Conversa de Mangá: Bleach 595

Rubb-Dolls 2

| Texto recomendado para quem está acompanhando os capítulos semanais de Bleach e que já tenha lido até o de número 595, ou para aqueles que não se importam com spoilers. |

O último Conversa de Mangá de Bleach rendeu comentários, e não achei que renderia tanto assim. Fiquei realmente impressionado com o nível na qual a discussão chegou. Se você perdeu, por favor corre pra lá e veja. O mais legal é que grande parte do mérito nem veio do meu texto, eu apenas joguei uma isca, como já disse que faço por aqui com frequência. As vezes funciona, as vezes não. Mas é muito legal quando alguém consegue se aprofundar num assunto que apenas tenho tempo para arranhar as vezes.

No caso, o grande responsável foi o leitor Raphael, que publicou uma ótima argumentações (além de ter respondidas muitas outras pelos dias seguintes) justificando parte do que escrevi a respeito da saudades que tinha quando ser Quincy era ver o Ishida se virando com seu arco e flecha e não essa coisa de poderes absurdos e habilidades que nem dá mais para distinguir quem é o que em Bleach, já que tudo ficou muito maluco mesmo. E o texto do Raphael contextualizando tudo ficou tão irado, que vou reproduzir aqui essa semana, porque é realmente um texto de qualidade que não merece ficar escondido num mar de comentários:


Vou tentar aprofundar uma discussão aqui, que talvez nem tenha tanto a ver com esse capítulo em específico, mas fui motivado em função de alguns comentários aqui presentes…

O conceito mais antigo de quincy pode ser verificado na página 3 do capítulo 49.

Em outras palavras, um quincy é nada menos que um ser humano capaz de manipular reishi (Ou partículas de energia espiritual, em bom português) e, a partir disso, criar uma arma espiritual. O autor é muito claro nessa passagem; ele especifica a zampakutou como a única arma dos shinigamis… Mas não há qualquer especificação para as armas que os quincys podem criar. É por isso que na saga atual vemos um cara ali usando espinhos, outro aqui usando pistolas, e até mesmo o rei quincy usando uma espada.

Vejam bem, a conceituação mais primária permanece inalterada. Os quincys continuam usando reishi para moldar suas armas. E as novas técnicas? Bem, Vollstanding, Sklaverei, Blut Vene… Tudo isso ainda é manipulação de reishi. Tudo isso ainda se encaixa na definição dada no volume 6.

Quanto aos poderes, a origem de tudo é o rei quincy, Yhwach. Ainda bebê, ele era capaz de conceder pedaços de sua própria alma a quem o tocasse, curando qualquer enfermidade. E, em troca, quando o “abençoado” morresse, tudo que pertencesse a este indivíduo retornaria a Yhwach, fazendo com que ele supere suas próprias limitações (Ele nasceu cego, mudo, surdo, etc) e se torne cada vez mais poderoso. Mas ao passar dos anos ele descobriu uma forma mais eficaz para conceder uma porção muito mais significativa de sua alma… Seria “escrevendo” através de um ritual a inicial do poder que ele queria passar adiante.

De algum modo, os pedaços de alma que ele saiu doando despertaram uma sensibilidade espiritual em todos os humanos que receberam tais pedaços. Uma vez despertados, humanos começaram a ver espíritos… hollows… E, finalmente, começaram a compreender e manipular reishi.

Mas tem algo muito intrigante nessa história toda.

Quincys manipulam reishi na atmosfera… Mas Yhwach começou manipulando a própria alma! Ele já nasceu com esse poder. E como são chamados os humanos que já nascem com a habilidade de tirar poderes da própria alma? Fullbringers.

É por isso que acho engraçado quando dizem que Bleach deveria ter acabado com a derrota de Aizen ou que o arco dos fullbringers foi um filler. O tema central de Bleach é sua própria mitologia. Não existe uma harmonia na convivência entre humanos, quincys, hollows, fullbringers, shinigamis. As fronteiras entre essas classes não são muito bem definidas. E pior, as coisas caminham para a mera destruição. Hollows matam humanos, quincys matam hollows, shinigamis matam quincys. Onde está o Rei das Almas e por que ele permite essas coisas? O próprio Aizen não se conformava com o estado atual da coisa toda. (link 1) e (link 2)

Enfim, só acho que Bleach não é um mangá tão ~~perdido~~ como muitos gostam de bradar. Tem muitas passagens mal conduzidas, mal escritas, sub-aproveitadas… Mas consigo enxergar claramente o objetivo principal da obra. E, melhor, vejo Bleach rumando a esse objetivo.


Parabéns Raphael, eu jamais teria tempo e disposição para contextualizar as coisas dessa forma, muito mais buscando os links e detalhes dos argumentos. Mandou muito bem! E bem, pra quem ficou instigado, eu também participei um pouco da conversa criada nos comentários, corre no CDM Bleach 594 e veja lá nos comentários.

Quanto ao mais recente capítulo de Bleach, 595, é até complicado de reclamar após entender parte do conceito dos poderes e até mesmo a dica que o Raphael acabou dando para aonde talvez o Kubo queira chegar na questão dos poderes e no formato adotado nos combates, mas ainda assim acho mesmo forçado (não num sentido de errado ou incoerente) como o autor trabalha com o exagero e nas batalhas sempre absurdas, porém ainda é meio difícil de engolir como certos vilões precisam ser ridículos enquanto os mocinhos muitas vezes são os boa pinta da parada.

Tome por exemplo este capítulo, onde o quincy Pepe consegue ficar ainda mais grotesco e bizarro, enquanto o Byakuya mantém um certo porte de herói pomposo e cavalheiro. Eu gostava quando os vilões não eram assim tão claramente psicóticos ou exagerados na forma como se expressam, Tome o Ichigo na saga em que ele entra na Seretei para salvar a Rukia e enfrenta todos ali do Gotei 13. Se pegar duelos como contra o Ikkaku ou o Zaraki, eles eram na época inimigos barulhentos, mas não eram exagerados ou expressivamente absurdos. Essa coisa do bizarro começou lá no Hueco Mundo, e achei até mesmo que a coisa havia se acalmado um pouco com a saga fullbringer. Estes momentos são muito galhofa, como que dá para levar uma tensão ou seriedade com um personagem que se apresenta na imagem do quadro acima? Dá um contraste tão estranho quando se olha o Byakuya do outro lado. É muito estranho. Não foi esse o Bleach que me foi vendido lá no começo, por mais que as coisas ainda estejam dentro das justificativas e regras desse universo.

Uma coisa são hollows monstruosos em becos escuros e debaixo de chuva no mundo humano, outra coisa são estes inimigos de fralda, saiotes, gosmentos e afins. Aí não, forçou demais. Entra no que estava dizendo ontem no conversa de mangá do Naruto, esse é um tipo de situação que não dá para esperar que qualquer pessoa de qualquer idade curta tal situação. É específico demais o alvo desse capítulo, ainda que não saiba identificar exatamente qual.

E olha que a batalha não está chata. O Byakuya ficou encurralado ao enfrentar o Ichigo 69 (porque é assim que eu vejo o Hisagi – apesar do visual atual do Ichigo ter mudado um pouco), assim como vacilou com sua zanpakutou e acabou meio preso numa situação difícil. Justo ele que deveria estar mais forte. Ainda que seja meio sem graça ele ter sido atingido pelo poder do Pepe e simplesmente ter resistido. Tenho pra mim que se o Pepe fosse um personagem visualmente mais sério, eu teria me empolgado mais. Bleach tem um apelo por character design mais estiloso.

Por último o capítulo termina interessante, com Kensei e Rojuro ainda meio zumbis, mas provavelmente controlados pelo Mayuri, o que talvez indique que no próximo capítulo veremos o que aconteceu lá na batalha do personagem que acabou sendo cortada para esse momento com o Pepe e o Byakuya. Alias curioso que no capítulo anterior o Pepe colocou a quincy McAllon sob seu controle, esmurrou o quincy  Lamperd, e meio que não deu qualquer justificativa pra isso, e nem usou a quincy para atacar o Byakuya junto com o Hisagi. Isso teria complicado as coisas. Eu realmente não entendo estes quincys.. ou o Kubo nessa altura do campeonato.

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