Análise | Greak: Memories of Azur

Disponível para PlayStation 5, Xbox Series, Nintendo Switch & PC

Greak: Memories of Azur é um jogo 2D side-scrolling totalmente desenhado à mão, que abrange os gêneros ação, quebra-cabeça, plataforma e aventura que teve seu lançamento no último 17 de agosto para PlayStation 5, Xbox Series, Nintendo Switch e PC. Notou? Pois é, não tem suporte ao PlayStation 4 e Xbox One. Foi desenvolvido pelo estúdio Navegate Entertainment e publicado pelo Team17, sendo uma aventura solo para 1 jogador. A versão utilizada para esta análise foi a de Nintendo Switch.

Caso não esteja lembrando, a nomenclatura side-scrolling é usada para classificar os jogos de rolagem lateral, no qual a jogabilidade é vista do ângulo da câmera de visão lateral e, à medida que o personagem do jogador se move para a esquerda ou para a direita, a tela rola juntamente com ele.

Um fato importante é que o jogo conta com várias opções de idiomas, incluindo nosso português, o que já permite todo um entendimento maior de sua história pelos gamers brasileiros, em especial àqueles que por vezes não estão familiarizados com outros idiomas. A tradução de todo o jogo é muito competente e não apresenta erros.

Aqui assumiremos o controle não somente de um personagem, mas sim de três irmãos, Greak, Adara e Raydel, ao mesmo tempo, em uma aventura para explorar o território de Azur e assim escapar, juntamente com os Courine, da praga que assola a região, e também da invasão orquestrada pelos malvados Urlags. Que nomes, não? Mas darei melhor contexto a esse plot, aguenta aí.

Controlando a irmandade

Como mencionado, o jogador então assumirá o controle de três irmãos pertencentes à raça Courine: Greak, Adara e Raydel. Podemos alterar o controle entre os três simultaneamente e assim utilizar as habilidades únicas de cada um para progredir, coletar itens e resolver os quebra cabeças.

A aventura se inicia dando ao jogador o controle do personagem Greak, que rapidamente encontra sua irmã Adara. Ambos partem em busca do irmão mais velho, Raydel. Só que… tudo isso era um sonho de Greak! Hein?

Na verdade, Greak foi atacado e foi salvo pelo pessoal do vilarejo, que o acolheu e cuidou. Em seu despertar, tomamos conhecimento de que Greak é o irmão mais novo e pertence a uma raça mágica chamada Courines. Estes, por sua vez, estão sofrendo com uma praga que está atacando toda a região de Azur.

Como uma tragédia pouca é bobagem, os Courines ainda sofrem ataques de uma facção chamada Urlags, que viram nessa praga uma oportunidade de dominar toda a região. Os Urlags já estão empreendendo essa invasão às terras de Azur faz algum tempo já, deixando os pobres Courines com a única alternativa de fugirem de suas próprias terras na esperança de tentarem sobreviver em outro local.

O objetivo de Greak então se torna claro, ele precisa se reunir com seu irmão Raydel e sua irmã Adara, e juntos embarcarem no dirigível que está sendo construído pelos habitantes que o acolheram. Por falar nessa vila, ela funciona como um hub central para a aventura, a qual temos que ir em momentos chave para falar com personagens, fazer a entrega de itens e a coleta de informações sobre o próximo destino da aventura.

E localizar seus irmãos, além de encontrar as peças faltantes para a montagem do dirigível vai ser uma longa jornada, uma que não vai ser tão fácil assim para o jogador. Cada irmão se encontra em uma diferente situação e local de Azur, o que irá exigir exploração por parte do jogador. Assim que os encontrarmos, automaticamente entrarão para a equipe e permitirá que o jogador assuma o novo personagem, com novas habilidades.

As proezas de cada um

Por ser muito jovem e pequeno, Greak carece de treinamento na arte do combate, e por este motivo logo no início acaba recebendo treinamento de outros moradores do acampamento, de forma a conseguir se proteger. Um tutorial básico, mas implantado sabiamente de forma a fazer parte da jogabilidade de Greak e nos preparando para o que está por vir. Cada um desses “mestres” concede novas habilidades (como aprender a cozinhar receitas) ou ataques e movimentos (utilizando sua espada e seu arco e flechas) mas existem missões envolvidas em cada ensinamento, como a busca de ingredientes ou a derrota de um número x de determinados inimigos.

Justamente por ser o menor dos 3 irmãos, alguns locais apertados são acessados apenas por Greak e não podem ser visitados pelos outros irmãos. Greak conta com uma pequena espada, uma besta (então é bom sempre coletar as flechas encontradas pelo caminho) e também consegue usar pulo duplo, que usado consecutivamente possibilita a escalada de paredes.

Após algum tempo de jornada, Greak finalmente encontra sua irmã Adara, que imediatamente se junta à jornada. A delicada Adara pode flutuar por alguns segundos (ao invés de dar o pulo duplo dos irmãos), consegue disparar projéteis de magia (que podem ser atualizados para uma versão mais poderosa ao se segurar o botão de ataque por um tempo) e também pode nadar com bastante facilidade. Adara sendo um oráculo, deixou marcas mágicas pelos locais que passou para facilitar sua localização para os irmãos.

Por último, mas não menos importante, quem se junta ao grupo é o último dos irmãos, o guerreiro da guarda Raydel que possui espada e escudo, tendo obviamente uma facilidade maior que seus irmãos nos combates a curta distância. Seu escudo ainda pode ser utilizado para bloquear raios em determinados locais e ele também tem um gancho para escalar locais altos. Em contrapartida, devido ao peso de sua armadura, Raydel é muito pesado, o que o torna inútil na água.

Conforme vamos encontrando os irmãos, no canto inferior esquerdo da tela há que se observar o ícone direcional. Ao pressionarmos o botão correspondente ao irmão desejado, automaticamente passamos a controlar o mesmo, independentemente de onde eles estejam. E sim, nem sempre eles estarão juntos no mesmo ponto do cenário.

Caso estejamos com Adara, por exemplo, se Greak estiver ao alcance de seu campo de visão, ao pressionarmos e mantermos pressionado o gatilho superior direito, iremos chamar Greak, que vai sair andando em linha reta até chegar a sua irmã. E é aí que mora o perigo. O irmão “automático” não pula obstáculos, apesar de se auto defender de inimigos, precariamente, mas pelo menos não vai apanhar sem retrucar.

Para uma jornada mais tranquila, podemos agir de duas formas: a primeira é assumir o controle individualmente de cada irmão e ir levando-os dessa forma pelo cenário, deixando o não controlado em locais seguros onde não vai sofrer danos ou correr riscos. Segundo, ao termos mais de um irmão no mesmo local, se mantivermos pressionado o gatilho esquerdo, os irmãos não controlados pelo jogador vão copiar simultaneamente os movimentos realizados pelo jogador, atacando, pulando ou se pendurando em beiradas, o inconveniente disso é que devido ao tamanho e agilidade dos mesmos, um pulo de Greak não vai ter o mesmo resultado em Adara. Isso pode ser bem problemático em situações de batalhas e locais onde o pulo seja necessário. Sendo assim, o uso dessa mecânica acaba ficando mais complicado do que prático na maior parte da aventura.

Eu escolho você…

Falar essa frase parece que estamos entrando no mundo dos Pokémon, mas não é esse o caso. Aqui em Greak: Memories of Azur, também ficará a cargo do jogador escolher qual dos irmãos vai usar conforme a situação apresentada em seu caminho, levando obviamente em conta suas habilidades e fraquezas.

Não teremos uma voz que vai nos falar para usar Adara ao invés de Greak em determinada situação, também não teremos placas avisando que Greak causa mais dano com seus ataques do que Adara, ou que apesar de ser mais fraca fisicamente, Adara possui maior agilidade que seus irmãos. Raydel por sua vez morrerá se cair na água devido ao peso de sua armadura, caberá ao jogador ir experimentando e ver o que acontece em cada situação e assim aprendendo durante sua jornada.

Em áreas especiais que somente são acessíveis por um respectivo irmão, podemos encarar um desafio em um templo, este ao ser concluído vai conceder uma melhoria específica para o irmão que o concluiu. Além disso, temos ainda em locais secretos, artefatos que podem melhorar algum atributo, como a força ou o tempo de ar embaixo d’água. Nas voltas por Azuir podemos encontrar um mercador, que “às vezes” vai ter um artefato a venda, resta juntar os cristais (derrotando inimigos, em baús pelos cenários ou com a venda de itens) para conseguir comprá-los.

O jogador, e somente ele, vai ter a responsabilidade de identificar qual das particularidades dos irmãos vai ser necessária no desenrolar da exploração, além das resolução dos puzzles presentes no ambiente. Se Raydel não pode cair na água, como fazer para ele passar por um rio? Talvez se empurrarmos nadando uma jangada com Adara ou Greak… e irmos empurrando a mesma com Raydel em cima seja a solução? Paredes e pisos congelados podem ser derretidos com tochas que são acesas em fogareiros, mas eles nem sempre estão por perto e o personagem não pode andar muito senão a tocha apaga. O chamativo aqui é justamente experimentar e descobrir a melhor forma de transpor as dificuldades jogadas no caminho do jogador e dos irmãos.

Outras partes, como as batalhas contra os inimigos, podem ser encaradas com qualquer um dos irmãos. Eu, por exemplo, acabei derrotando um chefe específico usando Adara devido a sua agilidade e ao poder de lançar esferas de energia, e usei Greak somente para finalizar a luta. Mas, isso só depois de ter tentado usar somente Greak e ter falhado miseravelmente. Cheguei a conclusão que às vezes ter menos poder de ataque, mas possuir uma maior agilidade é a chave para a vitória.

Jogos que apresentam mais de um personagem jogável, tendo que se unir para solucionar problemas maiores não é uma novidade. Temos ótimos exemplos, como as aventuras do outro trio de guerreiros na série Trine. Greak: Memories of Azur consegue nos entregar um desafio apropriado ao exigir o raciocínio lógico do jogador para a resolução dos desafios e para o simples fato de explorar o mundo com três personagens ao mesmo tempo.

Cada um deles conta com um inventário próprio, então poderemos ter que trocar itens entre eles para estar com o item necessário, em um local específico e com o único personagem que vai conseguir acessar tal lugar. Muitos desafios do cenário vão exigir deixar esse ou aquele personagem em dispositivos (segurando portões abertos, pressionando placas no chão ou servindo de peso para elevar uma plataforma) para podermos seguir em frente com outro dos irmãos.

Em todos os inventários podemos carregar alimentos, inicialmente encontramos sementes e frutas, mas podemos transformar estes ingredientes em comidas mais elaboradas nos caldeirões presentes pelos cenários, o que vai alterar efetivamente a quantidade de vida recuperada com a ingestão dos mesmos. Uma curiosidade é que não podemos engolir os alimentos e já recuperar instantaneamente a vida, o alimento será consumido e isso vai levar alguns segundos, representados pelo ícone da comida e uma barra que vai diminuindo conforme o consumo. Algo simples, mas que faz todo o sentido, se levarmos em conta que em muitos outros jogos os itens simplesmente desaparecem e a energia é recuperada imediatamente.

Por falar em energia, ela não é compartilhada entre o trio de irmãos, cada um conta com sua própria energia. Recuperar a vida de um não vai recuperar a vida do outro. No entanto, a derrota de um deles em combate ou nas armadilhas do cenário, vai ocasionar a derrota de todos, algo que nem sempre é justo no desenrolar da aventura. Se existisse uma possibilidade de restaurar a vida de um dos irmãos com a ajuda de outro seria algo interessante, e certamente daria uma dinâmica diferente. Esse elemento talvez seja um dos grandes problemas da mecânica proposta.

Visual de encher os olhos

Temos aqui um deleite visual com um trabalho feito inteiramente à mão, juntamente com o clássico e já estabelecido visual 2D. Em momentos mais importantes e no encontro dos irmãos, contamos com lindas animações desenvolvidas com um elevado nível de qualidade. Claramente nota-se que o cenário ganha vida através de suas representações na tela. Temos áreas de florestas escuras e sombrias tomadas pela praga, terras gélidas, áreas submersas, fortes abandonados e cada um destes conta com características e desafios únicos, que ganham um toque especial com o cuidado gráfico de cada um deles.

Outro show à parte nota-se nas expressões faciais dos personagens (apesar de estranhamento nenhum deles parecer ter boca) nas partes animadas que tem todo o jeito de anime japonês. E temos ainda a mistura de tudo isso com a trilha sonora bem feita e gostosa de ouvir, demonstrando muita competência e dando uma vida extra ao estilo visual do jogo. É um jogo realmente bonito de se ver.

Considerações finais

A jornada do jogador por Greak: Memories of Azuir tem vários momentos, alguns mais interessantes que outros e alguns inclusive maçantes em sua execução. A parte inicial onde temos o tutorial poderia ser mais clara em sua execução, temos as missões de matar um número específico de cada tipo de inimigo, mas não temos a indicação do nome de cada um, então teremos que derrotar alguns e conferir no menu do jogo (onde temos uma espécie de caderneta com mapa e a descrição da missão em andamento) se contou ou não mais um inimigo necessário para a missão. Perdi mais de hora no começo para simplesmente achar cada inimigo e descobrir que não podia avançar livremente sem antes voltar a vila e falar com um certo personagem.

Em termos de história, também tenho algumas considerações, já que gostaria que ela se aprofundasse mais em alguns pontos, como a praga que está contaminando o mundo (sua origem), as motivações dos Urlags, ou o passado e futuro dos irmãos. Adara despertou como oráculo e será que fica por isso mesmo? Nenhuma consequência futura no que diz respeito a isso? E o novo lar dos Courines? Nesse aspecto o jogo é bem direto a sua premissa: a separação dos irmãos em um mundo à beira de um colapso e a corrida contra o tempo para se reunirem e darem o fora dali. E é isso.

De volta ao gameplay, a chegada de Adara dá um novo ritmo para o jogo, abrindo novas possibilidades e novos caminhos, mas o melhor fica para a parte final. O jogo muda drasticamente, ficando muito mais interessante quando Raydel se junta à trupe. Nesse momento finalmente temos os 3 personagens e precisamos aprender a lidar com cada um deles separadamente e como um todo unido. Levar somente um irmão até um ponto chave é tranquilo, mas precisamos estudar a forma necessária para levar os outros 2, sendo que cada um conta com limitações e capacidades diferentes. Raydel possui um gancho e pode se arremessar com ele, mas Greak que é o menor vai precisar de uma jornada por outras áreas para chegar ao mesmo local, e pode vir a ser necessário mexer em uma engrenagem que está no fundo do lago, o que pode exigir a união de Adara nessa empreitada.

Quanto ao problema da automatização dos personagens e seus pulos, mencionado alguns parágrafos acima, é interessante apontar que o time de desenvolvimento da Navegante ouviu as críticas de lançamento do jogo e trabalharam em um patch que aprimorou essa e algumas outras questões técnicas do jogo (como zerar o custo da viagem rápida e aprimoramentos com o inventário). Esse patch foi lançamento no último dia 3 de setembro na versão de PC, e a equipe está trabalhando o quanto antes para também liberar nos consoles, o que ainda não aconteceu, mas deve rolar muito em breve.

Posso concluir essa análise dizendo que se você é fã de jogos como dos da série Trine, certamente Greak: Memories of Azuir irá se apresentar como uma ótima opção esse sub gênero tão peculiar de jogos que misturam plataforma, puzzles e diversos personagens controláveis simultaneamente. O visual é muito convidativo, a apresentação é envolvente e seu tempo de duração é bem satisfatória, uma média de 10 horas se você souber apreciar a jornada. Há um charme inegável e irresistível aqui, e isso é ótimo.

Galeria

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Dando uma nota

Gráficos lindamente desenhados à mão são espetaculares - 10
Há um charme narrativo inegável, ainda que não aprofunde em alguns pontos - 8.5
Controlar três personagens com habilidades distintas é um ótima proposta - 8.8
Patch, à caminho dos consoles, deve consertar a problematização do pulo automatizado dos personagens - 7.5
Inimigos podem ser repetir mais do que o ideial, puzzles são bem pensados - 7.8
Nem sempre é muito claro em algumas tarefas, torna a exploração meio complicada as vezes - 7
Ótimo estar localizado em português, torna acessível ao não criar a barreira de idioma - 9

8.4

Bacana

Greak: Memories of Azur marca presença com belos gráficos desenhados à mão e jogabilidade que permite controlar três personagens de forma alternada. Descobrir as capacidades de cada um e a forma como destrinchar os quebra cabeças vai dar a satisfação na medida certa. Há problemas pontuais de gameplay sim, mas um patch já está à caminho e deve amenizar os mais discrepantes. Mesmo assim, ainda é uma bonita e expressiva aventura de três irmãos que buscam se reunir novamente.

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