Análise | Evoland Legendary Edition

Disponível para PlayStation 4, Xbox One, Nintendo Switch e PC

Evoland: Legendary Collection é uma coletânea composta por 2 games, Evoland (que foi originalmente lançado em 2013 para PC, e posteriormente também para iOS) e Evoland 2 (lançado originalmente em 2018 para iOS), ambos desenvolvidos pelo estúdio Shiro Games. Ambos os títulos abragem basicamente os gêneros de aventura/ação/RPG.

Digo… basicamente, pois dentro do conteúdo RPG ao visitarmos outras partes inspiradas em outros jogos acabamos jogando um pouco de tudo. Quanto ao pacote que compõe esta “coletânea de 2 jogos”, tal edição chegou a atual geração em fevereiro deste ano. A versão utilizada para a esta análise foi a de Xbox One.

Aqui ambas as jornadas são inteiramente single player e não temos nada ligado ao multiplayer local ou ao online. Convido agora os leitores a conhecer um pouco mais de cada um destes jogos e suas particularidades. E só depois, avaliamos o pacote como um todo.

A primeira aventura, Evoland

Temos aqui uma jornada através da história dos jogos de RPG, permitindo que o jogador desbloqueie novas tecnologias, sistemas de jogo e atualizações gráficas à medida que se avança na história. Começa bem básico mesmo, gráficos de 8 bits (talvez menos ainda), sem cores e até mesmo sem som.

Resumindo, temos que coletar em baús encontrados, itens que vão realizar modificações no jogo. Desta forma iremos receber upgrades visuais e de mecânicas. Evoland se desenrola a partir de um visual retrô totalmente pixelizado. Conforme o jogador vai coletando baús, o visual vai melhorando até chegar aos gráficos em 3D como os vistos nos jogos para sistemas como um Nintendo 3DS, por exemplo.

Começamos o jogo com um herói sem nome e com a instrução de nos movimentarmos para a direita, após realizarmos o comando, recebemos um baú que nos premia com a possibilidade de caminhar para a esquerda… sim é isso mesmo. Admito ter achado estranho, mas bastou 10 minutos iniciais para achar essa experiência quase como uma mágica – vi o que aconteceu, mas não vi o truque do mágico por baixo dos panos.

Quer saber o motivo disso ser mágico? Você fica curioso para saber o que virá a seguir, pois como o jogo está “pelado”, sem cores, sem ações, sem um visual, e sem temática, tudo está faltando e achar cada peça desse quebra cabeça é algo que vai lhe entreter. O jogador vai se empenhar para achar todos os baús e ir evoluindo seu jogo, seja conseguindo se movimentar para todas as direções, seja colocando trilha sonora no game, ou a opção de poder conversar com os NPCs, poder mudar o nome do seu personagem, achar companheiros para a jornada e, é claro, evoluir o jogo graficamente, passando por 8 bits, 16 bits , 32 bits, 128 bits e chegando nos finalmente aos jogos 3D um pouco superior do quadradão de clássicos como Final Fantasy VII, melhorando a paleta de cores do jogo em meio disso tudo.

Além disso, Evoland consegue resgatar o estilo dos antigos RPGs por turno nos combates com os inimigos e chefes, como era no final dos anos 90. Você passa a ter inclusive um sistema de subida de level. Depois de jogar algum tempo e dar procedimento a sua aventura, o jogo fica com um dinamismo maior, se utilizando de técnicas de ação e aventura comuns já no começo dos anos 2000. Vamos passando pelos melhores pontos de cada geração de jogos. Ao retornarmos para áreas já ultrapassadas, o estilo do jogo volta ao passado e depois ao futuro novamente, e temos características de Final Fantasy (vários deles chegando no ápice do FF VII), brinca muito com jogos antigos de The Legend of Zelda, e até mesmo de Diablo tem sua vez aqui.

E essa é a ideia fortemente caracterizada aqui. Ir se aproveitando dos pontos bons de cada geração do mundo dos jogos, em particular das jornadas do heróis do mundo dos RPGs, até chegar ao um status mais moderno deste gênero. É exatamente este o fator de Evoland me cativou também, pois o objetivo não é somente contar a história do protagonista em si, mas contar de um modo único a história dos jogos de aventura e RPG.

Muitas referências vão ficar claras logo de cara, como a animação ao se abrir os baús (inspiradas nos jogos da série The Legend of Zelda), a fase inspirada na jogabilidade de Diablo (onde os inimigos chegam em bandos e itens dropados por eles são equipados automaticamente (incluindo até uma tela para você ver os equipamentos que estão equipados após as coletas dos itens) e diversas dos jogos da série Final Fantasy, seja pela espada utilizada pelo protagonista, o desenrolar da história do jogo em si e pelo inusitado Double Twin Cards (derivado do mini game Triple Triad de Final Fantasy VIII).

Aliás, preciso falar um pouco do Double Twin Cards, pois acho necessário dado o desafio que tal mini game oferece. Tenho até orgulho de dizer que venci todos seus níveis, incluindo até conquistas exclusivas ligadas a ele. O simples fato de ficar jogando-o e procurando as cartas pelo mundo do jogo vai consumir um pouco de tempo extra da sua jornada. Para melhor compreensão, o que temos aqui é um jogo de cartas disputado entre dois jogadores em um tabuleiro 3 x 3 (como um jogo da velha), onde o jogador deve colocar suas cartas e tentar “virar” para sua cor as cartas do adversário. Cada carta tem 4 números, um de cada lado (esquerda, direita, cima e baixo). As cartas têm representações dos monstros do jogo. O objetivo é pode virar a carta que já está na mesa para a sua cor, para isso posicionando o número maior ao lado e em contato com o número da carta já jogada. Ganha o jogo quem tiver mais cartas “viradas” para sua cor.

O problema de Evoland é a sua curta duração, sem fazer nada dos extras e nem ficar procurando por coisas no mapa (como achar um Chocobo – aquela ave fictícia da série Final Fantasy), Evoland vai durar cerca de duas horas e meia. Fiquei jogando o Double Twin Cards e fazendo quests extras e terminei com 6 horas no relógio. Um tempo até razoável e satisfatório. Só que não é um jogo que vai lhe estressar por sua dificuldade e facilmente será terminado em uma sentada no sofá.

A sua trilha sonora vai ser conhecida para quem acompanhou os jogos homenageados ao longo da jornada, não vai ser algo sem igual, mas você vai notar a semelhança logo de cara com as músicas já ouvidas em sua vida gamer, seja nas músicas de labirintos ou nas batalhas contra chefes. A homenagem, claramente intencional, funciona aqui.

Vou gostar de jogar Evoland?

Evoland é, afinal de contas, uma espécie de passeio no museu pela história dos games. Ele quer que você veja todo o seu conteúdo e, embora não deseje que você fique entediado, também não quer que você fique preso.

Tem um apresentação única, passando por diferentes idades da história dos videogames, evoluindo de um jogo do antigo e clássico visto no Game Boy para um jogo 3D moderno muito rapidamente – logo na primeira hora de jogo isso já ocorre – e na segunda parte da aventura podemos alternar entre apresentações 2D e 3D (através da viagem no tempo) para resolver determinados quebra-cabeças. Uma ideia realmente criativa para dar ainda mais valor a experiência vivida, mesmo que ainda assim seja curtinha. Vale a pena, até porque este não é o único conteúdo do pacote. Vamos para sua sequência.

A sequência, Evoland 2

Aqui como em muitos jogos da geração JRPGs e RPGs, que jogamos ao longo das últimas décadas, temos um protagonista que desperta com amnésia. Sem saber onde está e o que raios está fazendo naquele lugar. Logo passamos a encontrar algumas respostas para essas perguntas. Evoland 2 começa no mesmo conceito do primeiro jogo, porém aqui optou-se pelo uso do clássico tom pixelado verde e preto do antigo Game Boy. Ao longo do progresso passa a ganhar cores e gráficos conforme se avança na história. É um conceito que deu certo no jogo anterior, e que claramente precisaria ser repetido em sua sequência.

Só que ao contrário de seu antecessor, Evoland 2 tende a não ficar tão envolvido em quão inteligente está sendo. E é isso que torna a experiência como um todo muito mais calorosa e acolhedora. A narrativa está melhor, assim como a profundidade de seus personagens. Iremos até mesmo encontrar brincadeiras entre os membros da equipe, algumas até de duplo sentido.

O protagonista, mais uma vez sem nome (o que dá mais afinidade ao jogador de poder colocar o seu nome e participar de tudo), é lançado no tempo e deve encontrar o caminho de volta. Ao longo dessa aventura, obviamente teremos que derrotar vários inimigos, fazer amigos, vencer masmorras, derrotar chefes gigantes, solucionar quebra-cabeças (por vezes muito difíceis de serem entendido e resolvidos num primeiro momento – e aqui o título parece se inspirar na franquia Professor Layton) e uma série de desafios únicos que estão à sua espera para dificultar a sua tentativa de salvar o passado, presente e futuro. Segue fielmente a cartilha dos RPGs, não facilitando nada para o jogador de classe “jovem gafanhoto“.

Evoland 2 possui um mundo cuidadosamente projetado para ser explorado. Podemos notar isso em suas cidades sempre povoadas, com NPCs interessantes, todos tendo algo a dizer que contribui e profunda a construção do mundo do jogo.

A sua jogabilidade segue a visão de cima para baixo como em Secret of Mana e The Legend of Zelda. O que define a série Evoland é o fato de que você se surpreender a cada mudança de jogabilidade. Logo não se estará jogando apenas um gênero de jogo ou um motor gráfico definido e fixo. Sua visão gráfica e a própria interface do jogo vai mudar de local para local, e embora o jogador não esteja necessariamente sendo empurrado para uma nova situação, a cada momento você precisará ser capaz de se adaptar a novos controles e jogabilidade à medida que avança mais e mais na aventura.

O truque que dá certo em Evoland 2 é ir se modificando aos poucos, em uma área estaremos olhando para uma tela basicamente de um jogo de NES, em outra parte, ao acessarmos uma caverna, subirmos uma escada ou cair em algum buraco, poderemos conferir um ambiente 3D renderizado com qualidade dos jogos de PlayStation 2.

Isso é basicamente o que vai se experimentar da era dos videogames graficamente, já na parte de mecânicas de jogos e nas homenagens, aí a coisa fica um pouco mais complexa…. teremos um sistema de batalha de cartas, resolução de quebra-cabeças, shooter (jogo de navinha com muitos inimigos e tiros na tela) e inclusive uma luta inspirada em Street Fighter. Evoland 2 segue o conceito original, mas não se prende demais no que o primeiro Evoland fez. É dado maior liberdade para brincar e homenagear ainda mais gêneros e clássicos dos videogames.

Vale a pena jogar Evoland 2?

Duvido um jogador (de verdade) não gostar dessa ideia das mudanças de estilos do jogo. Vou confessar aqui e dizer que cheguei a mudar a forma que estava sentado jogando Evoland 2, quando ao embarcar em um veículo o jogo mudou a perspectiva para Shooter e inclusive transformando os golpes especiais dos membros da equipe (que você usava para solucionar quebra cabeças ou liberar áreas do cenário), se transformam em golpes especiais dentro do shooter.

Sabe quando você ajeitar a postura e fala: “ok, ok, na próxima vai dar certo e vou conseguir”. Fiz isso várias vezes até completar essa parte e logo em seguida já estava em uma luta de Street Fighter… tipo é de pirar a cabeça, pelo menos para quem vivenciou jogos destes gêneros separadamente e agora confere eles juntos, misturados e tendo uma lógica que dá sentido às mudanças conforme a situação encarada no momento pelo protagonista e seus companheiros. Como não adorar tudo isso? Não tem jeito.

Considerações finais — a coletânea em si vale o investimento?

Explicado um pouco sobre cada título, e o que torna um diferente do outro, é chegado o momento de falar sobre a coletânea em si. Dois jogos em um só pacote. Será que Evoland Legendary Edition entrega o que promete?

Primeiro deve-se ter em mente que tanto Evoland quando Evoland 2 nunca vão deixar de serem homenagens aos game aos quais fazem referência. Também podemos claramente perceber a evolução ao compararmos os 2 games entre si, seja na sua construção do mundo ou no equilíbrio entre homenagens e paródias dos games.

Ficou bem difícil pra mim imaginar o que mais um futuro Evoland 3 poderia apresentar. Porém logo penso que o mundo dos games é gigantesco, e existem outras tantas mecânicas e histórias que poderiam ser exploradas. Evoland Legendary Collection é focado nos fãs de RPG. Se olharmos com mais cuidado e carinho, teremos inúmeras referências para descobrir. Esta coletânea demonstra claramente o amor dos desenvolvedores pelo gênero de RPG e, por que não, pelo mundo dos games como um todo.

Pode parecer piegas ficar falando assim, mas se torna contagiante ver o nível de detalhes presentes em cada uma das homenagens presentes à medida que avançamos e compreendemos cada parte dos jogos.

Ambos os títulos tem propostas semelhantes, mas oferecem experiências distintas. O primeiro, mais curto, é mais pragmático em seu conceito, enquanto a sequência perde essa necessidade e se permite brincar mais. Um complementa o outro no final das contas, o que justifica o pacote, ainda que talvez seja muito mais prazeroso jogá-los na ordem sequencial. Talvez ter jogado o segundo, e ainda não ter jogado o primeiro, possa fazer o original soar meio maçante.

Claro nem tudo são flores, e ambos os games estão longe de serem perfeitos para todos os jogadores. Muitos vão sair correndo na primeira tela de Evoland por não parecer moderno e não estourar seu cérebro com explosões multicoloridas. Birrentos pode achar o inicio intragável, por mais que estes efeitos não durem mais do que minutos de gameplay dentre a experiência como um todo. Já para os verdadeiros fãs de RPGs, jogadores mais antigos e porque não, aos novatos que sempre ficam curiosos para ver o que os mais velhos jogavam antigamente, temos aqui um grande achado no mundo dos jogos independentes. Não é uma coletânea que vale perder de conhecê-la.

Galeria – Evoland 1

Galeria – Evoland 2

Extra – A primeira meia hora de Evoland 1

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Dando uma nota

Fortíssimo apelo nostálgico - 10
É tranquilo de jogar, divertido de explorar - 9
Dificuldade bem calculada, sem frustrar - 8
Fica o desejo de que durasse mais todo o pacote - 7
Muitas homenagens e paródias dentre a história dos games - 10
É ótimo como a série alterna estilos e mecânicas de gêneros de jogos - 9

8.8

Ótimo

Evoland Legendary Collection é um passeio por um museu que apresenta a história dos games (mais focado nos RPGs). Tem uma forte nostalgia, mas não é datado ou ultrapassado em sua forma de jogar. Todo o conteúdo é uma grande jornada de homenagens ao passado.

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