Brawlout | Mande todos para fora da arena! (Impressões)

Sem fazer muitos rodeios, é fácil dizer que Brawlout é um game de luta que segue muito a escola criada em Super Smash Bros da Nintendo. Entretanto, seria um erro achar de que trata-se de um mero clone. Brawlout está longe disso, pois tem méritos e ideias próprias, ainda que esbarre nas limitações que rodeiam a cadeia de desenvolvimento da esfera dos jogos independentes.

O jogo foi anunciado em 2016 e ficou por um tempo em beta fechado, até ser lançado em abril de 2017 em acesso antecipado no Steam. Em dezembro do mesmo ano, aproveitando a boa fase do Switch (e a ausência do próprio Smash Bros na plataforma), logo tratou de chegar ao console da Nintendo, recebendo as atualizações e updates que viriam a complementar a versão final do game. E assim, em agosto deste ano, o jogo finalmente foi lançado em sua versão final, no Steam e no Switch, além de também alcançar novas plataformas: o Xbox One e o PlayStation 4.

Também é bacana apontar que o game é uma produção da Angry Mob Games, um pequeno estúdio localizado na Romênia. Não é a primeira produção do estúdio, que conta com outros jogos em seu catálogo, entretanto é o primeiro a ser lançado nos consoles domésticos da atual geração. Então meio que é uma das maiores apostas do estúdio. E uma aposta certeira, pois o game é realmente bom.

Não saia da arena!

Brawlout é, então, o típico game de luta em que o objetivo é arremessar os jogadores o mais longe possível da arena a ponto deles não conseguirem retornar para a mesma. Para basta descer a porrada nos adversário e ver seu medidor de percentual de dano no canto inferior da tela aumentar. Quanto mais dano o personagem tiver sofrido, maior o percentual e mais distante ele vai voar da arena quando tomar um forte golpe.

É a regra de Super Smash Bros, basicamente. Porém Brawlout tem alguns diferenciais interessantes. Aqui não há itens ou invocações; os famosos itens de trapaça. O jogo visa realmente as disputas prezando as habilidades dos jogadores com golpes normais e especiais, quebrando a defesa, encontrando meios de contra atacar e segurar o jogador fora da arena a ponto do mesmo não conseguir retornar tão facilmente assim.

E sair fora da arena não é exatamente um momento desesperador. Brawlout dá muita mamata para que todos consigam retornar, contanto que o golpe não os tirem completamente da tela (o que dá um nocaute automático). Há dois pulos, um rolamento no ar e ainda um golpe especial para cima. Basicamente quatro movimentos para permanecer no ar e assim tentar retornar para a arena. É realmente assustador o quão longe se consegue sair e retornar para a arena. Os mais ousados conseguem inclusive ir até o adversário que tomou o golpe, e foi arremessado, para finalizar o nocaute e ainda retornar a arena.

Acrescente aí um recurso original do game, em quê uma barra de especial enche conforme se toma ou causa dano. Quando essa barra enche pela metade o jogador pode dar um comando especial que interrompe qualquer coisa, seja golpes, combos ou até mesmo se ele estiver saindo voando inevitavelmente para o nocaute fora da tela. Tudo isso essa meia barra interrompe. Porém o mais legal é a barra cheia, quando um Rage Mode (basicamente um modo de fúria) ativa uma áurea vermelha em torno do personagem e ele acaba causando dano massivo em qualquer adversário, além de ficar mais pesado e assim não ser muito fácil jogá-lo para longe da arena.

É uma técnica que também precisa se usada com cuidado, pois se o jogador usar isso cedo demais e não tirar ninguém da arena, ao passar o efeito da fúria, será a vez dos outros adversários usarem para tentar lhe jogar fora da arena. Ao tomar nocaute essa barra vai sempre esvaziar e o jogador terá que enche-la do zero. Então, muitas vezes, na hora do aperto e desespero, é melhor usá-la do que perder a chance ao ser arremessado para fora e não conseguir retornar para a arena.

Existe também alguns golpes especiais que usam parcialmente a energia dessa barra. Então o jogador precisa ponderar quando usá-la para certos golpes e quando o melhor cenário é deixá-la encher por completo. Isso adiciona um elemento de estratégia muito perspicaz nos combates de Brawlout.

Tirando essa mecânica específica, os golpes normais funcionam de forma bem semelhante a Smash Bros. Os golpes podem ser normais ou carregados, que é quando o jogador segura o botão por alguns segundos e o personagem fica parado como se estivesse se preparando para dar um golpe mais potente. É uma técnica que requer precisão. Carregar cedo demais não vai dar em nada, enquanto que demorar demais para acioná-lo dá a chance do oponente que lhe bater e assim quebrar o golpe. Dá para carregar o golpe tanto frontal, quanto para baixo ou para cima.

No geral o combate de Brawlout é isso em suas mecânicas básicas. Simples, mas efetivo. Combina com jogadores inexperientes, porém também cria um modelo em que veteranos podem se especializar para quebrar adversários, principalmente quando se especializam com um ou outro personagem do elenco.

Animais antropomorfizados e convidados especiais

O elenco de Brawlout é composto basicamente por animais antropomorfizados, ou seja, que se assemelham a postura mais humanizada. Há seis deles, um sapo, uma morsa que carrega um pinguim nas costas, uma espécie de gata egípcia, um macaco, uma espécie de lobo meio ouriço e um pássaro que poderia chutar ser uma águia. Todos possuem personalidades próprias e há uma história dentro do game para cada um. Mas admito que não fui muito atrás para aprender mais sobre a trama de cada um, pois isso não é exatamente uma parte essencial dentro do jogo. Mas é legal saber que está presente para aqueles que quiserem saber mais.

A história acaba sendo contada em menus de texto nos perfis de cada personagem e também no modo Arcade para um jogador, mas em diálogos estáticos em texto. Não há uma animação ou qualquer coisa assim para deixar o jogador mais interessado. Claro que, em se tratando de um jogo independente, com um orçamento limitado, é totalmente compreensível que seja essa a forma a qual os desenvolvedores encontraram para dar algum contexto a esse universo.

O que importa aqui é explicar que o título, hoje, tem ao todo 24 personagens. 6 totalmente originais (aqueles já mencionados), mais 3 convidados especiais (a qual já irei abordar) e 15 variações dos seis originais. Não são exatamente clones, mas novos personagens construidos com base no moveset do elenco original.

Senso assim, algumas dessas variações possuem semelhanças entre suas contrapartes, enquanto possuem golpes especiais únicos, que os diferente entre si. Por exemplo, Paco, o sapo, e Mako, o tubarão: ambos possuem um golpe vertical, Paco manda a sua língua até o adversário, afim de não cair da arena, enquanto Mako simplesmente sai nadando verticalmente abrindo e fechando a boca afim de pegar o que estiver em seu caminho. O golpe do Mako causa dano, enquanto o do Paco não.

Outro exemplo, Volt tem ataques elétricos, que causam um dano massivo em seus adversários, enquanto Ripjack, sua contraparte variante usa golpes com veneno, que infectam o adversário e o faz tomar dano de forma gradual. Alguns, como no caso do King Apu, que usa correntes, possui a variação chamada Funkmaster que troca as correntes por um globo de discoteca que explode ao contato e um super pulo usando um automóvel. Acabam sendo personagens bem diferentes em combates.

Claro que muita coisa acaba se repetindo em alguns personagens variantes, mas na impossibilidade de um elenco de tantos personagens originais e únicos, dá para ver que os desenvolvedores tomaram cuidado para oferecer algo interessante com estas variações. Uns mais que os outros, mas ainda assim o suficiente para serem mais do que apenas skins.

E então cabe também elogiar a ideia de colocar convidados especiais dentro do game. Neste momento há três: Juan, protagonista de Guacamelee!, o personagem sem nome de Hyper Light Drifter e a dupla Yooka-Laylee do jogo que leva o nome de ambos. Ao final do ano um novo convidado está para ser lançado, o protagonista sem cabeça de Dead Cells.

Achei estes personagens especiais realmente bem legais, mas não são tão fáceis de serem tomados quanto os personagens próprios do jogo. Ao menos pra mim. O Juan é um pesadelo quando está sobre o controle da inteligência artificial do game. Não consegui ter esse controle que a CPU tem com o mesmo. É um personagem bem apelão nas mãos certas. Hyper Light Drifter é um personagem interessante porque tem um ataque sólido com sua espada, mas não achei que é um causador de grande dano. Já Yooka-Laylee é um personagem meio tímido, que parece meio fraco perto de outros lutadores. De toda forma, são adições fantásticas ao elenco do game. E espero que não pare por aí após a chegada do protagonista de Dead Cells. Que mais sejam incluídos eventualmente, mesmo que por DLC pago. Torço mesmo.

No geral os personagens também são bem balanceados. Obviamente uns são mais acessíveis do que outros, enquanto que todos possuem vantagens e desvantagens em situações de combate. Não há exatamente um personagem soberano frente aos demais. No geral todos são bem utilizados e funcionam bem dentro das lutas, sem criar vantagens injustas.

Modos de sofá, online e solo player

Brawlout tem o mix de opções que atingem todos os seguimentos que um jogo de luta precisa ter. Funciona muito bem localmente, para até quatro jogadores. Todo mundo dividindo o sofá, em um mesmo ambiente, e o resultado é diversão absoluta. É a fórmula de como este tipo de jogo deve ser jogado. Simples assim.

As disputas podem acontecer por tempo ou vidas. No Xbox One, e até onde vi é exclusivo (aposto que temporário) na plataforma, há o Party Mode, que adiciona uma maratona de disputas diferentes em multiplayer, onde jogadores precisam tomar cuidado com bombas que ficam aparecendo no cenário, coletando moedas, fugindo de uma bolha de veneno ou vencendo partidas onde todos começam com 300% de dano tomado (e assim voam da arena com um golpe apenas). É um modo bem divertido, pena que no momento limitado apenas nesse Party Mode local. Imagino que quando cair a exclusividade do Xbox One os desenvolvedores podem pirar um pouco mais nisso, colocando-o no modo online e também no modo arcade para um jogador. Não seria de todo mal.

E por falar no single player, Brawlout conta com um modo torre, tipo o de Mortal Kombat X, a qual o jogador precisa vencer a CPU, arena por arena, até chegar ao final, sempre com a dificuldade aumentando a cada vitória. O diferencial aqui é que há três níveis de dificuldade. Na mais fácil o jogador tem que lidar apenas com um adversário, enquanto na dificuldade média são dois, tendo uma janela de 30 segundos para tentar vencer um oponente antes que o outro chegue à arena. Já a difícil, são três contra o jogador, e o intervalo de 30 segundos fica ainda mais apertado tento em vista que a CPU é ainda mais inteligente e agressiva.

Já admito que não consegui uma vez sequer terminar o modo arcade no médio. Chego na metade e olhe lá! É um bom modo para treinar e aprender mais a jogar com o elenco do game. Nessa modalidade o game sempre mistura personagens e a ordem nunca é igual, então ao recomeçar as torres, independente da dificuldade, a experiência sempre será diferente da tentativa anterior.

Quanto ao modo online, aqui fica um pesar: não há muitos jogadores online em nossa região (América do Sul). Então a busca por partidas é meio sofrida. Ao menos na versão de Xbox One, a qual testei para escrever estas impressões. Dá para mudar a região do matchmaking, mas mesmo assim leva um tempo para achar partidas (tem um vídeo no final destas impressões de uma transmissão que fiz no Mixer onde uma partida no servidor US West leva 4 minutos para ser encontrada e quando conectou ficou impossível de jogar por conta da lentidão).

Fora isso também lamento um pouco que não haja nenhum matchmaking para a modalidade de lutar entre quatro jogadores. Há apenas 1 um contra 1 casual e o 1 contra 1 rankeado. Para quatro jogadores online somente em salas privadas, com o jogador convidando seus amigos.

Claro que sempre há esperança que promoções na Live e até mesmo a entrada do título no Xbox Game Pass possa aumentar a quantidade de jogadores em nossa região, mas por enquanto, quem pensa em jogar o título online, deve ter essa atenção. A minha atual internet é boa, de 30MB, e mesmo assim nem sempre foi fácil encontrar partidas. Todas que testei tiveram, em grande ou pequena parte, algum tipo de lentidão.

Brawlout conta ainda com um modo torneio online, realizado nos finais de semana (em horários específicos) e também um modo TV, em que os jogadores podem assistir partidas online ao vivo ou as últimas realizadas. Esse modo de assistir funciona bem, sem lentidão para carregar os vídeos. É bem legal para ter uma ideia de como tem jogadores mais profissionais quebrando a esperança de novatos. Jogos de luta online são sempre assim, afinal.

Considerações finais

A pergunta que fica na cabeça: Brawlout é melhor do que Smash Bros? Não, não é. Mas isso não deveria ser esperado. Entretanto ele é uma ótima alternativa para consoles e plataformas que não possuem a IP exclusiva da Nintendo. Até mesmo no Switch o jogo é uma opção adicional, especialmente porque tem um preço amigável, daqueles que jogos indies normalmente precisam mesmo custar.

Certamente é um título que passa a ser melhor apreciado quando se tem amigos para jogar localmente. É um título bom para festas e reuniões em casa. Divertido para esse tipo de multiplayer. Já para aqueles que jogam sozinho, o modo solo não oferece uma experiência muito duradoura, a menos que você goste do desafio da CPU realmente insana das dificuldades mais difíceis do modo arcade. Senti falta de um modo para desafios, tal qual Smash Bros normalmente possui.

Há um sistema de level up para os personagens, que normalmente tem como objetivo destravar os personagens variantes e itens cosméticos do jogo. Estes itens são destravados quebrando pinãtas, que podem ser adquiridas com moedas do jogo. E não se preocupe com microtransações, pois Brawlout não tem nada disso. Ainda que o modelo de piñatas e moedas pudessem ser um indício de que originalmente os desenvolvedores possam ter pensado em algo assim. Se bem que, mesmo que tivesse, não ofereceriam qualquer tipo de vantagem extra ao jogador. São apenas skins e itens puramente estéticos.

Brawlout é um game divertido. Pequeno em alguns momentos. Há poucos estágios no jogo, sendo que alguns são bem parecidos entre si. A arte e a estrutura deles como um todo podem deixar a desejar. Gosto, porém, da ideia de alguns deles, como um escorregadio por conta do gelo, ou um meio árido que começa a quebrar nas laterais conforme os jogadores vão se esmurrando pelos cantos da arena. A trilha sonora também não achei nada de especial, enquanto senti falta de pequenos sons que poderiam ter os personagens, mas talvez por conta orçamentária, nenhum deles consegue falar, ou gritar ou qualquer tipo de grunhido. São silenciosos demais, infelizmente.

Entretanto vale apontar que a Angry Mob Game ainda não terminou seu trabalho com o título. O estúdio ainda está preparando internamente novos conteúdos e novidades. De olho em balanceamento e promovendo torneios online e em eventos nos Estados Unidos. Então é bem possível que o game continue crescendo, ganhando novos personagens, novos estádios e quem sabe novos modos. Certamente há potencial. Ao fim, Brawlout merece sua atenção se você é fã de jogos como Smash Bros.

Galeria

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Extra | 38 Minutos de Gameplay

Dando uma nota

Alternativa indie para Smash Bros - 7.5
Bom elenco, com convidados especiais - 8.5
Poucos estágios, alguns bem inexpressivos - 6.5
Boas mecânicas de combate e técnicas, há diversidade - 8.8
Trilha sonora e efeitos de som não se destacam - 6.5
Modo online precisa de mais opções e jogadores - 6.5
Ótica dificuldade no modo arcade - 8

7.5

Bacana

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