Análise | Ratyrinth

Disponível para PlayStation, Xbox, Nintendo Switch & PC

Ratyrinth é uma obra muito simples, mas de charme singular, que figura o verdadeiro conceito de um indie game de pequenas proporções, curtinho e com preço acessível, que vai lhe tomar uma ou duas horas para vencê-lo, e sairá de sua experiência totalmente satisfeito, ainda que não tenha sido apresentado a nada realmente novo. Um título de jogabilidade e gráficos minimalista, avance, pule, escale, desvie e siga adiante.

Foi desenvolvido, veja só, por um desenvolvedor aqui do Brasil, conhecido como Solluco, sendo seu segundo jogo lançado. A título de curiosidade, seu primeiro game foi SokoFrog, sendo um puzzle isométrico, enquanto Ratyrinth é mais um plataforma de agilidade. Ambos lançados no PC, em 2022 e 2023 (respectivamente), de forma independente. Além disso, os dois jogos chegaram aos consoles (PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series, Switch) este ano, em abril, mediante uma parceria de distribuição global com a Eastasiasoft.

Vale apontar que Ratyrinth chega aos consoles, custando um pouquinho mais do que custa no PC. Talvez por conta dessa parceria de publisher, o que é totalmente aceitável, além de que jogos para os consoles tendem mesmo a custar mais do que quando lançados apenas no PC. Enquanto você acha o título na Steam por míseros 5 reais, nas demais lojas dos consoles, o mesmo vai custar um pouquinho mais: na média de 20 reais. Não é nenhum absurdo, mas sempre me faz pensar como é surreal essa precificação entre plataformas.

Indo adiante, Ratyrinth é um jogo de gráficos simples, de pixel art que remete aos antigos jogos de poucos bits, com visual em preto e branco, bem minimalista. Nessa linha da simplicidade, o jogo não tem diálogos, mas há uma pequena localização ao nosso português, para a tela principal do menu, as opções e na mensagem final quando o jogo é concluída. O aprendizado pela jogabilidade é feita de forma intuitiva, ou então com pequenos balões de demonstrações realmente práticos.

Ratinho solitário

Apesar de não ter uma narrativa super elaborada, Ratyrinth apresenta uma motivação para justificar a aventura. O jogador é um ratinho que se perdeu de sua mãe (talvez seja o pai, não fica claro o gênero), quando uma grande pata felina os ataca. Separados na fuga, o ratinho segue em uma jornada atrás do membro perdido de sua família, enquanto o grande predador também segue no encalço de ambos.

Essa jornada é apresentada em 80 estágios, que mesmo sem cores, representam diferentes ambientes, com pássaros e caracóis, talvez uma planície, por assim dizer, assim como cavernas com grandes cogumelos como plataformas e teias de aranhas para se grudar, e também uma grande lagoa ou riacho, onde o ratinho precisa passar por baixo d’água. E tudo se conclui num castelo, com poços ardentes e bolas de fogo, entre outras armadilhas que me lembrou muito aos castelos dos clássicos jogos de Super Mario Bros.

Já a premissa da jogabilidade me soou claramente inspirada em jogos de plataforma de resposta rápida em saltos e desvio de armadilhas, como o icônico Super Meat Boy. O jogador tem a capacidade de avançar rapidamente pelas fases, saltando (sem pulo duplo), grudando na parede e assim escalando-a. Nas fases embaixo d’água, o ratinho ficará mais lento, mas poderá avançar nadando.

Cada fase precisa ser vencida numa única tentativa, pois não existem checkpoints. Então se morrer, tem que recomeçar a fase toda. Não que os estágios sejam longos, mas existem diversos pontos de armadilhas que estão projetados para que o jogador mais distraído morra em diferentes momentos, e assim refaça a fase por algumas vezes antes de finalmente vencê-la. É a reação por memória muscular.

E o ratinho não pode eliminar os inimigos. Encostar neles é morte certa, exceto em alguns em que se pode pular sobre suas cabeças e assim seguir avançando, como os pássaros que atiram ovos. A morte também é imediata ao encostar em espinhos, fogo ou cair em buracos. E então, toda a fase recomeça. O ponto prático disso? Que o retorno da morte é instantâneo, a fase recomeça um segundo depois que o jogador morre. Sem loadings.

Também não existem power-ups ou itens, como moedas, para se coletar. O que existem são pontos secretos em alguns estágios onde o jogador pode encontrar um desbloqueio de paletas de cores da tela, para dar alguns tons mais pastéis ao preto e branco dos gráficos pixelados, deixando a tela mais azulada ou amarelada, por exemplo.

Ratyrinth é um jogo difícil? Considerando que é um plataforma de agilidade, com pontos programados para o jogador morrer até acertar o tempo de saltos e dos desvios? Não tanto quanto poderia ser. Nesse aspecto o jogo tem uma dificuldade mais amigável, onde haverá algumas mortes, mas nunca frustrará o jogador, travando-o na progressão do jogo. Tem seu valor como desafio, que não é muito hardcore nível Super Meat Boy e, portanto, é perfeito para quem nunca se aventurou em tal fórmula.

A única exceção que faço em relação ao ponto discutido no parágrafo acima diz respeito ao nível 63. Trata-se de uma fase de caverna onde o ratinho é perseguido por uma enorme minhoca e precisa fugir escalando e saltando entre teias de aranha. Talvez no PC, via teclado, essa fase não seja tão problemática assim, porém no analógico de um controle de videogame, especialmente nos do Switch, passar essa fase foi um verdadeiro inferno por conta da resposta do toque do analógico para cima (se agarrar) e do salto com o Ratinho. Achei complicado e impreciso. Levou um tempo de quase uma hora de mortes até conseguir me habituar saltar sem me prender errado ou ser lento demais a ponto da minhoca me alcançar. Dos 80, esse foi o único estágio que odiei genuinamente.

Considerações finais

Ratyrinth é um indie game em sua perfeita essência. Tem uma ideia que é executada de uma forma objetivo e simples, sem floreios, sem rodeios. É curtinho, pode ser fechado em uma ou duas horas, e isso é aceitável diante de seu preço de mercado, mais barato do que médios ou grandes lançamentos.

É uma diversão momentânea, mas que também cabe naquela situação em que você pode apresentar um videogame para uma pessoa que nunca jogou em um jogo de plataforma. Talvez uma geração mais velha até fique encantada com os gráficos retrô e a arte em pixel, que lembra a transição entre o Atari e os primeiros jogos 8-bits. Por ser simples, é fácil de ser jogado. Acessível.

Isso porque a dificuldade também é escalonada, ou seja, as primeiras fases são fáceis, pois a finalidade delas é que o jogador entenda as mecânicas básicas, enquanto outras são apresentadas conforme a aventura e os estágios avançam. Começa simples e vai se complicando mais do meio pro fim, já com a presunção de que o jogador entendeu o básico.

É o tipo de produção que fico feliz em ver que possui espaço em tempos modernos, já que a indústria dos games evoluiu nas últimas duas décadas para permitir que o escopo dos indie games surgissem como jogos digitais, sem a necessidade de cartuchos e mídias físicas, sem fabricação e distribuição, onde os custos tornam inviáveis obras menores. Ficou mais simples ter jogos simples, mas que tem tanto valor como qualquer jogo de maior escopo, pois seu propósito é direcionado a experiências mais íntimas, simples, casuais e que funcionam como pontes para pessoas que desejam conhecer mais videogames.

Ratyrinth não está reinventando nada, não está fazendo nada novo. É só um divertido jogo de saltos ligeiros e que recompensa o jogador que vencer uma fase com outra fase ligeiramente mais desafiadora. Que entende seus limites, assim como também entende que morrer é tão importante quanto vencer, e por isso precisa do retorno instantâneo, sem descanso, para manter o ritmo e a dinâmica do gameplay.  Divertido, bonitinho e com um charme que me atraiu a jogá-lo, finalizá-lo e indica-lo aqui nesta análise. Saio bem satisfeito dessa experiência.

Galeria

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Dando nota

Visual gráfica em pixel art é super simples, mas o apelo minimalista funciona bem - 7
80 estágios é mais do que o suficiente para a aventura, preço acessível - 7.5
Controles respondem bem aos comandos do jogador, pulos são precisos - 7.5
Bom jogo para quem está começando nesse gênero de plataforma com agilidade, não é frustrante - 7.5
Mesmo com uma arte simples, os biomas e progressão dos estágios sempre apresentam alguma novidade - 7.8
Estágio 63 é a única exceção em termos de dificuldade, uma fase bem desbalanceada - 6.8
Ótimo para jogatinas rápidas de um final do dia, para sentar e se focar na jogabilidade em si - 7.8

7.4

Bacana

Ratyrinth é um indie game super simples, mas honesto em sua proposta, que oferece um desafio amigável no jogo de plataforma com agilidade, a qual o jogador precisa testar seus reflexos. Perfeito para quem não está habituado a fórmula. E sua execução não deixa a desejar, com boa resposta dos controles, gráficos minimalistas que auxiliam o level design, assim como reinicialização imediata após as mortes que fazem parte da proposta da fórmula. Curtinho, mas com preço acessível. Divertido!

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