Análise | Imp of the Sun

Disponível para PlayStation 4 e 5, Xbox One e Series, Nintendo Switch & PC

Imp of the Sun é uma simpática aventura 2D a qual você controla um diabrete de fogo que tem como missão colocar fim a um estranho eclipse lunar que pode trazer escuridão ao mundo. O título é uma produção do estúdio Sunwolf Entertainment, tendo sido distribuído pela publisher Fireshine Games, tendo sido lançado no último dia 24 de março para basicamente todas as plataformas disponíveis atualmente no mercado de games.

A ambientação do jogo tem toda uma inspiração construida em torno da cultura peruana, além de utilizar uma bela arte desenhada à mão para definir o visual da aventura, o que trás muito charme e personalidade própria ao jogo. Na parte da jogabilidade, o título lembra muito o estilo de Ori and the Blind Forest, com a ação 2D em plataforma, sempre exigindo agilidade, assim como um combate veloz e de impacto, a qual o jogador precisa explorar grandes áreas afim de encontrar a rota ideal para atingir certos objetivos, enquanto nesse meio tempo resolve alguns puzzles e procura alguns colecionáveis.

Legal dizer que o título conta com localização em nosso português, em texto para todos os menus e linhas de diálogos da história do jogo. Como trata-se de um jogo com um escopo mais independente, ou seja, tem um orçamento mais limitado, a narrativa não conta com áudio, então os personagens conversam apenas por texto mesmo, o que aqui não incomoda em nada essa decisão, já que são pouco os momentos de diálogos, sendo pontuais apenas quando realmente importam à trama.

Foguinho invocado

Imp é o nome dado ao diabrete, que foi criado a partir de uma fagulha do sol, que está preocupado com um eclipse que assolou a Terra e que não está indo embora. A escuridão parece estar tomando conta e é preciso derrotar quem está por trás disso.

Para isso o pequeno ser de fogo precisa encontrar os quatro guardiões que dominam cada uma das quatro regiões do jogo, para adquirir o poder latente do sol que cada um destes guardiões guardam consigo. Contudo estes guardiões foram corrompidos pelas trevas, o que significa que Imp deverá tomar à força cada um destes poderes e, enfim, restaurar seu verdadeiro poder latente para aí sim conseguir acabar com o eclipse.

A narrativa do jogo é bem simples, mas totalmente funcional. É o mote perfeito para que o jogador explore cada uma das regiões do jogo, a qual podem ser vencidas em qualquer ordem, já que o título tem essa proposta de jornada não linear. Vá por qualquer um dos quatro caminhos, e se um deles estiver muito difícil, talvez seja melhor seguir por outra região.

Cada uma destas regiões possuem dois chefes, o guardião (chefe principal) que está ao final da área e um secundário, normalmente um espírito animal, que fica mais na parte inicial de cada região. Cada um destes chefes secundários liberam poderes a Imp, então se você não conseguir ir até o final de uma área, procure ao menos vencer estes quatro chefes secundários, afim de obter novas habilidades. Fica a dica.

Na parte da história, Imp terá contato basicamente com três personagens, uma jovem que vai ficar conversando contigo a todo momento, dando lhe dicas e cuidando de seus colecionáveis, uma senhora já de idade que vai lhe contar um pouco mais sobre a cultura e mitologia desse universo peruano conforme você encontrar certos colecionáveis chamados Quipo (conjunto de cordões de cores variadas, com nós, usados pelos índios peruanos para fazer cálculos e transmitir mensagens) e uma figura que vai representar o espírito da morte, que vai garantir que ao morrer, Imp possa voltar de suas cinzas, além de lhe auxiliar a subir de nível sempre que tiver certa pontuação adquirida, assim como irá servir como ponto de viagem rápida pelo mundo do jogo.

Imp é um protagonista curioso, pois como foi desenhado à mão, esbanja simpatia, mas é um personagem que está sempre com uma carranca, sempre muito sério, dando a sensação de estar bravo. Talvez seja a “chama ardente” de sua personalidade, mas ainda assim tem um momento em que ele sorri. É bem legal o cuidado a qual os desenvolvedores tiveram para dar vida ao personagem. Como um personagem feito de fogo, essa identidade casa bem com esse conceito.

Jornada que dura na medida certa

É bem comum me ver comentando em algumas análises como jogos hoje em dia tem essa tendência de durar mais do que realmente precisariam durar, parte porque vivemos um momento em que a indústria de jogos acha que um game precisa durar mais de cem horas para manter o jogador ali, interessado no vicioso círculo da experiência repetitiva, que muitas vezes já não agrega em mais nada a sua experiência sensorial, o que culmina na parábola da cenourinha na ponta da vara.

Imp of the Sun foge desse padrão e entrega uma aventura relativamente curta, que dura o tempo em que sua proposta pede que dure. Uma aventura de um final de semana, o que seria ideal nos tempos de locadora nos anos 90, quando a gente podia alugar um game apenas para durar justamente de sexta à domingo. E ao dizer isso não estou fazendo nenhuma crítica ruim, não. Acho que não se alongar depois é justamente o que torna o título mais interessante e amigável.

A jornada de Imp ocorre em quatro áreas, todas inspiradas em civilizações que outrora habitavam o Peru, mas que basicamente são divididas entre florestas (região montanhosa e região de rios), desertos e cavernas. São áreas relativamente grandes, e que exigem um vai e vem entre locais afim de descobrir alguns colecionáveis.

Em certos casos será preciso vencer em uma certa área para destravar uma habilidade em que será preciso usar nas demais áreas afim de alcançar certos colecionáveis. Em um ou dois casos, também descobri rotas alternativas para o objetivo principal, o que liberou uma linha de diálogo da jovem que me acompanha, dizendo “uau, eu não sabia que você podia chegar por aí desse jeito“, o que achei um detalhe realmente bacana.

A exploração do mundo ocorre basicamente plataforma a plataforma. Escalando paredes, pulando de um lado para o outro, sendo ágil em certos terrenos, evitando cair em espinhos ou outros elementos de dano e também eliminando os inimigos que guardam certas áreas. Em determinados segmentos esse avanço tem ares de puzzles, a qual o jogador deve entender como chegar a certas plataformas, ativar alavancas e entender como abrir alguns portas trancadas.

Na parte dos inimigos, o combate precisa ser muito ágil, caso contrário os inimigos vão causar dano a Imp no momento em que seus ataques estivem dentro do raio de dano. Para isso o pequeno diabrete conta com o que parecer ser uma pá (mas provavelmente seja um mini cetro) a qual ele usa como um bastão para bater nos inimigos. O ataque é meio truncado, a resposta tem um delayzinho (o que me parece proposital), mas o impacto sempre interrompe qualquer movimento inimigo, muitas vezes o empurrando ou tirando-o do chão, o que permite diversos combos aéreos. É um combate não muito fluido, mas bem funcional, que lhe deixa tenso na medida certa quando há mais de dois inimigos em tela vindo em sua direção.

Não existe uma grande variedade de inimigos na aventura, mas os que existem são o suficiente para uma diversidade necessária. Tem os que vem em sua direção para lhe atacar, tem alguns que voam em sua direção ou atiram projéteis, assim como os que ficam em terrenos como os aquáticos e não lhe deixam você se aproximar demais deles. Nesse caso Imp tem uma habilidade (limitada) de atirar pequenas flechas em um raio pequeno de impacto.

O mais impactante do combate são as arenas de batalha, que ocorrem quando Imp chega em certas áreas e um campo de energia trava seu avanço e diversos inimigos surgem ao seu redor. Aí é preciso vencer todos para que campo de energia desapareça e o avanço possa continuar. Nestas horas as batalhas são mais intensas e complicadas para se lidar com diversos inimigos. É uma boa dificuldade, mas nunca frustrante.

Por falar em frustração, Imp não é um jogo muito difícil, mas não significa que seja fácil demais. O jogo tem alguns elementos que são claramente inspirados no gênero Souls-like, como Dark Souls. Por exemplo, os inimigos derrotados dão ao jogador pontuações de chamas (como almas), a qual são necessárias para subir de nível e fortalecer sua barra de vida, de vigor/mana ou causar mais dano com o ataque.

Morrer lhe faz perder um pouco destas chamas, e não dá para se coletar o que se perdeu, além disso o jogador não retornar ao ponto em que foi derrotado, sendo revivido no último local em que você encontrou o espírito da morte. Felizmente a Morte fica em pontos realmente estratégicos das áreas, como nas entradas dos chefes ou nas áreas de alta dificuldade. E sim, o jogador precisa morrer várias vezes nos chefes até meio que decorar alguns padrões de ataques ou entender o momento certo de atacar.

No geral a aventura em si é bem criativa, isso graças as habilidades que Imp vai adquirindo ao longo da jornada, como a de se tornar fumaça, o que lhe permite atravessar certas paredes e o terceiro pulo, que lhe concede uma investida aérea e que vai se tornar essencial para vencer o chefe final do jogo. Gosto em particular de uma área em que é completamente escura e Imp adquire uma habilidade se intensificar suas chamas, dando uma iluminação limitada, além de passar a conseguir acender tochas pelo caminho. Além disso, conforme se progride em sua jornada, Imp vai intensificando seus golpes e combos, o que vai tornando o combate ainda mais divertido.

Considerações finais

Imp of the Sun é o que espero essencialmente de um indie game, uma experiência contida dentro de uma proposta simples, mas que entrega diversão em meio a uma proposta criativa e bem feita, a qual isso também reflita em um preço amigável (o que, por sinal, é este o caso, sendo um jogo baratinho dependendo da plataforma em que você o procurar). Tem esse fator acessível, fácil de se jogar, de divertir e de se concluir.

É até difícil tecer críticas ou pontuar problemas encontrados dentro do jogo. Inicialmente os controles podem soar um pouco truncados, meio duros em seus movimentos, mas após a meia hora inicial você se adapta e entende que é meio proposital e conforme o jogo avança, Imp vai se tornando mais flexível e os controles melhoram consideravelmente. Além disso, por mas truncados que possam ser os movimentos iniciais, nunca prejudicam os saltos e os segmentos de agilidade, o que certamente é o mote principal da jogabilidade.

Talvez há que se pontuar que joguei a versão do game para o PlayStation 5, e aí sim senti um pouco de decepção quando notei que o jogo não faz nenhum uso das muitas funções que o DualSense pode entregar. Nenhum efeito sonoro pelo controle, nenhuma vibração especial, nada de sensor de movimento. Se foi feito uma versão para o PS5, me parece um vacilo não usar nada do que o controle da plataforma pode oferecer.

Quando para àqueles que ficaram preocupados com a constatação de um jogo curtinho, que dura cerca de  6 a 8 horas basicamente, dá para alertar que após finalizado o título libera um novo modo de jogo, nem que um New Game Plus, mas denominado Modo Eclipse. Nesse modo o jogador mantém suas habilidades desde o começo, mas tudo está mais difícil, inclusive está mal iluminado, exigindo que Imp passe a iluminar todas as tochas espalhadas por todas as áreas. Dá um contexto todo diferente ao jogo, com um desafio realmente mais elevado. É um ótimo conteúdo para o fator replay.

Imp of the Sun é um título muito bem feito. Sua direção de arte é impecável, especialmente quando se vê que tudo aqui é desenhado à mão e muito bem animado. Sua trilha sonora apesar de não ter me chamado muito a atenção, não me incomodou, e no geral a impressão que tive é que combina bem com a aventura e soa muito natural, o que é um ponto positivo. Imagino que para jogadores novato nesse gênero, que não tenham experimentado muito desse gênero 2D plataforma, exploração não linear, este possa ser um título genuinamente atraente, especialmente quando pense que jogo mais aclamados, como Ori and the Blind Forest, podem soar bem intimidante para alguns (ainda que Ori seja um excelente título, que fiquem bem claro isso). No fim, acessibilidade é um fator importante para atrair novos públicos e interessados em conhecer esse segmento de jogo.

É um título que ganha pontos por carisma, por trazer uma inspiração cultural de um povo a qual não temos tanto acesso, por uma ótima localização em português, e por encontrar uma jogabilidade amigável e que mantém o interesse do jogador no foco da aventura, sempre dando lhe alguma habilidade nova, permitindo a criatividade na exploração e evitando um ciclo de gameplay longevo, que impede que a aventura se torne óbvia ou enfadonha. É simples, dura o tempo exato de sua proposta e faz tudo de uma forma muito bem feita, a qual se percebe que seus desenvolvedores fizeram com carinho e dedicação. Imp of the Sun é um ponto de sol quentinho, para aqueles dias em você sente aquele friozinho no corpo.

Galeria

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Dando nota

Belíssima arte desenhada à mão, com ambientação inspirada na cultura peruana - 9
Curtinho, contudo dura o tempo que precisa durar - 8
Jogabilidade é um pouco truncada no início, mas melhora rapidamente - 7.5
Progressão mantém o jogador interessado, Imp sempre vai ganhando novas habilidades - 8.5
Tem um valor de replay interessante, por colecionáveis e um New Game Plus - 8
Boas batalhas de chefes, quanto aos inimigos normais entrega uma variedade básica - 8
Momentos plataformas são agradáveis, puzzles são bem simples - 7.5

8.1

Bacana

Imp of the Sun é um título muito charmoso, que cativa o jogador por sua bela direção de arte, toda desenhada à mão, inspirada na cultura e em antigas civilizações do Peru. Uma aventura que não se alonga demais e acaba no momento certo, durando o que precisa durar, sendo muito acessível aos jogadores, apresentando pontuais momentos de dificuldade, em meio a um gameplay de agilidade em plataforma, puzzles simples e combates que são estranhos inicialmente, mas conforme se progride pela aventura se tornam mais intensos e interessantes. Todo localizado em português. Uma aventura que encanta e diverte. O que muitas vezes é o suficiente.

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