Análise | Submerged: Hidden Depths

Disponível para PlayStation 4 e 5, Xbox One e Series & PC

Submerged: Hidden Depths é uma sequência ainda mais deslumbrante e relaxante do que o primeiro Submergedlançado lá no distante ano de 2015 e hoje já meio perdido no tempo. A nova aventura repete a fórmula do primeiro, mas busca refinar toda a experiência original, e, em parte, é muito bem sucedida nesse sentido.

Esta nova aventura mantém o desenvolvimento nas mãos do estúdio australiano independente Uppercut Games, que também assumiu toda a responsabilidade de distribuir globalmente o jogo, que foi lançado em março deste ano. A sequência pode ser encontrada em diversas plataformas, incluindo o Xbox e PlayStation da geração atual (PS5 e Series) e anterior (PS4 e One), assim como no PC via Steam e Epic Games Store. Também foi lançado ao (nada popular no Brasil) Google Stadia. E infelizmente o jogo não está disponível no Nintendo Switch.

Dá para se definir Submerged: Hidden Depths como um jogo de exploração relaxante, a qual o jogador tem acesso a um mundo aberto, rodeado por água, então se passeia boa parte dele dentro de uma embarcação, a qual o jogador deve encontrar pontos de exploração convencional, em prédios que não estejam submersos, assim como encontrar dezenas de colecionáveis, marcos históricos e tipos de fauna a serem catalogados em um diário. Um jogo sem qualquer tipo de combate, impossível de se morrer e com puzzles bem tranquilos de serem solucionados.

Tudo afundou…

Submerged: Hidden Depths se passa após os eventos do primeiro Submerged, quando fomos apresentado a jovem Miku e seu irmão Taku. Na aventura original o jogador é apresentando a este futuro distópico a qual a maré subiu e inundou quase todo o planeta. Miku explora um arquipélago em uma cidade em busca de remédios para ajudar seu irmão, que não se encontra muito bem de saúde. Ao fim da jornada original, uns seres estranhos que rodam o local intervém ao redor de Miku, enquanto seu irmão acaba sendo curado. Ao fim, os irmãos rumam para o horizonte, em busca de novas aventuras.

E é esse o ponto que Hidden Depths parece iniciar. Aqui encontramos Miku e Taku um pouco mais velhos, talvez um ou dois anos, talvez seja apenas a melhoria gráfica dentro da janela de ambos os títulos? Talvez. O jogo não deixa tão claro assim. Miku conta sobre a Massa que dominou tudo, que também parece tê-la infectada. Seu braço agora parece reagir com o mundo ao seu redor. Ela está preocupado consigo, enquanto não deseja que Taku não tenha que viver nesse mundo abandonado sozinho.

Os irmãos parecem chegar a um novo arquipélago inundado. Os seres são diferentes do primeiro jogo, reagindo com a aproximação dos irmãos, como se simulassem seus últimos movimentos antes de terem sido transformados no que quer que agora são. A tal Massa mencionada são raízes negras que estão em torno de boa parte dos edifícios deste novo arquipélago.

A narrativa de Submerged: Hidden Depths trabalha então essa premissa, com Miku e Taku descobrindo esse novo local, enquanto Miku aprende como purificar as raízes que estão em voltas por toda a região, levando uma espécie de semente (uma enorme bolota) a um ponto específico da planta a qual ela parece se encaixar. Com isso Miku também espera se curar ou melhorar do que quer que seja que infectou seu braço e reage com as tais sementes.

Ao longo do jogo, parte das histórias desse local são apresentadas por meio de colecionáveis, páginas de um livro e por locais descobertos. Quando uma sequência de 4 imagens é encontrada, Miku irá contar o que ela entendeu de tais imagens, dando ao jogador um pouco mais de compreensão ao que está ocorrendo nesse mundo e como todos ao redor foram afetados.

Com isso que encontramos aqui é uma trama bem subjetiva, ficando sempre como um pano de fundo da aventura, um pouco tímida para um jogo com tão pouca ação, porém sempre intrigante, atiçando a curiosidade do jogador a seguir em frente. Claro que talvez ao fim dessa jornada, alguns possam se sentir frustrados com um mundo tão interessante, a qual sua narrativa se apresenta de uma maneira super simples, bem auto contida.

Explore, colete, repita

No que diz respeito a jogabilidade, Submerged: Hidden Depths segue uma premissa tão simples quanto o formato a qual decide contar uma história. É uma decisão com lados positivos e negativos. A começar pelos positivos. é um jogo que qualquer pessoa pode jogar, está longe de soar frustrante em termos de dificuldade e está enquadrado em um genuíno jogo para se sentar e relaxar, talvez com uma música em paralelo, conversando com alguém ou assistir algo, caso você possa ter uma segunda tela para tal.

A exploração do mundo se dá por um pequeno barquinho, simples de se mover, numa vibração muito semelhante a jornada de um The Legend of Zelda: The Wind Waker. Impossível não sentir uma pontinha de influência dessa clássica jornada pelos mares de Link.

Nos momentos em que se está navegando, o jogador pode encontrar alguns colecionáveis diretamente no mar, objetos perdidos da geração humana, ou pequenos peças de outras embarcações destruídas que irão dar um pequeno upgrade no seu barco, aumentando sua potência ao se utilizar uma espécie de turbo temporário, permitindo avançar pelas águas muito mais rapidamente. Contudo o barco é um meio para uma finalidade: explorar os edifícios dessa cidade naufragada.

Na exploração a pé há duas situações: em locais em que as raízes não dominaram, normalmente edifícios menores, Taku é quem vai sair do barco para explorar. O que é legal já que o personagem estava machucado na aventura original, atuando apenas como um mero NPC. Trazê-lo como jogável aqui é uma evolução legal para o personagem.

Não que Miku e Taku sejam muitos diferentes, a exceção é que Miku pode carregar a semente que purifica os locais infectados e seu irmão não. Taku entende que isso esgota a irmã e por isso resolve ajudar explorando os locais em que já estão purificados, mas que podem haver colecionáveis, especialmente a história do que aconteceu com essa região.

Mas normalmente é Miku quem pega no batente, explorando grandes locações, com diversos colecionáveis e com a semente para ser encontrada e levá-la para o ponto de purificação. Os locais em que Taku colabora normalmente possuem apenas um colecionável. São segmentos super rápidos e simples.

Os pontos principais explorados por Miku são bem maiores, mas a essência da simplicidade permanece como uma constante ao longo de toda a experiência de jogo. Os ambientes são bem restritos e lineares. Os colecionáveis no geral estão escondido em cantos do ambiente, corredores que não levam a nada, ou em pequenos puzzles que envolvem mais a observação dos pontos de acesso do que qualquer outra coisa mais complexa. Trata-se de um jogo em que a diversão está em passear pelo mundo e ficar admirando-o. É preciso ter isso em mente para apreciar a obra.

Na parte dos controles, mais uma vez o uso da palavra simples se faz necessário. Você pode mover livremente o personagem dentro do ambiente tridimensional, mas restrito a algumas regras, como não ser possível pular e as beiradas de alguns cenários são muros invisíveis, não dá para simplesmente cair (e portanto, não há como morrer). É seguro explorar as beiradas de edifícios sem o receio de cair, o que ajuda bastante na caçada aos colecionáveis e observação do mundo ao redor. Como trata-se de um mundo aberto, de onde quer que você esteja, dá para ver outras áreas que você pode posteriormente ir visitar.

Assim como o primeiro jogo, Submerged: Hidden Depths tem todo um sistema baseado em escalar ambientes, já que Miku e Taki precisam de acesso a locais verticais, já que o mundo na linha da superfície está completamente inundado e não existem segmentos em que se pode adentrar nos prédios, como áreas internas. Então é preciso subir escadas, elevadores externos, cordas e, quando nada disso estiver disponível, canos e tijolos para fora da parede são alguns dos recursos.

Aqui entra um belo trabalho da direção de arte do jogo, que indica esses locais de escalada reforçando o tom avermelhado destes objetos, ficando bem claro ao jogador para onde ir ou subir. E aí o controla faz outra mágica, se apoiando em um sistema mais automatizado de escalada. Nada de apertar botões para se fixar ou pular, tudo é feito apenas movendo o analógico para direção desejada. Zero dificuldade então. Não tem no meio da escalada se desprender e cair, ou tentar pular em algum lugar inacessível ou beirada não programada para você se prender. Não dá para quebrar o jogo.

Dentre as ferramentas disponíveis ao jogador estão um binóculo, que lhe permite explorar o mundo a distância, afim de encontrar novos pontos de exploração a qual estão as sementes, ver ao longo monumentos que precisam ser encontrados, itens escondidos entre as águas e pontos em que é possível encontrar animais que serão registrados. No mundo também há grandes faróis que podem ser acessados e que fazem algo como o ponto da águia da série Assassin’s Creed, com Miku acendendo uma grande tocha e o jogo lhe indicando alguns pontos de acesso no mapa.

No que diz respeito do mapa, ele vai se revelando aos poucos, conforme o jogador navega pelo vasto oceano dentro da cidade de pedra. Tudo que se enxerga no binóculo e se registra como um colecionável ou ponto de exploração, acaba sendo marcado no mapa. As grandes sementes se acendem como faróis na visão do horizonte, permitindo que o jogador se guia pelo mundo facilmente, sem a necessidade de ficar abrindo o mapa, mas os demais colecionáveis e acessos secundários exige essa tática de abrir, olhar, se direcionar e ir até lá. Uma pena apenas não poder fixar um ponto no mapa e uma indicação acender no mundo do jogo como uma bússola.

E no geral essa é a basicamente a experiência encontrada neste título. Explora-se um enorme mundo aberto, por meio de um barquinho, bem fácil de ser controlado, enquanto admira as belas paisagens de uma distopia engolida pelo oceano, aprendendo mais sobre o passado e o que aconteceu com as pessoas desse local, buscando colecionáveis, registros da fauna e com a purificação de 10 pontos principais, afim de se chegar ao fim dessa jornada e descobrir o que acontecerá com estes irmãos.

Considerações finais

Submerged: Hidden Depths é um jogo contemplativo, tenha isso em mente. Depois de um dia exaustivo de trabalho, ou horas diante de um Elden Ring, esse é um indie game que você liga, e se desliga um pouco, relaxe na viagem em si. Não há uma melhor definição para ele.

Alguns elogios precisam ser feitos em elementos técnicos do jogo. Visualmente o título é fantástico, especialmente quando se comparado com o primeiro, lançado lá em 2015. O salto gráfico é visível e explode lindamente na sua televisão ou monitor. O efeito da água, do fluxo oceânico, com ondas e a forma como a mesma bate no barco e em outros objetos. O efeito do momento em que Miku pega a semente e tudo ao seu redor começa a brotar flores. O sistema de ciclo do dia e noite, que faz mudar toda a paleta de cores do jogo, com tom alaranjado quando amanhece ou no entardecer. O jogo toma vida diante de você, ainda que na ausência de seres humanos. É sempre impressionando quando do nada, em meio a um prédio, você vê uma baleia fazendo um pequeno salto fora d’água.

Gostei bastante também dos controles mais simples, esse essa frustração que alguns títulos trazem quando se faz necessário passar por segmentos de escalada, quando me deixa confuso para onde ir, o que fazer, e simplesmente pulo ou caio de lugares em que não deveria. Entendo que as vezes isso é parte da experiência de um videogame, mas nem sempre precisa ter, e aqui em Hidden Depths, a proposta simples combina com sua proposta casual. É gostoso explorar o mundo, apenas pelo simples prazer da observação.

A trilha sonora é relaxante, e não se destaca muito, é um jogo bacana para se ouvir um podcast ou sua própria playlist, contudo apreciei muito que as poucas falas dos personagem tenham áudio em inglês, enquanto o título recebeu uma localização em português para seus menus e legendas dos diálogos. É um toque importante para nossa comunidade, e ter áudio com vozes é sempre bacana no aspecto de muitos jogos independentes nem sempre conseguem orçamento para tal.

É preciso jogar o primeiro Submerged para ter uma experiência completa em sua sequência? Sinceramente não. O efeito é justamente o contrário. Após jogar Hidden Depths, acabou me batendo uma vontade de conhecer a aventura original, ciente de que sua simplicidade será ainda maior, claro. A experiência mais refina está mesmo aqui, em sua sequência.

Ao fim, posso concluir que Submerged: Hidden Depths é um ótimo jogo dentro do que se propõe a ser. Estou certo de que não é um título para qualquer tipo de jogador, especialmente para aquele que aprecia combate e ação, porém quem procura algo mais calmo, casual, para, por exemplo, apresentar videogame a um membro da família ou amigo não acostumar com essa arte, ele é mais do que indicado. Visualmente lindo, com uma bela construção de mundo, é uma experiência artística interativa. Uma jornada calma, para tempos agitados. Altamente recomendado se você entendeu sua intenção.

Galeria

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Dando nota

Distopia intrigante e curiosa, ainda que não explorada em sua plenitude - 7.5
Um jogo para relaxar, sem frustração ou desafio, um passeio no parque - 8.5
Direção de arte deste para o primeiro é fantástica, linda ambientação - 9
Exploração linear, mais ainda repleto de pontos de observação e colecionáveis - 8.5
Navegação no barco é deliciosamente tranquila e muito imersivo - 8
Ausência total de qualquer combate deixa tudo um pouco calmo demais... - 6.5
Bela trilha sonora, personagens com áudio, localização de texto em português - 8

8

Bacana

Submerged: Hidden Depths é uma sequência que mantém muito os pilares de sua obra original, mas o tempo lhe fez bem. Visualmente sua direção de arte evoluiu, assim como o mundo ficou mais instigante. A fluidez também melhorou, exploração é objetiva, mesmo em um mundo aberto. Segmento de barco é adorável, seus colecionáveis são legais e a imersão é mais assertiva. Contudo não é um jogo para qualquer um, pois é um jogo para relaxar, sem desafio, sem frustrar. Possui uma pegada bem casual, que qualquer um pode jogar sem medo de morrer ou não avançar.

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