Análise | Far Cry 6

Disponível para PlayStation 4 e 5, Xbox One e Series & PC

Far Cry 6 é uma nova investida na consagrada série de experiência em tiro em primeira pessoa, com foco em sobrevivência e exploração aberta em ambiente hostis, dominados por icônicos vilões. Seu lançamento ocorreu no último dia 7 de outubro, após a franquia passar por mais de 2 anos sem receber nenhum novo jogo. O título chega em um ótimo momento do mercado de jogos eletrônicos, servindo como uma interessante ponte para a nova geração de consoles, sem ainda desistir da geração anterior.

Seu desenvolvimento ficou a carga do estúdio Ubisoft Toronto, um dos muitos estúdios subsidiários da própria Ubisoft. Trata-se do mesmo estúdio que trabalhou em Far Cry 5, lançado em 2018, assim como também desenvolveu Starlink: Battle for Atlas (2018) e Watch Dogs: Legion (2020), dois jogos de bastante peso a line-up da empresa, e que tiveram boa atenção em seus respectivos lançamentos.

Far Cry 6 marca o retorno da franquia, desde seu último lançamento, Far Cry New Dawn (2019), porém sem reinventar a fórmula criada em Far Cry 3, de 2012, a qual se estabeleceu que um grande e icônico vilão, normalmente um ditador ou déspota, com certo grau de insanidade e psicopatia, se faz necessário existir afim de justificar um protagonista radical, que vai eliminar qualquer força opositora contra a paz da região a qual o jogo se apresente. Aqui, essa premissa persiste.

O que melhorou nessa fórmula foi o seu refinamento, tanto na parte das mecânicas do jogo, quanto sua construção de roteiro, além da necessidade de ter um protagonista melhor consolidado do que um avatar genérico com o intuito apenas de deixar passar (ao jogador) a impressão dele mesmo estar ali. Penso que já passamos desse recurso imersivo para certas franquia, como é o caso aqui.

Também acho importante mencionar que Far Cry 6 chega ao público brasileiro com uma ótima localização em português, com direito a legendas e textos em todos os menus, e também de uma ótima dublagem em nosso idioma. Isso trás voz e personalidade, em nossa língua, de um universo que lhe instiga rapidamente a adentrar nesse paraíso tropical chefiado por uma milícia extremamente poderosa, por um chefe ainda mais perverso do que você possa imaginar.

Yara e El President

A trama de Far Cry 6 se passa na ficcional ilha caribenha de Yara, a qual parece construido com certas inspirações em torno de Cuba e até mesmo do regime ditatorial de Fidel Castro, contudo também tem um pouco de outras inspirações de povos e situações políticas e econômicas encontradas até hoje em países da América Central e do Sul. É um país governado por uma terrível mão de ferro, a qual a sociedade é oprimida, escravizada e obrigada a viver na extrema pobreza, enquanto a nata da sociedade pode viver em suas luxuosas bolhas.

Olhando para o histórico da franquia de Far Cry, esta nova edição tem uma ambientação que invoca um pouco da alma da série, que sempre apostou em cenários que mesclam ilhas tropicais, grandes regiões de densas florestas, áreas agrícolas e campos, com uma sociedade vivendo em pequenos vilarejos, em um clima quente e úmido. Os fãs vão encontrar uma região totalmente nova, mas condizente com o que se pode esperar de um Far Cry.

Há também o mérito de ser o primeiro game da franquia a ser lançado nesta nova geração de consoles, Xbox Series e PlayStation 5, o que eleva os níveis gráficos de sua direção de arte para níveis ainda mais impressionantes. O nível de detalhes no cenário, as cores no céu do amanhecer ou entardecer, a riqueza da vegetação, o efeito de chuva, da água, tudo aqui é muito bonito. E essa beleza gráfica ajuda muito em sua imersão.

Claro que para àqueles que estão habituados com os atuais jogos de mundo aberto da Ubisoft, sempre construidos em mapas enormes, entre ilhas e florestas, acaba sendo inevitável uma certa impressão de já ter encontrado momentos assim em outros títulos da casa, como Ghost Recon Wildlands. Existe um certo DNA da empresa nesse modelo, e que por vezes até cansa uma parte de seu público, mas que sempre entrega um produto que é, de certa forma, megalomaníaco, de uma forma que não temos tantos outros estúdios fazendo a mesma coisa sempre. Ou seja, tem seus altos e baixos.

Em termos de roteiro, a trama também não reinventa nenhum modelo estabelecido pelos últimos jogos da franquia Far Cry. Aqui somos apresentado a mais um vilão que tem como objetivo se destacar mais do que o protagonista em si. Yara é governado por essa figura denominada El President Antón Castillo, interpretado pelo ator – que sempre manda muitíssimo bem em papéis de vilões Giancarlo Esposito, que não só da voz ao personagem, como também aparência por meio das atuais técnicas de capturas faciais para o visual da animação tridimensional realista do jogo.

Yara vive tempos complicados, pois El President vendeu ao povo essa história de que seu regime está trabalhando no tratamento e (possível) na cura do câncer por meio de uma planta de tabaco chamada Viviro. O país tem imensas plantações dessa planta, que naturalmente é uma droga, exportada para outros fins, sob essa falsa propaganda. O pior não é isso, a tal planta Viviro precisa de muitos cuidados, dentro um que consiste em pulverizá-la com um agrotóxico realmente poderoso e tóxico ao ser humano. A solução para esse “sacrifício”? El President realiza uma espécie de loteria em sua população, para que os sorteados tenham o privilégio de irem trabalhar nos campos de Viviro.

É aqui que talvez Far Cry 6 se destaque um pouco mais do que seus antecessores, pois apesar da marcante participação de um vilão que dá peso a narrativa, do outro lado desse espectro há o protagonista, que pode ser um homem ou mulher, com um rosto e uma identidade própria, nomeado (independente do gênero escolhido) de Dani Rojas. Existe toda uma construção de arco narrativo para Dani, motivações, interações, que dão ao personagem uma identidade muito mais sólida do que a figura mecânica de servir apenas como um avatar para o jogador.

Por sinal, esse é um ponto que me agradou bastante em Far Cry 6. Após Far Cry 3, que teve um grande sucesso por consolidar a franquia o icônico vilão Vaas, suas sequências sempre estiveram muito preocupadas em entregar um vilão tão bom quanto, e em muitas ocasiões o protagonista se tornou um mero avatar, sem um mesmo cuidado de construção de personagem, e de sua narrativa. Aqui, com a trama de Dani, sinto que os desenvolvedores tiveram muito mais cuidado para entregar um personagem de maior impacto, de uma forma que os próprios jogadores se preocupem com sua história, muito mais do que ser apenas uma peça sem sentido afim de acabar com mais um tirano insano.

E esse pequeno detalhe é inserido no jogo nas muitas cutscenes em que Dani participa, de cara limpa, com suas próprias feições frente ao resto do elenco aqui criado, que aliás também tem algumas caras e bocas realmente interessantes e marcantes. E não só isso, mas na mudança da própria perspectiva da câmera, quando nos acampamentos, que funcionam como um momento de pausa da ação, a mobilidade da Dani ocorre com a câmera em terceira pessoa, podendo ver plenamente a movimentação da personagem. Um mero detalhe, mas que faz uma diferença gigantesca na busca pela empatia do jogador pelo protagonista.

Não que o personagem de Giancarlo Esposito também não tenha seu charme, pois tem. Há muitos momentos tensos e emocionantes com o personagem, mas sua figura não é tão presente assim quando se coloca na balança a imensa quantidade de horas de jogo que este Far Cry 6 possui (entre 30-60 horas). Trata-se de um personagem que aparece muito mais na narrativa, em pontos chaves ao final de arcos narrativos, do que na ação do jogo em si. E seus principais comandantes não são tão expressivos ou interessantes quanto o próprio.

Há claro a figura do filho do El President, o jovem Diego Castillo. E neste ponto a proposta é até interessante, dando uma perspectiva mais humana, seja ao vilão, seja ao filho que não é de todo mal, mas está sendo corrompido pelo pai. Ver a jornada de Diego é tão curiosa quanto o de Dani, que no início reluta a entrar ao grupo de revolucionários de Yara, mas que depois entende que apenas fugir para outro país não vai acalmar aquilo que ela tem dentro de si. Enquanto isso há Diego, que deseja se ver livre de seu pai, mas não tem meios ou coragem para agir de forma extrema, um jovem que se o pai mandar atirar em alguém, ele irá atirar. É um personagem que está na beira do precipício, entre ser possível ou não uma redenção por seus atos (e de seu pai).

Far Cry 6 entrega um contexto narrativo que permite se perder nessa revolução. Até mesmo os personagens secundários, os líderes da revolução e outros tipos estranhos que Dani irá encontrar em sua jornada, possuem grande simpatia quando acabamos explorando suas tramas individuais, desde Clara, a líder da revolução, quando a família Monteiro, dividida entre um pai e um filho que estão no lado opostos desse conflito político, quanto a outros personagens, alguns pirados, como um inventor que explode coisas e tem um cachorrinho meigo de cadeira de rodas ou uma cantora que vai até um zoológico libertar os animais presos lá, e decide acolher uma zebra como sua montaria. Far Cry 6 tem momentos bem divertidos com muitos personagens a qual Dani se aliará.

Playground de Guerrilha

Na parte de mecânicas e de sua jogabilidade, Far Cry 6 se parece muito com… bem… qualquer uma das últimas edições de Far Cry. Trata-se de uma franquia com uma fórmula aberta, porém consagrada, sem muitas direções diferentes de onde já se estabeleceu há muitos anos.

A perspectiva em primeira pessoa se mantém em 95% de toda a experiência do jogo, com os demais cinco por cento em terceira pessoa nos já mencionados acampamentos, que funcionam como um espaço social, para o jogador interagir com vendedores, aprimorar equipamentos e outras coisas nessa direção.

Inclusive acho muito legal que a visão em primeira pessoa se mantém inclusive em diversos momentos em que tradicionalmente os jogos quebram tal regra. No caso de Far Cry 6, seja andando a cavalo, de jet ski, de carro, a visão será sempre em primeira pessoa. E em muitos casos, é uma perspectiva que dá um senso de imersão diferente de outros jogos de mundo aberto que não abraçam esse conceito na hora de colocar o jogador em cima de qualquer meio de transporte.

Aqui não irá existir um único momento, dentro da ação, em que essa visão será quebrada. Seja nadando, atirando em metralhadoras de picapes, saltando de paraquedas e planadores, em helicópteros, escorregando de barrancos, espiando entre paredes ou libertando prisioneiros. A visão em primeira pessoa é uma constante de suma importância aqui.

E a exploração do mundo aberto possui um ritmo muito dinâmico e bem idealizado, mesmo para um dos maiores mapas já criados para a série – algo que sempre fico achando que a Ubisoft aumentam em cada nova sequência, só para nos fazer repetir isso mais uma vez. O jogador tem acesso a diversos meios de transporte tão logo a aventura começa, desde cavalos e carros. É até mesmo possível chamar um carro caso esteja em uma estrada, quase um Uber. Na água, já que é uma região composta por uma imensa ilha com outras pequenas ao redor, você sempre irá encontrar jet skis em pontos sempre muito convenientes.

Dentro do imenso mapa, as áreas de viagem rápidas vão se acumulando conforme mais e mais o jogador segue explorando. E nos novos consoles, super potentes, o carregamento entre estes pontos é sempre muito ágil, para não dizer quase instantâneo. Uma nova era para esse recurso tão prático, digamos assim. Para habilitar tais pontos, o jogador tem que derrubar Pontos de Controle e eliminar os soldados inimigos, claro, mas há também cidades e bases que vão sendo descobertas que também passam a servir como pontos de viagem rápida.

Falando em Pontos de Controle, a dinâmica de missões principais, secundárias e opcionais dentro de Far Cry 6 segue exatamente essa filosofia do faça como quiser, da forma que quiser, quando quiser. Logo que o jogador termina o prólogo da campanha, que se passa em uma pequena região de Yara, o mundo do jogo se abre por completo, deixando a cargo do jogador diversos arcos narrativos a qual pode explorar na ordem que bem desejar. Ou inclusive, fazê-los de forma concomitante, alternando entre elas, e até mesmo ativando dezenas de missões ao mesmo tempo, indo fazer as que estiverem sempre mais próximas de onde estiver explorando. A progressão é muito flexível nesse sentido.

Também gostei muito que desta vez não há uma árvore de habilidades atrelada a um sistema de nível do seu personagem. Quero dizer, ainda se ganha experiência e sobe de nível quanto mais ações e combates for realizado dentro da campanha, mas o propósito desse sistema parece apenas nivelar o nível de força de Dani com os demais encontros, missões e soldados. Em termos de habilidades, Dani pode fazer de tudo, desde os primeiros momentos do jogo. O que acho maravilhoso.

Contudo talvez você pense que isso é chato, pois impede que o jogo vá se reinventando em meio a sua progressão. Em parte talvez isso possa ser verdade, mas não acho que isso estrague a experiência não, até porque em um mundo aberto, quando mais liberdade você dá ao jogador, mais ele deseja quebrar as regras, com aquilo que ele tiver em mãos. E você sente a todo momento que será impulsionado pelo próprio gameplay e sua narrativa. Contribui muito para essa percepção o fato da série ter tido um hiato de 2 anos desde sua última edição. Chegamos para esta edição sedentos por um Far Cry objetivo e sem firulas desnecessárias. E pra mim, uma árvore de habilidades não faz qualquer falta aqui.

Claro que isso não significa que o jogador não terá de correr atrás de itens para melhorar seus equipamentos. Mas aí essa mecânica está muito mais atrelada as armas do jogo em si. Primeiro que agora os inimigos não ficam derrubando suas armas, deixando para o jogador coletar e ir trocando sem qualquer padrão ou planejamento prévio. Nada disso, neste Far Cry as armas são fixas. Você tem uma galeria enorme delas, mas precisa destravá-las encontrando-as no mapa, em pontos exatos, ou realizando missões específicas.

Acho isso muito bem planejado, pois faz com que o jogador tenha uma maior afinidade com suas armas, escolhendo suas preferidas, enquanto o jogo vai lhe dando novas com uma boa cadência de gameplay, fazendo justamente esse contra peso da ausência de uma árvore de habilidades. E são diversas classes, desde pistolas, fuzis, metralhadoras, rifles de sniper, espingardas etc. Todas podem se carregadas pelos jogador, sendo que são três ativas, mas ao pausar e acessar um menu é possível trocá-las a vontade.

Além disso ainda existe um sistema, ainda com certas imperfeições, de customização de suas armas. O jogador coleta itens, tais como pólvora, no decorrer de sua jogatina, que permite habilitar novos acessórios e perks para as armas já desbloqueadas. Acessórios como melhores miras, incluindo telescópicas, e silenciadores, perfeito para eliminar inimigos sem chamar a atenção de outros próximos. Dentre os perks, estão atributos bônus, como causar mais dano, melhor estabilidade ao mirar e andar etc.

Mencionei que o sistema tem certas imperfeições no parágrafo acima porque apesar do jogador conseguir destravar diversos aparatos úteis a suas armas, não dá para ficar trocando isso na hora da ação. Um fuzil com uma mira telescópica não pode alternar para uma mira mais normal na hora da ação, mesmo pausando e acessando o menu, ainda que você tenha para essa mesma arma, as duas opções de mira. Essa troca só pode ser realizada em uma bancada de construção nas bases dos acampamentos. Nada prático, não?

O que ocorre diante dessa restrição é carregar dois fuzis diferentes, com miras, silenciadores, acessórios e perks próprios em cada um, e ir alternando entre eles na hora em que for necessário em meio a ação. No meu caso, por exemplo, me acertei com um fuzil silencioso com uma mira longa, afim de acertar inimigos distantes, com um tiro cadenciado, porém potente, e outro fuzil mais barulhento, com uma mira próxima e uma cadência de tiros mais intensa, acertando mais vezes o mesmo inimigo afim de derrubá-lo quando o mesmo se aproxima demais de mim.

Outro elemento bem maneiro são as diferentes balas que as armas podem ter, e que também são definidas para cada tipo de arma, em meio a sua bancada de construção. É possível construir armas com balas que perfuram proteções, assim como balas que estilhaçam mais e causam um maior raio de ano, entre outras opções. É sempre preferível ter armas que se utilizam de diferentes tipos de projéteis.

Essa versatilidade armamentista de Far Cry 6 entrega bons resultados na hora da ação, fazendo que o jogador conheça sua arma, tenha afinidade e entenda muito mais qual e quando usar cada uma de suas armas customizáveis. Se torna algo mais íntimo, mais pessoal. Normalmente em jogos de tiro em primeira pessoa, a qual se pode pegar qualquer arma do cenário, eu nunca presto atenção nestes detalhes, e descarto armas como se fossem lixo, sempre a procura da próxima com o pente cheio de munição. Aqui, esse modelo funciona de forma totalmente oposta. Gostei.

Sinto que preciso mencionar os supremos e algumas armas especiais que o título também apresenta. Supremos são uma espécie de mochilas especiais que garante ao jogador habilidades incríveis de tempos em tempos. O primeiro supremo que você desbloqueia, por exemplo, é uma mochila de mísseis teleguiados, que acertam seus alvos mais próximos. Ótimo para eliminar helicópteros inimigos, por sinal. Mas há também supremos que queimam as coisas ao seu redor, que desativa alarmes, que envenena inimigos entre outras coisas. Uma vez utilizado, é preciso eliminar inimigos ou esperar um bom tempo até que sua recarga esteja completa.

Também existe as armas especiais, como armas de pregos, lança chamas entre outras coisas esquisitas, como um lança discos. Lembra um pouco daquela loucura dos jogos da série Dead Rising. São armas legais, admito, com diferentes perks, mas fiquei com a impressão de que foram raras as vezes em que optei por utilizá-las, dado o fato de que munição delas é limitada, e as minhas armas a qual construi e customizei, sempre me deixaram bem seguro nos combates.

Parceiro animal

Ainda explanando sobre mecânicas de Far Cry 6, acho impossível não mencionar o divertido sistema de Parças, companheiros animais que podem acompanhar o jogador durante toda a campanha principal. E aí você até pode achar qualquer coisa, mas só até descobrir que um dos primeiros companheiros que você pode ter na aventura é um imenso crocodilo!

Há diversos tipos de animais na campana que viram seus parceiros, desde o crocodilo, quanto ao cãozinho de cadeira de rodas, um vira lata barulhento, um galo punk porradeiro entre outros. Estes animais possuem diferentes tipos de habilidades e atributos. O cãozinho de cadeira de rodas, por exemplo, não é mortal quanto o crocodilo, mas é perfeito para distrair inimigos para jogadores que gostam de uma abordagem mais sorrateira.

De longe o meu animal preferido é o primeiro que o jogo habilita. O crocodilo Guapo, vestindo uma camisa, é sensacional. Ao andar com ele pelo jogo, os NPCs, assim como guardas, vivem tecendo comentários sobre o absurdo de estar andando ao lado de tal animal. É hilário. Na hora da ação, Guapo é feroz e mortal, ajudando muito a eliminar inimigos, assim como também os distrai, pois os guardas ficam chocados com sua presença. Guapo também é útil ao nadar em mar aberto, a qual é repleto de tubarões. Eles os caça e assim evita que o jogador seja morto pelos mesmos.

Mas de longe, preciso dizer que adorei a história do Galo punk, que é traumatizado e odeia a força policial de Yara. É um animal muito malucão, criado para causar caos e confusão perto de autoridades. Só é uma pena que ele tome muito dano e caia muito rápido em batalha. Alias, os animais parceiros não morrem, apenas são nocauteados, exigindo que o jogador vá até o parceiro caído e o reanime.

Mas também preciso tecer elogios a constante fauna que Far Cry 6 possui. Seguindo uma premissa da série, aqui é possível encontrar uma impressionante quantidade de animais selvagens, assim como locais de caça. Isso dá muita vida a ambientação de Yara. É assustar estar correndo pela mata e do nada ser atacado por uma onça pintada, ou em uma orla de um riacho e um crocodilo sair do nada e morder seu braço.

Não só isso, mas o jogo tem um politicamente incorreto (e não estou dizendo que não deveria ter, pois achei maneiro) mini game que simula as ilegais (e imorais) rinhas de galos, no melhor estilo Street Fighter. Diferentes galos podem ser encontrados ao longo de Yara e criar uma galeria de personagens que o jogador pode selecionar para essas batalhas, que são mecanicamente muito bem idealizadas, com um sistema de golpes no esquema pedra, papel e tesoura (e esquiva).

Falando em atividades secundárias, Far Cry 6 não tem uma vasta lista de coisas malucas ou sem sentidos que possam ser feitas pela ilha. Normalmente as missões consistem em encontrar pontos de controle, coletar itens, resgatar prisioneiros e destruir coisas, mas há também divertidas missões de corrida em veículos, a qual se deve avançar por imensos percursos, sempre passando pelos checkpoints. Admito que achei deveras divertido, ainda que não sejam nada demais.

Também me peguei entretido e me divertido com outras coisas simples, como o simples ato de pescar em pontos de pesca, a qual até posso aprimorar minha vara de pescar, assim como explorando cidades afim de usar meu celular para escanear veículos normais, que depois poderia chamá-los em pontos de solicitação de veículos. Coisas pequenas, mas é nestes detalhes que o jogo vai lhe ganhando e tomando seu tempo, de uma forma proveitosa e prazerosa.

Considerações finais

Far Cry 6 talvez não tenha o impacto que Far Cry 3 teve quando lançado em 2012, e convenhamos, nenhuma outra sequência teve desde então, ainda que particularmente goste muito mesmo de Far Cry Primal (2016), mas a pegada dele era diferente e nem tudo mundo gostou. Independente disso, acredito que Far Cry 6 conseguiu refinar a experiência da franquia, em um tempo muito hábil para a entrada da mesma a uma nova geração de consoles.

O DNA de jogos Ubisoft de mundo aberto com um tamanho megalomaníaco persiste aqui, e ainda que tenha pontos altos e pontos baixos, e esse é um modelo que talvez a empresa precise repensar um pouco. Seus jogos precisam de fato serem tão longos, terem um ciclo de atividades tão repetitivos, para serem considerados ótimos? Não sei se consigo responder a isso.

Claro que tem a contra partida, por ser um jogo longo, duradouro, que desta vez entrega uma ótima experiência em termos de gameplay e de história, com cativantes personagens, trata-se de um título que parece combinar muito com o jogador brasileiro, que em grande parte não tem um grande orçamento para comprar muitos lançamentos, e por vezes, prefere um jogo duradouro, que vá render dezenas de horas e muitas vezes meses de jogatina. Nesse aspecto, Far Cry 6 cumpre tais qualificações.

Independente da fórmula conhecida, esta edição apresenta sim uma melhor dinâmica em muitos aspectos, como a própria progressão narrativa, bem flexível, sem criar grandes barreiras burocráticas ao jogador, com um sólido sistema de armas, combate bem construído, com controles que responder perfeitamente aos comandos do jogador.

Yara também é um ambiente muito agradável de explorar. Repleto de vilarejos, boa fauna, linda cenografia. O sistema de trilhas dentro da mata é engenhoso, a utilização dos veículos é uma delícia, e missões opcionais mantém o jogador entretido em explorar e se sentir imerso nesse mundo. O título ainda permite um modo cooperativo online, para um segundo amigo adentrar na sua aventura, ou então buscar um desconhecido online. Porque se um jogador causando baderna em um regime ditatorial já é problemático, dois então é ainda melhor.

Contudo se você não busca essa experiência online, o sistema de parceiros animais é adorável. Eles realmente lhe auxiliam ao longo do jogo, especialmente em combate, e a interação dos habitantes do mundo com alguns, é muito bem programado.

 O fato é que Far Cry 6 se beneficia muito do hiato em que a franquia teve, pois foi suficiente para sentir saudades dessa fórmula. Aproveitando inclusive, no caso da versão aos novos consoles, de um poder de processamento que entrega taxa de quadros estável, carregamento ágeis e belíssimos visuais em 4K e HDR. Inclusive chega em uma boa janela de lançamento, sem concorrer com nada semelhante – bem diferente do que ocorreu ano passado, quando a Ubisoft lançou Watch Dogs Legion e Assassin’s Creed Valhalla em um intervalo de poucas semanas.

São poucos os pontos críticos ou fracos aqui. O sistema de armas pode ser meio burocrático com itens já desbloqueados e que não podem ser ajustados se não está em uma bancada, as missões secundárias podem soar meio repetitivas em algumas situações, mas ainda assim, todos os pontos fortes, abordados nessa análise, superam estes detalhes menores.

Foi realizado um ótimo trabalho de apresentação narrativa, com bons personagens, um protagonista consistente, um vilão super interessante, e por conta disso, o gameplay funciona de forma ainda mais eficiente. Adicione isso a uma ótima localização em português, com uma bela dublagem, e se tem um jogo super acessível e duradouro ao público brasileiro.

Far Cry 6 é um acerto grande da Ubisoft, com uma idealização certeira. Inclusive, em todas as dezenas de horas que passei com o jogo nestas últimas semanas, não passei por nenhum bug ou crash que tivesse me frustrado jogando-o. Trata-se de um lançamento redondinho da empresa, a qual sabemos que as vezes tem certo histórico de lançar jogos que ainda precisam de patch e correções. Não é esse o caso.

Dá para dizer que trata-se de um lançamento que satisfaz o jogador que aprecia a fórmula e entende o que se deve esperar de um Far Cry. Cumpre exatamente o que promete, sendo que nunca prometeu reinventar ou mudar estrutura tradicional. É Far Cry em seu melhor momento, um FPS (First Person Shooter) empolgante, caótico, que lhe coloca em uma revolução contra um tirano de uma encantadora ilha paradisíaca. Quase uma férias que só poderia ocorrer mesmo dentro de um videogame.

Galeria

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Dando uma nota

É Far Cry em sua melhor essência de caos, tiros e imersão em um ambiente hóstil, porém encantador - 9.5
Visualmente o título se favorece muito do poder gráficos dos novos consoles, belíssimo - 9.5
Vilão icônico ainda se faz presente, contudo é muito bom ter um protagonista melhor construido - 9
Ainda tem aquele DNA da Ubisoft de mundo aberto grande demais, a qual repetições podem cansar alguns jogadores - 8.2
Repleto de mecânicas em primeira pessoa, ótimos controles - 9.2
Parceiros animais são um charme e enconto, quem não quer um crocodilo de estimação? - 9
Sistema de melhorias das armas, com alguns tropeços, é interessante e subistitui bem a clássica árvore de habilidades - 8.5

9

Fantástico

Far Cry 6 não desaponta, trazendo a consagrada franquia aos holofotes, após um tempo necessário de descanso. Entrega uma boa narrativa, repleta de personagens divertidos, com o vilão como destaque, mas sem esquecer que o protagonista também precisa de personalidade. A jogabilidade entrega qualidade, sem bugs ou problemas técnicos, com mil mecânicas para uma jogabilidade diversificada, o que deixa o jogo super divertido. Nos consoles da nova geração, o jogo roda lindo, lisinho, sem engasgos, com uma ambientação que impressiona. Pode não reinventar a franquia, mas é uma das edições que melhor aprimora tudo o que Far Cry tem e pode oferecer. Imperdível.

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