Batman Vs Superman – A Origem da Justiça | A perspectiva de Deuses & Monstros! (Crítica)

Demorei horrores para conseguir ir conferir Batman vs Superman nos cinemas. Só o pude ir neste final de semana, sobre o temor da chegada de Guerra Civil nos cinemas e aí não conseguir mais ir ver o filme da DC. E que alívio que pude ir, mesmo com tanta gente falando mal e criticando o filme desde a sua estreia em 24 de março.

Felizmente não tomei spoilers do filme nesse meio tempo. Vi piadinhas aqui e ali que, sem ter visto o filme não se contextualizaram na hora. Que alívio. Apenas sabia que estava sendo um filme que estava dividindo as pessoas, uns gostaram com ressalvas, outros odiaram. E agora eu entendo tais sentimentos conflitantes.

Já adianto que adorei o filme. Minha esposa, que não é leitora de quadrinhos, mas entende muito mais do que aparenta do universo destes personagens, também adorou. Claro que não serei cego ao ponto de dizer que o filme não tem problemas, mas é tão revigorante saber que ainda há espaço para novas fórmulas para filmes de super heróis nos cinema!

A seguir a minha crítica sobre o mesmo, com spoilers minúsculos e quase que insignificantes. Não vai estragar a experiência de ninguém que ainda não tenha visto, acredito. E infelizmente não vou conseguir abordar todos os pontos que gostaria aqui. O filme tem muita, mas muita coisa que gera discussão e debate. Vou me focar apenas em alguns pontos principais.

Marvel vs DC

Este é um conflito que existe desde muito antes do meu nascimento. Os leitores geralmente tem preferência por um universo de super heróis em detrimento do outro. Há aqueles que até leem e acompanham ambos, mas até mesmo para estas pessoas a predileção existe. No meu caso, sempre fui mais apaixonado pela DC do que pela Marvel.

Na Marvel sempre gostei muito do Homem-Aranha, porque ele realmente tem uma pegada totalmente diferente do resto do universo Marvel, ainda que a própria Marvel tenha tornado seus personagens mais interessantes nas últimas duas décadas. Mas no geral, a Marvel tem essa ideologia de pequenos homens que se tornam super-heróis. Qualquer um pode ser um super-heróis na Marvel, basta um acidente que lhe dê super poderes. Não generalizando e admitindo que há exceções. No caso o próprio Homem-Aranha é o maior exemplo disso, mas há outros.

O universo da DC pra mim sempre fui muito diferente disso. Claro, você tem o Batman, que representa o super-herói que não tem superpoderes (apenas muito dinheiro e um passado traumático), mas também é o universo onde existe grandes entidades, alienígenas ou mitológicas, tais como o Superman, Mulher Maravilha, Aquaman, Tropa dos Lanternas, Caçador de Marte, Shazam etc que são muito mais do que meros humanos normais, como você e eu. Claro que há vários personagens que também são homens mundanos, de acidentes com super poderes, como o Flash, mas há todo um sentimento diferente no mundo da DC. De super-heróis acima das piadinhas e do vilão da semana (ainda que tenha isso também). A DC tem essa coisa de ter superpoderes contém uma carga dramática dentro de si, um fardo de ser mais do que um ser humano normal. São Deuses andando entre os seres humanos, ainda que nem sempre puxe para esse aspecto.

Isso se reflete no universo cinematográfico. O filme do Homem de Aço já trazia um pouco disso, do drama, do peso, mas em um roteiro desconexo, confuso e até mesmo apressado, querendo mais, mas sem poder ainda trabalhar isso. Já em Batman vs Superman, as portas para as possibilidades se abrem e tudo é possível, basta que se preste atenção.

Eu realmente fiquei aliviado de encontrar um filme sombrio, pesado e especialmente barulhento. Que direção de som incrível! Bem diferente daquele circo de cores, piadas, galhofas e cambalhotas que a Marvel fez em Vingadoes Ultrom. E imagino o quão tentador deve ter sido pensar em seguir essa linha, sabendo que também daria seu resultado. Ainda que acidentalmente poderia acontecer exatamente o que aconteceu com o filme do Lanterna Verde, que hoje fica be, claro de notar o quão parecido ele é com a formulinha do universo Marvel nos cinemas.

A Origem da Justiça

A grande má interpretação, ainda que cada um tenha direito a sua, que andei lendo em algumas críticas e ouvindo em alguns podcasts, é pensar que Batman vs Superman é um filme como dos Vingadores, ou seja, que há uma direção de concluir um momento de uma história ou fase. Batman vs Superman é exatamente o inverso, ele não veio para concluir algo, mas para abrir as possibilidades. Para começar algo.

Há essa discussão de que teria que ter um filme de origem do Batman, um filme de origem da Mulher-Maravilha, um filme que contextualizasse as motivações desse Lex Luthor psicótico. Até mesmo quem diz que este filme deveria virar dois ou três filmes separados. Eu discordo fortemente disso tudo.

Nem sempre uma história tem que ser contada de forma linear. Nem sempre tudo precisa de contexto logo no início. Narrativas podem brincar com isso. Isso acaba sendo um problema na qual estamos mal acostumados. Temos preguiça de interpretar, de ver que há buracos que não precisam ser preenchidos logo de cara, de querermos tudo mastigadinho e resolvido. Aqui não, Batman vs Superman expande o universo da DC de uma forma que ele mais abre perguntas do que as responde. E para mim isso é excelente, contanto, é claro, que a Warner e a DC continuem fazendo novos filmes e preenchendo estas lacunas com o tempo.

Wonder-Woman

Gosto das novas versões propostas aqui. Um Batman que já derrotado, que diz que combater vilões é como eliminar erva daninhas do quintal. Sempre há mais crescendo. Um Batman que mata, que não tem valores morais 100% confiáveis. Um Batman que já se amargurou, que tem ódio, ao mesmo tempo em que tem medo daquilo que não entende. Um Batman com um forte trauma, em uma jornada para descobri qual o sentido de 20 anos combatendo o crime. Já velho e com medo de até quando poderá continuar com isso. E esse é o link que o filme faz com a chegada do Superman.

O Superman sempre foi um dos maiores ícones da DC (além de ser uma personagem mais difíceis de se trabalhar com facetas e mudanças) e aqui há ótimas reflexões em torno desse personagem. Seria ele um Deus, ao nosso modo de ver as coisas? Há toda essa discussão, de medo e adoração em torno do ser que pode acabar com tudo, se algum dia ele ficar de saco cheio. Enquanto isso há o próprio Superman, ainda fazendo o bem porque é isso que seus pais lhe ensinaram, porém ainda desconexo de uma certa humanidade. Do ser que mesmo para pedir ajuda, chega voando e para acima de sua cabeça, com um ar de superioridade, não proposital, mas simplesmente porque ele não sabe ser humilde, não sabe o que é ter medo, não saber ser um… homem mundano.

O filme inteiro trabalha com esta exposição. O Superman é um Deus solitário, cuidando de um formigueiro, prezando o máximo de vidas que consegue, mas que sabendo que toda intervenção que ele faça nesse mundo, ainda assim há formigas que vão morrer soterradas dentro de seus buracos, que vão lhe morder e se incomodar com a presença de um ser que elas não entendem. A dualidade do Superman nesse filme é tudo aquilo que se esperava ter visto no primeiro filme.

A Mulher Maravilha é a incógnita do filme. Muito pouco sobre ela é explicado e o pouco que diz são pistas para seu filme solo. Ela já é centenária aqui. Sua personagem já atuou como heroína no passado, na qual ninguém mais se lembra porque foi a mais de 100 anos, e que desistiu. Os seres humanos não aprendem. Continuam atraindo desgraças, se corrompendo, se qualquer noção de autopreservação. E a Mulher Maravilha aqui não quer saber mais disso. Até um ponto em que ela muda de ideia. Por que? Esperança? Curiosidade? Potencial naqueles dois malucos que surgiram e que estão se esmurrando? O filme não dá a resposta de forma clara, apenas indiretas. Ainda há pontos que não podemos entender agora. Mas que é impossível não vibrar quando a Mulher Maravilha entre em cena e parte para briga. Certamente um dos melhores elementos do filme. Talvez por não termos essa personagem há tanto tempo exposto nas telonas.

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O Batman quer matar o Superman? Sim, ele quer. E isso causa uma sensação estranha para muitas pessoas, mas o Batman é essa figura da raiva e do ódio, que vê a humanidade se chafurdar na lama todos os dias em Gotham. Que é corruptível. Ninguém é puro, ninguém é bonzinho, nem mesmo Deus! Na mente do Batman o Superman é esse ser que um dia ainda vai se virar contra os homens, que vai se encher de cuidar do formigueiro. E quando isso acontecer, o que será feito? Como se mata um Deus? É esta a jornada do personagem neste filme. E não é diferente nos quadrinhos, onde ele guarda um arquivo de como derrotar todos os heróis da DC caso um dia algum deles saiam do controle, incluindo o próprio Superman.

Sem dúvida é diferente da cruzada dele em O Cavaleiro das Trevas, na qual o filme se inspira e faz referencias. Esse clássico de Frank Miller é a última história do Batman. É a sua aventura final, o fim de sua carreira. No universo cinematográfico da DC, esta não é a aventura final do Batman, é apenas o começo de uma nova fase, da volta da esperança a um herói já massacrado, já maltratado por 20 anos caçando vilões e de não estar nem de perto de ter conseguido mudar Gotham. De Frank Miller apenas temos um Batman condizente com o mundo mais realista, que aceita baixas na guerra contra o crime, da mesma maneira que o Superman precisa lidar com as baixas colaterais por seus atos. Formigas… somos todos insignificantes nesse mundo de Deuses e Monstros.

Há muito que o filme não explica. Há muito que o filme deixa para que o espectador interprete e encaixe as coisas como bem quiser. O Superman solitário é um escroto sem humildade, que somente quando começar a se reunir com outros meta humanos é que se sentirá menos solitário, e por consequência será mais humilde? O filme não diz isso, mas é o que eu imagino que seja. A arrogância do Superman é um problema que existe na faceta de um dos super-heróis mais poderosos do mundo, tal qual o Batman também é arrogante em não confiar em ninguém. Duvide sempre da sua sombra, porque é assim que o personagem lida com seu trauma, é assim que ele continua sobrevivendo a um mundo de loucos.

O Lex Luthor é uma criança mimada que odeia a ideia de algo que ele não pode controlar? Que tem problemas paternos? Que faz o que faz porque tem uma visão deturpada do que é controle e poder? É difícil explicar porque o Lex Luthor é um cara perturbado e insano, com predisposições psicóticas que as vezes lembra um pouco de personagens como o Coringa. Mas precisa mesmo explicar? Quer dizer, caras ruins as vezes não fazem coisas ruins apenas porque são assim? A história do Lex Luthor ainda não foi totalmente revelada, porém não acho que ao contrário de quem criticou o personagem, ele precise de contexto aqui, novamente é a ideia de que tudo precisa vir mastigado, quando não precisa.

Dito isso, eu achei excelente a construção desse novo Lex Luthor, menos adulto, mais estrategista, porém menos racional. Ele se apresenta impotente nessa nova ordem mundial e enlouquece com a ideia de parecer uma mosca em meio a Deuses. Nos quadrinhos Lex Luthor também tem lá suas múltiplas representações ao longo de décadas, indo do empresário corrupto até mesmo a presidente dos Estados Unidos. Mas Lex também despiroca nos quadrinhos, e acredita que se vestir uma rouba robótica pode derrotar o Superman. O filme brinca com um Lex mais louco, sedento de poder e obsessivo pelo Superman, o que também está dentro de aspectos de suas várias fases nos quadrinhos.

Furos de roteiro?

Muitas das críticas se focaram em esmiuçar os furos de roteiro. De uma Mulher-Maravilha que ora sai vazada, ora resolve ajudar. De um Lex Luthor que com um argumento pífio distorce a lógica de uma inteligência artificial. De um Batman com premonições (ainda que a explicação disso seja crível com a ideia do Flash bagunçando a linha do tempo, como sempre faz nos quadrinhos).De um Superman que ainda não lida com as coisas direitos, sempre arrogante e um pouco cego ao seu redor. De uma Lois Lane que não fala “foi armação, caramba, presta atenção no que estou dizendo!” entre outras escorregadas bizarras de uma Lois Lane atrapalhada. Ou de um Apocalipse que nada tem a ver com suas origens nos quadrinhos (e não precisaria ser – o roteiro deixa em aberto a possibilidade dele não ser literalmente o único Apocalipse que existe no universo).

Sim, o filme tem argumentos problemáticos em vários momentos, mas ainda assim eu não estou olhando a técnica da costura, mas o plano geral da história. Há concessões que precisavam ser feitas, ou serem pífias para dar ritmo para a história acontecer. É como aquele clichê do vilão contar seu plano maligno ao herói, dando-o tempo para escapar ou do mocinho nunca atirar primeiro e resolver o conflito proposto pela história. Batman vs Superman faz muito disso, costura coisas estranhas, a serviço da experiência cinematográfica do pipocão, sem soar escrachar como Vingadores consegue ser em certos momentos.

E duas horas e meia já é um grande tempo para um filme. Quanto maior, mais arriscado ele é. Mas no geral aceito estes pequenos recordes em favor do ritmo. E o ritmo do filme é excelente. Fora que todos os furos e problemas que ele possa ter, há coisas aqui que não são propriamente furos, mas apenas pontas soltas de um universo em expansão.

Talvez outro problema seja a densidade de Batman vs Superman. O filme conversa diferente com públicos diferentes. Quem lê quadrinhos vê um prato cheio, pesca referências e entende as camadas de algumas situações que o filme apenas começa a construir para o futuro. Quem não lê, consegue entender o plot principal sem problemas, mas questiona aquilo que aparece sem contexto na telona. O que tinha de gente na sala de cinema explicando para outra pessoa as referências, ou perguntando coisas, foi algo que chegou a me incomodar. Ainda que gerar conversas e discussões para mim seja mais interessante do que apenas ver as pessoas mudas e caladas recebendo a comidinha na boca, sem qualquer esforço em um filme pipoca de super-herói.

Cabe um adendo importante aqui: não estou dizendo que quem não gostou do filme é porque não prestou atenção, gosta de coisas mastigadinhas ou é um bobão que não entende nada de DC. Não generalize, pois não estou generalizando. É direito de cada um gostar ou não gostar, tal como possuir argumentos para sustentar isso. Estou dizendo que existe uma parcela de pessoas que não combinam com esse tipo de narrativa, na mesma proporção de quem não gosta de comédias, de filmes de terror, de dramas e até mesmo de filmes de super-heróis. O que quero dizer aqui é que Batman vs Superman: A Origem da Justiça tem uma pegada diferente do que se espera de um filme de super-herói nos dias de hoje, e isso incomoda quem não gosta de sair da bolha, da normalidade estabelecida por outros filmes que vieram antes.

Expectativas de futuro

Tudo em Batman vs Superman: A Origem da Justiça se resume as expectativas para o futuro. Vou considerar que esse é o primeiro filme de construção de uma mitologia. O Homem de Aço foi, no mínimo, um prólogo.

É um filme que define tons, que define como a Warner/DC quer comunicar este universo aos espectadores e fãs destes personagens. Para mim a ideia de distanciamento do modelo colorido e divertido da Marvel é gritante aqui e isso é fantástico! Não que o modelo da Marvel seja ruim, apenas é outro e ponto.

Gostei de como esse universo da DC se apresentou nos cinemas. Mais sério, brincando com essa ideia de moralidade, de ética dos super seres. Aqui nem dá para chamá-los ainda de super-heróis. As discussões de poderes e política, da visão religiosa, das influências do inimaginável em um mundo mundano. Da insignificância do ser humano.

Existe toda uma influência mais realista, mais pessimista, da adoração, da desconfiança de um mundo a sombra de… mais uma vez… Deuses e Monstros!

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Atmosfera mais sombra para o filme
Direção de som e feitos sonoros
Batman de Ben Affleck
Superman ainda em construção
Mulher Maravilha em ação
Lex Luthor psicótico
Pontas soltas para o univero DC nos cinemas

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9 Comentários

  1. Acho que o “salve Martha” foi usado pela coincidência do nome de ambas as mães dos maiores ícones da DC serem iguais. Uma sacada que nem mesmo nos quadrinhos se fala disso. Dá a carga dramática que balançou o Batman ouvir o nome de sua mãe.

    Entretanto acho que se o Superman falasse “salve minha mãe” teria causado um impacto parecido no Batman e isso o pararia de qualquer forma. Ele apenas não ficaria ensandecido perguntando “por que você disse esse nome?”. O que cinematograficamente soaria menos impactante.

    Obrigado pelos elogios! 😀

  2. Hahaha mas é complicado a gente levar para esse lado hyper realista. Não acho incoerente. Eu já vi filhos que chamam seus pais pelo nome. Há essa relação dele ter pais adotivos e pais biológicos, no calor da morte sei lá como o Superman reagiria. Eu entendo o que você quer dizer, mas ali na hora, no impacto da cena, eu só estranhei ele não dizer depois, “minha mãe” – acaba sendo a Lois quem diz.

    Fora que o Superman já estava meio zuado ali, enfraquecido pela kryptonita, então OK, ele chamou a Martha e não mãe, talvez sem justamente ser racional. Foi as palavras que saíram de sua boca, diante do momento em que ele achou que morreria. :p

  3. Acho que todo post precisa de um “advogado do diabo” nos comentários, pra fazer a roda da discussão girar. Vou aceitar o papel ingrato e dizer o que penso: achei o filme ruinzão! hahahaha

    Uma premissa básica que eu levo em conta na hora de analisar qualquer narrativa é a caracterização dos personagens principais. É fundamental que saibamos logo de cara suas motivações, o que desejam, o que precisam, como essas duas coisas entram em conflito entre si na mente deles, como esse conflito influencia na tomada de decisões (ou na apatia) desses personagens. Seus medos, suas fraquezas, suas virtudes, etc, etc e etc. Quando tudo isso é apresentado e trabalhado na trama com certo grau de eficiência, criamos uma conexão emocional muito grande com eles. Sentimos na nossa pele tudo o que acontece com eles. É daí que vem o segredo para os momentos de emoção, catarse, alívio, euforia.

    E, bem, posso dizer que BvS falhou feio nesse quesito, principalmente com o Superman (que em tese já vem sendo “desenvolvido” desde Man of Steel). Falta um trabalho de dramatização aí, o filme joga uma cena e espera que a gente sinta o peso dramático dela só na base da empatia, quando deveria fazer a gente sentir isso na pele. Os plot points perdem o impacto porque não há vínculo entre personagem e espectador. Se a gente não ama esse Superman, pra que ficar preocupado com as armações do Lex? Se a gente não compreende os ideais de Batman e Superman, pra que ficar interessado num confronto entre eles? Como ficar empolgado com a Mulher Maravilha em ação se a gente nem sabe qual é a motivação dela pra fazer o que faz? “A origem da justiça”… Que justiça? Qual é a justiça do Batman? E a do Superman? E a da Mulher Maravilha? O filme deixa essas ideias de justiça bem claras? Enfim…

    Aaah, além de não se aprofundar nos personagens, o filme também não se aprofunda em suas temáticas. O debate de deuses e homens suscitado pelo Lex fica só na iconografia, no simbolismo. Na hora de trazer isso pra dentro da trama mesmo, podendo aprofundar esse tema, o filme arregou. Explico: fazer o senado julgar os atos do Superman era uma excelente maneira de trabalhar isso acrescentando algo à história. E o que o acontece? O senado inteiro explode e a temática vai junto. O assunto não é mais tocado, a legitimidade das ações do Superman não é mais questionada, o próprio Super fica tristinho por não salvar ninguém e esquece esse drama na cena seguinte.

    Tem muita coisa que eu não gostei fora isso. A forma como os outros membros da Liga foram introduzidos é bem patética, a luta final contra o Apocalypse não tem nenhuma interação entre a trindade de heróis, a Lois não passa de uma donzela em perigo (mesmo com toda aquela investigação tosca que não leva a nada)… Mas vou parar por aqui, texto já tá grande.

    1. Raphael, eu acho ótimo que cada um tenha sua opinião, mesmo que seja diferente um do outro. A graça está justamente nisso. 😀

      Eu respeito a sua visão do filme e concordo parcialmente quando você diz que o filme não trabalha bem com todos os plots, todos os personagens e todas as motivações destes. Mas não acho que ele saia de lugar nenhum e acabe em lugar nenhum.

      Batman – ele muda ao final do filme. Você pode dizer que é uma mudança besta, porque ela apenas cessou sua paranoia contra o Superman, por causa da cena do “salve Martha”? Sim e não. É a linguagem do cinema, aquela cena representa uma ideia, pra mim funcionou, para outros nem tanto. Mas é o ponto de mudança. Ao final, Batman não quer matar mais meta humanos, ele quer reuni-los, pois viu valor neles e acha que eles podem fazer o “bem”.

      Mulher Maravilha – há pouco dela no filme, não é seu filme de origem, e portanto nem tudo precisa estar as claras. Ela diz que havia abandonado essa coisa de “ajudar a humanidade”, ao final do filme ela parte para a guerra contra o Apocalipse, porque ela é uma guerreira, o calor da batalha a excita (ela está sorrindo na batalha, ela gosta desse desafio). O que muda nela? Ela sai das sombras, ela se mostra ao mundo novamente, após um século afastada de tudo, ignorando tudo. E ela tenta ignorar desta vez, ela entra no avião para ir embora, mas no fim não resiste. E ela acaba reconhecendo valor tanto ao Batman quando ao Superman.

      Superman – Este talvez seja o que menos muda. Ele começa o filme se questionando seu papel. A sociedade questiona seu papel, até o ponto em que o Superman se sente impotente. Seus atos causam mortes, sua mãe é sequestrada, sua namorada vive sendo atacada. Ele abandona tudo, vai embora. Volta porque o Apocalipse é sua responsabilidade, porque não quer mais mortes em sua mão. Ao fim, Superman resolve fazer o último sacrifício, ele morre. Seu plot ainda não terminou, pois não sabemos o que ele aprendeu e o que o mudou após o conflito final do filme. O que sabemos é que com sua morte, os ânimos da sociedade se apaziguaram. Ele tem um funeral de um soldado, o que para os americanos é a mais alta honraria. Superman morreu como um herói. Para o bem ou para o mal. E quando ele voltar, pois vai voltar? Isso é o que veremos em outro filme. Não acho que caberia a ressurreição dele aqui.

      Lex Luthor – também muda, ou melhor, ele assume quem é. Ele passa de um jovem empresário ambicioso a um psicótico assumido. ele fica louco, ele abraça a insanidade. Lex é desmascarado publicamente. Ele vai preso. E admite, “eu invoquei algo pior, algo está vindo”.

      Bem, eu podia continuar mais um pouco, mas acho que por enquanto está bom. Concordo com você que algumas soluções do filme podem não ser as melhores das soluções, mas pra mim elas funcionam, servem ao propósito maior de fazer o filme andar, sem se tornar enfadonho e chato.

      É um filme de começo, não de fechamento, como Vingadores é na Marvel. É um filme que abre possibilidade, e nem todas precisavam ser respondidas aqui.

      1. Eu entendo que seja um filme que tá ali pra abrir possibilidades, mas realmente acho que certas coisas são tão fundamentais numa narrativa que não dá pra ficar escondendo o jogo, tem que deixar claro rapidamente.

        Tomando a Mulher Maravilha como exemplo, o que justifica a presença dela na narrativa? Por que ela lutava há 100 anos e decidiu parar? Por que ela tá atrás da foto? Se ela teme que a foto revele o segredo dela, então pra que se mostrar ao mundo na luta contra o Apocalypse? Supostamente tem um conflito pessoal no fato dela querer ajudar os rapazes e revelar a sua identidade… O filme trabalha esse conflito? O espectador fica em dúvida se ela deve ou não ajudar os outros dois heróis? Enfim, o problema não é deixar uma ponta solta aqui e ali. O problema é não mostrar o básico sobre o personagem, algo que justifique as ações dele na história na qual ele está inserido.

        O Batman é outro exemplo. O Batman é estabelecido como um cara bem extremista (Ele fala coisas como “Se tiver 1% de chances de ser inimigo, então temos que encarar como certeza absoluta”), marca criminosos para que sejam espancados até a morte na prisão, mata uma porrada de gente indiscriminadamente… Enfim, ele não reconhece a humanidade de ninguém. Ok, é uma mentalidade moldada ao longo de 20 anos de carreira… que vai abaixo em apenas uma linha de diálogo: “Salve Martha!”. Depois dessa fala, ele reconhece que o Superman também tem mãe, que ele pode ser tão humano quanto ele próprio. Mas o problema aí é que o filme trabalhou porcamente (durante quase duas horas!) as motivações do Batman pra lutar com o Superman. Uma simples linha de diálogo faz ele ter uma mudança de 180º (Ele queria matar o Clark e depois diz pra mãe dele que eles são amigos) no posicionamento dele quanto às ações do Clark. Ele vai de um extremo a outro na relação com o Superman em questão minutos. Não tem um trabalho de desenvolvimento, é tudo muito brusco, jogado. Não tem como se envolver emocionalmente com essas reviravoltas dramáticas quando o serviço é mal feito.

        Superman, pra mim, também tá nessa coisa de caracterização mal feita. Qual é o ponto do sacrifício final dele? Sério, não consigo enxergar na narrativa uma justificativa pra isso. Ele se sente culpado por tudo de ruim que aconteceu em Metrópolis? Ele acha que morrendo vai fazer com que a humanidade volte a viver como sempre viveu? Ele morreu pra ensinar alguma coisa aos seres humanos? Ele morreu porque não aguenta mais o fardo de ser um herói? Como o filme espera que a gente se emocione com a morte dele se a gente não consegue entender os motivos pra ele ter se sacrificado?

        Tenho problemas com o Lex também… Ele quer mostrar ao mundo que o Superman é uma farsa. Por quê? Ninguém sabe. Ele até fala algo como “Onde estava o Superman quando eu apanhava do meu pai?”… Sério, é essa a motivação? Por que ele odeia o Superman? É por inveja da idolatria que ele recebe? É só porque ele é um maluco psicótico? É porque o Superman matou gente na luta contra o Zod?

        Enfim, não dá. O filme não funciona pra mim por causa disso. É um filme tão preocupado com o futuro do universo DC que se esquece de pensar no presente. Esse filme, sozinho, não se sustenta. Estão tão preocupados em mostrar Mother Box, Darkseid, meta-humanos, viagens no tempo do Flash… que esqueceram de fazer o básico em qualquer narrativa: trabalhar os personagens.

        1. Hahaha mas Raphael, assim é a vida! XD Vivemos de perguntas mais do que vivemos de respostas! :p

          – Eu discordo de ti veementemente na questão da Mulher Maravilha. Não é o filme dela, ela tá ali só de ponta, jogando perguntas para a gente ir ver as respostas em seu filme solo. Nesse ponto não tenho qualquer problema com isso. Até porque ela não impacta o roteiro em si. Suas grandes decisões não mudam a história, exceto que a presença dela por si só coloca uma pulguinha na orelha do Batman. “Se existem mais seres como o Superman, de que adianta eu acabar apenas com ele?”

          – Batman estava sendo irracional em boa parte do filme. Com raiva e ódio que estavam o cegando. A fala da Martha é exagerada e apressada? Sim, é. Mas em pró do ritmo, eu aceito que ali se ele não mudou 100% – e não mudou, porque chega tocando o terror para resgatar a Martha – ele estava predisposto a repensar um pouco. Só que o Superman morreu, de que adianta continuar com aquele pensamento prévio? Fora que ele morreu salvando aqueles na qual o Batman achou que ele poderia um dia exterminar.

          Esse filme é como a vida. Um dia a gente acorda bem, dando Bom dia, outro dia, sem qualquer explicação, a gente acorda mal dizendo “não fale comigo”. 🙂

          Eu gosto dessa pegada. Não vamos responder nada, deixa a coisa para interpretação, deixe muitas respostas. As vezes as coisas são o que são. Me incomoda um pouco que os filmes hoje em dia precisem ser redondinhos, explicadinhos de ponta a ponta.

          Concordo que isso é estranho, que há sim um exagero, que há sim coisas que poderiam ser melhores… mas mesmo com tudo isso, ainda acho a melhor adaptação do universo DC que já vi nos cinemas!

          Não é como o Batman do Nolan que é genial em pequenos momentos. É um filme que se mantém na mesma consistência, para o bem ou para o mal, do começo ao fim. Não dá tempo para ter sono, você fica ligado em detalhes, nos diálogos, querendo entender, contextualizar esse novo universo, é tudo novo, barulhento, tão diferente de Vingadores que não tem como não gostar.

          Mas é incrível como o filme é 8 ou 80. Dividindo entre quem gostou e quem odiou. E não tem como dizer quem está errado. Quem gostou tem seus pontos e quem odiou também. E ambos os lados estão meio certos. XD

          É bizarro!

          1. Haha Insistindo um pouquinho mais na questão da Mulher Maravilha… se a intenção é trabalhar ela somente no filme solo, não vejo necessidade de incluir ela na trama de BvS. Não é benéfico nem pra ela nem pro filme. Cria uma gordurinha desnecessária. O que eu tiro da participação dela em BvS é que ela só tá ali pra ser apresentada ao público e nada mais. Acho pouco.

            Mas sou muito mais chato quanto a essas questões mesmo. Cada um tem o seu próprio conceito de “história boa”, cada um tem os seus critérios de avaliação. É engraçado como o modo como o filme trata os personagens funciona pra ti e pra mim não. É por isso que arte é legal, não é uma ciência exata.

            E se tem uma coisa que eu gosto em BvS é essa vontade louca que ele desperta nas pessoas de sair por aí discutindo seus pontos de vista. Não lembro de nenhum blockbuster recente que conseguiu fazer isso. Os filmes da Marvel são meio que um consenso. (Embora eu os ache medíocres em sua maioria, mas talvez isso seja assunto pra um post de Guerra Civil)

  4. Finalmente eu vi o filme, e posso comentar.

    Sobre o Batman, o fato de ele estar cego de raiva do Superman pelo que aconteceu em Metropolis permitiu ao Lex ter uma maior influencia sobre ele. E se para pra pensar quando uma pessoa sente raiva de algo ela não consegue raciocinar direito e só consegui ver o que ela quer e foi isso o que houve com o Batman no filme, a raiva faz as pessoas muitas vezes a fazer besteira e o Batman antes de ser um super detetive é um humano, e por isso esta propicio a cometer erros.
    Sobre o Lex e os símbolos da liga; pelo que eu entende tanto o Batman quanto a Mulher Maravilha, Aquaman e Flash são veteranos de Guerra por isso acho que eles proprios fizeram os símbolos, só o Superman que é o novato que tá começando, talvez o Cyborg também seja um novato já que não mostrou ele em ação.
    Sobre a luta contra o Apocalipse, eu li muita reclamação de gente falando que o Superman deveria ter entregado a lança para a mulher maravilha e eu pensei que a luta estava equilibrada mas quando eu vi o filme vi que o Apocalipse tava dominando a lutar e a mulher maravilha mesmo feliz com a luta tava tomando corro do Apocalipse e pelo que eu vi não tinha como o ela sair co meio da luta para pega a lança e muito menos a Lois ir até la e entrega a lança, porque corria o risco da Lois morrer, então acho que foi até plausível.

    Enfim, gostei do filme achei as criticas negativas muito exageradas e estou bastante para Esquadrão Suicida, Mulher Maravilha e Liga da Justiça.

  5. olha eu aqui, depois de muito, muito tempo…estranho ter poucos comentários, ainda mais nenhum novo, da versão estendida, ainda estou lendo sua crítica, mas então vamos lá.

    demorei para ver o filme, pq esperei para sair a versão estendida, meia hora mais longa, com a categoria de idade que subiu e muito, ignorei totalmente a versão do cinema,e segundo a opinião da crítica, geral, e de amigos, fiz mais do que o certo, e todos falaram que mudou muito o sentido do filme, para muito melhor (quem viu as duas versões). Achei muito bom, excelente, um filme de heróis sem os heróis, 2 horas de filme e o Bruce tinha aparecido pra caramba, mas o Batman em só uma cena, explicando as motivações, sem o lado marvete (não que seja ruim, mas diferente, menos blockbuster), só o Batman ser tão sangue frio que achei exagerada (além dele tomar dois tiros na cabeça a queima roupa e nada acontecer), ainda mais sendo o início para a liga da justiça, se realmente fosse um Batman vs super após décadas deles se conhecendo, conhecendo a liga e tudo mais, ai sim eu entenderia, mas as coisas são bem amarradas para explicar o pq o Batman se cansou (uniforme pichado do Robin e ele ter deixado daquele jeito mesmo por exemplo.

    Enfim, é muito mais do que um simples filme de heróis, tem alguns furos ou adaptações, o ator do Flash achei nada a ver, Gotham ser muito perto de Metropolis, o filme é mais puxado para o lado do Super, mas Ben Affleck surpreendeu, Luthor foi insano (apesar de ser muito Mark Zuckerberg), o fdp sabe da identidade de todo mundo, as coisas foram muito bem amarradas, o filme tem mais coisas positivas do que negativas, e deixou muita coisa em aberto, a Liga, o Darkside, etc. Até daria para dividir o filme em duas partes, aumentar as cenas na luta entre eles e entre o Apocalypse (achei muito rápido o governo já querer atacar ele tão rápido e tão forte do nada), mas se fizessem isso seria muito caça níquel, então deixa assim mesmo.

    Enfim, poderia ficar falando dele por horas, mas se vc ainda não viu, recomendo veementemente ver a versão estendida, bluray, qq coisa um blurayrip remux de uns 40 gbs que ta formidável.

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