Editorial | Pandemia, quarentena e tudo mudou… (Parte 2)

As coisas se complicaram, não?

Faz seis dias desde que escrevi um editorial sobre a atual pandemia que o mundo inteiro está sofrendo. Seis dias e as coisas estão escalando rapidamente, não? Se há seis dias atrás ainda estava pensando sobre o fechamento das escolas e o medo das crianças terem sua educação escolar interrompida, a ponto de perderem o ano letivo… hoje já acho esse o menor dos males.

O Estado de São Paulo irá adotar medidas de supressão e quarentena drásticas a partir da próxima terça-feira (24/03): tudo fecha, exceto serviços essenciais, e todos em casa, em quarentena por 15 dias (prorrogáveis por quanto mais forem necessário). São aproximadamente 640 municípios que irão adotar isso, incluindo a cidade a qual moro (Jacareí). A minha situação? Nada boa, economicamente falando.

— Talvez você não saiba, mas eu não vivo da renda do Portallos. O site não tem tal poder de rentabilidade. Há um post-pago – a qual chamo de post colaborativo – uma vez ou outra (coisa de um ou dois por mês), o que dá o valor o suficiente para comprar um ou outro jogo, ou pagar alguma conta que esteja em atraso no meu orçamento. Também banca coisas como o atual layout do site, e – vez ou outra – alguns dias de divulgação paga em veículos como Google Ads, Facebook e Twitter afim de divulgar esse espaço uma audiência que ainda não o conhece. Enfim, é um qui pro quo, normalmente é uma graninha que serve para que eu possa fazer algo que quero por aqui e não precisaria tirar da renda familiar para tal. Soa justo. Este é um dos motivos de nunca ter ficado chateado por não ter conseguido deslanchar o sistema de apoio financeiro na plataforma do Apoia.se, ainda que seja muito grato por todos que ainda ajudam e prestam esse pequeno suporte (que talvez se tornem muito mais importante nas semanas que virão).

Lockdown (agora de fato)

Voltando ao ponto da quarentena imposta ao Estado de São Paulo… bem, isso implica diretamente em diversos problemas para um montão de pessoas. Em um escopo microscópio isso me afeta diretamente, pois trabalho em uma pequena empresa que está sendo afetada diretamente com isso: um escritório de contabilidade. Vi relatos de muitos clientes essa semana com o fato de terem que fechar suas portas, sem conseguirem adaptar seu negócio a nova realidade, e me alertando não ter fluxo de caixa para pagamento dos salários que teriam que vir no começo de abril. Isso implica também o fato de que estes mesmos talvez não paguem suas mensalidades ao escritório, o que impacta o fluxo de caixa do mesmo, e em contrapartida os salários, estando nessa ponta o meu salário. Percebe o efeito cascata de toda essa situação? Se você tinha uma reserva para esse cenário, você é um sortudo. Eu?… me ferrei.

Aqui há dois pontos cruciais:

  • (1) Não estou dizendo que sou contra a quarentena e supressão das pessoas. Acho que a quarentena é exatamente o que precisa ser feito, sem qualquer tipo de questionamento. Isso porque as pessoas ainda não estão respeitando o ato de ficar em suas casas, saindo apenas em casos necessários. Ao longo de toda a semana que se passou vimos cidadãos passeando, em bares, em praças, em praias, em academias, indo viajar e afins. Minha cidade não esteve isenta desse cenário.

Não ajuda em nada em meio a esse cenário o fato do Brasil não conseguir testar sua população de forma mais rápida e eficiente. Esperar dias pela confirmação de estar ou não infectado atrasa em muito os casos confirmados e alastra a contaminação. Aqui na minha cidade não há casos confirmados, entretanto os casos de suspeitas estão há quase 10 dias esperando o resultado dos exames. Não dá para ter certeza de mais nada, o que só faz aumentar a tensão por notícias mais atualizadas do real cenário. Então sim, é preciso impor a quarentena e suprimir as pessoas de saírem de suas casas. E não acho que serão apenas 15 dias. Estamos vendo apenas o começo de um longo período que irá se arrastar por todo o ano.

  • (2) A grande discussão que irá surgir a partir da próxima semana é como os brasileiros irão viver (sobreviver), economicamente falando, a partir do próximo mês, quando salários começarem a não serem pagos. Nesse ponto seria crucial o Governo tranquilizar as pessoas, o que sinto que não está sendo feito. Dizer que os serviços essenciais continuarão a funcionar não me soa tão tranquilizador a partir do momento em que as pessoas estiverem sem dinheiro para reabastecerem suas dispensas. Empresas irão quebrar, inevitavelmente. A vida em primeiro lugar, mas não se morre apenas de coronavírus, e aí está um problema a qual acredito que muitos irão se preocupar em breve.

Mas esse é um ponto que ainda não está totalmente certo. É meio ruim pensar demais nisso, pois o ritmo do atual cenário muda de um dia para outro. Sofrer por antecipação não resolve nada, e muito menos nos deixando mentalmente saudável. O mais sensato agora talvez seja viver um dia de cada vez. E vamos que vamos. Essa luta está apenas no começo.

No mais, há mais duas pontuações aqui que preciso fazer. Uma é que parte da conversa deste editorial começou lá no grupo do Portallos no Facebook, a qual fiz um grande desabafo pessoal neste sábado (21). E admito que me ajudou um pouco, porque vi a situação de praticamente todo mundo está realmente tão complicada quanto a minha, todos em suas devidas proporções. E segundo ponto: gostaria de ilustrar um pouco nosso atual cenário de pandemia com um vídeo do canal no YouTube do biólogo Atila Iamarino (bem conhecido por suas participações nos conteúdos do grupo Jovem Nerd). Porém um alerta: se você já está em pânico ou já angustiado com toda essa situação, talvez não seja uma boa ideia assistir o vídeo nesse momento. Eu, por outro lado, sou daqueles que prefere saber demais. Pra mim o pânico seria o contrário: ficar no escuro.

Há clima para videogames em meio a esse cenário?

Essa é uma boa pergunta para se fazer em um site como o Portallos, não? Afinal em 99% das vezes é sobre isso que estamos falando aqui. Jogos são outra válvula de escape da atual realidade, tal qual livros, quadrinhos e o cinema podem proporcional. Viajar para outros mundos, outras realidades, outras fantasias. Interagir ou acompanhar histórias, dramas e reflexões além daquelas pela qual passamos em nossas vidas reais. Então, sim, é preciso que nesse momento, a qual todos estão confinados em suas casas, a gente encontre meios de permitir que a nossa mente vá além dos limites reais de nossos cômodos domiciliares.

O problema é que talvez não haja clima para querer jogar, querer ler um livro ou fazer qualquer outra coisa a não ser ficar ligado nos noticiários e atentos a cada mínimo detalhe do desembaraço dessa pandemia, que por muitas vezes parece tão irreal quanto um filme catástrofe hollywoodiano. Eu tive um pequeno problema essa semana com essa exata falta de clima para jogar, escrever ou colocar conteúdo no site. Gastei horas nos telejornais, fugi o máximo de acompanhar isso pelas redes sociais, que estão cheias de fake news e informações nem um pouco apuradas ou com fontes confiáveis. Some as incertezas de filho em casa, sem estudo, esposa apreensiva com todo esse cenário e comigo saindo de casa para trabalhar, e agora uma ordem de quarentena que compromete de fato o próximo salário e o risco de entrar em abril sem um tostão ou ainda que tenha, um real medo de pagar as contas e ficar sem nada no próximo mês (maio)… as incertezas acabam com qualquer vontade de parar e me divertir escrevendo sobre jogos. Porque sim, eu me divirto escrevendo para o Portallos. É algo que me faz muito bem. Daí o porque também voltar com os editoriais. É uma forma de me “ajustar” ao clima necessário para com todo esse cenário.

Mas o Portallos não será abandonado. Os textos, sejam releases, ou rapidinhas, e especialmente nossas análise vão continuar saindo. Neste final de semana de publicação deste texto, me vi em meios a muitas incertezas, um certo medo do futuro, mas o que me relaxou foi ver meu pequeno e minha esposa entretidos, e se divertido com Animal Crossing: New Horizons, que acaba de sair no Nintendo Switch. Eu também consegui jogar, o suficiente para ter essa experiência compartilhada em uma análise que deve sair nos próximos dias. Doom Eternal também embalou parte da minha manhã de domingo. Foram bons momentos para fugir um pouco dessa realidade amarga a qual estamos todos enfrentando.

Talvez seja preciso que eu venha desabafar mais vezes em textos como esse. Talvez eu peça ajuda para aqueles que não serão tão impactados pela quarentena, que possa colaborar nem que seja com 1 real na plataforma de suporte do site, ainda não sei. Tudo é um pouco incerto nesse momento em que escrevo esse texto (domingo à noite). As mudanças tem sido rápidas, e inesperadas. Acredito que hoje, mais do que nunca, presos em nossas casas, precisamos dessa fantasia, desse mundo mais acolhedor que a internet, games e o entretenimento em geral podem proporcionar. Vamos ter força e fé de que dias melhorares virão. Talvez não hoje, nem amanhã, mas eventualmente. Basta sobrevivermos até lá. E devemos nos esforçar ao máximo para isso acontecer.

— Artes que ilustram este texto:

Obs.: há outros pontos, outros cenários, outras coisas que eu gostaria de pontuar sobre todo esse cenário. Mas os pensamentos estão ficando embaçados e confusos. Talvez seja o cansaço, talvez seja a ansiedade pelo que há por vir. Mas como disse, não deve faltar outros momentos que devo vir aqui para conversamos mais. O canal está aberto para você, leitor, fazer o mesmo. Faz bem falar sobre suas angústias, não ficar guardado para si. Seja aqui ou lá no nosso grupo, ou em sua rede de amigos, ou nas redes sociais. Apenas faça. Vai lhe fazer bem. Um abraço virtual para todos. Vamos um passo de cada vez.

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