Análise Conclusão | Lost Records: Bloom & Rage (Tape 2)
Disponível para PlayStation, Xbox & PC

Lost Records: Bloom & Rage – Tape 2 conclui a história que se iniciou lá em fevereiro, quando a primeira parte foi lançada, entregando uma segunda parte com um certo sabor agridoce, que consegue criar um desfecho que conclui certo ponto da narrativa, mas que eventualmente não diz muito a que veio, e nem consegue criar o compromisso de entregar algo que merece o impacto que a nova IP talvez desejasse ser. E acaba com aquela sensação de que uma terceira parte deveria existir… só que não existe.
Para quem perdeu a primeira parte desta análise, recomendo sua leitura, pois não pretendo, desta vez, repetir alguns dados básicos, e nem fazer aquela fica técnica mais encorpada que normalmente faço em meus reviews. Isso porque esta segunda parte não é uma obra vendida à parte, e sim um conteúdo que já faz parte do título lançado em fevereiro, e que só foi liberado no último dia 15 de abril.
O propósito deste texto é justamente discutir, avaliar e concluir as pontas que não foram possíveis compreender quando a análise da primeira parte fora lançada. Sequer é necessário baixar qualquer conteúdo separado. Se você tem o jogo, ele automaticamente atualizou permitindo o acesso aos novos capítulos e desfecho narrativo.
Prático se pensar que é melhor do que um jogo episódico (vendido capítulo a capítulo), mas ainda penso ser incomum demais a decisão de segurar metade do jogo para 2 meses após seu lançamento. E ainda questiono se isso gerou o burburinho esperado, já que quase não houve muito barulho após a segunda parte ser lançada. O buzz do título foi muito maior quando a primeira parte saiu. O que não é exatamente um bom sinal.
Sem mais delongas, eis o que ainda há para ser mencionado sobre Lost Records: Bloom & Rage – Tape 2. E sem spoilers, por enquanto. Pode seguir sem medo quanto a isso.
Segunda fita, continuidade tranquila
A segunda parte tem início no dia seguinte aos eventos que encerram a primeira fita, quando o show noturno clandestino das quatro protagonistas é abruptamente encerrado diante de uma revelação preocupante acerta de uma das integrantes do grupo. Tal como na primeira fita, o jogador continuará acompanhando a história sob a perspectiva da personagem Swann Holloway, e somente ela será jogável aqui também.
A jornada da história também continua ocorrendo em duas linhas temporais, no presente, com as personagens adultas conversando num bar, se reencontrando após tantos anos, relembrando justamente esse verão de 1995, quando um evento triste evento falta encerrou a amizade entre elas, resultando nesse afastamento por décadas. Reencontro que só acontece porque um misterioso pacote surge convidando elas a se reunirem mais um vez.
Nesta segunda fita, o jogador continua, em grande parte, acompanhando os eventos do passado, e finalmente descobrindo o que de fato aconteceu no tal verão, assim como cada uma das quatro personagens principais, e as razões pela qual a amizade de todas foi tristemente interrompida. Há um sentimento de conclusão nessa direção.
Desfechos também vão ocorrer no presente, com as personagens adultas, mas isso dependerá de muitas das decisões que o jogador tomou ao longo das duas fitas, e que define um certo nível de afinidade de Swann com cada uma de suas três amigas. O fina dependerá muito destas escolhas, nem sempre muito claras ao longo da jornada.
Em termos de jogabilidade, a Tape 2 de Lost Records: Bloom & Rage não se renova em relação a Tape 1. Muitos cenários são reutilizados, como a cabana na floresta (área interna e externa), o quarto de Swann, a área de estacionamento do bar Blue Springe, o espaço da banda na garagem da Nora e, claro, o bar em que suas versões adultas seguem relembrando todo esse passado.
Não significa que novos espaços não serão apresentados. Nesta segunda parte finalmente o jogador vai conhecer os arredores de onde Kat mora, desde parte da fazenda, onde os cervos ficam a entrada da lojinha de sua família, assim como seu próprio quarto.
No presente, também visitamos a parte dos fundos do bar, que até então o jogador só havia visitado no passado, em certo momento da primeira fita. Alias, curioso que em nenhum momento do passado, é mostrado o interior do bar. Só o conhecemos no presente da trama. Ou seja, o jogador não conhece a versão mais jovem do Gus, o bartender.
No geral, são poucos ambientes novos. Contudo, como não é uma obra vendida em episódios, e sim uma continuação do que já foi adquirido, talvez faça sentido essa dinâmica dos ambiente, e não seja nada impactante para quem for jogar a obra de uma só vez a partir de agora. Essa sensação de reutilização só faz sentido para quem jogou a primeira parte meses atrás, e esperou a conclusão somente agora no mês de abril.
Em termos de jogabilidade, tudo também é mantido como na primeira fita. O sistema de respostas segue com um timer, e as vezes, se o jogador esperar o tempo quase acabar, pode surgir outra resposta, o que me agrada muito esse tipo de “fala inesperada“. Já as grandes decisões, a segunda fita me surpreendeu com um momento onde a narrativa pausa por completo, e pede para que você faça uma escolha. Admito que senti falta disso ao longo de toda a aventura, e no impacto que esse tipo de decisão de grande porte pode acontecer na narrativa.
Esse novo sistema de escolhas e respostas não me agrada totalmente. Porque nem sempre fica claro se estou tomando uma decisão grande ou apenas passando por uma árvore de diálogo com múltiplas possibilidades de conversa. O sistema mesmo dá dois indicações, um representado por um coração, que demonstra que meu relacionamento com algumas personagens está sendo moldado e um que parece uma raiz, dizendo que é uma decisão de maior impacto e que vai criar consequências futuras. Mas estes indicadores só ocorrem depois das minhas escolhas e nunca há como diferenciar uma decisão de afinidade e uma de consequência maior. Acho um pouco decepcionante isso.
Por isso a decisão em que tudo para e diz “é agora, você precisa tomar cuidado ao escolher o que deve fazer neste momento” dá justamente o frio de barriga que espero nesse tipo de aventura narrativa. Sinceramente, gostaria que o jogo tivesse mais momentos assim.
No demais elementos de estrutura de jogabilidade, ainda que seja um jogo narrativo, Lost Records: Bloom & Rage entrega alguns momentos em que o jogador pode explorar ambientes, coletando informações ou lendo documentos e informações adicionais do mundo do jogo, assim como ter conversas opcionais que não vão impactar a trama principal. Na primeira fita há muitos momento em que se corre atrás de colecionáveis por meio da filmadora da Swann, que é meio como um desafio legal para tomar tempo de jogo, fazer o jogador olhar por todo o canto, atrás dos itens colecionáveis que formam videoclipes criados pela personagem, como pássaros, brinquedos estranhos, pichações pela cidade etc.
Nesta segunda parte do jogo, no entanto, há um evento narrativo que fará com que Swann fique sem a sua câmera. Com isso, todo o segmento na externa da fazenda da família de Kat, ocorre sem a exploração de colecionáveis., o que tira uma parte da diversão de olhar em todos os cantos e cenários aos fundo com o zoom que a câmera oferece. Chato, mas narrativamente, a câmera ganha um função importante a trama nos atos finais do jogo, então dá para dizer que esse elementos interrompido da jogabilidade se torna um “mal necessário” para o funcionamento do ato final.
E ainda pensando na jogabilidade, a Tape 2 me pegou um pouco de surpresa em um segmento que brincou com elementos de furtividade, onde o jogador precisa passar por um ambiente sem ser detectado por certo personagem. Foi diferente e divertido, ainda que o jogo não deixe muito claro se existe um real senso de urgência ou se poderia ter explorado melhor algumas possibilidades da situação. Fica algo meio “automático”, de precisar agir e escolher o meio mais óbvio e seguro para não interromper a narrativa. Mas, independente dessa observação, foi um pontual momento criativo da experiência da segunda fita.
Com tudo isso em mente, fico com a impressão de que a segunda parte de Lost Records: Bloom & Rage não é exatamente uma evolução da primeira parte, mas uma continuidade segura, e até mesmo sem muitas surpresas nos elementos da jogabilidade. É só realmente o resto de um conteúdo que previamente foi lançado apenas pela metade. O ápice desta segunda parte, certamente é o desfecho histórico, não a jogabilidade em si, que permanece estruturalmente igualmente como na primeira parte, com pequenas particularidades, como as apontadas nos parágrafos acima.
Considerações finais
Definitivamente dá para dizer que Lost Records: Bloom & Rage – Tape 2 não é uma obra que precisa ser avaliada de forma individual, como um evento isolado. O episódio é mais uma continuação de tudo que foi sendo construído na narrativa do primeiro episódio, entregando uma jogabilidade semelhante, que não escala ou evolui em sua essência.
E não estou dizendo que isso é ruim. Acho que a grande questão aqui foi realmente ter esperado meses para algo que não tem tamanho valor de impacto para a expectativa criada. Não é como se a narrativa tivesse também saltado dois meses e continuado a partir desse conceito. Se isso tivesse ocorrido, por sinal, teria sido muito genial o formato do lançamento. Mas não é o caso.
Não só isso, mas o segundo episódio parte para algumas discussões que não são tão aprofundadas quanto gostaria que fossem, indo para temas pesados, como relação abusiva, doenças terminais e até mesmo morte. Tudo isso é apenas arranhado dentro de uma narrativa pequena, de algumas horas de campanha (talvez 5 ou 6 horas). E se acumulam com tantos outros temas, desde as inseguranças de Swann, quanto ao ataque de pânico da Autumn.
Gosto que a história tenha tantos fatores humanizando seus personagens, com pautas atuais e importantes de discussão, contudo, novamente, dois episódios soa pouco para trabalhar tantos temas. O resultado dá uma efeito de pauta rasa, feita para que as pessoas se identifiquem, mas não necessariamente abram um debate a respeito do tema. O que é uma pena.
Quanto a trama do presente, com as personagens adultas, lembrando o passado, fico com a impressão de que o trauma não trabalhado ao longo dos anos desde o verão de 1995 moldou parte de suas personalidades, criou o distanciamento que faz sentido a trama, contudo, toda essa coisa de “não vou ficar, abre você sozinha a caixa” soa de uma imaturidade um tanto sem sentido para pessoas adultas. Não sei, e entendo que adultos podem ser imaturos e irracionais as vezes. Porém, não fiquei realmente convencido.
Sei que esse ponto da história foi criado para ser uma consequência de como o jogador responde as personagens, no passado e presente, para que Swann meio que se reconecte a elas, e assim todas resolvam, juntas, abrirem a tal caixa misteriosa. Mas ainda assim, é uma construção de relação muito estranha, até porque em toda a campanha, ser gentil ou íntimo demais com algumas personagens, me passa a impressão de que Swann está “dando” em cima delas.
E de fato, nas estatísticas após o fim do jogo, é mostrado que dá para criar essa relação de “primeira paixão” e até mesmo beijar qualquer uma das três amigas. O que me soa meio sem propósito enquanto o tema principal da história criada é sobre laços de uma amizade marcante. Mas sei lá, talvez esteja vendo pelo lado errado e esteja sendo “velho e ultrapassado“. Jovens tem isso, de misturar amizade com paixãozinha, sei disso.
Por fim, também não me agrada o elemento sobrenatural da obra. O estúdio mudou um foco aqui para com seus jogos anteriores. Não é mais sobre pessoas com poderes especiais, mas fenômenos estranhos e sobrenaturais que vão influenciar as pessoas. Uma mudança sutil, porém interessante. O ponto é que nada sobre o evento do abismo é explicado. Não sobre os corvos com olhos roxos, observando tudo, os vultos que aparece em micro segundos ao longo da trama (alguns até me deram sustos) ou sobre a fenda misteriosa. Ela tem uma importância no final, mas nada sobre ela fica explicado. Nem sequer uma pista.
O que me leva a entender que o jogador está presenciando aqui é o prelúdio de algo que precisa se expandir em mais jogos. Mas que ainda não sabemos se este primeiro jogo será o sucesso esperado para que sequências e novas histórias nesse universo sejam criados. Espero que sim, resta aguardar.
Papo com Spoilers
Adicionando um pouco mais de papo nesta análise, agora com spoilers sobre o desfecho, então se você não deseja saber como Lost Records: Bloom & Rage termina, pare por aqui. O alerto foi dado.
A respeito das minhas decisões, acabei conseguindo o final em que Swann fica sozinha no bar, restando somente a ela abrir a caixa deixada pela Kat. Não consegui convencer a Nora e nem Autumn a ficar, e parte disso talvez seja pelo fato de que descrevi nas conclusões finais. Muitos momentos do jogo, em que Swann precisava ser mais empática com as duas, acabei escolhendo diálogos mais neutros, sem dar a entender que Swann poderia estar interessada ou dando em cima delas. No fim, nenhuma delas ficou ao lado da Swann no final, o que não acho que seja um final errado, e na verdade, é mais realista e duro, como a vida adulta normalmente é.
A minha crítica sobre ambas irem embora ainda é válida. Porque assim, se elas tiveram todo o trabalho de viajarem até a cidade, que fossem até o fim. Achei meio galhofa essa coisa de “vim até aqui, e agora, na hora decisiva, vou dar pra trás e ir embora“. Mas enfim, a vida tem destas e pessoas são decepcionantes mesmo. Dá para questionar se elas seriam mesmo amigas para todo sempre se tudo que ocorre com a Kat não tivesse acontecido. Ao fim, Swann ficou novamente sozinha em relação ao seu passado, enquanto seu presente também tenha uma certa solidão por sua desconexão com as pessoas.
Sobre o final, já imaginei desde o término do primeiro episódio de que provavelmente a trama não seria tão aberta a ponto de permitir que, de alguma forma, o jogador pudesse salvar Kat. Independente do final, ela sempre irá cair dentro do abismo. E Kat é uma das personagens mais interessantes da trama, porque tem tantas camadas ali, tantos conflitos e problemas em sua vida. É a personagem melhor desenvolvida em Lost Records: Bloom & Rage. E no fim, minhas decisões levaram Corey a puxar Kat para o abismo.
A sensação, com o término da Swann na floresta, ouvido o chamado da Kat, é um final muito agridoce. Porque quando o jogo parece que terá um desfecho melancólico e adulto, com saudosismo sobre a perda e o que nunca foi, acaba sendo interrompido por um gancho do tipo “espera, a história ainda não acabou“. E assim, o que deveria ser uma conclusão, não é mais! Isso me frustrou um pouco, especialmente por saber que não existe, neste momento, expectativas de uma Fita 3.
E com isso fica claro que a história da Swann ainda não terminou, descobrimos que nem a de Kat, além disso, o fenômeno sobrenatural sequer foi explicado. Ou seja, Lost Records: Bloom & Rage ensaia um desfecho, mas na verdade é só o começo de algo maior. Não sei se isso me agrada.
Quando olho para, por exemplo, o primeiro trabalho do estúdio com Life is Strange, fica claro que tudo ali culmina em um desfecho. Salvo ela ou salvo todo mundo? É denso, é filosófico, é impactante. Qual o impacto de Lost Records: Bloom & Rage? Sinceramente, não sei. Falta algo aqui.
E acredito que essa sensação existe porque os desenvolvedores criaram uma narrativa propositalmente incompleta, planejada para um universo maior, para algo que precisa ser contada em novos jogos. Isso nem sempre funciona bem. Temos um começo aqui, mas é só isso. Será o suficiente para os jogadores? Essa é a pergunta valendo um milhão de dólares.
Galeria
Dando nota
Desfecho chega a uma conclusão, mas nem todos os temas são bem explorados - 7.8
Jogabilidade ensaia algumas coisas novas, mas no geral segue idêntica a primeira parte - 7.2
Espera de meses para a segunda parte não soa justificado dentro da experiência entregue - 6.5
Fenômeno do abismo é empurrado na trama sem qualquer sentido e segue sem explicação - 6
Respostas não explicadas e gancho para potencial sequência impede final fechado e seu impacto - 6.5
Escolhas na árvore de diálogos se provaram complicadas de diferenciar paquera de verdadeira amizade - 6.5
Drama de Kat é envolvente e abre um discussão sobre perda maior do que solidão da Fita 1 - 8.8
7
Bom
Lost Records: Bloom & Rage - Tape 2 traz uma sensação de desfecho ao que a primeira parte desenvolve, contudo, são tantas pautas e temas adultos, que nem tudo é desenvolvido na proporção que merecia. O mistério da caixa, o destino das personagens é revelado, mas a sensação de um final melancólico e agridoce só funciona até certo momento, especialmente porque o sobrenatural, que surge do nada, não tem o necessário para fazer sentido dentro de um conto de ficção. E dúvidas que o final levantam, não possuem respostas aqui, o que faz com que o jogo soe apenas como um pedaço de algo maior, porém ainda não anunciado. Quanto a jogabilidade, ela se traduz de forma parecia em relação a primeira fita, mas são poucas locações novas e momentos marcantes, não entrega nenhum impacto que evolua a experiência.