Análise | Pokémon Legends: Arceus

Disponível para Nintendo Switch

Pokémon Legends: Arceus é um importante laboratório de ideias do que pode vir a se tornar os próximos principais jogos da franquia Pokémon pelos próximos anos. Desenvolvido pela própria Game Freak, estúdio que abre novas gerações de Pocket Monsters de tempos em tempos, o que temos neste lançamento é uma visão modernizada de uma clássica fórmula, que há muito precisava se revigorar.

Seu lançamento ocorreu na última sexta-feira, dia 28 de janeiro, com exclusividade ao híbrido Nintendo Switch, sendo distribuído tanto pela Nintendo quanto pela The Pokémon Company. O que temos aqui é um jogo que mistura a clássica fórmula RPG de turnos da própria série Pokémon, com elementos de mundo aberto com foco em exploração, a qual Pokémon Sword & Shield namorou um pouco quando lançado em 2019.

Mais interessante ainda é saber que o jogo é cronologicamente anterior a qualquer outro título da série. Se passa na região de Hisui, como era chamado a região de Sinnoh há muitas eras no passado. É um momento da história a qual as pessoas ainda não entendiam muito bem os Pokémons, em um momento histórico em que estavam aprendendo a capturá-los, assim como vemos a criação histórica da primeira Pokedéx, quando ainda era um mero caderno de anotações. O título também faz uma ponte de prequel com Pokémon Diamond & Pearl, que em novembro passado ganharam novos remakes, apresentando as antigas tribos que habitavam a região de Sinnoh.

Hora da conversa

Antes de adentrar na melhor parte de Pokémon Legends: Arceus – que é suas novas mecânicas – tem esse band-aid que preciso puxar com certa violência: o formato a qual o jogo ainda se utiliza para construir narrativa quando não se está tendo qualquer momento de ação. Estou me referindo ao formato texto estático, personagem quase imóvel e, principalmente, a ausência do artifício de áudio e voz para estas situações.

Sei que pokémon, e sua fórmula tradicional, surgiram em um passado muito distante, em um videogame portátil, ainda sem cores, e especialmente sem voz, apenas com caixas de textos e sem qualquer direção cinemática. E assim perdurou por gerações e consoles. Mas o tempo muda e elementos clamam por atualizações.

Entendo que dentro do conceito de um jogo portátil, talvez a ausência de voz aos personagens possa fazer sentido, afinal se vocês está em um ambiente externo, naturalmente mais barulhento, talvez não seja uma imersão muito boa ficar tentando “escutar” o que o jogo está lhe dizendo. Contudo até esse conceito é um tanto ultrapassado, tendo em vista como as pessoas se comportam com seus smartphones em qualquer lugar, com YouTube, TikTok e outras redes bem “sonoras“. E outra coisa, fones de ouvidos já foram inventados, sabe?

O que estou tentando dizer é que acho uma decisão arcaica e ultrapassa esse conceito de que nos atuais jogos da franquia Pokémon, especialmente os lançados no Switch, que os personagens ainda não possuam vozes. Em Pokémon Legends: Arceus existem longos momentos de diálogos, e é um silêncio angustiante, só o clique do botão, uma suave trilha musical de fundo e caixa de texto atrás de caixa de texto.

E tudo bem você me justificar “é um RPG, o que mais você queria?“, e vou entender esse argumento. Mas pegue o que a Bandai Namco, para exemplificar com um estúdio japonês, tem feito em seus últimos títulos, como Scarlet Nexus e Tales of Arise. Ainda temos as caixas de diálogos, muito texto, mas também temos voz para pontos chaves da construção da trama, assim como uma melhor direção de cinemática, com ótimas cutscenes.

Pokémon Legends: Arceus é muito mais estático, muito mais monótono de se “assistir” nestes momentos em que a história se apresenta. É um modelo que, ao menos pra mim, já tem dado sinais de ultrapassado. E quando se coloca o jogo em uma TV na sua sala, com membros da família ao redor, a trama não funciona como entretenimento familiar. Você sozinho, em modo portátil, tudo bem… mas o Nintendo Switch não é apenas um portátil.

Ainda vou adicionar um outro elemento que complica mais ainda sua acessibilidade ao público brasileiro, que é a ausência de localização em português. Um título com tantas opções de idiomas, mas a Nintendo ainda não consegue localizá-lo completamente em nosso idioma. Isso afasta e muito os jogadores mais novinhos, a criançada.

O meu filho, de 9 anos, adora Pokémon, mas não se sentiu muito instigado a jogar estes últimos jogos da franquia. E não é por causa do gameplay, a qual ele adora, mas por sua dificuldade em entender a história em inglês, de conseguir se direcionar dentro de um RPG sem acompanhar o que os personagens estão lhe pedindo, tendo que ficar longos minutos apenas apertando o botão para a caixa de texto sumir da tela e o jogo lhe devolver o volante da aventura. Pra ele é exaustivo isso e o jogo só funciona se eu estiver do lado, explicando as coisas pra ele, lhe auxiliando, o que faço com muito gosto. Mas nem sempre estou ali em sua hora de jogatina. Adultos são cheios de responsabilidades, infelizmente.

Mudanças que vieram para ficar?

Contudo, o que certamente tudo mundo quer saber sobre o Pokémon Legends: Arceus são sobre as novas mecânicas e mudanças em relação a fórmula clássica da franquia. E são muitas mudanças, e espero muito que venham para ficar e influenciem os próximos jogos, quando uma nova geração for apresentada.

Um das principais mudanças diz respeito a exploração do jogador ao longo da aventura. O sistema de rotas com treinadores e pokémons para se capturar são deixados de lados, assim como a conexão entre diversas cidades e ginásios. Estes elementos dão lugares a uma só grande cidade e diversas áreas abertas com diversos pontos de interesse para serem explorados.

Outra grande mudança diz respeito a forma de interação com os pokémons selvagens, a qual agora andam livremente pelas grandes áreas abertas, podendo fugir ou atacar o jogador, a depender do tipo e dele lhe considerar ou não uma ameaça a seu território. A grama alta aqui tem o propósito de esconder o jogador destes pokémons, possibilitando uma abordagem mais furtiva para capturá-los, podendo simplesmente arremessar uma pokébola.

As batalhas Pokémon também tiveram uma mudança significativa, já que agora eles ocorrem em tempo real ao ambiente, mas ainda no clássico formato: os pokémons possuem quatro movimentos e atacam em turnos, cada qual na sua vez. Entretanto, também há mudanças nesse combate, tanto em visto que os pokémons estão muito mais agressivos, usando sempre golpes que de fato causam dano ao jogador (em detrimento ao antigo modelo que muitos pokémons controlados pela CPU perdiam incontáveis turnos com movimentos de aplicação de status, como o “inútil” Leer).

Não só isso, mas durante as batalhas é permitido ao jogador que se movimente ao redor da batalha, inclusive se você ficar muito perto dos pokémons pode até mesmo levar um pequeno dano por estar dentro do raio de alcance de seus ataques. Tal como o Ash vive sendo eletrocutado pelo Pikachu no icônico animê.

Um elemento novo que é bem interessante dentro do sistema de batalhas é uma opção de usar um movimento com um efeito especial, aqui chamado de estilo Agile (ágil) e Strong (forte). Cada estilo tem um efeito… o movimento com agilidade pode dar a chance de deixar seu pokémon atacar duas vezes em seguida, contudo o dano do ataque por ser mais ágil é reduzido abaixo de seu normal. Já no estilo forte, o dano é aumentado por um ataque fortalecido, contudo pode dar a chance do seu adversário atacar duas vezes, caso sobreviva ao ataque. Inclusive agora é possível ver a linha do tempo dos turnos em um indicador no canto da tela, o que vem bem a calhar para entender os efeitos de ambos os estilos.

E não se preocupe com o sistema de ataques efetivos , não efetivos e super efetivos, pois eles ainda estão presentes dentro desse sistema. Assim como o dano por conta do ataque elemental e assim como do tipo de cada pokémon em batalha. Ataques de água ainda causam danos super efetivos em tipos de fogo, assim como o de fogo vai causar grande dano em tipo planta, e este vai causar dano no tipo água. Essa roleta de tipos e danos permanece por aqui.

Dado um passo para atrás, quero voltar ao elemento de captura de pokémons, mencionado um pouco acima. Isso porque além do jogador capturar o pokémon apenas jogado a pokébola, há também a possibilidade do embate clássico entre criaturas, basta o jogador selecionar seu próprio pokémon. Aí o esquema conhecido, dá uns sarrafos no bichinho selvagem e antes de ser nocauteado, jogue a pokébola para uma captura bem sucedida.

O interessante dessa dinâmica é que escolher batalhar com um pokémon selvagem próximo de outro pokémon, pode fazer com que aqueles ao redor se aliem para descer o sarrafo no seu pokémon metido a domesticado.  Não espere, claro, 7 a 8 pokémons selvagens se aliando, pois infelizmente o processamento do Switch tem suas limitações, então nunca tem tantos pokémons próximos nesse sentido. Tem sempre de dois a três juntos ou aos arredores, com mais alguns outros mais ao fundo. Preocupante apenas quando você consegue enxergar um muito mais distante e percebe que lá está um outro pokémon se mexendo apenas a 10 quadros por segundo. Mas tudo, basta chegar pertinho que o pobre coitado volta a se mexer como deveria.

Mundo Pokémon

Falando em limitações do console, talvez seja curioso mencionar que Pokémon Legends: Arceus não é um jogo lá tão bonito quanto muita gente pensou que seria. Tem um jeitinho de The Legend of Zelda: Breath of the Wild? Até tem, mas é muito pouco mesmo. O céu é bonito, repleto de nuvens aparentemente estáticas, que não se mexem muito, mas que são um belo wallpaper, diga-se de passagem. No resto, é um trabalho que tem realmente a cara de muitos jogos do Nintendo Switch, o que tem ficado cada mais mais discrepante com os consoles da concorrência. Mas nada que tire o charme e a magia do estilo gráfico, que fique bem claro.

Não me agrada muito as texturas do morros e montanhas, a qual o jogador não pode escalar como o Link pode em seu jogo já mencionado acima. O que alias me parece uma escolha de desenvolvimento estranha, pois quando o jogador passa a poder usar um Wyrdeer para sair cavalgando por aí, ele passa a subir (com certo esforço) nestes aclives espalhados pelo mapa. Entenderia se somente a primeira área tivesse esse elemento como um limitador de exploração do jogador, mas nas demais isso também ocorre, sempre me obrigando a usar o cervo pokémon para subir pequenas encostas.

Vi alguns relatos dizendo que o mundo do jogo é um pouco vazio, com pouco a se encontrar e a se ver. Em parte acho meio verdadeiro isso. Contudo novamente acho cabe atribuir pouco de culpa a limitação o poder de processamento do Switch, especialmente em áreas tão grandes sem qualquer tipo de tela de carregamento. São poucos pokémons em espaços tão grande de terrenos, fora que a vegetação é bem limitada por pequenos locais de grama alta e muitas árvores.

O efeito da água também é bem estranho, pois já vi outros jogos da Nintendo entregar rios, mares e efeitos de água muito mais bonitos e bem feitos. Não sei exatamente o que aconteceu aqui. Quanto mais distante, mais bizarro é o efeito da água, meio metálico, meio escuro. Não tem aquela aparência cristalina e com ótima fluidez que normalmente se esperaria. E saiba que é impossível nadar com seu personagem. Em certo  momento você poderá usar um peixe como montaria para se locomover pela parte aquática, mas nada de nadar para o fundo do rio ou do mar.

O que sinto falta nesse ambiente de gameplay de exploração são os icônicos, e muitas vezes irritantes, treinadores que estão sempre prontos para lhe convocar para uma batalha. Caberia muito bem inseri-los em alguns locais ao longo da progressão de história, de uma forma facultativa, para que o jogador pudesse batalhar com alguns. Devo dizer que depois de certo tempo de jogo, senti falta de batalhar contra treinadores ao invés de apenas pokémons selvagens. Tem uma batalha na terceira área, em um vulcão, em que é preciso sobreviver três rodadas de lutas… foi um momento marcante pra mim (pelo alto grau de dificuldade). E pena que momentos assim se repetem tão pouco ao longos das 30 horas (em média) que se leva para concluir a campanha principal.

Ainda sobre o mundo em si do jogo, outro aspecto interessante que mudou em relação a fórmula clássica é a disposição dos ciclos do dia, que não acompanha mais o tempo real. Nos jogos anteriores para explorar o mundo a noite, só entrando à noite (ou mudando o relógio do console), e agora o ciclo é muito menor, de um intervalo de alguns minutos, não vou saber precisar quantos, mas que dá a possibilidade do jogador ir ao acampamento e dormir pelo ciclo em que deseja acordar: matutina, dia, entardecer e noite. Ver o ciclo mudar em tempo real é maneiro, e importante ao ritmo da exploração, já que alguns pokémons só surgem ao ambiente em certos ciclos.

Um último detalhe a respeito dos tipos de ambientes, Pokémon Legends: Arceus tem basicamente seis grandes áreas, incluindo que uma destas áreas é uma vila a qual se pode interagir com diversos NPCs, que vão lhe pedir um milhão de coisas, dentre itens, capturar certos pokémons, mostrar a pokédex e assim por diante. Já as demais áreas, elas possuem diferentes layouts e configurações de mundo aberto, mas não são interconectadas, você explora cada área individualmente e precisa voltar a vila para escolher uma outra a ser visitada. Nestas áreas iremos encontrar florestas, praias, cavernas, mar, vulcões, ambientes de neve e assim por diante. Cumpre o básico que se espera de habitats a qual vivem os pokémons.

Caderno Pokédex

Importante falar da Pokédex em Pokémon Legends: Arceus, pois é outro elemento presentes nos jogos anteriores da franquia e que aqui sobre uma importante reforma em como deve ser preenchida. Se antes o jogador precisava apenas capturar os pokémons para o registro, as coisas por aqui tem uma outra camada de trabalho e complexidade.

Estamos dentro de um universo no passado do mundo Pokémon, aqui a humanidade ainda está aprendendo o que eles são, como capturá-los e como viver em harmonia com eles. Dá para dizer que também estamos aprendendo como domesticá-los. A pokébola é uma versão rudimentar da bola que conhecemos. O professor que o protagonista encontra ao viajar ao passado, lhe conta sobre como é incrível a habilidade dos pokémons encolherem para entrar nas pokébolas. Essa perspectiva de estar nos primórdios dessa relação humano/pokémon é muito interessante.

E com a ausência de muita tecnologia moderna, a pokédex de Hisui é um mero caderno a qual o jogador vai apontar os pokémons encontrados. Mas não só isso, agora é preciso cumprir certas tarefas para cada pokémon presente no jogo, desde capturar um certo número deles, encontrar um macho e uma fêmea, derrotar outros tantos da mesma espécie, utilizar certos movimentos deles por tantas vezes, entra outras tarefas, incluindo algumas secundárias com NPCs da vila principal. O objetivo é que o Pokémon chegue ao nível 10 de pesquisa, para só aí a Pokédex considerar que você o registrou por completo.

A cada meta de pesquisa completada, pontos de experiência são entregues ao jogador e de tempos em tempos você sobre no ranking de treinador pokémon. Estas estrelas, de uma certa forma, funcionam como a progressão das medalhas de ginásio dos outros games da franquia, permitindo o controle de pokémons de maiores níveis (level). E tem mais, em alguns momentos da aventura principal o comandante da vila vai lhe obrigar a subir nesse ranking para poder continuar com as missões principais. Mais especificamente sempre que a missão for em uma área ainda não visitada, o que significa que os pokémons lá terão um maior nível de força.

Com isso o jogo cria uma dinâmica de que não basta o jogador ir do ponto A ao ponto B nas missões principais de campanha e não se preocupar em explorar o ambiente aberto, não capturando ou batalhando contra pokémons. Essa parte da pokédex é essencial para progressão da aventura, então fazer isso em paralelo à progressão da história é uma ótima forma de não quebrar seu ritmo. Vá ao ponto da missão, mas sempre capturando pokémons, batalhando, deixando de lado na sua equipe pokémons que já atingiram o level 10 na Pokédex, dando prioridade a outros que ainda possuem tarefas a serem realizadas.

Ao todo, Pokémon Legends: Arceus tem cerca de 242 pokémons de diversas gerações. Não parece muito, considerando a quantidade de pokémons que existem hoje em dia, mas é uma quantidade razoável para a ideia do jogo. Podia ter mais? Claro que podia, mas tudo bem não ter, pois só com estes, o trabalho de alimentar a Pokédex é gigantesco.

Só lamento que haja apenas 24 novos pokémons, sendo que 17 destas novas entradas são variações de pokémons que já existem. Inclusive, dentre estas variantes de Hisui estão o terceiro estágio de evolução de Rowlet, Cyndaquil e Oshawott, os iniciais presentes nessa aventura. É a primeira vez que a Game Freak mistura iniciais de diferentes gerações, o que não é uma má ideia.

Agora, já que estou abordando a Pokédex e a necessidade de ficar capturando pokémons, vale comentar a inclusão de um sistema de construção de itens dentro das novas mecânicas do jogo. Agora é possível construir as pokébolas quando coletado certos itens no mundo aberto do jogo. Basta quebrar umas pedras, coletar algumas frutas em árvores e dá para construir diversos itens dentro do jogo, desde poções, revives e, claro, alguns tipos de pokébolas.

Também foi feito um trabalho bem interessante nas diferentes pokébolas, pois existem variação na forma como elas são aplicadas ao gameplay. Tem uma pokébola pesadona, que segura melhor os pokémon selvagem, mas em compensação o jogador precisa estar muito perto para arremessar, assim como tem uma pokébola que é bem leve, perfeita para capturar pokémons voadores, que ficam em alturas que as demais pokébolas não podem alcançar. É uma aplicação de gameplay muito bem bolado para os diversos tipos de pokébolas, especialmente estas ainda em versões rudimentares na história da série.

Quanto ao sistema de crafting, acho natural sua inclusão dentro da ideia de explorar um mundo aberto a qual se pode coletar itens a cada 10 passos. Funciona muito bem, tanto no conceito de poder construir em qualquer lugar com os itens em que você estiver carregando em seu bolso, quanto utilizar uma mesa em seu acampamento e aí pode usar todo seu inventário que fica dentro de um enorme baú. Em todo caso, o jogador ainda pode gastar dinheiro e comprar os itens básicos caso não tenha muito saco para ficar fabricando as coisas.

Considerações finais

Pokémon Legends: Arceus é um sonho que se tornou realidade, isso não dá para negar. É algo que os fãs da franquia aguardam há anos acontecer. O título, de fato, pega aquilo que Pokémon Sword & Shield fez de uma forma bem cautelosa, a exploração mundo aberto, e expande esse conceito em sua totalidade, entregando um jogo completo com tal proposta.

É perfeito? Não, longe disso, há muito que pensar, refletir e refinar agora que o jogo foi lançado. Tem muita coisa aqui que dá certo, e muito certo, mas também tem muita coisa que vai precisar ser repensada. Talvez em um próximo console da Nintendo, com um poderio melhor de processamento, a Game Freak consiga entregar um mundo mais vivo, mais povoado de pokémons para todo canto. Acabar também com as grandes cidades, os ginásios, e até mesmo os treinadores avulsos pelas rotas, dá um sentimento de que está faltando alguns elementos por aqui.

A bem verdade é que o impacto destas ausências nesse momento é muito pequeno, graças ao número de mudanças e novidades que o título traz. Os jogadores não terão tanto tempo para sentir saudades, enquanto estiverem maravilhados com esse mundo aberto e tantas interações diferentes possíveis com o simples conceito de sair por aí capturando diferentes pokémons.

Da mesma forma que pouco se tem discutido sobre a ausência de modalidades multiplayer online aqui. Não há realmente nenhum modo de batalha contra jogadores online, nem mesmo o sistema de troca global de pokémons. Ainda é possível trocar pokémons com amigos, por meio de senhas e códigos individuais de cada um para abrir um sala para isso, e nada mais. Pensando aqui, um modo para testar o novo sistema de batalhas, assim como permitir que alguns jogadores andem simultaneamente pelo mundo aberto, precisa ser o próximo passado desse novo conceito.

Pokémon Legends: Arceus fica como um marco na franquia. É uma proposta original e bem vinda. Sua ideia de entregar um mundo semiaberto para os jogadores saírem caçando pokémons funciona em boa parte do tempo, entregando assim uma boa dose de imersão. Gosto, especialmente, como o sistema de batalha é muito mais agressivo e o nível de dificuldade das batalhas estão maior do que qualquer outro jogo da franquia. Pokémons serão nocauteados, itens serão utilizados aos montes e estratégias precisarão ser traçadas. É fantástico.

Na contrapartida, acho que o formado narrativo do jogo ultrapassado, com uma curva inicial muito longa e até mesmo estressante, no sentido de que o jogo demora horrores para largar a mão do jogador. A falta de localização em português é lamentável quando se pensa em nosso público mais infantil e que poderiam ter aqui a primeira experiência pokémon de suas vidas.

Ao fim, também descobrimos que o mundo não é aquela coisa maravilhosa que o último Breath of The Wild entregou no início do ciclo de vida do Switch, mas tudo bem, dá para aceitar isso. Até porque a nova proposta é revigorante e o jogo tem muitas surpresas inesperadas. O formato de tarefas da Pokédex funciona e incentiva de uma forma muito eficiente o conceito de exploração. É um jogo que lhe prende por horas e horas, e se 30 horas da campanha principal não são o suficiente, o conteúdo pós-game e a meta de concluir toda a Pokedéx certamente lhe renderá mais 30 horas extras, sem dúvida alguma.

Pokémon Legends: Arceus definitivamente tem seus tropeços, mas ainda assim, é um daqueles passeios que todo mundo vai querer fazer, aos trancos e barrancos, simplesmente porque é uma boa sacudida em uma fórmula que há décadas não tinha uma revitalizada como aqui se apresenta. Há mais a se melhorar, mas é um ótimo pontapé. Fica a torcida para que estas ideias influenciem a próxima geração de monstrinhos e seus futuros jogos.

Galeria

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Dando nota

Visualmente os cenários deixam um pouco a desejar, com texturas duvidosas e um mundo um pouco esvaziado - 7.2
Conceito de mundo aberto e exploração para capturar e ver pokémons em seus habitats naturais causa bom impacto - 8.8
Batalhas estão mais agressivas, mais dinâmicas e desafiadoras - 9.5
Forma de contar a história dá sinais de envelhecimento em meio a modernização de outros aspectos da franquia - 6.5
Sistema de tarefas da Pokédex e missões secundárias oferecem um alto valor na exploração e no valor de replay - 8.2
Flexibilidade na captura de pokémons, seja jogando a pokébola, seja batalhando, é o melhor dos dois mundos - 8.5
Ausência de alguns elementos multiplayer faz um pouco de falta, assim como uma maior quantidade de pokémons - 7

8

Ótimo

Pokémon Legends: Arceus é uma mudança importante na fórmula tradicional da franquia Pokémon, se é uma mudança que irá impactar os futuros jogos, ainda não é possível dizer. Mas espera-se que sim. O conceito de mundo aberto cai como uma luva proposta da série, dando ao jogador uma imersão muito além do que os games anteriores já entregavam. Claro, não é um jogo isento de críticas e tropeços. O aspecto narrativo dá claro sinais de estar ultrapassado, o poder de processamento do Switch cobra seu preço em alguns momentos, alguns elementos de gameplay tradicionais não estão presentes aqui, mas tudo é uma grande laboratório e experimentar novas ideias é o que torna essa proposta realmente revigorante e interessante. Há muito que aprimorar e refinar, contudo, a Game Freak parece estar no caminho ideal para evoluir os próximos títulos.

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