Brasil dos Games | O retrocesso desnecessário dos 230 reais…

Bem, esta não é a primeira vez, e provavelmente nem será a última, que converso aqui neste espaço a respeito do preço dos games no Brasil. O fato é que acredito que de tempos em tempos é sempre interessante a comunidade se mover, mesmo que de formiguinha em formiguinha, e se posicionar acerca de como o mercado de games no Brasil tem esse péssimo hábito de dar um passo pra frente e um ou dois pra trás. As coisas melhoram, as vezes pioram, porém você consegue sentir o crescimento, mas tão lentamente que chega a dar sono… e nesse momento é que as coisas desaceleram. Vai mudar alguma coisa reclamando por aqui? Não vai. Mas pelo menos não estou em silêncio, aceitando tudo de bunda pra cima.

Estamos vivenciando uma crise econômica no Brasil? Sim, estamos. A inflação andou batendo na porta? Sim, andou. O aumento do dólar ajuda a aumentar o preço das coisas por aqui? Sim, ajuda. Pois é, mas quando é que tudo estava bem a ponto de não ter nada atrapalhando o mercado? Nunca. O problema é que sempre há algo atrapalhando. Sejam leis, sejam políticos que não acreditam nesse mercado, sejam as dificuldades do dia a dia do setor em si. Problemas, desculpinhas, e a falta de movimento em pró do consumidor sempre vão existir. Cabe a quem compra manifestar a sua insatisfação através dos meios que lhe for possível, o que já não são muitos, é verdade.

Enfim, a crise está aí, em todos os setores, alguns até mais urgentes e importantes do que os games, porém todos os setores estão sendo afetados e o consumidor final é que mais se ferra. No caso dos games, que é um setor como qualquer outro do comércio e da indústria, que gera empregos, contribui com impostos ao Governo e cria entretenimento para uma parcela da população brasileira, a crise também teve seus efeitos colaterais.

Depois de anos de briga e conquistas, na qual o preço dos jogos estavam começando a cair, onde lançamentos e pré-vendas estavam começando a deixar os games na faixa dos 150 reais, deixando-os mais justo com a concorrência que os mesmos títulos estão na plataforma do PC (já que aqui eles sempre ficaram na faixa dos 100 reais), e após anos de trevas onde eles custavam muito mais de 300 reais, tudo voltou a desandar do final de 2014 pra cá.

Esse primeiro semestre de 2015 já foi um show de preços alto nos lançamentos: Evolve, Battefield Hardline, Final Fantasy Type-0 HD, Mortal Kombat e o mais recente lançamento (e provável um dos melhores títulos desse ano) The Witcher III. Todos naquela triste faixa dos 230 reais. Isso porque são apenas os títulos do primeiro semestre. Quero ver se até o final de 2015 os grandes lançamentos da temporada de fim de ano irão se manter por aí ou se em breve veremos games a 250 reais (ano passado teve Titanfall nessa faixa) ou se voltaremos ao pesadelo dos 300 reais muito antes do que podemos imaginar.

O aumento do dólar, a crise, os problemas que as distribuidoras estão enfrentando com uma nova geração de consoles ainda inexpressiva justificam tais aumentos? Não sei. Mas não deveriam acredito. Como se aumentar o preço fosse pagar as contas no final do dia. Não acho que isso incentiva a venda, na mesma proporção que não acho que aquela parcela de gamers que compram, sem se importar com quanto o game está custando compense o montante daqueles que pararam de comprar ou esperam uma promoção ou descontos que sempre vão existir nas lojas online.

E a ironia disso tudo é que o mercado de game no Brasil mudou. Antes um jogo tinha um preço fixo e nunca ou raramente abaixava. Hoje, apenas me parece uma puta sacanagem lançar um jogo a 230 reais para daqui um mês ele voltar aos 200 reais ou após alguns meses o jogador mais paciente conseguir comprar o mesmo jogo por 100 reais ou algo bem próximo disso. Semana passada mesmo dei a dica lá no Facebook do blog de games, que até incluía Evolve, exatamente nessa faixa dos cem reais.

Que bom que pelo menos os games encalham e abaixam de preço? Sim, que bom. Só que pra mim isso é só uma prova de que existe pessoas que querem comprar games, mas não aceitam o preço do lançamento. Fico com aquela sensação de que as distribuidoras gritam algo como “gente, façam uma fila aqui, e quem pode mais e tem mais dinheiro pra dar pra gente ficam aqui na frente, enquanto os mãos de vaca vão pro fim da fila e rezem pra sobrar algo pra vocês“. Não sei, é uma linha de raciocínio muito escrota a do nosso mercado agir assim.

Pior é ver que esse aumento também se aplica aos games digitais. Hoje começou na Xbox Store a pré-venda digital de Lego Jurassic World. Preço? R$ 230! Que absurdo! O que justifica um título digital custar tudo isso? A mídia física ainda passa por processo de importação ou fabricação na Zona Franca (depende do título) e por um sistema de envio, transporte e armazenamento por todo o país, que sim tem um custo que não é barato. A desculpa dado pelas distribuidoras, assim como as empresas que mantém as redes online e suas vendas digitais é a de que o preço é equiparado ao físico para não prejudicar o varejista e lojista. “Grande ideia“, não prejudique quem vende os games, mas dane-se quem os compra? Pague o que lhe pedimos e cale a boca? Isso está muito errado. Ao menos no Brasil.

Videogame sempre foi e sempre será um entretenimento caro. Mas até onde as pessoas estão dispostas a pagar por seus consoles e games? Vale dizer que até hoje, mais de um ano após o lançamento do PlayStation 4 a Sony não veio oficialmente abaixar os 4 mil reais que o console custa por aqui (apesar de nenhum lojista mais vende o aparelho nesse preço). A representante da Nintendo pulou fora da aqui agora em 2015 e dane-se o mercado brasileiro ou os fãs da Nintendo por aqui, como se não valêssemos nada. A Microsoft travou parcialmente sua Xbox Live para que os brasileiros parassem de comprar seus games na Live US, obrigando todo mundo a gastar na caríssima loja BR da Live. E os lançamentos continuam subindo de preço. Para onde vamos assim?

Eu queria muito estar jogando Mortal Kombat X, mas sinceramente, nem se o jogo tivesse sido lançado por R$ 199 acho um preço válido para um game de luta, que não tem a longevidade de um The Witcher III. Este aliás é um outro título que adoraria estar jogando, mas vai ficar para um futuro, quando uma promoção surgir por aí. Não dá. E não é como se eu não tivesse 230 reais para comprar um game. Eu apenas não quero apoiar esse aumento dos lançamentos. Enquanto isso fico com meus games indies, com as promoções da semana da Live Gold (como Saints Row IV + Hell por 65 reais de algumas semanas atrás) e meus joguinhos mais “antigos“, como Destiny, GTA V e Shadow of Mordor.

Não é fácil curtir videogames no Brasil. Todo mundo sabe disso. O que estamos para descobrir é até onde a comunidade está disposta a continuar pagando por seus consoles e games? Ainda que isso sacrifique alguns e apenas os que podem pagar restem? Quantos passos para trás o mercado de games por aqui andou em 2015 e quanto ainda vai andar?

R$ 230? Pulei fora!


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