Cansado dos romances atuais? Então volte no tempo com Urusei Yatsura! Por Rumiko Takahashi!

Antes de InuYasha nos mostrar um romance cheio de ação, comédia e até mesmo drama na era feudal e o casamento arranjado mais bem sucedido e engraçado da história com Ranma ½, Rumiko Takahashi já mostrava todo o seu talento como mangaká na Shonen Sunday durante o final da década de 70 com Urusei Yatsura. Mas hein? Não conhece? Não tem problema, estamos aqui para salvar você do mesmo “arroz com feijão” de sempre que se tornou a animação japonesa e caso partilhe do mesmo descontentamento que sinto agora, sugiro fortemente que você vá correndo conferir o anime ou leia antes mais uma humilde recomendação deste ursinho falastrão e deveras pervertido que vos fala (tentando assumir o personagem mais uma vez… sem sucesso) logo após continue.

 Quem criou InuYasha e Ranma ½ não precisa de nenhuma apresentação para que deixemos claro o tamanho da credibilidade e qualidade de seu trabalho, certo? Mas só para nos situarmos melhor vamos lá. Urusei Yatsura é o primeiro grande sucesso da autora, foi publicado de 1978 a 1987 na revista Shonen Sunday, a mesma que já foi casa de MAR, Detective Conan, a versão em mangá de BLACK Kamen Rider, entre outros. Somando as edições compiladas a obra totaliza 34 volumes, já o anime foi ao ar em 1981, terminando em 1986 depois de 195 episódios, 6 filmes e cerca de 12 OVA’s, alguns lançados tempos depois da finalização da obra tanto na TV quanto nas bancas, tudo em prol da saudade que a série ainda provoca do povo japonês.

Tudo começa quando uma raça que parece ser um misto de aliens com demônios que adoram vestir roupas que mais lembram pele de onça (ou tigre… não vejo diferença) chegam ao nosso planeta Terra para dominá-lo. Bem, até aí nenhuma novidade, mas isso apenas até os invasores apresentarem a seguinte condição: para que o nosso planeta não seja devastado, um único homem será convocado para brincar de pega-pega com o desafiante escolhido pelos extraterrestres. A espécie dos invasores faz jus ao subtítulo de demônios possuindo um par de chifres e a condição é a que o ser humano escolhido tem o dever de agarrá-los dentro do período de 10 dias. Do contrário, vocês já sabem.

Proposta feita, o governo japonês trata de encontrar o único capaz de salvar a humanidade de sua extinção, seu nome? Ataru Moroboshi, um estudante muito preguiçoso, promiscuo ao extremo e sem noção alguma quando o assunto é assumir alguma responsabilidade, não tendo amor a nada na vida, exceto mulheres (não o culpo). De imediato ele se recusa terminantemente a ceder a proposta de salvar sua família, porém quando ele descobre que o seu desafiante é uma bela garota com pouca roupa, a história muda totalmente de figura e a determinação do rapaz acorda repentinamente.

O único problema é que não é fácil pegar um ser de outro mundo que pode escapar de você voando, o que extende a disputa por todos os longos 10 dias, mas sob forte ameaça de linchamento por parte da população misturada com as suas próprias súplicas de querer se casar antes de morrer, Ataru acaba conseguindo agarrar a garota no último dia. O juízo final sob a condição mais maluca do mundo é adiado e aqui surge a primeira de várias citações à cultura japonesa que a obra possui. Pois de acordo com histórias mais antigas, quando se agarra o chifre de um demônio, o mesmo fica comprometido a conceder um pedido a quem o fizer e já que o pedido era o de não morrer sem antes chegar ao altar, a recém chegada se compromete a realizar o desejo do garoto. Que final feliz hein? Que nada… isso é só o começo.

Ataru Moroboshi é o típico mulherengo dos dias atuais, tudo o que ele deseja é montar um harem pessoal onde ele possa “afogar o ganso” sempre que lhe der na telha. Ah sim… e caso lhe concedessem o controle de todas as mulheres ao redor do globo também não cairia mal, o que ele quer é comandar e conquistar. Acho até que a idéia para o personagem Happousai de Ranma ½ com certeza teve alguma inspiração no nele para ser criado, o dois são tão sem noção que é impossível não comparar. Mas voltando ao assunto, logo, uma mulher só não basta para ele e mesmo com a atraente habitante vinda do espaço na sua cola, quase que parecendo um chiclete na sola do sapato, ele sente que precisa de liberdade para provar os outros pratos que andam dando sopa por aí. Ou seja, o seu pedido de casamento minutos antes da sua suposta hora da morte agora se tornou o seu pior pesadelo: estar amarrado ao compromisso do casamento (e eu não o culpo novamente).

Ops, por falar na moça, quase esqueço de mencionar o nome dela. Pessoal a garota de pouca roupa com listrinhas de oncinha se chama Lum. Cumprimentem direito, pois ela tem um gênio forte e pode atacar você com severas descargas de eletricidade. Sim, essa é a maior defesa da moça contra pervertidos e é também exatamente o que Ataru mais odeia nela. Cada rabo de saia merece ser devidamente apreciado sem pressa e com toda a calma do mundo, mas com a garota do tempo ao lado fica difícil paquerar desse jeito. Portanto a história trata de contar como o rapaz tenta pular a cerca e fugir das garras dessa tirana, enquanto ela demonstra um amor verdadeiramente incondicional por ele, mesmo sabendo que o rapaz não é homem de uma mulher só. Porque os opostos não tem outra alternativa se não se atrairem.

Mas o tempêro que faz de Urusei Yatsura um sucesso não estaria completo sem os personagens secundários, que são tão importantes quanto os protagonistas. A começar por Ten, o irmãozinho mais novo da Lum, que não tem muita altura, mas tenta apreciar as mulheres como gente grande tanto quanto os jovens pervertidos do anime. Ele está sempre tentando infernizar a vida do protagonista, principalmente por ter ciúmes dele com sua irmã e por saber das faucatruas que o mesmo planeja para se ver longe dela. As situações mais hilárias geralmente acontecem quando ele traz algo de seu planeta que não deveria em hipótese alguma estar na Terra.

Em, seguida temos Shinobu Miyake, que inicialmente é apaixonada por Ataru até se conformar com a idéia de que ele é um ser com a mente povoada pela luxúria e totalmente sem salvação. É uma garota apaixonada e dona de uma força que até mesmo ela desconhece, fato esse que aliado ao seu excesso de drama rende os momentos mais engraçados quando a personagem está por perto. As figuras não param de aparecer e assim chega Shotaro Mendou, onde a autora faz um trocadilho com o próprio nome do rapaz já dizendo o quanto ele é chato. Mendou é o herdeiro de uma grande fortuna e mesmo nadando na grana preta, ainda estuda na mesma escola que Ataru. Ele é o queridinho entre as garotas, mas quando Lum surge na sua frente o rapaz vira mais um dos milhares de fã da moça, infelizmente ela só se derrete pelo mulherengo, o que deixa o riquinho possesso e cheio de planos para aniquilar a existência do rival. Ele nem sempre apresenta as melhores piadas, mas é um dos personagens que dá um toque sem igual de surrealismo no anime, usando de seu poder e dinheiro para as coisas mais egoístas e absurdas, como por exemplo reunir um exército (de incompetentes) inteiro para dar cabo do protagonista em meio a uma festa a fantasia.

Vindo logo atrás temos a turma de invejosos liderada por Megane (nem preciso dizer onde está o tocadilho né?), o típico otaku contido e obcecado por ninfetas querendo o seu lugar ao sol. Ao ver a mais nova aquisição do seu colega, ele inicia a sua obsessão pela personagem e ainda arrasta outros tantos com ele criando assim um fã clube para a garota. Claro que tudo é inútil e a beldade extraterrestre segue tendo olhos somente para o pior dos homens. Os melhores momento com Megane geralmente acontecem quando ele tem um ataque súbito de histeria e muda o tom de voz totalmente, algo parecido com o que o Buggy costuma fazer quando está bravo, aliás se ambos tiverem sido dublados pelo mesmo seiyuu não ficarei surpreso. Ainda poderia falar dos pais de Ataru, que mais parecem um casal problemático de brasileiros vivendo sob os costumes orientais, da amiga invejosa do espaço Ran, do ex-noivo de poucas palavras Rei, da enfermeira e exorcista nas horas vagas mais cobiçada do colégio Sakura ou do mendigo por opção própria Cherry, porém melhor do que descrevê-los é deixar vocês mesmos os conhecerem. Podem apostar que o prazer será todo de vocês.

Esses e muitos outros personagens integram a lista dos malucos, são mesmo muitos e ainda assim a autora sempre dá um jeitinho de lembrar um ou outro sempre que possível. E o que mais impressiona é a forma como todos parecem atuais mesmo nos dias de hoje, lembrando mais os costumes ocidentais do que a rotina e o modo como os japoneses levam a vida tanto antigamente como hoje. Sem toda essa restrição de idéias e opinião, sem essa sensação de liberdade forçada que eu vejo atualmente, que ainda espanta os mais conservadores e força muitos jovens ou a se tornarem radicais sob a visão do seu povo ou a assumirem pressões logo no seus primeiros anos de vida. Nesse ponto o anime não deixa de ser atual não importando em que momento da história você se encontre e na minha opinião mostra o quanto a mente da autora já estava a frente de seu tempo.

E como se o humor que nunca cai na mesmice não fosse o suficiente, ainda temos pilhas e mais pilhas de referências à cultura japonesa. É realmente de se admirar tantos trocadilhos e citações a cada episódio. O anime é um verdadeiro catálogo de expressões popularmente orientais e o mais recomendável mesmo é ficar com um olho na tela e um dedo no play para poder pausar e entender sempre que uma notinha explicativa aparece no canto superior da imagem. Mas claro, também temos mil e uma referências que são verdadeiras homenagens à animes e tokusatsus da época ou mais antigos como Captain Harlock, Ashita No Joe e muitos outros, e até seriados e filmes americanos também entram no bolo, o que reforça a idéia do quanto a autora se difere de muitos mangakás de hoje em dia, que se limitam a conhecer sua própria cultura e fecham seus olhos para o que vem de fora. E talvez seja esse o melhor ingrediente para receita que dá tanta vida a Urusei Yatsura mesmo anos depois de sua estréia na TV Fuji, que até hoje também continua sendo sinônimo de sucesso abrigando o monstro (no bom sentido) que nós conhecemos e tanto amamos chamado One Piece.

No mais meus amigos, só vendo pra crer. Não se deixem enganar pelo traçado mais antigo, até porque ele evolui com o tempo e chega até a se parecer muito com o de Ranma ½. Também não fiquem amedrontados com o número de episódios que vocês terão de encarar caso se interessem pelo clássico, Urusei Yatsura vale cada minuto seu gasto com o anime e isso é indiscutível. É uma história inteligente, que preza com todas as letras as suas raízes na cultura nipônica, mas sem esquecer o toque ocidental capaz de cativar qualquer um interessado nela. O anime no momento está sendo legendado pelo fansub Animes PLUS e pode ser encontrado aqui acessando o blog deles, por lá vocês encontram o link para o tracker. Por enquanto estão disponíveis 137 episódios e 2 dos 6 filmes, OVA’s por hora nenhum. O ritmo dos caras é bem lento, mas considerando o trabalho que deve ser ir atrás de RAW’s de qualidade, é totalmente compreensível, pois o trabalho é extremamente bem feito e nota-se a atenção redobrada que a equipe tem em explicar cada referência que nós ocidentais dificilmente entederíamos sem a devida orientação.

E é isso, se você fez como eu ignorando as recentes estréias monótonas e está esperando a volta dos que não foram em outubro, nada melhor do que enganar a ansiedade explorando um pouco o velho baú. Aliás, bem que mais fansubs poderiam desenterrar outros clássicos, os animes da atualidade estão cada vez mais apáticos e devendo muito se comparados ao seu trabalho original nos mangás, fazendo o passado ser infinitamente mais atraente que o futuro. Feliz e infelizmente ao mesmo tempo.

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