One Piece 892 | Reconhecidos como adversários fortes (Opinião)

É difícil hoje em dia começar a escrever qualquer texto acerca dos atuais rumos de One Piece sem pensar em algo que já não tenha comentado em anos escrevendo sobre a série aqui no site. Talvez seja normal após tantos e tantos anos acompanhar a obra.

Exemplos: — desde o pulo de 2 anos na cronologia da série ela nunca mais foi a mesma;os arcos estão cada vez maiores e mais arrastados;não houve mais momentos mais tranquilos e descompromissados na história, agora é tudo vida ou morte;não é tão legal ver o bando separado por tanto tempo;e por mais que haja críticas, One Piece ainda é One Piece (é bom e ponto). Tudo isso já foi discutido aqui e ainda é discutido pela web quando se pensa nos rumos da série.

Quanto ao atual arco da Ilha Bolo, admito que ele me perdeu em alguns momentos. Há segmentos em que achei uma chatice e totalmente clichê. A ideia inicial “temos que resgatar o Sanji” foi algo que me incomodou, inclusive o quanto esse ponto de enredo me faz lembrar do arco da Robin em Enies Lobby. Não é a mesma coisa (e nem é melhor), mas ainda assim tem certas semelhanças.

Um alerta antes de prosseguir: a conversa abaixo terá spoilers dos atuais capítulos da série que estão sendo publicados no Japão. Se você acompanha o animê ou apenas os volumes nacionais publicados pela Panini (que estão no arco de Dressrosa) avance por sua conta e risco.

Não gosto de todo aquele segmento dentro da floresta da Sedução, com a batalha do Luffy contra o Cracker, onde a batalha vira uma luta de comer biscoitos. Não gosto do segmento dele preso dentro do livro tentando cortar seus braços. E me irrita um pouco vê-lo atualmente obcecado em derrotar Katakuri, sendo que todo o resto do bando está cuidando sozinho de um exército inteiro.

Não que não ache interessante os poderes e a própria batalha contra Katakuri. O chato é que ela tem sido usado como um recurso para manter Luffy afastado da trama principal, aquela velho clichê de manter o protagonista afastado até que enfim ele possa chegar para resolver um problema que só o mesmo poderia resolver. Em qualquer outra circunstância adoraria ver como essa luta iria evoluir o próprio Luffy. Afinal todos agora torcem para que ele finalmente desperte o verdadeiro poder de sua Fruta do Diabo, não? E Katakuri parece temer isso. O caso é que cenas como a que fecham o capítulo 892 não me impactam mais. Como se Oda fosse capaz de incapacitar o protagonista da série a ponto de tirá-lo para sempre da série. Luffy cai mais uma vez, talvez seja derrotado (não acho que seja esse o caso), mas no fim ele irá levantar e irá vencer. Todo mundo sabe disso.

Claro que o arco da Ilha Bolo tem muita coisa boa também. Gostei de saber mais sobre o passado do Sanji, ainda que tenho pra mim que o animê, no último episódio que foi ao ar no final de 2017, fez uma explicação sobre esse passado muito melhor do que a sua versão dentro do mangá. É um outro problema recorrente do mangá: ele tem sido como um storyboard para o animê, no sentido de que Oda não tem mais tempo para trabalhar com calma os detalhes. No mangá é tudo apressado, quase perdendo foco e ritmo, o que dá espaço para os produtores da animação encaixar aquilo que o mangá não tem conseguido colocar. Cenas, conversas e batalhas são estendidas e melhor contextualizadas dentro do arco. Pra mim atualmente One Piece tem conseguido ser muito melhor em sua versão animada.

Um bom exemplo disso foram os último episódio em que o animê trabalhou as batalhas do Brook contra a Big Mom, que foi incrível (esse também é outro momento muito bom desse arco) e a batalha do Pedro contra o Barão Tamago. No animê ambos os momentos foram bem melhor trabalhados do que na bagunça de ritmo que tem sido o atual mangá.

Gosto da batalha na chuva do Luffy contra o exército da Big Mom, antes dele e Nami serem capturados. Também me agrada muito a forma como o Jinbe voltou ao bando e tudo que ele tem feito desde que soltou Nami e Luffy do livro prisão.

A reunião com Bege na noite antes do casamento e como tudo acabou dando errado (ou deu certo? Depende do ponto de vista, não?) na invasão ao casamento também são momentos icônicos do arco. Ainda que de certa forma é um pouco forçado como certos recursos acabam sendo usados, tanto aqui quanto em todo o arco, como a viagem pelos espelhos (sinceramente a Brûllé é – como chamado nos videogames – um fast travel conveniente até demais). Porém no geral me agrada como as coisas dão tudo errado no casamento que vai culminar na atual situação do arco.

E apesar dos clichês há muitos recursos inteligente em outras partes do arco. A ideia da Big Mom ter esse problema de descontrole, apresentado no começo do arco não como uma dica de que isso retornaria depois, mas apenas como algo de sua personalidade, foi genial. Eu não imaginei que isso fosse uma solução dentro da trama para enfraquece-la a ponto de não ser necessário que Luffy lutasse com ela em um mano a mano (não que isso ainda esteja totalmente descartado). Até porque é um recurso interessante pelo fato de que ela tem uma habilidade (de tirar os anos de vida de uma pessoa) perigosíssima e altamente apelona. É até por isso que gostei da batalha do Brook contra ela, afinal ambos possuem habilidade que envolvem esse habilidade em comum envolvendo a alma.

Foi uma boa solução para tirá-la do controle da situação. Fora que toda a história de seu passado também é curiosamente interessante. Ela é má, mas até um certo ponto. Ela se tornou aquilo que as pessoas a sua volta diziam que ela era. O ambiente a sua volta a fez ser o que ela se tornou. É interessante que agora ela more nesse mundo repleto de comida, com uma família gigantesca e tal. É uma personagem muito mais interessante do que achei que seria inicialmente. Não é apenas uma gigante glutona sem sentido, ainda que ela faça tal papel.

Agora pra mim o que tem sido mais interessante no atual arco tem sido exatamente esse momento em que o Sunny está sendo perseguido pela frota da Big Mom. Parando para pensar em tudo que One Piece já fez no passado houveram pouquíssimos momentos em que as perseguições pelo mar duraram tanto tempo assim ou que o perigo fosse de tamanha dimensão.

O Sunny sofrendo diversas avarias, a própria necessidade do Jinbe liderar o bando na ausência do Luffy, Sanji ou até mesmo Zoro, a trindade que está sempre salvando o pescoço do restante do bando, é fantástica, o fato de que a frota da Big Mom, assim como a própria, “surfando” pelas águas de seu território por si só já é assustador. O mar não é tão perigoso para estes monstros como é para o bando do Chapéu de Palha. Tem sido capítulos com reviravoltas, com ataques e contra ataques inusitados e por mais que em nenhum momento o mangá me fez acreditar que o Sunny seria abatido, me dói no coração cada ferida feira no barco, um trauma deixado pela série por causa do Going Merry.

Uma boa saída para quando o autor não pode matar seus protagonistas é justamente levá-los ao extremo. Até onde eles aguentam apanhar, aguentam sofrer. O leitor não está torcendo para que eles não morram, mas para que consigam escapar de tal situação sem que tenham que sofrer mais. E isso o atual momento do arco tem conseguido deixar todos com o coração na mão. Já nos despedimos de Pedro, Carrot está fora de ação, Sunny foi destroçado, Chooper também parece estar no seu limite e ainda há muitos usuário da Fruta do Diabo atrás do bando. E agora tem todas as expectativas para o que vai acontecer depois que a Big Mom finalmente comer tal o bolo de casamento dos sonhos.

Talvez ela coma e diga que vale a pena poupar o bando, ou pelo menos o navio onde está o Sanji? É difícil dizer o que vem a seguir. Sanji teve poucas batalhas no atual arco, apesar de boa parte da trama ter sido sobre ele. Talvez seja a hora dele proteger seus amigos. Fora que tem toda a situação com o Luffy que precisa sair do mundo dos espelhos. Tem a tripulação do Bege que não acho que os leitores queiram que eles morram, especialmente com um bebê à bordo. Terá como essa arco se arrastar para o próximo? A frota pode perseguir o bando  até a ilha dos samurais?

Se tem como coisa que One Piece continua sendo bom é na dificuldade de ver os próximos planos do Oda para o que virá após cruzar a esquina. Não tem como saber. A grande sacada da série é que tudo pode acontecer, nada é impossível. Exceto talvez um ou outro elemento. Alguém do bando do Luffy pode morrer? Eu não descarto isso, mas não acho que será aqui, nesse momento, neste arco. Jinbe é tão descartável assim? Eu espero que não! Fora aqueles personagens que tem objetivos ainda a serem cumpridos, como Brook reencontrar Laboon.

Enfim, o mangá está muito próximo de atingir 900 capítulos. Essa é uma marca expressivamente incrível. One Piece atualmente não é exatamente como era há alguns anos atrás, mas é uma série que ainda continua divertida e empolgante de se acompanhar. Tem mais defeitos hoje em dia do que conseguia enxergar há alguns anos atrás. Talvez porque estou mais velho, talvez porque Oda tenha entrado na estrada para o fim da série (e por isso tantos segredos e mistérios foram revelados nos últimos anos e isso tira parte da graça, o que faz o autor direcionar esforços para concluir a trama), mas de qualquer forma ainda é uma série que gosto muito de acompanhar (e é a única que ainda leio online, enquanto continuo acompanhando em paralelo os volumes lançados pela Panini aqui no Brasil). Com quase 20 anos acompanhando esse universo me sinto parte do bando. Estarei com eles quando finalmente conquistarem o topo do mundo. Um brinde a isso!

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7 Comentários

    1. Olá, eu leio My Hero Academia. Há matérias aqui no site sobre a série, como estas aqui: http://www.portallos.com.br/2015/08/07/boku-no-hero-academia-50-capitulos/

      Li os primeiros 100 capítulos online, mas atualmente estou acompanhando apenas pelos volumes lançados no Brasil pela JBC. É mais gostoso assim. Só não leio One Piece assim porque a Panini ainda está muito atrás dos volumes japoneses, mas quando ficar perto eu tb paro de ler online. 🙂

  1. Gosto muito de ler suas análises sobre One Piece.
    Concordo contigo que as sagas tem se arrastado e ao msm tempo corrido a história, acho q o Oda está se perdendo criando personagens e situações demais que não levam a algo nos arcos, tbm concordo que isso faz o mangá não ser mais o msm. Em contra-partida discordo de que esta luta contra o Katakuri é apenas para segurar o Luffy para uma situação final que só ele resolverá. Katakuri não é o Blueno deste arco, ele é o vilão principal a ser derrotado e uma ponte importante para o Luffy poder enfrentar o Kaidou em Wano, eu inclusive acredito que seja a melhor luta após o time-skip. Tbm não consigo prever o q vai rolar em seguida, mas o Katakuri vai voar por aquele espelho caindo de costas no chão, certeza.

    1. Marcelo respeito a sua opinião, mas quero expandir o assunto acerca do Katakuri. Eu não acho que ele ser o principal vilão ou arqui rival do arco. Não sinto isso. Acho que ele veio do nada e o Oda só quis brincar com o fato dele imitar os golpes do Luffy, ainda que pessoalmente acho isso meio irritante. No próprio trecho o autor fez o Luffy lutar com seu próprio reflexo, e logo em seguida vem com um oponente que faz algo parecido? Méh.

      Quando coloco em perspectiva outros oponentes do Luffy, como o Rob Lucci, Crocodile ou até mesmo o Doflamingo, não acho o Katakuri e suas habilidades tão legais assim. Ele é importante para que o Luffy fique mais forte, isso eu reconheço, mas ainda assim é um personagem meio que veio do nada e nem é tão incrível.

      O próprio Oda já mostrou o ponto fraco dele, quando o Jinbe jogou água no cara. Não poderia o Luffy, sei lá, lamber, cuspir ou até mesmo comer o mochi (arroz grudento) dele? Eu entendo que a proposta da luta não é repetir o fiasco da luta contra o Cracker, mas em um cenário onde quase todo mundo tem habilidades de comida e o Luffy sendo um glutão, eu não consigo levar as coisas tão a sério assim.

      Fora que o momento é todo errado. Ele deveria estar ajudando o bando e não afastando tão somente um dos generais da Big Mom. O cara não é a única ameaça ali. Tudo bem querer derrotá-lo, mas o senso de urgência dele me parece todo errado aqui. Muito diferente de quando ele precisava derrotar o Lucci para conseguir transpor uma barreira que parecia impossível de ser vencida. Aqui ele não precisa vencer Katakuri, apenas tirá-lo de cena. E havia muitas maneiras dele fazer isso.

      Entendo sim a importância da luta, reconheço a força do cara, mas na minha cabela o timing dessa batalha está todo errado. E está porque o Oda está segurando o protagonista para ficar fora dos eventos principais do arco, o que foi o meu ponto no texto principal.

      Eu queria ter visto o Katakuri ter sido apresentado antes. Se isso tivesse sido feito, acho que teria um maior apreço por essa batalha. Por fim, eu torço muito para que essa luta contra o Katakuri não seja a luta final do arco. Putz, espero mesmo. Eu queria ver o Luffy trocando alguns golpes contra a Big Mom, de alguma forma. Ou até mesmo com outros do exército dela.

      Vou ficar bem frustrado se ele derrotar o Katakuri e no fim sair do espelho e o arco acabar…. putz!

      1. Concordo que o poder dele é sem graça e que a apresentação deveria ter sido feita antes para que tivéssemos uma conexão maior com o personagem, mas acho que é o timing certo para a luta.

        O Luffy bateu de frente momentaneamente com o Fujitora e com a Big Mom, hoje tem a noção exata de que ainda precisa melhorar para estar no nível dos caras realmente fortes e ele sabe que esta luta pode ajudar nisso, ainda mais considerando que o próximo adversário é o Kaidou.

        Na “escala” de poder de One Piece o Katakuri é um personagem que teoricamente tem a força próxima a de um yonkou então eu acho que o Oda escolheu bem o adversário vendo por este lado. O Luffy não tem condições de derrotar a Big Mom, mas dependendo de que técnicas ele aprenda ou desperte nesta luta ele estará preparado para tentar bater de frente com um yonkou.

        Ele está segurando um comandante e sim a situação está pior lá no barco, mas eu entendo isso como ele mostrando a confiança que tem no seu bando tbm como já demonstrou em outros momentos, ele vai protegê-los sempre que necessário, mas ele sabe que eles tbm são capazes de se virar sem ele. Eu ficaria frustrado se o bando tivesse uma depedência do Luffy pra se manter de pé. É como se ele dissesse “vocês confiam em mim pra cuidar deste cara e eu confio em vocês para sobreviverem até o reencontro”.

  2. @T_thiagoM:disqus acredito que essa cena tenha sido feita exatamente para fazer parecer que iria acontecer isso, mas na verdade é o despertar do máximo do Haki da Observação do Luffy. Aposto forte que é exatamente isso que acontecerá. Aquilo irá representar o Luffy superando o Haki da Observação do Katakuri e finalmente tendo alguma chance de derrotá-lo. 😛

    1. Convenhamos que não é a primeira vez que o Luffy é empalado ou cortado ou perfurado. Não acho que seja um ferimento tão grave assim, seja de verdade ou não. Eu fico muito mais tenso quando ele terminar de usar golpes como o Third Gear (e aí vira mini Luffy) ou o Gear Fourth (e precisa de 10 minutos de descanso) do que quando é ferido em cenas assim. Normalmente basta cuspir uma bolota de sangue, encarar o adversário e vamos em frente, que o sangue é infinito nas histórias japonesas! XD

      Mas sim, é preciso despertar logo esse Haki ou a habilidade latente da Fruta da Borracha, porque está difícil continuar fazendo criar novos Gears (Marchas) que não pareçam variações de uma mesma coisa. O impacto da Second Gear nunca mais aconteceu pra mim, ainda que eu ache bem louco o Third Gear com o braço gigante. 🙂

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