Reflexão | A evolução da XBLA pode matar o Xbox 360?

O sucesso do formato digital desestimula a produção convencional em mídia?

Para entender essa matéria é preciso ter um pouco de contexto do que vem acontecendo no universo gamer nas últimas semanas. Resumidamente andou rolando um rumor de que a Microsoft poderia estar estudando acabar com os Microsoft Points, moeda virtual para compras no Xbox 360. Isso é um rumor e nada oficial aconteceu ainda, mas faz sentido, já que o modelo de moeda virtual não faz muito sentido hoje em dia, e acaba sendo uma maneira de disfarçar preços inflados ou causar confusão entre os consumidores. (saiba mais)

Outro ponto importante foi  uma declaração do gerente global de marketing da XBLA, Michael Wolf) relantando que o sistema Live Arcade pode mudar dependendo do futuro do formato digital. E isso despertou debates em alguns lugares sobre o futuro do termo “Live Arcade” e de que muitos dos games desenvolvidos para a XBLA não são literalmente “arcades” na essencial que o sistema tinha quando foi lançado anos atrás.  Porque não abandonar então o termo Xbox Live Arcade para simplesmente Xbox Live Games, por exemplo? Wolf diz que não há planos pra isso acontecer tão cedo, mas não descarta a evolução do sistema e por consequência o nome empregado atualmente para definir os games da plataforma digital. (saiba mais)

E o último fato importante ocorreu agora nesta GDC 2012 (Game Developers Conference). A Microsoft anunciou e revelou alguns games, tanto no formato em disco/caixinha quanto na XBLA. Mas aparentemente o grande destaque foram os games da XBLA e isso causou uma sensação estranha em alguns foruns pela web. Há realmente algo estranho quando um console começa a ter games mais originais, diferentes e interessantes no formato digital do que em mídia física? Essa aposta alta na produção de jogos para a Xbox Live Arcade parece estar tirando foco da Microsoft Studios em desenvolver novos games (e franquias) em mídia para o Xbox 360, enquanto a mesma fica apenas reciclando suas poucos franquias. A XBLA pode acabar sendo o tiro no pé da Microsoft?

(Ao longo da matéria eu tasquei uma porrada de vídeos dos futuros lançamentos da XBLA em 2012, muito deles exclusivos da plataforma. Recomendo que deem uma olhada para que possam entender melhor como anda o desenvolvimento atuais de games para o sistema, em relação ao nível gráfico e criativo.)

É complicado entender mercado. É fácil por outro lado entender o gamer. Esse quer games, quer coisas novas, quer sequências que respeitem suas origens, que continuar ano após ano se divertindo e sendo impressionado por novos games. Mas o formato importa? O tamanho do game importa? O valor de venda dele importa? Se for um excelente jogo, tanto faz se ele sair em mídia ou por download? O nosso lado é fácil, queremos mais, melhor e o mais criativo possível. Já da perspectiva do lucro, do mercado, da infraestrutura de uma plataforma e da burocracia que os pequenos desenvolvedores possuem não é tão fácil assim de entender e  muitas vezes não há o simples preto e branco, temos uma enorme massa cinza que torma as coisas ainda mais confusas.

Eu adoro a Xbox Live Arcade e esse é um sentimento que não é recente. Gosto desde que assinei a Xbox Live, desde do momento que baixei meu primeiro trial de um game pago. Acho sim que há dezenas de games fodásticos via download que deixam no chinelo alguns games em mídia física (mas o contrário também ocorre bastante). Fico bobo de ver o custo-benefício do serviço, que é totalmente adequado ao meu bolso, com games ótimos que custam entre U$ 5 a U% 15 e que recularmente posso adquirí-los com descontos na promoções da Xbox Live. Claro que nem tudo são mil maravilhas.

Entendo quando vejo gamers comentando na web a frustação que possuem com seus X360. É complicado quando a Microsoft não apresenta novas franquias e novas ideias em mídias físicas e fica insistindo em reciclar o que já é sucesso na plataforma. Quer dizer precisamos mesmo de um novo Halo todo bendito ano? O multiplayer não pode simplesmente ser expandido por DLC a cada 6 meses? Entendo que isso é culpa do efeito Call of Duty e que até agora todo Halo feito na sequência conseguiu superar seu antecessor e apresentar novas ideias e que a Microsoft não é a única fazendo isso. Assassin’s Creed é um outro bom exemplo. Forza mesmo já sabemos que teremos outro em 2012, desta vez de forma de spin-off (Forza Horizon) e que em 2013 Forza 5 será lançado. Pow, precisa mesmo de um jogo de corrida semelhante a cada ano? Need For Speed é uma das raras exceções ao gênero que faz isso e ainda assim consegue patinar bonito na qualidade entre suas sequências.

Enquanto isso na XBLA a história é diferente, com novas propostas originais e criativas. Com exclusividades ou ao menos um bom destaque em relação a PSN (pra mim o maior erro da Sony é lançar seu update de forma semanal, num mesmo dia, ofuscando parte do conteúdo). O maior problema da Xbox Live Arcade é que apesar do seu crescimento e da sua evolução ela ainda continua engessada em certos aspectos. Os games continuam relativamente curtos, os gráficos ainda possuem limitações que as mídias físicas não precisam se preocupar tanto assim, as conquistas e desafios ainda são menores do que os de mídia e também há uma certa carência em criar games com multiplayer online que possuem uma complexidade e longevidade que um Gears of War ou um Halo possuem. Tenho vários títulos da XBLA que apesar de ter suporte online não se acha de forma fácil e eficaz outros jogadores para se brincar. A XBLA ainda não deixou de ser totalmente “arcade” então, mas caminha para melhores performances. O aumento do tamanho dos games (agora até 2GB) ajudaram a melhora gráfica e de conteúdo, mas ainda está longe do ideal.

O tamanho dos games causam um impacto em outros fatores de hardware, mesmo com seus aspectos positivos. O primeiro empecilho é o HDD, onde os donos dos consoles são obrigados a ter o oficial do aparelho, impedindo a expansão de HDD Externos. Tem aquela história de pendrives que podem aumentar em 32GB o tamanho do espaço, mas ainda assim está longe do ideal. Eu com um HDD de 250GB já ando preocupado se ele vai aguentar até a próxima geração, já que só tenho 80GB livre atualmente. Se cada XBLA comprado tiver 2GB, com apenas 10 deles já foram 20GB. A matemática não está a favor dos HDD do Xbox 360.

 Dá para entender um pouco o motivo da Microsoft Studios investir tanto na XBLA e tão pouco em games de mídia. O custo é menor, as parcerias com pequenos desenvolvedoras favorece estes que querem crescer e a Microsoft que pode morder uma fatia maior do lucro do que se fizesse parcerias com estúdios maiores, que podem dar o braço a torcer e recusar parcerias que não sejam completamente justas para todos. Mesmo que muitos pequenos desenvolvedores choraminguem de certas burocracias e injustiças, tanto a XBLA quanto a PSN abriram portas para eles para os consoles caseiros, onde os maiores estúdios do mundo produzem há décadas o melhor do universo gamer.

 Enfim volto ao que disse lá no começo do post. É fácil entender o que o gamer quer, mas nem sempre é fácil enteder o lado empresarial do mercado. Que a XBLA é ótima não há o que negar, mas ela ainda não tem maturidade o suficiente para substituir as produções em mídia. Acho que ambos (digital e mídia física) ainda precisam existir e serem planejados por mais algum tempo, mas a Microsoft anda navegando em mares perigosos ao apostar demais na XBLA.

É díficil criar uma nova franquia original? Certamente e acredito que a plataforma digital pode servir muito bem para testar conceitos diferentes, que futuramente podem acabar sendo transportados para mídias físicas. E também pode acontecer o inverso, um novo game em mídia não dar certo e voltar para o formato digital, enquanto se repensa o que aconteceu com a franquia. E já temos nessa geração exemplos de casos assim: The Gunstringer e Rayman Origins foram pensados em formatos digitais quando estavam em pré-desenvolvimento e depois migraram para mídias. Alan Wake veio primeiro em mídia, mas encontrou dificuldades e agora uma sequência saiu direto na XBLA, enquanto o estúdio não encontra uma forma de aprimorá-lo para mídia física. I am alive da Ubisoft sofreu algo semelhante, já que inicialmente era um jogo de mídia, mas sofreu tantos problemas nos últimos anos que para não ser cancelado está sendo lançado capado e encurtado na XBLA.

Os formatos então podem andar juntos e as vezes se beneficiam disso, mas ambos devem existir. A Microsoft precisa investir no formato físico, precisa repensar nos seus poucos exclusivos e parar de desgastá-los. Precisa começar a pensar em pegar algumas peças sólidas da XBLA e estudar expandi-los no formato em disco. Precisa começar a fazer seus próprios (e poucos estúdios) trabalharem com mais ousadia. Alias acho até que a Microsoft deveria ter mais estúdios, e que parasse de estragar os poucos que tem (como a Rare). Há uma certa estratégia de parcerias com DLCs de conteúdos exclusivos de games de third parties, e isso é legal, mas não acho que seja suficiente para segurar gamers. Levels, mapas, roupas extras são legais, mas estão longe de serem excelentes como produções próprias, apostando na potência de seu console.

O próximo console deve aparecer num breve futuro e precisamos ver com muita atenção como a Microsoft irá desenvolver seus games daqui pra frente. Dá pra viver em um console da empresa apenas apostando em jogos para a XBLA? A massiva quantidade de títulos exclusivos pra essa plataforma não me parece conseguir ganhar dos exclusivos em mídias das grandes franquias da concorrência. Isso é um problema grande e complicado. Nem só de Halo, Gears, Fable e Forza vivem os donos da caixa verde.

XBLA é um lugar ideial para testar novas idéias e conceitos, mas os games precisam crescer e expandir para o formato físico. Se isso não acontece significa que tem algo errado acontecendo. A Microsoft Studios tem que fazer mais do que vem fazendo…

(mais e mais vídeos!)

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