Evento literário, Fliporto 2012 – Eu fui!

Com direito a palestra sobre literatura fantástica!

De uns tempos pra cá, vem se tornando tendência que autores de livros desçam do altar onde comumente são colocados e interajam mais com seus públicos. Isso é ótimo pois humaniza os escritores, fazendo com que os leitores percebam que eles são pessoas como nós – cada um com seu passado, suas angústias, suas histórias de vida. A diferença é que eles levaram sua paixão pela escrita a um nível tão alto que passaram a viver disso. E assim, todos ganhamos: eles, por poderem se dedicar inteiramente a uma arte tão linda; e nós por podermos nos inserir nos universos fantásticos criados por essas mentes.

Foi com essa intenção que Carolina Munhóz e Raphael Draccon foram para a Festa Literária Internacional de Pernambuco, conhecida simplesmente como Fliporto. O nome é esse pois originalmente ela era realizada em Porto de Galinhas, com o objetivo de levar cultura a um distrito tipicamente voltado para o turismo de suas belas praias. Não deu muito certo, infelizmente: quem vai pra Porto quer mesmo é tomar banho de mar ou pegar um bronzeado. Mas uma iniciativa tão nobre não podia acabar dessa forma. Assim sendo, a Festa foi trazida para Olinda, cidade localizada na Região Metropolitana do Recife (RMR), onde cultura e turismo encontram uma relação de equilíbrio.

Bom ver que com o tempo a Festa vem se expandindo e dando espaço a outras formas de arte além da literatura. Óbvio que ela exerce um papel fundamental por lá – e ninguém quer que seja diferente – mas quanto mais contato o público tiver com os mais variados tipos de arte, melhor. Essa intenção ficou clara logo na abertura do evento, quando em vez de um escritor de renome, o povo contemplou uma apresentação de Maria Methânia. A arte cinematográfica teve destaque com o Cine Fliporto: lá foram exibidos, entre outros, filmes baseados nas obras de Nelson Rodrigues, com debates realizados em seguida que contavam com a presença de profissionais da área. Também foi dado destaque às crianças e aos deficientes visuais; havia stands voltados exclusivamente para os pequenos, com pintura, música e leitura. Uma palestra foi feita para mostrar as dificuldades enfrentadas pelos que não enxergam. Triste ver que mesmo formando um grande público leitor (eles lêem em média nove livros por ano, enquanto pessoas normais lêem uma média de quatro), são os que mais sofrem com a desatenção e com os altíssimos preços das impressoras que imprimem em braile.

Fui com o objetivo de assistir a palestra com Raphael Draccon e Carolina Munhoz, dois mestres no assunto.  Draccon é autor da trilogia Dragões de Éter e lançou Fios de Prata – Reconstruindo Sandman há pouco tempo. Carol começou a carreira literária com A Fada (escrito quando ela tinha 16 anos) e agora segue divulgando seu mais recente trabalho, O Inverno das Fadas. Eles contaram um pouco de como decidiram investir nessa profissão: Carol disse ter sido vidrada nos livros da série Harry Potter no tempo de adolescente, e um dia sonhou com uma fada. Começou a transcrevê-la no papel e quando deu por si estava de fato escrevendo um livro.. Já Draccon inspirou-se no grande Bruce Lee desde muito jovem; decidiu seguir os passos do mestre e se tornou faixa-preta, escritor e roteirista.

Carolina Munhóz e Raphael Draccon na Fliporto

Eles desmistificaram aquela velha história de que “o jovem de hoje não lê”. Sites grandes e pequenos, blogs como o próprio Portallos e redes sociais fazem parte do hall de leitura dos jovens. Nós nunca lemos tento; a diferença é que atualmente lemos de maneira mais ramificada. Os escritores de antigamente não tinham que lidar com essa situação. Naquela época as opções de lazer não eram tão variadas quanto no século XXI, portanto era mais fácil para o público se concentrar apenas num livro. Hoje, com o conhecimento de praticamente o mundo inteiro na palma de nossas mãos, captar a atenção do leitor é cada vez mais difícil – como bem colocou Raphael Draccon; “o cara vai preferir ler seu livro ou jogar Angry Birds? E pô, Angry Birds é legal pra caramba!”. A solução encontrada tanto por ela quanto pela Carol foi a de criar narrativas que não se limitam a elas mesmas. Na obra de Draccon é possível econtrar referências a games como os da série Final Fantasy, International Superstar Soccer e a HQs como Sandman (grande obra de Neil Gaiman). Em O Inverno das Fadas, Carolina Munhóz colocou uma música para ilustrar o que acontece com os personagens em cada capítulo.

A palestra foi ótima, assim como a sessão de autógrafos que veio logo depois. Os dois escritores foram muito prestativos na hora de responder as perguntas dos fãs, inclusive dando dicas para quem quer ingressar no mercado literário – eles recomendaram os livros Story e Para Ler Como um Escritor – e deram detalhes sobre seus próximos projetos. Como editor do selo Fantasy, Draccon prepara-se para lançar livros de alguns colegas seus, como Fábio Barreto (do Rapaduracast e S.O.S. Hollywood) e Affonso Solano (aquele mesmo, lá do MRG). Carolina prepara um novo livro já para o próximo ano, que dessa vez envolverá fadas e reality shows (tipo de programa que ela disse adorar). Ambos também foram bastante carinhosos na hora de dar autógrafos e tirar fotos com os leitores. Com certeza não deve ter sido fácil, mas eles realmente conseguiram retribuir toda a atenção dada por quem foi lá prestigiá-los.

Só faltou um pouco de organização por parte dos responsáveis pela Festa. A localização era ruim ao ponto de que os próprios organizadores não recomendavam ir para lá de carro. A solução era ir de ônibus ou então deixar um carro num shopping próximo e de lá pegar um táxi ou uma van. Outro problema foi a má distribuição de stands; alguns com música alta ficaram muito próximos de outros com palestras, torando complicado ouvi-las mesmo com a ajuda de microfones. Pelo menos a seleção de convidados ficou muito boa. A Fliporto 2012 pecou em alguns aspectos, mas de qualquer forma, foi bom ver que quanto a diversificação de conteúdo – o que interessava de fato – jamais deixou a desejar. Há espaço para melhorias? Óbvio. Mas tenho certeza que quem conseguiu ultrapassar os pequenos problemas durante os quatro dias de evento saiu de lá muito mais rico culturalmente.

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