranha.

Homem-Aranha Noir: A Face Oculta conseguiu me agradar mais do que a primeira edição, com uma história cheia de pontos extremamente dramáticos, um tema centrado no racismo, em uma HQ novamente conduzida por David Hine e Fabrice Sapolsky,  ilustrada por Carmine Di Giandomenico. Vamos ver como é essa aventura?

O ano é 1933, o presidente Roosevelt luta para amenizar os efeitos da Grande Depressão, ao mesmo tempo em que Peter Parker agindo como o Homem-Aranha tenta fazer a sua parte combatendo os criminosos que exploram a desgraça do povo. O que naquele época não era mais fácil do que atualmente.

Oito meses se passaram desde a última vez que vimos o Aranha em ação. Durante esse tempo, imagino que o Aranha combateu muitos criminosos comuns. Isso deve ter sido ótimo pra ele se aprimorar em suas habilidades recém-adquiridas, agora ele me pareceu usar seus poderes de forma mais eficiente.

Mas o lugar do Duende agora foi ocupado pelo Mestre do Crime, e o Aranha decide ir atrás dele. Eu gosto do jeitão mais direto desse Aranha, geralmente é ele que vai atrás das encrencas, ao contrário da nossa versão normal.

Logo temos um vislumbre da maneira agressiva e ousada que o Mestre do Crime tem de conduzir seus negócios, bem como descobrimos que um dos seus capangas é o Homem-Areia, que entra em cena literalmente explodindo cabeças, eu gostei.

Me agradou também ver que Peter continua ligado com a Felicia Hardy, mas ela continua com suas “atividades”. É uma legítima representante das bad girls, mas eu sempre torço para ver nela alguns atos bondosos. Mas a gata sempre mostra-se um tanto quanto ambígua. Eu sinto que ela quer se libertar, mas que as amarras ainda são fortes demais para ela.

Mary Jane aparece um pouqinho, mas eu não curto muito essa versão dela, me parece um tanto quanto sem graça, sem aquela energia e positivismo que a nossa MJ possui. Nesse caso, prefiro Peter se relacionando com a Felicia mesmo. Não sei se gostaria de ver Peter ficando com MJ, já me apeguei muito com a dona da boate Gata Negra.

A Família Robertson também aparecem em cena, em especial o jovem Robbie. Aqui ele é um repórter do Clarim que tenta vencer o racismo enquanto investiga um certo biólogo patrocionado pelo governo, o renomado Dr. Otto Octavius. O excêntrico doutor realiza operações um tanto bizarras em macacos com o intuito de desvender os mistérios do corpo e da mente humano.

Eu achei sensacional essa versão do Octopus, aqui ele possui uma certa inocência maligna. No fundo ele é um homem bom, mas para conseguir seu objetivo ele faz coisas deploráveis. O conceito dele ser um paraplégico e usar braços mecânicos ligados a sua cadeira de rodas o tornam um personagem bem interessante, e as coisas que o motivam a fazer o que faz parecem aceitáveis em um primeiro momento.

Conforme o Aranha progride com as investigações, ficamos sabendo que seguidores do nazismo estão infiltrados na cidade, que o Mestre do Crime é um mero fantoche deles, e que os experimentos malucos do Dr. Octavius são financiados por esses nazistas. Essa é uma coisas que mais me chamaram a atenção na HQ.

Tudo é muito bem resolvido na trama, essa ligações fazem sentido, a história fica emocionante, com Peter correndo contra o tempo para salvar Robbie que foi misteriosamente sequestrado, mas isso leva elea  enfrentar o Mestre do Crime e o Homem-Areia, e quase não sai vivo do confronto, sendo salvo pela ação do agente Jean De Wolfe, que aqui está tão durão quanto o personagem original.

Achei bem legal a idéia de mostrar o Homem-Areia como se ele fosse literalmente um saco de areia. Os agentes atiram nele e por um momento as balas o atravessam e ele não cai de imediato, como se fosse mesmo de areia. A “invulnerabilidade” dele é resultado das experiências do Dr. Octavius. O que exatamente aconteceu é um mistério.

Peter percebe que o cheiro do Homem-Areia é parecido com aquele de formol que sentiu no laboratório do cientista, e faz a ligação entre as peças do quebra-cabeça. Mestre do Crime, Ku Klux Klan, Amigos da Nova Alemanha, Dr. Octavius, todos envolvidos. Tá aí uma coisa que não vê muito nas HQ’s atuais. São temas que ainda geram desconforto em nossa sociedade.

Antes de ir atrás deles, Peter vai se encontrar com Felicia. Quando amanhece, ela dispensa o jovem herói pois ela aguarda a visita de um sujeito com o qual também está dormindo, e ele é o Mestre do Crime! O sacana descobre que a gata está envolvida com o Aranha depois dela fazer perguntas incovenientes e ver marcas de sangue no banheiro e na sacada do apartamento. A gata apanha, e muito.

O Aranha vai sozinho visitar o Dr. Octavius, e descobre tudo sobre a experiência macabra do cientista, inclusive que seu amigo Robbie virou uma cobaia dele. Os aliados dos nazistas mandam o Mestre do Crime desativar a operação do Dr. Octavius, e os alemães pretender trazer o doutor para a Alemanha a fim de que ele continue suas experiências lá.

O Aranha chega nesse momento e luta com o pessoal do Mestre do Crime. Aí acontece algo inesperado, o cientista mata o Mestre do Crime que havia o desprezado por ser aleijado! O Aranha tentar matar o cientista por conta dele ter feito experiencias com Robbie que estragaram a mente do amigo. Será mesmo que esse Aranha é capaz de matar assim?

Os federais chegam e impedem a vingança do Aranha, e O Dr. Octavius escapa ileso por ser protegido do governo e só é deportado para a Alemanha. Peter visita Felicia, mas ela não quer vê-lo nunca mais. Ela sofreu muito nas mãos do Mestre do Crime e sobreviveu por um milagre, mas com cicatrizes profundas em seu corpo. E não sabemos o resultado ainda.

A edição termina de maneira espetacular, com o Dr. Octavius chegando em solo alemão, e assim que é recebido pelos nazistas e eles percebem que é um aleijado, matam ele sem dó alguma, pois nas palavras do Comandante Himmler ” nossa meta é uma Alemanha povoada por uma raça ariana pura, dotada de cérebros perfeitos em corpos perfeitos”.

Esse é o fim da segunda aventura do Homem-Aranha Noir. Uma aventura sensacional, com uma trama bem contada e bem amarrada, que toca em temas polêmicos como racismo, nazismo, e o uso de cobaias humanas para experimentos científicos. São temas fortes e por isso mesmo a edição é recomendada somente para maiores de 16 anos. Portanto, nada de dar uma edição de presente para seu irmãozinho, ok?

A essa altura é possível dizer que os dois Aranhas só possuem o heroísmo em comum. A versão Noir é bem mais soturna, sem fazer nenhum gracejo ou piadas infames. Esse Peter aceita mais o lado sombrio da pessoas, sabe que todos temos um lado ruim, inclusive ele. Percebe que é normal enxerguar o mundo de maneira fria, e que às vezes acontecimentos colorem a vida com tons fortes.

O acabamento da edição é naquele padrão luxuoso, formato americano, 108 páginas, capa dura, impressão em papel couché. Tudo isso por apenas 19,90! É uma excelente pedida, mesmo que você não tenha lido o primeiro volume, recomendo fortemente!

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