Crise (2) | Quando 200 reais vale mais do que um game?

Postei este texto ontem na página do Portallos no Facebook, inicialmente ia ser algo rápido e curto, mas acabei me empolgando. Então percebi que seria válido trazer para cá também, ainda mais depois da notícia do aumento dos consoles da Microsoft no Brasil, refletindo mais um pouco da crise na qual o mercado de games e o país em geral está vivenciando. Segue então o texto por aqui, com alguns adendos e correções.

Uma reflexão. Se é válida ou não, deixo para que você decida.

Você percebe que o mercado de games no Brasil está incrivelmente zoado quando com 160 reais (parcelado em 3x) você compra essa pilha de livros para seu filho de 3 anos e sabe que com esse mesmo valor, não consegue comprar nenhum lançamento desse semestre seja para Xbox One ou PlayStation 4.

Você pode medir o entretenimento destes livros para seu filho de 3 anos, que está aprendendo a ver o mundo, a fervilhar sua imaginação e criatividade, contra suas horas jogando um novo game? Não sei, e nem acho que você deva ir para esse lado. São pesos e medidas diferentes? Certamente, mas ambos são adquiridos da mesma forma… com dinheiro de gente grande! Nosso suado dinheiro, de horas de trabalho diários, semanais, mensais e anuais – de uma vida – caso você trabalhe (o que o faz valer muito mais quando o obtém dessa forma). Até mesmo se você ainda é muito novo e ganhe mesada ou sei lá, alguém com certeza ralou por esse dinheiro pela qual você está ganhando e saiba, um dia você irá ralar em maior ou menor quantidade para tê-lo por conta própria.

Custos e produção de um game são maiores que um livro infantil? Claro! Mas não estou dizendo que um game deve custar o mesmo que um livro infantil, ou nem que os públicos são idênticos, mas não se separa consumidores apenas por seus nichos. Estou dizendo que eu tinha (bem… não tinha, usei o cartão de crédito e foda-se) 160 reais e ao invés de comprar um novo game, resolvi renovar a pequena bibliotequinha do meu filho de 3 anos. E ele vibrou da mesma maneira que eu vibraria se tivesse pego um novo game para o videogame.

A gente vive um modelo de mercado muito escroto no Brasil. Eu posso comprar um filme em blu-ray por 40 reais, posso comprar um gibi por 8 reais ou um mangá por 12 reais, posso ir ao cinema pagando mais ou menos 15 reais, mas um simples game, independente se ele tem uma campanha de 6 ou 180 horas ele vai me custar por aqui 200 reais ou mais no lançamento. Cadê a equiparação racional nos custos desse tipo específico de entretenimento em detrimento dos demais? O Brasil vive um caso raro onde a balança do mercado de games é totalmente desnivelada em relação aos demais mercados mundiais.

É revoltante e um absurdo como os adultos hoje, que cresceram com videogames nos anos 80 e 90 ainda não estão no poder e no legislativo desse país. Ou se estão, não percebem como as leis para esse tipo de produto e entretenimento atualmente não faz o menor sentido. E essa é uma conversa que a comunidade de jogadores já a debate há mais de uma ou duas décadas! Por que ainda não mudou? Será que a melhora do mercado nestes últimos anos foi apenas pura sorte da cotação do dólar mais brando e pela ajuda de empresas como Microsoft e Sony investirem um pouco mais aqui? Tire uma destas pilastras e tudo rui novamente.

E é curioso que esse é um ponto que escrevi aqui no site não tem muito tempo, de que talvez teremos que aguardar mais 10 anos ou mais até que mais membros da geração gamer esteja efetivamente no poder desse país para conseguir mudar a forma como nossas leis e procedimentos tratam desse mercado.

Para terminar: pense o que dá para fazer com 200 reais que você está gastando para ter um novo game para seu console. É muito triste isso… “PENSAR”… se a gente pensar muito, não compra. Essa é a verdade.

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4 Comentários

  1. Muito interessante a sua reflexão. Não sigo a sua página a muito tempo então não sei se você joga exclusivamente pelo console, mas a reflexão que deveria ser feita tambem é sobre o mercado digital. É um absurdo que o preço de um jogo digital seja o mesmo (ou as vezes até mais caro) que aquele retail comprado numa loja. Eu mesmo acho que a cópia física é até mais bonita para se colocar na prateleira, mas nada bate você ligar o console ir até a pasta de jogos e os jogos iniciarem muito mais rapidamente por já estarem instalados.

    Bom, voltando aos preços… eu tenho um Xbox 360, acho lindo o Xbox One e as funções dele, mas cada vez que procuro um game pro console me arrependo de o ter comprado e meu sonho de ter um XOne apaga a luzinha. Cerca de 99% dos jogos que possuo são pelo Steam e não apenas com as promoções, mas é chocante ver a diferença de preços praticados até as vezes por uma mesma franquia.

    Vi o Metal Gear Reveangeance em lojas pelo Brasil sendo vendido na “promoção” por R$59,90. E por 10 reais a menos você tem ele no preço total pelo Steam (sendo que comprei ele na promoção por menos de 10 reais). Porém pela Xbox Live o mesmo jogo está por R$ 69,90.

    Com esta crise então, quero ver se meu Xbox vai ter novamente um jogo novo que não seja do Games with Gold, que foi a melhor coisa que fiz, assinar o Gold por um ano (e por sorte pois estava numa promoção com preço bem baixo).

    Abraço e boa sorte com teu site!

    1. Jorge, a última parte sobre esse papo de tempos de crise e preços de games está justamente sendo publicada nesse momento. Fica o convite a leitura 😉

      http://www.portallos.com.br/2015/10/03/crise-ea-access-e-o-1o-passo-do-futuro-sem-comprar-games/

      A respeito da plataforma PC, eu entendo que ela tem uma vantagem grande em relação aos consoles justamente porque nela as leis tributárias são totalmente diferentes e mais flexíveis. Se os games dos consoles fossem equiparados aos games do PC talvez a nossa história fosse outra.

      Entretanto eu não acredito que a indústria dos games por si só sobreviva apenas com títulos na plataforma. O mercado morre sem os consoles de mesa, mas essa é só a minha visão.

      Porém nem mesmo os games de PC estão em uma situação livre da crise. Tirando as promoções, há lançamentos e games no Steam que tiveram seu preço aumentando em 2015 por conta da crise, sem mencionar que aos que compram na Steam em dólar, também não estão felizes com o dólar a 4 reais.

      Bem, é isso! Agradeço seu comentário e quem sabe posso te ver mais vezes agora acompanhando o site de forma mais regular. Abração! 😀

  2. Legal o texto. E exatamente da forma que me sinto atualmente. Aliás, até para quem joga no PC, que antes pagava bem mais barato num jogo em relação à versões de console, não está dando. E a tendência é piorar, não vejo alguma melhora no horizonte. Por enquanto, vou ter que me contentar com meu backlog de jogos do Steam (e alguns de PS3) que estão na fila. Muita coisa boa sendo lançada, mas pra quem tem família / filhos, fica difícil pagar 200,00 num MGS V…

    A propósito, minha filha faz 3 anos esse mês. Me indica aí um ou outro livro, pois estou começando a introduzir a leitura à ela…

  3. É simples, quem entra pra politica ta mais é pensando em como enriquecer, desviar verbas, adulterar notas de reembolso, etc… então games vai estar bem no final da fila ou nem vai estar, só se alguém “pensar” que vai lucrar muito com isso… e como isso não acontece, continua tudo como está…

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