Análise | Souldiers

Disponível para PlayStation 4 e 5, Xbox One e Series, Nintendo Switch & PC

Souldiers coloca o jogador em uma jornada no limbo entre a vida e a morte, entre labirintos e caminhos repletos de obstáculos que precisam ser revelados por meios de objetivos e novas habilidades, entre combates mortais a qual se esquivar e contra atacar se tornarão essenciais, onde será possível escolher entre três classes de hérois para essa aventura, que não vai pegar leve nem mesmo com os jogadores mais experientes.

O título, distribuído globalmente pela publisher Dear Villagers, foi lançado no último 2 de junho, para todos os atuais consoles do mercado e também para o PC. Trata-se do primeiro jogo do estúdio Retro Forge Games, localizado em Madri, capital da Espanha. Souldiers abrange os gêneros RPG, ação e aventura, mas por beber das fontes de Metroid e Dark Souls recebe então a denominação de soulsvania. Infelizmente o jogo não conta com dublagem em seus áudios, contudo menus e textos de diálogos estão totalmente localizados em português, o que facilita o seu aproveitamento pelos jogadores brasileiros.

Para quem ainda não ouviu essa denominação, um soulsvania é um game que possui muito da estrutura de exploração de Metroid/Castlevania e aquela pitada extra de dificuldade dos games da série Souls. Obviamente jogos assim não são para qualquer um em sua dificuldade padrão, mas hoje em dia muitos jogos oferecem modos mais “amigáveis” para quem quer apenas se divertir e passar o tempo de forma tranquila e não arrancar os cabelos a cada 5 minutos de jogo. Por fim, aviso que a versão utilizada para este review foi a do PlayStation 5.

Jornada pós-vida

A aventura começa no reino de Zarga, uma das três nações que governam o continente de Ascil, o qual está em conflito com Dadelm, o reino vizinho. Após uma reunião com as lideranças, o general Brigard é aconselhado por Arkzel, o mago do reino (que diga-se de passagem parece ser no mínimo “bem suspeito”), a levar todo seu regimento de guerreiros por entre uma misteriosa caverna, para realizar uma emboscada poderosa contra as forças de Dadelm. Mas algo terrível acontece nessa jornada: um estranho terremoto atinge em cheio a caverna, que desmorona e põe um fim a Brigard e seus guerreiros.

Estando presos naquele momento entre a vida e a morte, não acreditando que todos estão provavelmente mortos, eis que surge no meio de um clarão de luz, uma bela guerreira, vestida de armadura e com asas gigantes de penas brancas. Ela é uma Valquíria. Sem papas na língua, essa guerreira apresenta a atual situação aos guerreiros e oferece aos mesmos uma nova chance caso a acompanhem em uma jornada. Todos no primeiro momento relutam, mas enfim Brigard se convence e acompanha a Valquíria, sendo seguido por alguns de seus homens. O destino de todos é a misteriosa Terragaya, localizada entre a vida e a morte, uma espécie de reino astral. Ficamos sabendo posteriormente que seres sem alma estão se alojando nesse reino e que a ajuda dos novos guerreiros pode ser fundamental.

Todos que morrem, e aqui chegam, recebem a mesma missão: encontrar um poderoso ser chamado simplesmente de Guardião. Ao cumprir essa missão, quem veio parar nesse local demonstra ser digno de se juntar ao exército dos Deuses e lutar em batalha uns com os outros pela chance de uma nova vida.

No geral a história de Souldiers ficará em segundo plano, mas volta e meia acontece algum evento que dá uma chamada de volta na trama e justifica pelo menos um pouco o empenho nessa aventura. Não temos nem mesmo um nome para o protagonista, mas temos volta e meia o surgimento de outros personagens recorrentes como o lojista Balof, que é um porco meio atrapalhado, que surge para nos vender itens, ou a garota ninja chamada Sinka, que nos dá alguma dica do que devemos fazer, e que misteriosamente, cumprindo sua sina de ninja, costuma desaparecer em momentos chave.

Três classes

Ao contrário do que o jogador é levado a acreditar, não iremos jogar com o general Brigard, mas sim com um de seus guerreiros. E eis o primeiro momento de decisão do jogador: escolher qual será a sua classe de guerreiro. Temos as três seguintes opções:

  • Patrulheiro é o soldado batedor padrão com armadura, escudo e espada. Aguenta mais porrada, podendo então absorver mais danos. Tem um alcance de seus golpes mais curto, mesmo que consiga fazer combos rápidos de ataques seguidos, então teremos que chegar bem perto dos inimigos. E aí vem a pegada de Souls, teremos que desviar muito para sobrevivermos alguns segundos a mais nas batalhas.

  • Arqueiro, por sua vez, baseia sua estratégia de combate em torno de ataques realizados a distância e na sua mobilidade ágil de deslocamento. Além de atirar suas flechas a grandes distâncias, pode utilizar seu arco como se fosse um bumerangue, recuperando o mesmo em seguida e se preparando para o próximo ataque.

  • Conjuradores podem utilizar a magia como sua principal arma, sendo capazes de causar destruição em grande escala se conseguirem ser pacientes e realizar movimentos em sincronia com a movimentação de seus alvos.

E eis que aqui cabe ressaltar uma coisa que pode ser interessante a alguns jogadores: feito sua escolha da classe de herói, você estará preso neste personagem escolhida até zerar o jogo. Não é possível trocar de classe durante a campanha já iniciada. Claro que cada uma das opções vai recebendo novas habilidades ao longo da evolução, mas o jogador não pode trocar de classe durante a sua jornada.

O que por sua vez não nos permite experimentar todas as classes e escolher a que agradar mais. Contudo o jogo tem diversos slots de salvamento. Então a dica que posso dar é iniciar o jogo em três slots distintos e experimentar um pouco de cada um dos três heróis, e aí sim engajar em um para ir até o fim da campanha.

Sem sombra de duvidas fazer você querer jogar o jogo três vezes, uma para cada classe aumenta o fator replay, mas talvez nem todos vão querer encarar essa aventura até o fim em três ocasiões, principalmente com uma classe que não seja do seu agrado. Talvez uma opção que permitisse a troca entre as classes numa aventura já iniciada pudesse ser uma opção interessante para esse tipo de jogador – e admito que meio que me incluo nesse grupo.

Guerreiros de habilidades

Independentemente de qual seja a sua escolha de classe, seu guerreiro vai se fortalecer nas batalhas enfrentadas e ganhar Relíquias de Maestria, o nome dado aqui aos pontos usados para destravar novidades em uma árvore de habilidades própria de cada classe. Joguei como patrulheiro e uma das habilidades iniciais disponíveis para compra é o Contra-Ataque, que permite bloquear um ataque e em seguida, ao se pressionar outro botão sequencialmente, realizar um poderoso contra-ataque logo após se esquivar, porém usar essa habilidade vai esvaziar um pouco a barra de energia.

Outras habilidades vão necessitar de mais destes pontos. Propositalmente a fim de não facilitar muito as coisas e ser necessário escolher entre as disponíveis. Podemos inclusive receber poderes elementais, como o primeiro orb encontrado, que permite embutir nossa arma com chamas, eficaz contra alguns inimigos e ineficaz com outros. Tipo, se atacarmos um inimigo de fogo com este poder, ao invés de causar dano estaremos restaurando a energia do mesmo.

O jogador sempre terá a seu alcance uma esquiva (por meio do clássico ato de rodar e passar pelo inimigo) e um bloqueio realizado ao se pressionar um botão no controle, e ambos contam com um sistemas de cooldown (aquecimento e resfriamento) para que não seja possível realizar ambas as técnicas infinitamente. Isso nos dá toda uma tensão especial aos combates, principalmente em batalhas mais acirradas, como nos chefes. Ficar somente na defensiva não se torna uma escolha muito duradoura, assim como partir para o ataque loucamente vai lhe levar a tela de Game Over ainda mais rápido.

Para tentar apaziguar as coisas um pouco, temos inúmeros equipamentos que podemos encontrar em baús ou que podem cair após derrotar determinados inimigos. Caso consiga mais de um equipamento, podemos vender para o  lojista Balof. Aliás aqui fica uma dica: se usarmos os pontos de viajem rápida, podemos facilmente irmos até o seu encontro ou até os baús onde podemos comprar itens como poções e fragmentos de munição, que seria aqui a mana usada para arremessar armas como bombas e lanças.

Destruir itens do cenário, derrotar inimigos comuns e até mesmo destruir tochas pode render algumas moedas. Ou seja, sair acertando tudo pelo caminho pode ser uma alternativa, mas cuidado: se destruir toda a iluminação vai ficar mais difícil se locomover pelas masmorras escuras.

Labirintos e mais labirintos

Você já sabe, eu já sei, jogos do gênero metroidvania se baseiam em explorar o ambiente, a qual geralmente é um labirinto, com passagens bloqueadas em um primeiro momento, sejam por locais que exijam uma habilidade específica para ser acessados (que você vai conseguir mais para a frente na exploração), na derrota de algum chefe que bloqueia uma passagem, ou do ato de reunir determinada quantidade de itens que vão abrir uma porta.

Bem, aqui em Souldier isso é seguido a risca, como podemos ver na primeira área do jogo, o Covil das Aranhas, onde teremos que achar algumas esmeracnídeos, uma gema específica desse local, para abrir a porta que vai nos levar a uma das novas áreas, mas nessa exploração toda vão rolar algumas batalhas de chefe.

Não vou entrar em detalhes para não estragar as surpresas, mas já na primeira área temos 2 batalhas dignas de nota, devido a sua dificuldade e por apresentarem chefes com diferentes fases de “atitudes”. Conforme o decorrer da batalha e a sua perda de energia, deixar o chefe com menos energia fará seus padrões de ataque e movimentação mudar drasticamente. Isso exigirá toda uma readaptação rápida do jogador para prosseguir com eficiência na batalha.

Dentro de uma mesma área ainda temos outros locais onde ao se colocar pedras em determinados locais, fluxos de ar se modificam, ficando mais fortes ou fracos, o que impulsiona o jogador para outras áreas. Também temos elevadores quebrados que precisam ser consertados. E não podemos esquecer das portas trancadas com chaves que estão lá longe em outra área. Ir e voltar é algo básico, além de essencial.

E não temos muito definido aonde exatamente devemos ir, nem o que devemos fazer. Por exemplo: há uma área onde devemos acender uma certa quantidade de velas para desbloquear a passagem, mas a ordem exata e o tempo para fazer o procedimento não nos é dado de mão beijada, sendo necessário ir experimentando na tentativa e erro até encontrar a solução apropriada. Em resumo, em Souldiers temos tão somente as linhas gerais do que fazer e a exploração fica completamente por nossa conta.

De volta aos belos pixels

Já estamos acostumados a termos metroidvanias com arte gráfica em “bits”, mas aqui temos uma riqueza de detalhes, com locais repletos de cores e com animações suaves e com detalhes como insetos voando ao fundo das fases ou mesmo pequenas aranhas (que não são inimigos) saindo de ninhos espalhados pelo chão quando tocados pelo jogador. Temos então atividades se desenrolando no primeiro plano (onde estamos) e no segundo plano, o que acabamos vendo, mas sem interações com o jogador.

Mais uma vez a trilha sonora se baseia em um chiptune retrô, que aliás está muito bem executado e conta com seus momentos de maestria. Não é nada que você vai sair cantarolando, pois não temos letra, mas que cumpre o seu papel. Um detalhe é que a animação de abertura do jogo é fantástica, se o jogo tivesse esse visual também faria um sucesso, talvez até maior do que faz com seu visual 16 bits, mas obviamente a estrutura teria que ser outra para suportar um jogo em um estilo de desenho animado.

Algo que demonstra o cuidado com os pequenos detalhes, e que podemos notar claramente quando ao acionarmos o botão que nos permite ver o mapa do calabouço onde estamos e que tem toda uma animação do personagem para abrir o mapa, para só aí então termos acesso a visão do mesmo, e que imediatamente marca pontos de interesse que não pudemos pegar em nossa primeira passada pela área.

Apesar destes pontos não  nos dizer o que temos que fazer, notar um desenho de um baú que não abrimos ainda vai mexer com a nossa necessidade de voltar ali mais tarde e conferir o que ficou para trás. Podemos também em outros locais cortar frutos de árvores para coletarmos algum item que esteja ali, a fruta inclusive cai cortada no chão. Detalhes que fazem a diferença, sem dúvida algum.

Considerações finais

Sendo Souldiers o primeiro trabalho da Retro Forge, o estúdio parecer seguir o caminho já trilhado por outros estúdios espanhóis que acabaram achando o seu espaço no mercado de games, como foi o caso da Pendulo Studios (responsáveis por Runaway e Blacksad), MercurySteam (com Metroid Dread e Castlevania: Lords of Shadow) e também da Tequila Works (de RiME e Deadlight). Ficar de olho nesse estúdio depois de nos entregarem Soldiers parece ser uma sábia decisão. Vamos aguardar pelos próximos títulos e torcer para que continuem nos entregando jogos belos e desafiadores, tudo é claro, na medida certa.

Souldiers é um jogo que demonstra a capacidade da Retro Forge de conquistar seu lugar no turbulento e agitado mundo dos games. Temos aqui um jogo que nos remete aos metroidvanias da vida e isso é muito bom, justamente por ser bem feito. Dar aquela pitada de Souls-like pode num primeiro momento afastar um grupo considerável de jogadores que não querem se estressar jogando, mas isso foi pensado ao disponibilizar 3 níveis de dificuldade e todos eles são desafiadores, mesmo quem opte pelo mais “fácil” vai encontrar uma jornada digna do modo normal dos outros jogos do gênero.

Caso esteja na dúvida de investir seu tempo ou dinheiro aqui, fique com a certeza de que após o início, meio monótono, em pouco tempo o jogo encontra seu rumo e se torna uma experiência que todo fã de metroidvania, ou nos interessados neste novo sub-gênero soulsvania, precisam conhecer e experimentar. Se não pegar agora, deixe ele no seu alvo para o futuro, pois dificilmente vai se arrepender disso.

Galeria

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Dando nota

Batalhas desafiadoras, mesmo nos níveis de dificuldade mais baixos - 8.5
Narrativa constroi uma trama interessante, contudo essa história some pontualmente em meio ao gameplay - 8
Menus e textos de diálogos estão totalmente localizados em português, dando acessibilidade ao público brasileiro - 9
Demora um pouco a engrenar e a falta de informações pode lhe deixa vagando sem rumo - 6.5
Bela direção de arte, com visuais em pixelart muito bem feito, que chama atenção aos olhos - 9
Falta de save points em determinadas áreas acabam causando cansaço em repetir a mesma área diversas vezes - 6
Boa mistura de exploração no modelo metroidvania com um combate semelhante a um souls-like - 9

8

Ótimo

Souldiers chega com uma aposta interessante, mesclando a exploração no estilo metroidvania com os combates de esquiva e parry encontrados em jogos do sub-gênero souls-like. Há bastante desafio, porém há três níveis de dificuldade para balancear as coisas. Tem uma curva inicial lenta, mas acelera conforme a aventura progride, com grandes batalhas de chefes e incríveis ambientes para se explorar. Sua localização em português dá ainda mais acessibilidade ao público daqui. Um título que vale muito a pena conhecer e se aventurar.

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