Headlander | Cabeça voadora e robôs hippies! (Impressões)

Headlander é um título lançado ano passado, chegou primeiro para PC e PlayStation 4 e alguns meses depois no Xbox One. Desenvolvido pela Double Fine Productions e distribuído pelo selo da Adult Swim Games. Recebeu uma justa atenção quando lançado graças a sua excelente ambientação e aquele charme inigualável que só pode encontrado em títulos da Double Fine.

O game segue um estilo metroidvania, apresentando uma jogabilidade 2D (side scrolling) na qual o jogador precisa ir e vir por algumas áreas, descobrindo novos meios de abrir novos caminhos – nesse caso portas de cores distintas – para que a aventura siga adiante. O combate se dá por meio de batalhas com armas à laser, ainda que exista alguns elementos de combates de curta distância, usando socos e investidas, entre algumas outras técnicas que não são tão utilizadas, mas que estão ali como opção. No geral, o jogador irá se encontrar 99% do tempo atirando nos inimigos.

Mas o maior mérito mesmo de Headlander é sua direção de arte. O game se passa em um futuro distópico, em algum lugar do espaço, na qual o jogador acorda descobrindo que é uma simples cabeça voadora, sem um corpo e sem cordas vocais – o que lhe impede de falar. Esse futuro de muitos elementos de ficção científica segue uma temática estilosa, brincando com aquela atmosfera da contracultura e do movimento hippie dos anos 60/70, com robôs trajando roupas da época, com diálogos característicos da cultura paz e amor, só que nos panos de fundo há alguma entidade controlando e alienando (ainda mais) essa sociedade robótica. Simplesmente genial.

Na história o jogador é o último ser humano vivo (aparentemente). Uma voz robótica te acorda de uma espécie de hiper sono e lhe incumbe de descobrir a localização do resto da humanidade, se é que sequer estão vivos em algum lugar. Todo o mundo do game, nesse caso estações espaciais e cidades lunares, é povoada por robôs (boa parte deles meio hippies, sem qualquer noção de qualquer coisa). Essa voz lhe pede para descobrir mais, talvez algo ou alguém esteja por trás desse mundo e saiba do destino da raça humana. Cabe ao jogador descobrir e quem sabe ter seu corpo de volta.

A trama até parece interessante contando dessa forma, mas já alerto para não se empolgar demais, porque ao fim, não é um enredo fantástico e algumas premissas e respostas ficam meio que no ar, sem respostas claras quando o game terminar. Talvez a Double Fine pense ou pensou em uma sequência, o que realmente seria sensacional, porém o game termina sem que alguns pontos importantes acabem sendo esclarecidos. Não que a trama não funcione, ela até funciona, apenas não é fechadinha, conclusiva em si.

Headlander vai um pouco na contramão do estilo de direção de arte de muitos indie games da atualidade, que se inspiram em jogos como Limbo para criar jogos 2D cheio de sombras e sem muitos detalhes, seguindo a tendência de gráficos mais minimalistas. E Headlander faz justamente o contrário, explodindo a tela de vívidas cores ao longo de toda a aventura.

Indo além dos gráficos, Headlander se destaca também por outros bons elementos, dentro eles a jogabilidade. Sendo o protagonista uma cabeça humana voadora e os inimigos robôs, isso significa que é dado ao jogador a habilidade de voar por cima dos inimigos e ativar uma espécie de aspirador que despluga a cabeça dos robôs de seus corpos, deixando o corpo exposto para que o jogador plugue sua cabeça e passe a controlar o corpo de um inimigo que teve sua cabeça decepada. Irado, não?

Como uma cabeça voadora não há muito o que fazer inicialmente a não ser voar por pequenas entradas e aspirar a cabeça de inimigos e certos objetos. Já em um corpo, é dado a habilidade (dependendo do corpo) de atirar raios lasers, além de que só um robô pode abrir as portas eletrônicas (que falam e reclamam em diálogos que se assemelham muito àqueles encontrados nas portas de O Guia do Mochileiro das Galáxias). Corpos podem ser destruídos à vontade, mas tomar dano demais apenas como uma cabeça voadora irá levar a morte do jogador.

Um detalhe: não há pulos em Headlander. Você pode voar com a sua cabeça por plataformas, mas robôs não possuem a habilidade de pular. Você pode pensar que isso não é um problema, mas as vezes é justamente esse o desafio de certas áreas. Encontrar meios de acessar algumas pontos levando um corpo robótico consigo, pois apenas voar com a sua cabeça até uma porta não permite abri-las.

Existem assim alguns elementos de puzzle em Headlander. Seguindo a temática de super cores, existem ao longo do game um sistema de segurança baseado na hierarquia de cores. Vermelho, Laranja, Amarelo, Verde, Azul e Violeta. Violeta abre as portas de todas as cores mencionadas antes dela, enquanto vermelho abre apenas portas vermelhas. O que define a cor do jogador para abrir uma porta é a cor do corpo do robô que você estiver “vestindo”. Claro que não espere encontrar um robô violeta, que abre qualquer porta, antes do último ato do game.

A progressão de cores entrega um pouco o quão próximo do final do game você estará, sendo que Headlander não é um game muito longo. Dá para finalizá-lo em torno de cinco ou seis horas, coletando quase que 100% de tudo. Para um indie game, não chega a ser um ponto negativo, ainda que particularmente tenha ficado com vontade de que existisse algum modo extra após sua conclusão, e não há exatamente nada nesse sentido (apenas a possibilidade de continuar navegando por todas as áreas já destravadas).

No geral Headlander é um ótimo game, que tem como pontos positivos sua direção de arte e mecânicas de jogabilidades que estimulam o jogador a continuar adiante de sua aventura. O game possui um bom repertório de robôs (inimigos) para terem o corpo roubado e testado. Há também um sistema de colecionáveis que aumentam e aprimoram as habilidades do jogador, tornando-o mais forte, resistente e dando maior tempo para uso de recursos de habilidades de combate. Existem também habilidades únicas que devem obrigatoriamente serem encontradas para que o jogo consiga avançar, algo bem parecido com games da série Metroid, por exemplo.

Os combates e ritmo do game também merecem elogios. Não é um game que pune o jogador com combates duros e agressivos, como um Clastlevania, na qual o jogador corre o risco de ficar sem barra de saúde e morrendo a todo instante. Pelo contrário, as barras, tanto de vitalidade quanto de energia para usar habilidades, se auto regeneram automaticamente, basta ficar parado sem tomar dano ou não usar alguma skill por alguns segundos. O que torna divertido avançar por áreas com múltiplos robôs e raios lasers por toda a parte, ricocheteando as paredes em momentos na qual as vezes nem mesmo o jogador saber quais são tiros inimigos ou projeteis disparados por si próprio.

A diversão de Headlander se dá pelo bom humor da Double Fine, na busca por expandir suas habilidades e de sair trocando de corpos por novos e diferentes robôs. Ao explorar um ambiente que pede justamente por esse tipo de interação.

Na contrapartida, em termos de limitações, Headlander peca justamente por não trazer um labirinto digno de games do gênero Metroidvania. A começar porque o game não é totalmente ligado, dividindo a história em atos, áreas menores na qual o jogador precisa resolver alguma coisa e depois de vencida é hora de ir para outra área. Um pouco simples e linear demais a meu ver.

É chato que após vencido uma área, não exista reais incentivos para voltar para ela. O game não segura salas escondidas para se voltar após ter conseguido alguma nova habilidade. O vai e vem desse tipo de game até existe, mas também é bem menos frequente do que se pode imaginar. Não que Headlander seja totalmente linear, mas o caminho a se percorrer nunca é confuso. O jogador sempre sabe exatamente para onde ir, o que não o faz perder tempo e nem mesmo o instiga a descobrir segredos (pois eles estão quase sempre expostos, fácil de serem encontrados). É um revés que tira um pouco do caráter de um metroidvania mais memorável e desafiador, mas que, por outro lado, concede ritmo e impede a frustração do jogador.

Um último registro que se vale mencionar são os momentos únicos e peculiares do game, como um ambiente que simula uma partida de xadrez, que por sinal leva o jogador a um dos dois momentos que existem no game com batalhas contra chefões. Após esse, somente o chefão final, que é uma boa batalha (porém não é tão difícil) acaba rolando. Gosto também do ambiente com os poços de elevadores, pois foi a área que me trouxe maior desafio e que dá trabalho ao jogador encontrar todas as três travas do poço.

Ao fim, terminei Headlander satisfeito com o game. Acho que o lembrarei dele mais por sua ambientação do que história ou jogabilidade, mas isso não tira o brilho e a diversão desse jeito singular e original que a Double Fine possui em suas produções. Quem é fã do estúdio certamente já deu uma olhada em Headlander, porém caso ainda não tenha feito, tenha certeza que vale a pena!

Extras de HeadlanderMinipost 1 e Minipost 2!

Galeria de imagens

Excelente ambientação e atmosfera
Charme e humor característico da Double Fine
Como metroidvania, é mais simplista do que o esperado
Ótima mecânica e jogablidade, boas habilidades
Trama é interessante, talvez falte algo ao final do game
Não tem legendas em português (sem localização)

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