Análise | Raidou Remastered: The Mystery of the Soulless Army

Disponível para PlayStation, Xbox, Nintendo Switch & PC

RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army foi lançado no último dia 19 de junho para PlayStation 4/5, Nintendo Switch/Switch 2, Xbox Series X|S e PC abrangendo os gêneros RPG de ação e estratégia.

Foi desenvolvido pela tão famosa e conhecida Atlus e publicado pela Sega, e faz parte da série/franquia Devil Summoner, que abrange todos os jogos e derivados da série Shin Megami Tensei. Infelizmente até o momento não temos o nosso português nas opções disponíveis de idioma, então teremos que nos virar em inglês mesmo.

Como dá para perceber é uma remasterização, desta vez do jogo Devil Summoner: Raidou Kuzunoha VS The Soulless Army um RPG de ação lançado em 2006 para o PlayStation 2. O jogo difere dos dois outros títulos Devil Summoner por ter batalhas em tempo real e um protagonista nomeado, sendo o primeiro de toda a franquia a se passar no passado (especificamente no ano de 1931, o que permite o uso de figuras históricas da época como Grigori Rasputin). Em abril de 2014, o jogo foi portado para o PlayStation 3 e vendido digitalmente na PlayStation Store. Uma sequência, Devil Summoner 2: Raidou Kuzunoha vs. King Abaddon foi lançado em 2008 também para o PlayStation 2.

Particularmente não havia jogado essa série na época do PS2, então esta revitalização é minha primeira experiência com Raidou. Obviamente uma busca pela internet deixa claro que estamos agora diante de um título revitalizado com melhorias gráficas e ajustes de jogabilidade, mas que continua a oferecer uma experiência noir sobrenatural ambientada no Japão da Era Taisho, misturando investigação, ação em tempo real e invocação de demônios em um cenário estilizado e totalmente intrigante.

Investigação sobrenatural

Nessa aventura assumimos o papel de Raidou Kuzunoha XIV, um jovem detetive que também é um Devil Summoner — alguém capaz de capturar e comandar demônios. Podemos colocar nosso nome, mas mesmo assim, somos identificados como Raidou Kuzunoka XIV já que esse é um título que recebemos ao passar no teste e estarmos aptos ao “trabalho”.

Trabalho este que nos apresenta a companhia do parceiro Gouto (um gato falante que abriga a alma de um antigo Kuzunoha) para investigar casos paranormais. O enredo toma novos rumos e se intensifica drasticamente ao enfrentarmos a Soulless Army, uma força militar mecanizada que passa a ameaçar o tênue equilíbrio entre o mundo humano e o mundo espiritual.

Algo que dá um charme a mais é o próprio contraste que temos entre a estética tradicional japonesa e a introdução de tecnologias e ideologias ocidentais, algo que também se torna presente na trilha sonora baseada em jazz, nos trajes dos personagens e na própria arquitetura dos prédios e cidades visitados ao longo de toda a trama.

Raidou trabalha na Agência de Detetives Narumi, liderada pelo detetive Shohei Narumi. Raidou está sob as ordens da Yatagarasu, uma misteriosa organização dedicada a proteger o futuro do Japão de ameaças sobrenaturais. Como protetor designado cabe a ele acabar com quaisquer ameaças demoníacas ou sobrenaturais que infrinjam a cidade.

Durante uma investigação, Raidou e Narumi acabam sendo contratados por uma jovem colegial chamada Kaya. Ela misteriosamente pede que a dupla a mate, mas antes que Raidou e Narumi possam investigar mais, soldados com armaduras vermelhas aparecem, sequestram a jovem e lutam contra Raidou. Tão rapidamente quanto apareceram, os soldados desaparecem, junto com Kaya, deixando os detetives atordoados. Narumi acredita que é responsabilidade deles rastrear o paradeiro de Kaya e resolver o mistério de seu pedido, já que a Agência tecnicamente aceitou o caso. E é óbvio que algo estranho está acontecendo.

Este curso de ação leva Raidou a procurar por pistas em Tóquio, enquanto as aparições demoníacas pela cidade aumentam em frequência e força. Ele investiga vários locais notáveis, incluindo a mansão da família de Kaya, uma estranha versão do “Mundo Sombrio” de Tóquio, onde nenhum humano reside e demônios vagam livremente. Há também exploração em bases militares, e fica claro que o exército está planejando algo grande.

O caso também o leva a conhecer Tae Asakura, uma jornalista local e amiga de Narumi. Eles acabam se ajudando mutuamente em casos e na troca de informações para resolver os mistérios. Também conhecemos a figura histórica Grigori Rasputin, embora ele já devesse estar morto neste momento do tempo. Raidou acaba tendo com Rasputin uma espécie de rivalidade ao longo do jogo.

Resumindo, acompanhamos Raidou em sua investigação enquanto ele vasculha Tóquio em busca de pistas, conhecendo várias pessoas importantes na cidade e descobrindo algo maior do que Raidou ou Narumi poderiam ter suspeitado no começo de tudo.

Reunindo demônios

Diferente dos títulos principais da série Shin Megani Teisen, baseado em turnos, como em um RPG tradicional, Raidou por adota um sistema de combate em tempo real, onde o jogador ataca diretamente com a espada de Raidou e pode invocar até dois demônios para auxiliá-lo em batalha.

Temos opções de golpes em combinações de botões, e podemos ainda optar por realizar certos ataques com os demônios companheiros de batalha, ao acessar um menu e escolhermos o golpe para eles utilizarem, ou deixar que lutem por conta própria – o que na loucura das batalhas acaba sendo o mais recomendado.

Claro que como em qualquer jogo da série Shin Megami Tensei os demônios continuam sendo uma parte essencial do gameplay. Eles possuem habilidades únicas que influenciam tanto o combate (recuperando sua vida, retirando status negativos ou impondo status positivos) quanto na resolução de puzzles no mundo.

Por exemplo, em determinada parte, devemos enviar um demônio para investigar o ambiente, a fim de localizar um dispositivo que abre uma passagem secreta em um cômodo de uma casa, ao usarmos um demônio do tipo elétrico, ele consegue localizar o dispositivo, e ao voltar e falar com Raidou, este por sua vez vai conseguir interagir com o determinado dispositivo e abrir a passagem secreta.

E temos mais situações como essa, como mandar um demônio voador para buscar um barco longe de Raidou, empurrar um carro para abrir ou bloquear uma passagem… e assim vai. Mas aí também temos um probleminha, Gouto, nosso companheiro gato, somente fala uma vez que determinado demônio pode ter a habilidade necessária para solucionar o problema em questão, se você não pegou ou se inventou de salvar o jogo e continuar em outro momento, pode acabar ficando sem saber como proceder.

Então sempre preste atenção no que Gouto lhe falar nesses momentos, caso você de bobeira como eu dei, vai ter que procurar no YouTube um vídeo de como passar da área em que acabou se trancando. Uma coisa que incomoda também nesse momento é que o jogo não está localizado para o nosso idioma, então nem sempre pode parecer clara a interação necessária, mesmo você lendo toda a mensagem apresentada.

Meu primeiro jogo que encarei com mais seriedade da série foi Shin Megami Tensei V: Vengeance, o qual ainda estou jogando de vez em quando e foi lá que aprendi a real importância da fusão de demônios que também está presente aqui. Temos vários filtros que podemos usar para encontrar funções específicas, sendo para achar um demônio em particular, caso tenhamos nossos preferidos, caso queiramos algum com uma habilidade específica ou de um elemento necessário, mas também podemos ir realizando as fusões conforme vamos adquirindo novos demônio ao longo da aventura. Sempre que pegar um demônio novo, pode dar uma conferida nas fusões disponíveis.

Raidou recebe tubos onde usando magia consegue capturar os demônios, são as pokébolas aqui deste jogo, por assim dizer. Podemos capturar vários do mesmo demônio, e estes vão subindo de nível participando as batalhas ou estando em nosso time. Conforme vamos evoluindo na trama e ganhando títulos para Raidou, também vamos recebendo mais tubos para podermos ter mais demônios no time

Ao acessarmos o Goumaden e falarmos com o Dr. Victor, podemos realizar as fusões e também fundir itens em nossa espada dando a ela características de outras armas, além de maior poder ofensivo. Tudo vai se auto explicando e ficando disponível conforme vamos avançando, nada é jogado do nada em nossa frente, o que não deixa a exploração entre as missões dos capítulos monótona ou maçante.

Usamos uma espécie de metrô para irmos de uma área a outra do jogo. E ir e voltar a terras já visitadas vai ser uma constante. Toda viagem tem um preço conforme de onde para onde você está indo, o que é legal no meu ponto de vista – então nem sempre ir ao mesmo local terá o mesmo preço.

Você dificilmente vai ficar sem dinheiro, já que demônios ao serem derrotados deixam cair algum valor, fora que demônios que andam com você constantemente encontram itens pelo chão que podem ser vendidos. Também recebemos itens de demônios ao realizar fusões, caso eles tenham um alto nível de afinidade com Raidou, o que vai se adquirindo conforme as lutas e uso deles em situações fora das batalhas, como na exploração de áreas nos ambientes. Teremos ainda locais inacessíveis para Raidou onde um demônio terá que ser enviado para passar por uma barreira e abrir um portão ou destruir alguma coisa para assim ser possível ao jogador chegar ao local.

Graficamente, Raidou Remastered: The Mystery of the Soulless Army respeita a estética apresentada pela sua versão original do PS2, mas obviamente apresenta melhoras de resolução, na nitidez dos modelos e no desempenho geral como um todo. As cutscenes em estilo anime foram suavizadas ficando muito mais impactantes e bonitas, e os mapas ganharam melhor definição. A trilha sonora, também foi remasterizada, mas mantendo sua mistura de estilos de jazz, rock e até música tradicional japonesa.

Considerações finais

Gostei bastante do que joguei em Raidou Remastered: The Mystery of the Soulless Army. O jogo tem uma estrutura em capítulos, o que dá aquela sensação de quando estamos vendo um seriado e queremos saber o que vai acontecer no próximo episódio. Há essa ansiedade de ver o que vai acontecer a seguir, o que é ótimo para nos manter no ritmo e descobrir como o mistério vai se desenrolar em seguida.

A jogabilidade se divide em momentos de exploração, com bastante conversa com NPCs, além de pequenos puzzles de ambiente, que envolvem a resolução com tipos específicos de demônios. Esse elemento estrutural não chega a ser ruim, mas pode soar maçante para alguns jogadores, especialmente pelo fato do título chegar ao nosso mercado sem localização.

Já a outra parte da jogabilidade, o combate é uma delícia. Há todo esse sistema de ficar coletando demônios, bem diferentes entre si, com habilidade distintas, que interagem com Raidou de maneiras únicas. Tem uma certa aspiração de jogos de colecionar monstros, como o próprio Pokémon. Contudo, não é só o ato de colecionar criaturas que torna tudo tão bom, as batalhas também são intensas.

Saber quais demônios colocar na arena, entender as vantagens e desvantagens de cada um, saber os comandos, quando permitir que eles usem especiais, que consomem o próprio mana do jogador, tudo tem que ser pensado, ainda que eles ajam de forma automatizada. Não só isso, mas batalhas com Raidou também é excelente, alternando mecânicas com tiros em primeira pessoa para atordoar inimigos, com golpes físicos com sua espada e criando diversos combos. Até mesmo esquiva, onde Raidou sair da frente do inimigo e se posiciona atrás do mesmo, cria um ritmo e dinâmica que dão muito valor ao sistema de combate por ação, mesmo sendo um RPG. Cada batalha ganha experiência e o personagens, e sua equipe progridem suas habilidades a partir desse ponto.

Então, vale sim, dar uma olhada de perto em Raidou Remastered: The Mystery of the Soulless Army, se você já jogou algum jogo da série numerada, como no meu caso que estou jogando Shin Megami Tensei V: Vengeance, já vai chegar aqui conhecendo alguns dos demônios que vão aparecer e talvez até já tenha alguns preferidos para montar sua equipe.

Mas se for um novato, não vai ser um problema começar por aqui, e aprender mais sobre esse fantástico universo. O título funciona muito bem de forma independente dos demais jogos desse universo. Pode começar sua investigação por aqui, com certeza. Recrute demônios, colete pistas e revele  um mistério maior do que você pode imaginar!

Galeria

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Gameplay *via canal no YT do Portallos

Dando nota

Narrativa envolvente, que apresenta temas maduros e adultos, instiga a investigar os mistérios da trama - 9
Trilha sonora bem funcional envolvendo nas batalhas e unindo jazz, rock e música japonesa tradicional - 9
Estilo visual, como um todo, é bem “noir”, o que é raro em jogos japoneses - 8.5
Sistema de combate é prático e intuitivo, mas pode ficar repetitivo para alguns jogadores - 7.8
Algumas mecânicas de investigação são confusas e falta de atenção a diálogos pode lhe trancar em determinados momentos - 7
Ritmo fica lento em certos trechos onde ocorre indas e vindas para dialogar com NPCs - 6.8
Falta de localização em português compromete parcialmente a experiência, tanto narrativa como das mecânicas em si - 6.5

7.8

Bacana

Raidou Remastered: The Mystery of the Soulless Army apresenta um misto de RPG de ação, jornada de investigação e folclore japonês. Temos uma experiência rica e atmosférica de época. Assim como os outros Shin Megami Tensei, pode não ser um jogo para todos, mas quem se deixar envolver por sua ambientação e jogabilidade vai encontrar uma das joias subestimadas da Atlus. Sistema de coleção de demônios e sua utilização em batalhas incentiva o jogador a progredir pela campanha, ainda que a falta de localização em português atrapalhe um pouco os momentos de história.

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