Pipistrello and the Cursed Yoyo é um jogo independente que encanta desde os primeiros minutos de sua aventura 2D em pixel art, entregando boas situações de salas de combate, exploração de mundo aberto, habilidades e desafios envolvendo plataformas, repleto de boas sacadas em diálogos em um mundo rico em detalhes, permitindo uma livre exploração por uma cidade repleta de segredos e obstáculos a serem superados. Um belíssimo indie game desenvolvido aqui no Brasil, com aquele tempero típico de nossa cultura e contexto social.
O título foi lançado no último dia 28 de maio, chegando aos consoles PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox Series X|S, Nintendo Switch (compatível com o Nintendo Switch 2) e PC. O jogo foi desenvolvido pelo estúdio brasileiro Pocket Trap, que também é responsáveis pelos criativos Clash of Carrot Ninjin e Dodgeball Academia. Quanto a distribuição global da obra, foi feito uma parceria com a PM Studios, que se tornou a publisher do jogo e garantiu sua chegada a todos os mercados e plataformas disponíveis.
Pipistrello and the Cursed Yoyo é um action-adventure de exploração baseado no que é chamado de perspectiva top-down, ou seja, o ângulo da câmera dá uma sensação de que o jogador está observando a tela sempre de uma posição superior a cabeça do personagem. Ainda que, no caso aqui é mais uma perspectiva um tanto “superior lateral“, permitindo assim que o jogador veja tudo em um ângulo em que seja possível também ver o corpo inteiro do personagens e dos inimigos.
Em termos de comparação com clássicos do gênero, o título lembra muito a fórmula do primeiro (e clássico) The Legend of Zelda (1986), onde o jogador anda sala a sala, explorando ambientes para encontrar caminhos e habilidades, resolvendo puzzles e descobrindo como avançar cumprindo certos objetivos imposto pela narrativa. O herói aqui não tem uma espada e escudo, mas um ioiô místico que será usado como arma para afastar criaturas e inimigos que não podem encostar em você.
Revolta empresarial
A trama de Pipistrello and the Cursed Yoyo trabalha a ideia de que a família Pipistrello é uma das mais poderosas famílias da cidade, sendo liderados pela Madame Pipistrello. Ao ter sua mansão invadida por quatro figurões da cidade, com uma máquina experimental que suga a energia de qualquer coisa, incluindo seres vivos, a Madame Pipistrello acaba sendo aprisionada em quatro mega baterias de energia e um… ioiô (!), arremessado pelo Pippit, seu sobrinho, que observava tudo escondido na sala.
Agora não resta outra alternativa a Pippit a não ser ajudar a poderosa chefe de sua família a restaurar sua forma física, recuperando as mega baterias, com o auxílio do ioiô com novas habilidades graças a energia da Madame Pipistrello atrelado ao objeto. Claro que nessa jornada, ambos passam a entender que o monopólio da energia elétrica, gerenciado pela família, é parte dos problemas e da situação que levou a tal revolta.
O interessante na proposta narrativa é que a partir desse plot o jogador irá explorar a cidade dos Pipistrellos, para descobrir que muitos habitantes temem a família, mas que também há muita coisa errada pela cidade, incluindo os empresários gananciosos que pegaram para si as mega baterias que precisam se recuperadas. Há críticas sociais (bem humoradas) desde a redes de fast food e comidas industrializadas a obras de construção civil que nunca terminam, além de críticas a jornada de trabalho, a rede da polícia e até mesmo a burocracia generalizada, já que a cidade passa por problemas de infraestrutura, com vias fechadas e passagens que precisam de passes e meios alternativo para serem atravessados.
A construção de uma grande cidade, dividida em quatro grandes áreas, é um dos maiores trunfos do jogo. Explorar todos os cantos dela não é uma obrigação, mas é repleta de recompensas para quem o fizer, pois existem colecionáveis e itens que tornam seu personagem mais forte, conforme os mesmos são encontrados em todas opcionais e escondidas, incluindo a realização de tarefas secundárias para habitantes ou resolvendo puzzles dentro de alguns imóveis.
Truques com seu Ioiô
No que diz respeito a jogabilidade, Pipistrello and the Cursed Yoyo entrega uma estrutura divertida, mesclando ação de combate com ioiô no lugar de uma espada, enquanto utiliza esse conceito para construir elementos de mobilidade com o mesmo, expandindo assim os recursos a qual o jogador vai evoluindo em sua jornada.
O jogo tem um sistema de avanço tela a tela, ou seja, o jogador andar até um dos quatro cantos da tela (esquerda, direita, cima e baixo) para avançar para o próximo cenário. Cada tela é um desafio, seja uma batalha, incluindo emboscadas em ondas de inimigos, ou puzzles para ativar botões ou descobrir como avançar no ambiente saltando entre plataformas.
O combate, apesar de simples, oferece desafio porque os inimigos são resilientes, ou seja, precisam tomar mais de uma pancada para serem vencidos, e surgem em quantidade. Raramente é um contra um. Normalmente o jogador tem que lidar com três ou mais inimigos por vez. Todos atacando ao mesmo tempo, sempre lhe perseguindo, tentando encostar em você, o que também causa dano se fizer.
E inicialmente o jogador começa com apenas 3 corações de vida, então é bem comum morrer e ter que recomeçar a sala. Bom que nesse sentido o checkpoint é generoso, ainda que ele custe algumas de suas moedas a cada recomeço. Ao longo da jornada, é possível ir expandir a quantidade de corações, coletando 8 fragmentos de um novo coração.
Mas o espetáculo mesmo do jogo é o conceito do ioiô como arma. Ao longo do jogo novas habilidades vão sendo adquiridas. Inicialmente Pippit pode arremessar o ioiô e puxá-lo de volta, e por mais que seja simples, o bacana é que ao fazer isso em quinas, o ioiô acaba sendo ricocheteado para muito mais longe, podendo atingir inimigos vindo de locais improváveis.
E conforme o jogo avança, essas habilidades vão sendo aprimoradas. Do arremesso simples, Pippit começa a literalmente atirar o ioiô, fazendo com que ele alcance grandes distâncias, podendo até mesmo atingir inimigos através de enormes buraco. Não só isso, mas ele aprende que pode colocar itens, como pilhas ou chaves, para arremessar com seu ioiô para encaixar em fechaduras ou engates (no caso das pilhas) em que ele não poderia alcançar a pé.
Ou seja, não só no combate, mas o ioiô é peça fundamental para a mobilidade do jogador pela aventura. Seja para atravessar poças de água ou buracos, Pippit entende que o ioiô é muito mais do que um brinquedo, mas um recurso valioso em sua aventura.
No aspecto dos elementos de plataforma, por exemplo, as coisas começam a ficar realmente engenhosas quando se ganha a habilidade de bater com o ioiô em uma parede e assim se arremessar no sentido contrário a investida, fazendo com que você alcance uma distância de salto que seu pulo normal não é capaz de realizar. Agora imagine fazer essa investida na parede duas a três vezes em sequência, em sentidos e direções diferentes, para ultrapassar enormes buracos. Aí está o elemento de maestria da proposta.
Isso significa que Pipistrello and the Cursed Yoyo oferece ao jogador elementos chaves de um jogos de aventura e ação top-down com todos os aspectos bem definidos e idealizados. O combate fica se reinventando a todo momento, como novos tipos de inimigos, misturando novos com já apresentados, em belas arenas de combate, onde o mix cria cenários diferentes, ao mesmo tempo que a tela do combate também é dinâmica, com quinas ou buracos ou obstáculos que tornam cada combate único.
Aí tem o elemento da exploração, onde por mais que o jogo indique onde você deve ir para cumprir o objetivo principal, ele também lhe mostra tudo que você pode explorar de opcional e secundário, e tudo tem uma recompensa, seja fragmentos para melhorar sua barra de vida ou golpes especiais, sejam moedas para quintar seus contratos e ganhar ainda mais habilidades dentro de um sistema de árvore de habilidades. O jogo constantemente progride e lhe dá novos meios para explorar e lutar.
E ambos os elementos, luta e exploração, estão amarrados em um ótimo sistema de mobilidade e desafios de puzzles e plataforma, onde o jogador deve pensar quais ferramentas e recursos já destravou e como usá-los para avançar em certos cenários, inclusive nas batalhas. Só ficar arremessando o ioiô nem sempre é a melhor solução em muitas arenas. Contra-ataques, empurrão, golpes especiais, tudo pode ser adquirido ao progredir pela aventura. E saltar, avançar sobre terrenos líquidos ou enormes buracos, torna o desafio em plataforma muito mais dinâmico e desafiador do que apenas o simples pulo. Todos os elementos do jogo se amarram muito bem.
Considerações finais
Pipistrello and the Cursed Yoyo é uma aventura que conquista o jogador rapidamente. Um indie game repleto de estilo próprio, com uma boa dose de humor, e neste caso brasileiro, pois brinca com situações do nosso cotidiano urbano. Uma jornada que constantemente está recompensando com o jogador, seja com novas habilidades, novos itens ou novos objetivos. Em nenhum momento fica parecendo apenas “mais do mesmo”. Há situações muito bem equilibradas de puzzles e combate, sem que estes elementos soem repetitivos.
E por mais que não seja uma aventura muito longa, sendo possível para virar o jogo em uma média de 12 horas, podendo esticar para até 20 horas para completar tudo (tarefas principais e opcionais), isso também reflete em seu preço modesto, custando na faixa de 50 reais em todas as lojas digitais em que ele está disponível, consoles e PC. Vale seu preço, sem dúvida alguma.
Visualmente, sua pixel art entrega um jogo muito bem resolvido com o estilo gráfico proposto. A cidade é rica em detalhes, assim como seus habitantes. O jogo utiliza bem cores para criar elementos visuais que complementam o estilo pixelado, há sombras e detalhes em objetos e roupas. É realmente de uma simplicidade, porém com capricho, que torna tudo estiloso e charmoso.
Em termos de trilha sonora, é válido apontar que o estúdio brasileiro convidou a compositora Yoko Shimomura para criar música do jogo, que traz toda uma vibe old-school ao projeto, sendo que a compositora é famosa por ter trabalhado em games lendários, como Final Fight, Street Fighter II, Kingdom Hearts e até mesmo Mario & Luigi: Superstar Saga. Ou seja, o jogo soa corretamente como deve soar!
No mais, saio com uma vibe positiva com Pipistrello and the Cursed Yoyo depois de algumas semanas jogando o título. Joguei para relaxar, joguei para me divertir. Não é um jogo bombástico ou de ficar impressionado ou arrepiado porque está entregando algo que nunca foi feito dentro de seu gênero, só que isso não é um demérito. O fato de jogo ser um adventure moderno com uma pegada nostálgica, e executar isso com a maestria que executa, por si só é um mérito gigantesco. Ser tão divertido quanto um The Legend of Zelda clássico não é um feito que qualquer jogo nesse segmento atinge.
E não quero ficar comparando demais com esse clássico porque ambos tem uma apresentação distinta. Um é uma fábula lendária, um conto de fantasia puro, enquanto aqui é algo mais sarcástico, sem pretensão de uma trama pesada ou épica. É só uma aventura descontraída, repleto de sátiras e bom humor. E tá ótimo assim.
Pipistrello and the Cursed Yoyo é um indie game camarada, que faz tudo que se propõem a fazer, com leveza e diversão. Entrega todos os elementos chaves com competência, e o resultado é algo descontraído, que diverte, relaxa e se traduz como um jogo de videogame em sua mais pura essência. E convenhamos, não é tão fácil achar jogos assim na atual indústria. Que bom que ainda há estúdios criando jogos exatamente assim. Divertir e entreter, desafiar e recompensar. No final das contas, videogames são também sobre isso.
Gameplay sem comentários
Galeria
Dando nota
Ótima apresentação, com carisma e humor muito bem afiado - 8.8
Encantador visual em pixel art, que apresenta muitos elementos com detalhes e cores vibrantes - 8.5
Cativante sistema de batalha com ioiô, diversidade de inimigos e boas salas de combate - 9
Ótimos desafios em plataforma e puzzles que não frustam, mas se provam engenhosos - 8.8
Exploração bem idealizada, que está constantemente recompensando a progressão pelo mundo - 9
Desenvolvido por um estúdio brasileiro, diálogos e cenários tem muitas situações comuns a nossa cultura - 8.5
Não é tão longo, mas dura o suficiente, tarefas opcionais garante uma cauda de replay - 8.2
8.7
Divertido
Pipistrello and the Cursed Yoyo é um indie game genuinamente divertido, utilizando uma clássica fórmula dos jogos de ação e aventura com exploração em tela a tela, mesclando momentos de combate em arena, com desafios em plataforma e vários puzzles para avançar pela aventura. Desenvolvido por um estúdio brasileiro, o humor é afiado e calibrado a nossa realidade, com um visual pixel art repleto de carisma, boa trilha sonora e um ótimo sistema de, progressão que recompensa constantemente o jogador.