Análise | Symphonia
Disponível para PlayStation, Xbox, Nintendo Switch & PC

Symphonia surgiu como um projeto estudantil em 2020, foi desenvolvido pela Sunny Peak e publicado pela Headup Games. Chegou ao Nintendo Switch em janeiro deste ano, contando com várias opções de idiomas, incluindo o nosso amado português, o que ajuda muito e nos mostra que jogos indie sempre acabam enxergando o Brasil – ao contrário de outras grandes desenvolvedoras que as vezes ainda esquecem que não falamos inglês por aqui.
Importante reforçar que também existem versões de Symphonia para Xbox Series X|S, PlayStation 4 e PlayStation 5. Estas inclusive foram lançadas no final de 2024. A versão do Nintendo Switch demorou um pouco mais, e foi essa que recebemos para esta análise.
A música clássica é a temática do jogo como um todo, e isso de forma alguma é monótono ou cansativo. Como já deu para perceber, teremos a trilha sonora em seu gênero Clássica sendo apresentadas na aventura. De início mais precisamente, teremos músicas tocadas com um violino, pois é este o instrumento utilizado por Philemon, o nosso protagonista, para obviamente tocar, mas também para se locomover e se safar de mortes certeiras no mundo ao qual ele está.
Mas não pense que Philemon é o único músico por essas bandas, como dá para perceber durante a exploração, temos mais distritos nesse mundo/cidade e os outros distritos são baseados nos músicos e nos instrumentos que eles tocavam. Aqui a trilha sonora é usada para contar a história e fornecer percepções sobre os personagens. Uma missão bem-sucedida, pois a música transmite tudo perfeitamente, e também é bem bonita.
A música acabou?
Um mundo sem música não é exatamente atraente e convidativo a uma visita. Symphonia nos mostra exatamente o que acontece quando não há música alguma e o silêncio impera de forma soberana. Esse silêncio se instalou quando os quatro fundadores (músicos) e a orquestra desapareceram de repente e misteriosamente. Isso criou um ensurdecedor silêncio e o mundo de Symphonia se calou.
Grande parte dos moradores, que agora lembram apenas figuras de madeira, estão basicamente dormindo no sono eterno, já que não existe mais barulho algum para motivá-los e acordá-los. O famoso teatro onde grandes concertos ocorriam está semi destruído, e a estufa, que antes tinha muitas flores, acabou sendo dominada por ervas daninhas e espinhos afiados que são mortalmente perigosos.
Porém, um garçom encontra uma máscara velha e misteriosa e, ao trazê-la de volta até o teatro, acaba despertando o protagonista da aventura, o violinista Philemon. Ele está sem lembrar de muita coisa, mas conforme vai tocando sua música, essas memórias desaparecidas vão retornando pouco a pouco.
A missão de Philemon e, portanto, do jogador, é encarar esse mundo silencioso e encontrar os outros três músicos para fornecer som e música à Symphonia novamente. Enquanto isso, você pode tentar descobrir o que Philemon passou e como acabou se esquecendo de tudo. Além de guiar o protagonista, o jogador ainda terá que encontrar as memórias em salas secretas. Além de informações, essas memórias também proporcionam novas habilidades, como o salto duplo, só para citar um exemplo.
A trilha sonora de Symphonia foi composta por Olivier Esman e é tocada pela Scoring Orchestra Paris, se inspirando no período romântico. Cada área nos transmite claramente o drama associado à música daquela época, e cada uma delas é sonoramente interessante.
Plataforma diferente
Symphonia é um jogo de plataforma, mas ao contrário do que estamos acostumados com os jogos do gênero, aqui não temos nenhum tipo de combate, e nosso objetivo não é derrotar um grande imperador maligno ou um monstro que ameaça destruir o universo todo. Aqui nosso único objetivo é trazer o mundo de volta à vida através da música. Isso nos mostra que não é necessário combate ou lutas sem fim para criar um bom jogo de plataforma.
A jogabilidade não consiste apenas nos elementos típicos de um jogo de plataforma, muitos dos movimentos são restritos ou difíceis de serem realizados, e você dificilmente vai conseguir encontrar de cara a saída óbvia para a área onde está. Geralmente basta procurar por um símbolo de nota musical e ao tocar seu violino alguma coisa vai se alterar, portas vão se abrir, vigas vão começar a se mover, etc. E assim um novo caminho vai se formar.
Uma informação importante a qual o jogador deve prestar atenção é que poderá utilizar o arco do violino (a varinha que usamos para friccionar as cordas do violino e produzir o som) para se fixar e se impulsionar em algumas estruturas geralmente perigosas, como os espinhos, que já mencionei anteriormente.
Cair nesses obstáculos e morrer é algo que vai se tornar comum durante a exploração. Se você cair em algum lugar onde não deveria ter ido, Philemon desaparecerá e você verá uma tela preta por um mero segundo. Então rapidamente o músico aparecerá novamente em um ponto de salvamento próximo. Como o renascimento é feito de forma rápida e fluida, você não ficará entediado entre uma tentativa e outra, mesmo que isso acabe se repetindo por 10 ou 20 vezes. Devo admitir que tive que recomeçar a mesma área umas trinta vezes até conseguir acertar o ponto exato do pulo para dar prosseguimento a uma área.
Um desafio extra que o jogador pode se impor também é o de coletar todas as notas musicais que, obviamente, estão nos lugares mais difíceis de serem alcançados, e onde a margem para o erro no salto praticamente não existe. E se você coletar uma nota musical e morrer em seguida (sem ter alcançado o próximo ponto de save), a nota vai voltar e não vai contar para a sua coleção, sendo necessário pegar a mesma novamente. Não muito diferente, por exemplo, dos morangos de Celeste.
Basicamente a sua “arma” aqui será o violino de Philemon, como já citei, não temos inimigos aqui, nosso adversário é o mundo em si e para dominá-lo, teremos que ser “ninjas” na utilização deste violino. Usando o arco do violino, podemos nos lançar do chão, voando alto no ar. Esta é também a única maneira de se prender às almofadas, pontos de “descanso” entre as longas paredes e espinhos. Elas estão fixadas em várias paredes e permitem que você alcance locais mais altos e evite quedas certamente mortais.
À medida que avançamos na jornada, Philemon acaba aprendendo coisas novas e essas habilidades estão vinculadas aos locais onde forem ativadas. Por exemplo, no jardim, por causa das muitas rajadas de vento, poderemos ficar flutuando durante as ondas de vento, na fábrica, o fio de fiar será utilizado como trampolim. Cada área do jogo contém uma paisagem que se alinha a um instrumento musical, e a trilha sonora de cada nível por sua vez vai refletir o instrumento em questão.
Por muitas vezes haverá áreas que vão exigir múltiplos movimentos sincronizados, incluindo pular, em seguida balançar de um lugar para outro, fazer um pequeno rapel e até mesmo nos obrigar a cair em queda livre, tudo vai ter a sua hora certa, e sincronizar tudo isso é o que vai ser o verdadeiro desafio. Symphonia é um jogo de ação e resposta rápida nas acrobacias.
Basicamente os controles respondem satisfatoriamente bem, mas vão exigir algum tempo até a sua adaptação a eles. O resultado é um jogo de plataforma preciso, que deixa pouquíssima margem para erros. Tudo é uma questão de escolher o momento certo para realizar um pulo ou um movimento, enquanto está no meio no movimento anterior, e nem sempre acabamos conseguindo encontrar o tempo certo logo de cara, o que pode acabar frustrando quem não tem muito tempo para ficar experimentando, naquela máxima de tentativa e erro, o que admito ser o meu caso, não gosto de ficar trancado na mesma parte por muito tempo.
Cada nível transmite claramente o drama associado à música daquela época, e cada peça musical é sonoramente interessante. No entanto, embora eu tenha gostado do jogo no geral, adoraria ter visto pelo menos um nível em que a mecânica do jogo estivesse ritmicamente alinhada à trilha sonora.
Considerações finais
Symphonia é majoritariamente um jogo de plataforma musical, embora muitas de suas mecânicas e o esquema de ir e vir de uma mesma área lembrem os amados metroidvanias, que por sinal acreditei que seria um dos elementos que me atrairia ao game, mas que não se cumpriu em sua plenitude.
Isso porque ao contrário de outros jogos metroidvanias onde podemos passar de várias formas por uma mesma área, alterando nosso modo de jogo, armas, itens, equipamentos e etc, aqui as coisas são desenhadas para serem feitas de uma única forma. Uma forma precisamente desafiadora e que não compra ninguém para amigo. Acertou, vida que segue, errou… vai ficar errando até acertar e aí sim, vida que segue.
Por ser um título com toda essa temática musical, talvez seria interessante termos alguma arte rítmica inclusa, seja na resolução de algum enigma, ou algo assim, onde teríamos sequências músicas para tocamos apertando os botões, algo assim, como tínhamos nos antigos Guitar Hero. Já que a temática é musical, não custava nada né? Soa como uma oportunidade perdida.
Mesmo assim, não consigo dizer que Symphonia seja ruim por isso, de forma alguma, temos aqui uma obra com um áudio diferenciado e uma ambientação completamente em 2D muito caprichada e bonita também, com gráficos totalmente desenhados à mão.
É uma obra prima para um seleto grupo de jogadores que vão conseguir chegar até o final da jornada de Philemon, já que o jogo não se estende muito, o que poderia deixar as seções de desafios um pouco além do suportável.
O ponto é que trata de uma obra feita para um nicho específico de jogadores, que amam o desafio e a curva de repetição de acertos e erros que estes títulos normalmente tendem a oferecer. Envelopado dentro de uma envolvente tema música e visuais impressionantes, isso não dá para negar. Com controles responsivos, mas que exigem destreza e muita memória muscular. Se você é destes jogadores que apreciam estes elementos, certamente vai amar Symphonia.
Galeria
Dando nota
Dificuldade inicial pode acabar afastando jogadores sem muita perseverança - 7
Ambientação é muito bonita, graças a sua temática musical - 8.5
Pouco espaço para falhas acaba tornando algumas áreas complicadas além da conta - 6
Trilha sonora se casa perfeitamente com a ambientação - 8
Aventura em plataforma com boa engenhosidade, mas sem facilitar ao jogador - 7
Pode parecer um metroidvania, contudo não dá muito brecha para inventividade pela direção do jogador - 7
Interessante como seus elementos de aventura funcionem bem, mesmo não possuindo qualquer combate - 8.5
7.4
Bom
Symphonia proporciona boas horas de um jogo de plataforma e seu mundo deixa o jogador curioso em saber o porquê do silêncio que se impera. Sua dificuldade além da conta em algumas áreas vai acabar atrapalhando um pouco aquele jogador que não se empenhar de verdade. Mas aquele que perseverar será recompensado.