30 Rockfeller Plaza! Abordando a série

Em tempos em que as conversas sobre humor inteligente em séries parecem monopolizadas por Community (que eu adoro, aliás), sinto-me incomodada que outras comédias geniais acabem não recebendo atenção. Esse texto é justamente sobre uma sitcom no ar há sete anos e que eu considero a mais divertida e sagaz comédia que eu já vi na vida e que, infelizmente, passa despercebida por quase a totalidade das pessoas com quem converso.

Falemos de 30 Rock.

Criação da brilhante Tina Fey – antiga redatora-chefe do Saturday Night Live e minha ídola – 30 Rock mostra os bastidores de um programa humorístico de esquetes exibido pela NBC, o The Girlie Show with Tracy Jordan. O título da sitcom (30 Rock) se refere ao endereço do prédio da GE, onde se localizam os estúdios do canal NBC. A série se encontra atualmente em sua temporada final e, embora não seja muito popular, ela é ovacionada pelos críticos, tendo sido premiada diversas vezes (além de ter vencido como melhor comédia por três edições seguidas do Emmy Awards, em 2009 30 Rock recebeu o número recorde de 22 nomeações, algo inédito para uma comédia).

A estória acompanha as desventuras de Liz Lemon (Tina Fey), fã de Star Wars e redatora-chefe do TGS que constantemente precisa lidar com a luta de egos das estrelas do programa: Tracy Jordan (interpretado por Tracy Morgan) e Jenna Marone (Jane Krakowski), que estão sempre lutando para ser o centro das atenções e estrela principal do show, ao mesmo tempo em que satirizam as neuroses e esquisitices das celebridades. Além deles, Liz tem que lidar com sua equipe procrastinadora e seu chefe Jack Donaghy, interpretado magistralmente por Alec Baldwin. Jack é a própria personificação do estereótipo do grande capitalista republicano, homem de negócios bem–sucedido, machista, com cabelo perfeito e sedutor; ele se considera mentor de Liz e acaba por se tornar seu melhor amigo, apesar das diferenças ideológicas. A protagonista é tão insana quanto o resto do elenco e tenta, temporada após temporada, encontrar o equilíbrio em sua vida enquanto luta pelas causas liberais em que acredita (o idealismo dela é impagável) e tenta encontrar um bom partido e se tornar mãe.

A grande força de 30 Rock está em seu texto, sem tirar o devido crédito das atuações fenomenais. Tina Fey tem a capacidade de fazer com que cada fala e situação tenha embutida em si diversos níveis de humor que vão da paródia à crítica social e político-econômica e depois à uma brincadeira com estereótipos politicamente incorretos, culminando em uma grande resolução meticulosamente planejada. E tudo isso usando o esquema de câmera única e poucas locações. A única vez que me deparei com algo tão bem escrito e com um humor tão afiado foi quando li a série do mochileiro das galáxias.

30 Rock satiriza a televisão, sucessos de bilheteria, astros e estrelas, movimentos sociais, posicionamentos políticos, segmentos variados da população, crises internacionais e a hipocrisia norte-americana, e tudo sem jamais perder a classe. O programa também já contou com participações especiais, como as de Al Gore, Jerry Seinfeld, Salma Hayeck, Tom Hanks, Matt Damon e até Condoleezza Rice.

É triste que um programa tão bom acabe sendo cancelado por baixa audiência, mas pelo menos 30 Rock teve uma duração longa e jamais perdeu a qualidade. Não sei se essa série deveria ser tratada como série nerd ou para nerds, pois suas temáticas extrapolam as fronteiras de nicho. Qualquer pessoa que se interesse por assuntos contemporâneos e consiga perceber a real comédia que o mundo é irá gostar de 30 Rock.

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