Análise | Spidersaurs

Disponível para PlayStation, Xbox, Nintendo Switch & PC

Spidersaurs é um animado jogo de ação run-and-gun de avanço lateral (side-scrolling) contra, veja bem… dinossauros aracnídeos (!!) a qual sua intensidade é sair freneticamente atirando em tudo que se mexer, pois certamente será uma ameaça a você. Jogo, com um aspecto bem indie mesmo, desenvolvido e publicado pela WayForward, conhecido estúdio dos games da franquia de jogos de Shantae.

Originalmente o título chegou a ser lançado com exclusividade em setembro de 2019 no serviço da Apple Arcade, e assim ficou na loja até 30 de julho desde ano, estando atualmente indisponível na Apple Store, e sem informação se algum dia retornará. Contudo, para a felicidade dos jogadores em geral, Spidersaurs foi lançado em novas plataformas no último dia 14 de julho, sendo disponibilidade nos consoles PlayStation, Xbox, Nintendo Switch e também no PC.

Para quem não está ligando o estilo “run-and-gun” se caracteriza conforme a tradução de seu nome leva a entender: correr e atirar. É aquela básica de pegar uma arma e sair correndo, atirando em tudo que surgir pelo caminho. Claro que não será simplesmente “sair correndo”, há plataformas para transpor, mas dá para dizer que a ação é praticamente ininterrupta.

Inclusive há até uma conquista que somente se ganha se o jogador não parar um segundo por uma fase inteira. Dos jogos mais antigos, o maior exemplo é série Contra, e dos mais novos, o destaque fica para Cuphead. Aqui as coisas podem ou não serem muito difíceis, dependendo da opção de dificuldade que o jogador escolher logo no começo de sua aventura.

Por estar completamente em português fica fácil e interessante acompanhar a história contada, até mesmo os 3 níveis de dificuldade possuem nomes e explicações engraçadas totalmente em nosso idioma. Então, ao invés de selecionarmos entre fácil, normal e difícil, escolhemos entre Bem Passado, Ao Ponto e Mal Passado.

Carne de dinossauro… ou quase isso!

Iniciando o jogo somos agraciados com uma pela introdução ao título, nos contando por meio de um desenho animado, daqueles típicos dos anos 90, como o mundo do jogo chegou ao seu estado atual e de onde vem o nome Spidersaurs, o que vem a ser um charme a parte e que nos remete tanto aos jogos quanto aos desenhos antigos. Tudo com belas legendas em português.

A abertura explica que a Terra estava em uma situação complicada, após sofrer com sucessivas explosões solares, o que levou ao aumento do fluxo solar de radiação eletromagnética, principalmente na faixa dos raios X e extremo ultravioleta, e ainda contar com o aumento descontrolado da população, gerando uma superpopulação sem precedentes. A união destas duas situações causou um grande problema na produção e abastecimento de comida em todo o mundo.

Eis que em um laboratório secreto da organização InGest Corporation, a bio-engenheira Aracha Sorez cria uma incrível raça de criaturas chamadas Spidersauros, que são a união de aranhas com dinossauros (cá entre nós, o que poderia dar errado dessa união né?) combinando assim as oito patas das aranhas com o tamanho avantajado dos dinossauros. O que na visão da cientista forneceria muita carne e músculos para a humanidade se restabelecer. Afinal as aranhas contam com 8 patas, ou seja, 8 carnudas e deliciosas coxas e sobrecoxas gigantes… bem… hum… A premissa da ideia parecia boa e criativa (talvez?), mas algo sempre dá errado nessas ocasiões.

Algumas das criaturas encontraram uma falha nos protocolos de segurança das instalações da InGest Corporation e acabaram conseguindo fugir. A ingestão da carne dessas espécies por humanos acaba alterando seus DNAs, mas de maneiras imperceptíveis (à primeira vista) já que não foram relatados até então efeitos colaterais. Após estudos, descobriu-se que somente algumas pessoas acabam tendo seu DNA alterado com o consumo desse alimento exótico. Obviamente os protagonistas dessa aventura terão seu DNA alterado ao consumirem os alimentos, conferindo para eles capacidade sobre humanas.

O jogador tem a opção de dois personagens, Victoria ou Adrian, já que o título também poder ser apreciado com dois jogadores de forma cooperativa local, nosso querido multiplayer de sofá. Mas dá para escolher um personagem e seguir em jornada solo. Não há modalidades online, caso esteja se perguntando.

Victoria é uma estrela do rock, possui uma banda de rock indie e atualmente está desempregada. Ela é ousada e sarcástica, o que combina com sua natureza rebelde e torna difícil aceitar e respeitar autoridades, mas ela pode ser facilmente motivada com dinheiro, o qual espera poder usar para dar um up em sua banda. Sua arma é a sua guitarra detonadora.

Adrian é um policial, daqueles caras que tem como meta sempre fazer a coisa certa, não importa o quanto seja difícil alcançar esse objetivo. Ele é durão e engenhoso para se safar das mais difíceis situações sem problemas. Possui um bom porte físico, o que lhe dá vantagens sobre seus colegas. Sua arma exclusiva é o foguete esportivo que atira bolas de beisebol nos adversários.

Ação ininterrupta

Correr e atirar, como mencionado lá no início, é a mecânica básica da jogabilidade. Sair correndo e atirando em tudo que aparecer pela frente, algo que reforça muito a minha lembrança dos meus tempos de Contra. Mais ainda quando a gente nota que as opções de armas dos protagonistas conta com as clássicas metralhadora, lança-chamas, lançador de granadas e arma os tiros espalhados. Contudo, essas armas podem agir um pouco diferente a depender do protagonista e sua arma básica.

Para facilitar um pouco as coisas, ou dificultar dependendo da fase, recebemos a assistência de drones, que ao serem destruídos liberam as atualizações para as armas. Podemos alternar sempre entre 2 armas, então dá para ter duas armas atualizadas ao mesmo tempo. Mas quando o jogador é atingido, sua arma perde uma atualização (dá para acumular mais atualizações da mesma arma, fortificando os poderes da mesma).

E quando o personagem morre, perdemos todas as atualizações coletadas e voltamos para a metralhadora básica. Mas quando apenas se toma dano, se perde apenas a atualização da arma em uso. Por isso se torna interessante possuir 2 armas atualizadas para ter uma alternativa quando tomar dano. Há medidores de energia (3 ao todo) que podem ser recuperados ao consumir alimentos encontrados ao se destruir inimigos e/ou itens pelo cenário. Geralmente em grandes aglomerações de inimigos, algum deles vai deixar cair um alimento e isso vai ajudar um bocado.

Os estágios aqui seguem a cartilha dos jogos de aventura em si, com fases com temáticas e locais diferentes para dar um vigor ao título e deixar o jogador sem saber exatamente o que vem pela frente. Há ambientes em um laboratório, selva, esgotos, etc. As temáticas podem não ser das mais surpreendentes e diferentes, mas temos uma lógica por serem todas áreas da empresa InGest Corporation e apresentam um design gráfico funcional e que dificilmente vai deixar o jogador travado em alguma parte, não tem como se perder, é só seguir em frente e ir subindo, descendo ou seguindo em linha reta.

Cada estágio é dividido em duas áreas, então se perder todas as vidas na segunda parte poderemos continuar a partir dela, e essas segundas fases de cada mundo contam inclusive com telas de carregamento próprias para nos mostrar que são diferentes da anterior.

Ao final de cada fase enfrentamos um chefe gigante e mais casca grossa (apelão) do que os inimigos comuns, mas se engana quem pensa que os inimigos disponíveis nas fases vão ser chupeta no mel. Estes apresentam um desafio e se perdermos todas as vidas no chefe da fase, será necessário que jogar a partir do checkpoint (o começo da segunda fase) até chegar no chefe novamente.

Não tem continue direto antes da batalha do chefe, então vá com sangue nos olhos para as batalhas para não se arrepender depois. Cada chefe ao ser derrotado deixa um pedaço generoso de carne e ao ingerir ele, ganharemos dino habilidades, pulo duplo, grudar na parede, investida (para quebrar coisas) e uma teia de aranha para nos lançarmos ao teto e ficarmos suspensos no ar.

Uma coisa que pode incomodar um pouco é que se você ficar parado em uma área da fase, esperando por uma oportunidade de se recuperar um pouco, os inimigos não vão parar de vir e a luta vai continuar, às vezes seguir em frente mesmo perto da morte é a única saída mais eficaz do que ficar parado esperando por um milagre.

Gráficos e som

Assim como ocorre em outros jogos da WayForward, Spidersaurs tem um bonito estilo gráfico desenhado à mão, o que nos permite termos caracterizações diferentes para os vários inimigos presentes aqui, sem aquela “deixa” de simplesmente mudar a cor de um inimigo para reciclar ele em diversas fases. A movimentação flui bem, os cenários tem muitos detalhes e o jogo realmente parece um desenho animado.

A respeito das músicas, estas vão ficar na sua cabeça como se fossem chicletes e isso se deve a persona de Harumi Fugita, grande compositora japonesa e designer de efeitos sonoros, mais conhecida na comunidade gamer pelos seus trabalhos clássicos na Capcom (Ghosts ‘n Goblins, Bionic Commando, Mega Man 3) e mais recentemente pelas músicas de Streets of Rage 4 (2020) e Windjammers 2 (2022).

Fator replay

Bom, devo avisar que apesar de termos 2 personagens para jogar a aventura em tese é a mesma independente de jogarmos com Victoria ou Adrian. Finalizar com ambos não vai abrir um final secreto, mas o final verdadeiro somente é atingido ao se jogar nas dificuldades Ao Ponto e Malpassado, na dificuldade Bem Passado não temos algumas batalhas extras ao fim.

Caso o jogador deseje jogar uma fase com determinado personagem, é possível alternar entre eles no meio das fases, caso sejamos derrotados, no momento do checkpoint ao voltarmos ao jogo podemos trocar de personagens. O título conta com apenas seis estágios mais os confrontos de chefes. É uma aventura curtinha mesmo.

Após concluir o jogo pela primeira vez, mais 2 modos ficam disponíveis, o Modo Fliperama, onde teremos que jogar todo o jogo em uma sentada somente de uma vez, com opção de 3 níveis de dificuldade e uma busca pela maior pontuação geral, e o Modo Velocidade, onde as cutscenes são removidas para jogarmos tudo de forma mais rápida (sem paradas para os diálogos) e já começamos com todas as dino habilidades destravadas desde o começo.

Para os colecionadores de troféus/conquistas temos várias relacionadas aos níveis de dificuldade e a fazer ações específicas, como terminar uma fase sem sofrer dano, sem ficar parado em nenhum momento e derrotar chefes com armas específicas.

Considerações finais

Gostei do tempo que Spidersaurs me proporcionou de jogo, mas obviamente se durasse um pouco mais seria melhor, ou então se apresentasse algum motivo realmente interessante para se jogar todo o jogo novamente. É uma experiência rápida que deixa aquela pontinha de sensação de potencial pouco explorado. Entendendo a sua origem, vindo de um desenvolvimento mobile, dá para compreender em partes, contudo, a versão de consoles poderia ter recebido um upgrade de conteúdo, até porque chegou alguns anos depois do lançamento original.

E potencial de fato há em sua proposta. A jogabilidade, altamente inspirada em Contra, ainda funciona muito bem em jogos menores, com esse aspecto mais indie. Destravar novas habilidades permite que o gameplay evolua ao longo da jogabilidade. A dificuldade Ao Ponto (“normal”) é bem desafiadora na fase de lava, tanto que pode ser necessário um pouco mais de treino para passar sem sofrer desilusões. E ter esse tipo de desafio importa dentro deste gênero.

Spidersaurs entrega uma aventura que roda muito bem nos consoles, sem apresentar engasgos, travamentos ou queda na taxa de quadros. Sua direção de arte entrega muito o DNA característico da WayForward, que garante uma boa diversão em seus títulos. E o final deixa uma pontinha para que o jogo possa vir a explorar uma sequência, e aí quem sabe expandir mais o escopo de toda sua proposta. Seria interessante.

Galeria

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Dando nota

Direção de arte agradável, com gráficos desenhados à mão - 8.5
Batalhas de chefe chamam a atenção, são divertidas e desafiadoras - 8.5
Como todo gênero run and gun (correr e atirar), morrer e recomeçar faz parte da experiência - 7
Aventura curtinha, podendo ser encerrada em pouco mais de 2 horas - 6
Modo fliperama e modo velocidade não acrescentam muito ao fato replay ao não trazerem novidades - 6
Mesmo pequeninho, título chega totalmente localizado em português, o que dá acessibilidade a todos - 8.5
Trilha sonora cativante, daquela que gruda na cabeça do jogador - 8

7.5

Bom

Spidersaurs é uma boa surpresa que surgiu originalmente como um título pensado para mobile, mas conseguiu expandiu suas vertentes aos consoles. Tem o carisma e charme da WayForward, com gráficos desenhados à mão e um cativante trilha sonora. Jogabilidade altamente inspirada em Contra ainda funciona e diverte, mas sua experiência curtinha compromete um pouco a longevidade do título. Com uma construção de mundo criativo, e uma aventura que cresce enquanto se avança pela jornada, mas que acaba rapidamente.

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