Bakuman, o final – Sonhos e Realidade! (Opinião)

Porque até nos finais os sonhos e a realidade não correspondem…

Bakuman carrega um peso e tanto. Tsugumi Ohba e Takeshi Obata trazem consigo um mangá chamado Death Note, que em pouco tempo virou um dos maiores sucessos da revista, e não só por alcançar o seu público de costume que a Shonen Jump tem. Alcançou uma gama de leitores fora deste universo, que, talvez por causa dele, passaram a ver a indústria até de outra forma.

Death Note tinha uma temática muito forte e dicotômica para um shonen, em minha opinião. Mortes eram feitas ao montes, o protagonista estava sempre caminhando em uma linha tênue entre o bem e o mal. Com viradas épicas, e algumas características que fizeram o seu sucesso, tivemos cerca de 7 volumes genialmente produzidos. Mas os mangás são um produto. E todo produto tem de extrair a maior quantidade de dinheiro de seus consumidores. Assim foi Death Note que teve um certo recomeço, que nem de longe foi à altura do primeiro. Bem feito, mas não teve a essência, talvez a pegada que o primeiro teve. Negócios.

Finalizada a obra, eis que tempos depois é lançado na mesma revista o Bakuman que é o ponto central deste texto. Depois do sucesso de Death Note e a premissa de Bakuman, era certa que viria um mangá bom, ao menos, da dupla. E no geral foi mesmo.

Bakuman apresentou alguns conceitos que muitas vezes eram mais nebulosos a grande parte leitora, e proporcionou uma metalinguagem (com toques de ficção) a todo meio do mangá. Mas uma hora, essa informação interessante, e lado metalinguístico foi se esvaindo e ficamos com um shonen, cada vez mais passando a focar nas batalhas de rankings, vendas e a busca de um anime pela dupla, que era a esta altura do campeonato o ponto crucial do mangá, e também seu objetivo final.

Tendo como objetivo isto, Ohba parece ter se utilizado de todos os artifícios de narrativa que lhe cabia, afinal o mangá tinha que durar, e o mesmo ainda era publicado na Shonen Jump, a maior do meio (em vendas) e famosa por estender suas séries o máximo. Então com isso tivemos momentos memoráveis.

Os primeiros rascunhos e primeira publicação. Doenças e Sonhos. Falhas e Caminhos errados. Comédia que não traz felicidade e Crimes do bem. Bem e Mal.

É interessante ver que a prática de estender o mangá talvez tenha trazido os melhores e piores arcos da série toda. Cada um tem suas preferências, Muitos por exemplo, odeiam o arco do Nanamine, eu já gosto muito do primeiro, já que fez bom uso de personagens antigos e ainda me lembrou Death Note em certos momentos. Já a segunda parte também achei um pouco forçado, porém,   como Ohba não dá ponto sem nó, tivemos correlações com o passado (no caso o assistente do Tio do Mashiro), que no final adicionou uma boa dose de emoção a coisa toda. Além de mostrar uma forma diferente de produzir mangás, e os prós e contras dela.

Bakuman teve seus altos e baixos internos. Decisões aparentemente forçadas para estender o mangá que mesmo assim geraram bons frutos em sua totalidade. E essa característica de alguns arcos resume meio o que foi Bakuman ao todo. Da arte de Obata, que  vocês devem ter percebido que com o tempo foi se mutando ao formato do mangá, perdendo o tom mais sério, e sóbrio do início, para dar lugar a caretas e faces mais escrachadas, além de um toque geral mais leve. Ao roteiro de Ohba, que foi agregando personagens, e com eles piadas, situações amorosas (quem diria hein Hiramaru?), mas nem por isso deixou de emocionar em certos momentos. Quando um soco era desferido neste mangá, podem ter certeza que valia o mesmo que uma Genki Dama, Gear 2nd ou qualquer Bankai.

Não era pra ser épico. Era pra ser divertido, era para emocionar, e acima de tudo: divertir. Isso também se reflete no fim do mesmo. Vi muitos falando do final isso, de conteúdo aquilo. A minha opinião sobre isso é que os dois autores tinham uma decisão a tomar: fechar no 176, vol. 20 ou continuar até  fechar o próximo volume?

A decisão, eles nos contaram semanas antes de ser tomada, por capítulos em que, pareciam conversar com si mesmos e com os seus leitores, principalmente aqueles que tinham acompanhado Death Note entre sua ascensão e queda. Parece que transcreveram o debate entre si mesmos sobre ir a frente ou terminar até aonde achavam que podiam ir sem decair a qualidade como um todo. Provavelmente, isso que aconteceriam se ocorresse um final mais explicadinho, culminando em algo mais arrastado.

O penúltimo capítulo foi com cara de feito às pressas? Sim. Eu gostaria de ver mais piadinhas com o Hiramaru, arrumando as coisas para casamento? Sim. Mas eu entendo que talvez, o mangá ficasse com mais cara de arrastado por talvez precisar preencher mais 8 capítulos para formar um novo volume. Coisa que aliás já vinha a poucos arcos atrás, em que existiam momentos bons sim, mas ideias que no geral pareciam extremamente enrrolonas.

O final, final, 176 foi com mais cara de epílogo do que o seu anterior. Naquele sim, já víamos personagens ajeitando (ou não) suas vidinhas e seguindo em frente. A página dupla com Eiji talvez, tenha sido o final verdadeiro que muitos queriam. A rivalidade vai continuar, Eiji vai passar Ashirogi Muto mas eles farão algo melhor e ultrapassarão, e repita em loop. Bakuman estava na hora de acabar, havia divertido, emocionado. Feito Ohba crescer em relação a Death Note já que lidou com situações muito diversas. Obata  mostrou que possui uma habilidade que poucos tem, de ter versatilidade em seus desenhos e ilustrar de shoujo, à gag, em menos de 2 páginas, além de adaptar seu traço a algo que não lhe era costumeiro, mas que se adequava mais à obra.

O fim foi mais algo “poético” e “solto”, na minha opinião, do que ser propriamente um final. Foi construído um paralelo bacaninha com eventos passados, e alguns símbolos que apareceram ao longo da série. É até um pouco cômico que o inovador Bakuman tenha terminado de maneira um tanto clichê, com um beijo do príncipe com sua amada.

Mas depois de passada leitura do último capítulo o que sobra? Batalhas épicas, que mesmo sem nenhum soco, empolgaram, e fizeram cada um de nós continuar lendo este mangá até que viesse seu fim. E Bakuman termina assim, não talvez no seu auge, mas longe de ser cancelado, ou estar mal em vendas. Bakuman termina pois seu propósito foi alcançado, e seus autores, repito, dentro de uma Shonen Jump em que várias obras não tem um fim natural, tiveram a atitude (porque não ousada? Em um tempo aonde os pilares da revista se desgastam por tempo demais em publicação?) de colocar, assim como no seu título, um ponto final digno, para uma série que na minha opinião, teve mais altos que baixos.

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