The World God Only Knows!

E se o protagonista não fosse bobão e preferisse o mundo 2D? Uma abordagem diferente!

Eu ainda meio longe dos mangás – digo em termos de começar coisa nova, os semanais/mensais que já acompanho continuei lendo – e em geral isso foi culpa da mesmice. Em geral eu encontrava semelhanças demais nas obras aqui e ali, já era difícil surpreender-me em geral (mesmo ainda me divertindo com a maioria das coisas que venho lendo) com os shonens por aí.

Estava procurando especificamente algo mais Comédia/Romance dentro do shonen mesmo, e aí me deparei com TWGOK. A série é relativamente conhecida, é um dos medalhões atuais da Shonen Sunday, uma revista que li pouco, já que assumidamente leio muito mais Shonen Jump do que qualquer outra coisa.

O mangá tem o pontapé inicial com Keima jogando seus jogos favoritos: Os Dating Sims. Sim, aqueles jogos que muitas vezes parecem chatos, entediantes e até bizarros em alguns casos.  Até o seu ocasional encontro com a demônio Elsie, que faz parte de um esquadrão de captura de espirítos fujões do Inferno, que vem para Terra e se alojam em “buracos” no coração da pessoas, até que possam renascer. Eles só se alojam em corpos femininos já que a forma de renascer é supostamente (supostamente, porque mais pra frente no mangá existem controvérsias) por meio de uma criança que a humana irá gerar.

O buraco no coração pode ser preenchido de várias formas, assim como pode ser causado por inúmeras frustrações emocionais (e não só amorosas). Acidentalmente o nosso protagonista faz um pacto com Elsie e fica atrelado a ela na captura de espirítos, e se caso não o faça terá junto dela, a sua cabeça arrancada.

O bacana do mangá é justamente brincar muitas vezes com conceitos dos Dating Sims (e que se fazem muito presentes nos diversos mangás de romance por aí, principalmente os shonen). Por exemplo, o beijo. Como é um troço enrolado em mangás desse tipo. Acontece ou “sem querer”, ou demora vários capítulos de encontros pra cá, conversas pra lá, pros protagonistas pensarem em fazer isso. Fora que existe sempre o telefone que toca na hora H e coisas do tipo. Keima vai direto ao ponto.

A vida do cara, mesmo que isso seja levado como brincadeira em muitas partes do mangá, está totalmente em jogo. Ele não mede esforços para conquistar rapidamente as garotas, ou melhor como ele as chama “alvo”. O interessante é que o protagonista até chega a ficar preocupado com o problema todo que isso pode dar nos sentimento alheio, mas é tranquilizado pois todas as garotas que ele conquista tem a memória sobre o incidente apagadas, deixando somente o que o protagonista proporcionou em relação aos seus problemas.

Keima age em alguns pontos do mangá quase como um livro de auto-ajuda,realmente procurando entender os problemas que afligem a pessoa que porta o espirito, e trabalha em cima disso para retirá-lo de lá. Algumas poucas vezes o foco não foi nem o interesse amoroso, este foi só uma consequência do que ele fez para a garota superar seus medos/defeitos.

O mangá é bem divertido e até meio massante no começo, apesar da variedade de personalidades e situações manterem o bom nível da história. No decorrer da trama é que o negócio fica mais sério, e começa cada vez mais envolver questões sérias sobre o tal “Novo Inferno”, o que aconteceu com o maléfico antigo, e o que isso pode trazer como danos a Terra.

A partir de agora vou falar spoilers, então continue se você leu o mangá até o último capítulo lançado no Japão.

Com o cerco fechando, a tal Vintage aparecendo, o mangá ganhou novas proporções. O autor, Tamiki Wakaki soube trabalhar bem esse crescimento. Colocou os espíritos fujões crescidos, realmente causando caos, agentes duplos e pessoas envolvidas com magias proibidas, e realmente fortes no caminho do grupo dos heróis.

Eu gostei de ver que o mangá assim como alguns personagens passaram a Keima passa de um caçador de espíritos a um verdadeiro estrategista conquistador. Ele começa a mover suas peças de forma lúcida quando até  os próprios demônios entraram em pânico. O desespero cresce realmente no ponto atual do mangá. Eu pensei que talvez enrolassem mais, porém não foi o que ocorreu. Depois da Kanon ficar a beira da morte e a corrida para encontrar as Deusas começou, eu vejo um Keima mais sério (que quase não consegue jogar agora), e até em raras ocasiões em desespero, deixando seus sentimentos guiarem suas ações. A Vintage também não ficou como organização lenta, que fica esperando o protagonista ir lá acabar com ela. Tratou de deitar uma por uma, e todo trabalho que todos tiveram até agora foi pro ralo. perder a inocência. A Haqua é o exemplo mais categórico disso. Os capítulos que sucedem a sua prisão e tortura, e a fuga com a ajuda da sua (aquela caveirinha é mulher né? aliás um dos personagens mais engraçados, não me esqueço da cena “dela” no passado, falando que devia ter casado antes) mestra são muito bacanas.

Isto levou Keima a tomar medidas drásticas demais. Sem a cobertura do New Hell para apagar a memória das conquistas, Keima foi obrigado a escolher entre a Ayumi e a Chihiro para atacar com todos os seus recursos acumulados.

O Keima fez merda e escolheu errado. É interessante ver como ele está se virando com essa escolhe, e rapidamente trocando o alvo porque está ficando sem tempo. A descoberta daquilo que estava dentro das cavernas foi meio chocante para os personagens. A Chihiro foi envolvida e isso não tem mais volta. O mangá a cada semana vem fechando o cerco, e até a conquista da Deusa que está na Ayumi já não é tão certa por causa da escolha errada.

A Vintage realmente parece bem poderosa se comparada ao pessoal que está do lado do New Hell, mas a Haqua até que impressionou… Aonde foi aliás que ela aprendeu aquilo tudo?

Estou gostando demais desta corrida contra o tempo, deixando até o Keima, que sempre teve controle na maior parte do mangá, salvo algumas vezes, como  na captura da Yui, que foi uma das mais bacanas aliás.

Então pra finalizar: The World God Only Knows parece ao primeiro contato que é mais do mesmo, mas sem sombra de dúvidas é um dos melhores mangás do gênero em publicação,  e por vários motivos. Primeiro que mesmo puxando para o lado clichê soube trabalhar bem com eles e usá-los ao seu favor. Tem um protagonista bem construído que dá vida ao mangá, e que foge bastante ao padrão, assim como o mangá como um todo. Keima ás vezes parece um cara que não é afetado pelos clichês mas sabe de todos eles, e por isso se dá bem. Cresceu, mas sem abandonar suas bases que é o romance. Altamente recomendado.

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