Análise | Mario Party Superstars

Disponível para Nintendo Switch

Mario Party Superstars, na melhor forma de resumir sua experiência, é um retorno as sólidas fundações de uma franquia que começo lá na era do Nintendo 64. Pura nostalgia, provando que uma fórmula quando muito boa, resiste e perdura através de eras se souber como trazê-la de volta. Seu lançamento ocorreu agora, no último dia 29 de outubro, com exclusividade ao Nintendo Switch.

Seu desenvolvimento ficou a cargo do estúdio japonês NDcube, subsidiária da Nintendo, formado originalmente por empregados que vieram da extinta Hudson Soft, que também foi o estúdio que criou o primeiro Mario Party, lá no distante ano de 1998, e se manteve na franquia até Mario Party 8 (Wii, 2007). A NDCube assumiu a tarefa em Mario Party 9 (Wii, 2012) e tem cuidado dos jogos da série até os dias de hoje.

Na contagem numérica, Mario Party foi até sua décima edição com Mario Party 10 (Wii U, 2015), e desde então parou de enumerar suas sequências. Contudo Mario Party Supertars é décima segunda edição da série, contando apenas as versões lançadas para consoles. A décima primeira foi Super Mario Party, lançado também para o Nintendo Switch em 2018.

Nos portáteis, tirando o incomum Mario Party-e (2003), para o GBA Reader (e talvez você nunca tenha ouvido falar a seu respeito), a franquia teve títulos notórios: Mario Party Advance (GBA, 2005), Mario Party DS (DS, 2007), Mario Party: Island Tour (3DS, 2013), Mario Party: Star Rush (3DS, 2016) e Mario Party: The Top 100 (3DS, 2017). Talvez não com a imponência da séries nos consoles domésticos, mas ainda assim… notórios. Tenha em mente a edição de 2017, The Top 100, pois voltarei a falar sobre ela ao longo desta análise.

Para aqueles não habituados com a franquia Mario Party, de forma simples e resumida, trata-se de uma série que tem como proposta apresentar tabuleiros virtuais, com a temáticas do universo Super Mario, a qual jogadores disputam entre si, rolando dados, quem consegue adquirir mais estrelas em pontos de compra de tal item. Para isso se faz necessário andar pelo tabuleiro, ganhar moedas em eventos e a cada rodada (a qual todos tenham terminado de rolar os dados) um mini game surge para premiar um ou mais jogadores que vencerem um desafio simples, estes sempre divertidos, malucos e competitivos.

É um ótimo game para experiência familiar, com membros de qualquer idade (do irmãozinho ao vovô), e também com amigos, tal como normalmente é a experiência com jogos de tabuleiros físicos. Mas será que dá para se divertir sozinho em casa? Dá sim, e vou chegar a esse ponto quando for explicar seu modo online. Aguenta aí e siga lendo.

Festa em português

Se tem uma coisa extraordinário neste Mario Party que nenhum outro tem, e isso o torna especial, único e ligeiramente importante ao mercado brasileiro do Nintendo Switch, é o fato dele ter recebido uma completa localização em português do Brasil. E quando digo completa, é completa mesma. Não estou falando somente de textos e menus: o jogo está, veja só, dublado em português!

E isso é fantástico tendo em vista a quantidade de jogos de outros estúdios, outros consoles, que já fazem esse tipo de cuidado e trabalho em nosso mercado? Sim, é, pois a Nintendo até então ainda não tinha tido essa vontade, esse capricho, essa atenção para com seus títulos no Brasil. É um fato tão marcante (e importante) quanto foi, sei lá, quando olhamos no passado e vivenciamos, por exemplo, Halo 3 chegar ao Brasil dublado, em um momento em que jamais se pensava como seria jogos com personagens com suas vozes em nosso português.

E estamos falando da Nintendo, uma empresa classuda, teimosa, com uma rígida política de localização de seus títulos, que não tem pressa em seguir tendências, que não joga igual seus concorrentes. E ainda assim é uma empresa a qual o público brasileiro tem uma incrível paixão por suas franquias, por seus consoles. Demorou? Claro que demorou. Mas ver isso acontecer, aqui, abre um precedente muito bom para o futuro. Claro que tem a contraparte: resta o público brasileiro abraçar a iniciativa e conseguir demonstrar o quanto é importante para nós que seus títulos cheguem localizados por aqui.

Mas falando da localização de Mario Party Superstars, foi uma surpresa muito grande descobrir que não só textos e menus estavam em nosso idioma, e sim pequenas falas que anunciam eventos do jogo. “Vai“, “Empate“, “Fim“, “Muito Bem“, “Hora do Combate“, “Hora da Verdade“, “Vitória“… uma bela voz de uma narradora anuncia os resultados das ações dos jogadores tanto pelo tabuleiro, quanto pelos mini jogos que compõe a proposta do título. Destas que dá vontade de você anunciar junto. É fantástico.

Mas não vá pensando que os personagens estão dublados em português, pois não estão. Imagino que isso também ocorra em diversos idiomas, a qual os personagens seguem com suas icônicas frases no original inglês, muitas delas feitas pelo próprio Charles Martinet. E não que Mario & cia falem muito dentro do jogo. São sempre os clássicos gritinhos e pequenas frases já conhecidas por todos, como “oh no“, “i won” e afins.

Quando há uma narrativa na história, os personagens apenas fazem seus barulhos característicos e um bloco de texto surge na tela para dar o contexto ao que estão dizendo. É estranho todo o jogo estar em português, mas isso não? De forma alguma. E digo mais, estou tão acostumado com estes personagens e seus pequenos grunhidos e falas monossilábicas, que levou um tempo para me tocar que eles estavam falando em inglês, enquanto todo o resto estava em nosso português. É muito natural ouvi-los em um idioma que já os ouço por décadas. E, sinceramente, não sei se estaria pronto para ouvir seus pequenos barulhos e frases em nosso idioma. Ainda não…

Tabuleiros e mini jogos de um glorioso passado

O que torna Mario Party Superstars uma iniciativa diferente de suas mais recentes edições é a busca por suas origens, quando tudo era um pouco mais simples, possivelmente mais humilde, menos caótico, talvez até melhor ritmado.

O ponto é que ao longo das últimas edições, talvez desde as edições da geração do Nintendo Wii em diante, os jogos receberam diversas mudanças em sua fórmula, afim de se reinventarem e modernizarem um pouco certas premissas. O que é totalmente compreensível pensando que só no GameCube a franquia teve quatro edições, basicamente uma edição por ano, entre os anos de 2002 a 2005 (Mario Party 4 a 7). O próprio Nintendo 64 teve três Mario Party. A estagnação da franquia seria inevitável se o ritmo não desacelerasse e as mudanças não ocorressem.

Contudo, addmito que parei de prestar um pouco a atenção nos jogos quando resolveram inserir uma mecânica em que os personagens andavam todos juntos em um veículo, mas ainda usando o conceito de tabuleiro. Talvez na época pudesse ser diferentão, e era algo que a franquia buscava, mas a ideia envelheceu e as raízes originais da franquia claramente possuíam uma melhor dinâmica.

Foi também a fase em que os mini games tinham uma carga pesada de controles de movimento e toda aquela parafernália de sensores e movimentos que tornavam os clássicos mini games de apertar botões um tanto obsoletos. E nem todo mini game com sensores era legal ou preciso, ou sequer divertido. Super Mario Party, já em 2018, no Switch, ainda insistia nesse conceito por sinal, e muita gente também o deixou passar batido.

Por isso mencionei lá no começo desde texto as versões portáteis de Mario Party, em particular de edição The Top 100, lançada em 2017, no Nintendo 3DS, um título que recebeu muita atenção na época, e com razão. Não pelo tabuleiro, pois as versões da série nos portáteis tinham um conceito zoado com os tabuleiros (lineares e inexpressivos em sua grande parte). O realmente que chamava atenção em The Top 100 era sua proposta de trazer de volta 100 dos melhores mini jogos de todos os tempos da franquia. A nostalgia bateu forte em muita gente na época.

Mario Party Superstars parece ter entendido o que The Top 100 fez (e o quanto agradou aos fãs) e escalonou o conceito de sua proposta. Aqui temos o resgate de cinco tabuleiros incrivelmente nostálgicos direto dos três primeiros jogos de Mario Party, totalmente refeitos com os gráficos da atual geração (nada de simples remasterização, até porque os gráficos do Nintendo 64 são pavorosos hoje em dia), além de também fazer uma nova seleção dos 100 melhores mini jogos de dez títulos de Mario Party.

Veja bem, para essa nova seleção*, os desenvolvedores optaram pesadamente em resgatar muitos mini games da trilogia clássica da série. São 12 mini games do primeiro Mario Party, 19 do segundo e 24 do terceiro. Só destes três jogos já totalizando 55 mini games. Mas a contagem segue: 8 de Mario Party 4, 10 do quinto jogo, 12 da sexta edição e 6 do sétimo. São 36 mini games da era GameCube. Sobram 2 mini games de Mario Party 8, 4 da edição nove e 3 jogos de Mario Party 10. Total: 100 mini games!

*A título de curiosidade, 53 mini games que estão presentes aqui já havia sido resgatados em The Top 100 no 3DS.

E assim, todos os mini games selecionados funcionam com os controles tradicionais de qualquer videogame. Basta ter um analógico e os quatro botões ABXY. Essa é uma característica importante a se mencionar, pois traz ao jogo uma jogabilidade mais tradicional da série, altamente nostálgica, e que por mais que seja simples, é completamente funcional até os dias de hoje.

Até porque, se for pensar, os mini games de Mario Party nunca foram algo impossíveis de serem jogados ou compreendidos. Desvie de coisas, acerte coisas, bata nos adversários, conte coisas na tela, aperte o botão freneticamente mais rápido que outra pessoa, se equilibre e não cai, entre outras dezenas de atividades simples, mas igualmente acessíveis e divertidas a jogadores de todas as idades e níveis de jogadores, dos veteranos aos casuais. Acessibilidade é a palavra chave aqui.

Não condeno, é claro, os mini games com sensores de movimento que a série recebeu ao longo dos anos, depois do Nintendo Wii. Entretanto tenho pra mim que o grande problema de muitos deles é a sensação de imprecisão e desconforto que alguns possuíam ao longo de sessões e repetições. Um mini com sensor de movimento é divertido na primeira ou segunda fez em que o mesmo se apresenta, porque é o desafio de entender e fazer o que se pede. E aí é que está: depois de um tempo, é só um treco em que você está agitando braços como um louco, torcendo para seu controle está bem calibrado. Nesse sentido, o clássico apertar de botão, usando o conceito de ação e reação, é mais elegante, preciso e confortável.  Minha opinião, é claro.

Quanto aos tabuleiros, Mario Party Superstars traz, como já mencionado, cinco tabuleiros das antigas. Dois do primeiro Mario Party (Yoshi’s Tropical Island e Peach’s Birthday Cake), dois do segundo (Space Land e Horror Land) e um do terceiro (Woody Woods).

Curioso apontar que cada tabuleiro tem suas próprias características e mecânicas. E cada um representa um nível de dificuldade ao jogador, em uma escala de uma a cinco estrelas. Tropical Island, por exemplo, é um tabuleiro inicial, perfeito para novatos entenderem a mecânica da série, com duas ilhas interligadas por duas pontes (com pedágio de moedas), a qual a estrela fica trocando de lado toda hora, conforme o jogador vai pisando em casas de eventos (que ativa tal mudança).

Diferente a situação de Birthday Cake, cuja a estrela sempre se mantém no mesmo local, enquanto o tabuleiro representa um caminho em espiral repleto de ocasiões em que o jogador pode perder suas moedas e com isso chegar até a estrela sem uma quantidade necessária para comprá-la. O visual desse tabuleiro está inacreditável, por sinal. O nível de detalhes é absurdo. Dá até vontade de parar de jogar para ir na cozinha comer algum doce.

Já em Woody Woods, que representa uma floresta repleta de bifurcações, a direção do tabuleiro muda a cada final de rodada, tornando sempre trabalhoso chegar até a estrela, independente de onde ela estiver. É um tabuleiro muito mais complexo, que exige um pouco de sorte e um planejamento mais caótico dos jogadores.

Space Land também segue um pouco desse fator caótico, com um tabuleiro realmente grande, com um enorme contador no meio dele, que ao chegar em zero, faz Bowser atirar um gigantesco canhão laser em uma reta do tabuleiro, que leva todos os jogadores que estiveram no caminho para um canto do tabuleiro, e ainda o deixa zerado de moedas. Um mapa perigo e que o jogo pode virar em uma simples rodada de azar no rolar dos dados. Aqui a estrela também muda de local.

Por fim, Horror Land é um dos mapas mais difíceis do jogo, pois oferece vários riscos aos jogadores. Fantasmas roubam moedas, caminhos são bloqueados e o tabuleiro tem uma mecânica de dia e noite, a qual as coisas ficam ainda mais perigosas quando o tabuleiro está em modo noturno. Indicado para jogadores já experientes e sacanas, que não tem dó de azarar seus adversários.

Agora, cá entre nós, cinco mapas são suficiente para um Mario Party? Sinceramente? Não acho. Com exceção do primeiro Mario Party (1998) que veio ao mundo com 8 tabuleiros de uma só vez, a média de tabuleiros que os jogos da franquia normalmente sempre entregaram foram… seis. Por que não manter tal média? Só posso imaginar que a Nintendo, ainda que não tenha nada anunciado, tenha planos para atualizações gratuitas para Mario Party Superstars e que isso inclua ao menos a adição de um sexto tabuleiro. Não há nada confirmado, mas torço para que isso ocorra.

Faria total sentido pegar mais segundo tabuleiro de Mario Party 3, já que apenas um foi utilizado. E curioso lembrar que esse Mario Party tem um belo tabuleiro invernal chamado Chilly Waters que combinaria muito se viesse em uma atualização de final de ano (já que é início do inverno no hemisfério norte). Contudo não nego que também gostaria muito de ver como a equipe da NDcube reinventaria o visual do tabuleiro Waluigi’s Island, também de Mario Party 3, ou de DK’s Jungle Adventure do primeiro Mario Party. Mas chega de imaginar e especular. Vamos adiante.

Aprendendo as regras básicas

Para quem nunca teve a oportunidade de jogar Mario Party, acho interessante explicar algumas regras básicas, afim de dar um pouco da dimensão de sua experiência de jogo. É um esclarecimento que serve também para dimensionar como Mario Party Superstars dá um retorno as fundações mais básicas da série, em detrimento daqueles que só a conheceram em suas últimas edições, bem mais complexas e repletas de regras que não se fazem mais presentes por aqui.

Antes das partidas terem início, alguns parâmetros precisam ser selecionados. Quais os personagens cada jogador irá utilizar, dentre uma seleção composta por Mario, Luigi, Peach, Daisy, Wario, Waluigi, Yoshi, Rosalina, Donkey Kong e Birdo. 10 personagens, nada mal, ainda que basicamente sejam os tipos clássicos da franquia.

Vale apontar que todas as partidas sempre serão compostas de quatro personagens, sejam eles jogadores reais ou controlados pela CPU, que possui níveis de inteligência artificial, que vai do “normal” ao “difícil” ao “mestre“. Se você não deseja a CPU apelona, destas que acertam tudo milimetricamente, fique com o nível normal mesmo. Nesse nível ela vai só cumprir sua cota e participação, e vez ou outra irá atrapalhar os jogadores reais. No difícil já é preciso lidar com ela de forma mais atenta, enquanto no mestre é nível apelação.

Há que se escolher um dos cinco tabuleiros e então as regras da partida. É possível customizar o número de rodadas que o jogo terá, entre 10 a 30 rodadas, sendo que o normal são 15, o que leva em torno de 60 minutos para se concluir (ainda que o game lhe aponte uma média de 45 minutos, sempre leva mais tempo).

Também se pode escolher se haverá estrelas bônus quando o jogo encerrar. Esse bônus premia de forma aleatória alguns jogadores dentro de algumas categorias a qual vocês nunca saberá quais serão selecionadas na partida, como quem ganhou mais mini games, quem andou mais casas, quem acionou mais eventos entre outras possíveis possibilidades.

Por fim, é possível selecionar se os mini games terão uma tela de tutorial/treinamento antes de se iniciarem, o que só é interessante desligar se todos os jogadores já souberem de cor e salteado todos os comandos e souberam como funcionam todos os 100 mini games do título. E para no caso de estarem jogando com jogadores em níveis de experiência diferenciado, é possível atribuir se todos vão começar com zero estrelas ou se você deseja dar alguma vantagem a alguém (uma criança que esteja jogando com um adulto, por exemplo).

Decido as premissas básicas, o jogo tem início. Cada jogador joga um dado, o que se traduz com seu personagem pulando para bater em um bloco de dado, que muda sua numeração de uma forma aleatória e rápida a ponto de ser muito difícil trapacear e acertar um número exato desejado. A fila de jogadores é decidida por aqueles que tirarem os maiores números no dado. Então bater tão logo essa disputa comece é uma boa ideia, pois não se pode tirar números que outros tenham tirado (nesta etapa).

E assim tem início ao jogo. Cada tabuleiro é único, mas compartilham algumas semelhanças, como as casas e seus tipos. Casas azuis, sem nenhuma inscrição, dão ao jogador que parar nela 3 moedas, enquanto casas vermelhas tomam 3 moedas. Faltando 5 rodas para o jogo acabar, esse montante de ganho e perda dobram, dando ou tomando 6 moedas então.

Os tabuleiros tem diversos outros tipos de casas, como de Evento, que acionam alguma coisa no tabuleiro, como mudar a estrela de lugar, fechar caminhos, acionar interações com personagens secundários que estão em alguns locais e assim por diante. Há também uma casa do Bowser, que aciona uma roleta de possíveis acontecimentos, que pode envolver apenas o jogador que caiu nela ou todo mundo caso Bowser decida realizar uma mini game, a qual quem perder, tem moedas tomadas pelo vilão. Bowser inclusive pode roubar estrelas do jogador!

Mais comum são as casas de itens e casas de sorte. São casas que atribuem bônus aos jogadores. Na casa de itens, representada por um cogumelo, o jogador pode participar de um mini game individual, a qual tenta coletar um item (de trapaça) para que possa ser usado no tabuleiro na rodada seguinte. Nem sempre é garantido conseguir um item, mas é sempre divertido tentar. Já nas casas de sorte, o jogador aciona uma roleta que aleatoriamente lhe concede moedas ou itens. Um presente é sempre garantido nesta casa.

Existe, em menor quantidade, outras casas, como de combate e da hora da verdade. Casas de combate permitem que os jogadores disputem uma competição valendo uma determinada quantia de moedas que são retiradas das carteiras de todos os membros participantes. Quem ganhar o mini game leva quase tudo, deixando aos demais algumas migalhas.

Mais perigoso é a casa da hora da verdade (chance time no original). Nessa casa o jogador que caiu na casa bate em três blocos, dois deles definem os personagens envolvidos na transação e o terceiro bloco diz o que vai acontecer com estes personagens. Dentre as opções estão trocar o total de moedas de cada um, um dar moeda ao outro, mas o mais perigoso é a troca de estrelas ou tomada delas. É possível virar completamente o jogo tomando a estrela de quem estiver em primeiro na partida. É preciso muita sorte (ou azar) para isso acontecer, mas é uma das possibilidades dessa casa.

Em certos pontos do tabuleiro haverá personagens e outros eventos que dependerão de cada um dos tabuleiros. Toad tem uma lojinha de itens, a tartaruga Koopa mantém um banco de moedas, a qual todos os jogadores pagam pedágios para passar, mas quem sair na casa do banco, podem sacar todas as moedas, Toadette é a que mantém uma estrela, que podem ser comprada por qualquer jogador que chegar ou passar por sua casa, no preço de 20 moedas. Bowser também fica pelo tabuleiro, vendendo itens ruins por um preço super inflacionado ou simplesmente roubando moedas dos jogadores.

Uma casa interessante de se acompanhar é do Boo, que nunca se localiza em pontos de comum passagem, e sim em rotas mais afastadas, mas que talvez o jogador queira tomar, pois Boo pode roubar estrelas de outros jogadores, sob uma alta taxa de 50 moedas (mais do que o dobro do valor de uma estrela). Trata-se de uma boa estratégia para tirar estrelas de jogadores que tenham dado sorte e adquiriram muitas em detrimento do resto dos adversários. Equilibrando assim as vantagens de todos.

Ao fim de uma rodada, a qual os quatro jogadores rolaram seus dados e andaram pelo tabuleiro, um mini game, sempre valendo moedas, é acionado. Esses jogos de rápida duração, em torno de 30 a 40 segundos, podem criar combinações diferentes de confrontos entre os jogadores. Todos contra todos, 2 vs. 2 e até mesmo 1 versus 3. No caso destas divisões, um lado vence e ganha a mesma quantidade de moedas e o lado perdedor não leva nada. No caso de todos contra todos, o primeiro lugar leva 10 moedas, enquanto o segundo e o terceiro colocado levam alguns moedinhas de benevolência.

Estes mini games consistem em tarefas simples, como já mencionado. São realmente brincadeiras, pule corda, se mantenha em plataformas, bata no seus adversários e os derrube de onde estiverem, disputa corridas, destrua bases, faça contagem de elementos na tela, teste reflexões, suba em plataformas antes dos demais, ou percorra trilhas e chegue em primeiro lugar e assim por diante. São todos mini games clássicos da franquia, não há nenhum inédito, mas todos refeitos com gráficos atuais e pequenas melhorias de performance e respostas mais eficientes dos controles.

Encerrado o mini game, o jogo retorna ao tabuleiro, com os jogadores vencedores com o bolso cheio de moedas. E uma nova rodada de andança tem início, os personagens rolam os dados novamente, andam, participam dos eventos de cada casa e partem para mais um mini game. Assim é a dinâmica de um Mario Party.

Ao iniciar uma nova rodada no tabuleiro, jogadores podem rolar seus dados ou usar itens, caso tenham adquiridos em rodadas anteriores. Os itens, a qual podemos chamar de trapaça, oferecem aos jogadores vantagens interessantes. Rolar um dado duas ou três vezes por exemplo. Um cogumelo adiciona 5+ ao resultado que você tirar no dado. Um Chomp Call pode mudar a estrela de lugar, ou então um cano dourado pode te levar até uma estrela. Há um bloco que pode te fazer trocar de posição, de forma aleatória, com qualquer outro adversário em jogo. São itens que podem bagunçar o planejamento e estratégia de seus adversários. O que tornam as partidas ainda mais imprevisíveis do que um mero rolar aleatório de dados.

A vitória ao fim das rodadas acordadas ficam para o jogador que conseguir mais Estrelas. Se um mesmo número de jogador tiver a mesma quantidade de estrelas, a vitória fica para quem tiver mais moedas. Vencer ou não os mini jogos não é um definidor para ganhar a partida, apenas lhe garante uma boa quantidade de moedas. O verdadeiro desafio estar em vencer os tabuleiros, e por isso Mario Party é tão encantador.

Modos de jogo e Online

Tudo parece ótimo até aqui, correto? E então vem o questionamento: não tenho com quem jogar Mario Party, será que sozinho o título ainda é tudo isso? E é uma pergunta válida, e de fato, em single player offline, com adversários controlados pela CPU, Mario Party Superstars pode não ser tão divertido assim. E é aí que entra a possibilidade de jogar com desconhecidos por meio de um sólido modo online.

Mas antes de partir ao online, reforço que em single player offline, a inteligência artificial da CPU pode ser configurada em três níveis de dificuldade (normal, difícil e mestre). Isso porque agitar as coisas um pouco, obviamente, contudo ainda estamos muito distantes de desenvolver uma I.A. que simule a excentricidade que é um ser humano real, ainda que seja jogando um videogame. Não tem a mesma graça, convenhamos.

Em casa, pude jogar este novo Mario Party com o meu filho de 9 anos e minha esposa (a qual não seria educado apontar a sua idade, mas é próxima a minha, já na dezena dos 30). E foi uma experiência genuinamente divertida. Saímos de uma única partida de um pouco mais de uma hora quase sem voz, roucos de tanto que gritamos uns com os outros, durante mini games e viradas de competições por estrelas e moedas.

São poucos os jogos que puderam oferecer esse tipo de união familiar. Animal Crossing: New Horizons fez algo parecido, mas nesse caso a vontade era jogar de forma individual, um por vez, ainda que compartilhássemos a mesma ilha e assistíssemos um ao outro jogar e descobrir coisas. Em Mario Party estávamos juntos, gritando, amassando botões e rindo dos vacilos uns dos outros. Para meu pequeno, esse foi seu primeiro Mario Party e ele adorou porque jogou com a gente, não pela experiência single player. Percebe a importância desse aspecto “jogue com amigos”? Isso é Mario Party.

Localmente é possível jogar o título dividindo os joy-con, cada um fica com um lado do versátil controle do Switch. Em casa ainda temos um genérico do Pro Controller, então isso nos permitiu jogar com os três membros da família. Seja com o controle normal, com os joy-cons reunidos ou separados, é bem confortável realizar os mini games independente do rearranjo feito. Fiquei com um lado do joy-con e de sua miudeza, não tenho muito do que reclamar.

Contudo, caso você tenha amigos próximos que também tenham um Switch, o título permite a conexão local com outros Switch. Aí cada um joga na sua própria tela, na experiência portátil que o console pode oferecer.

E então temos o modo online. Seus amigos estão longe, sua família odeia videogames. O que Mario Party Superstars pode fazer para lhe ajudar? Entregar um modo online a qual você pode jogar com seus amigos online, ou com completos desconhecidos no melhor esquema matchmaking.

Pude realizar algumas experiências nessa modalidade online nestes últimos dias e posso dizer que fiquei impressionado. O resultado foi muito além das minhas expectativas. Tudo bem, considere que tenho um razoável plano de internet (Fibra 300MB), mas ainda assim, as partidas decorreram sem desconexões ou grandes lags na hora dos mini games. Claro que em algumas situações deu para sentir um atraso aqui e ali, mas no geral foi uma das melhores experiências online que já tive com jogos da Nintendo nestes últimos tempos.

O interessante é que se um jogador tiver que sair da partida, um BOT automaticamente assume a sua vaga. Em uma partida, a qual cai na besteira de começar depois da meia-noite de uma terça-feira, todos os jogadores aguentaram jogar uma partida inteira que foi até meados das duas da manhã, com somente um jogador (justificadamente) saindo da competição quando o relógio bateu as duas da manhã. Ele também estava em último e não iria conseguir reverter a sua situação. Acontece. Mas foi impressionante ter conseguido achar uma partida nessa hora da noite e ela perdurar madrugada adentro. Jogos online com longas partidas normalmente tem resultados desastrosos em modalidades assim (vide o modo horda da série Gears of Wars, a qual muitos jogadores desistem depois das primeiras rodadas).

A respeito do modo online de Mario Party Superstars, tive a impressão de que a melhor maneira de encontrar partidas é deixando o jogo no modo online e ir direto para a escolha de uma partida. Lá o jogo parece conectar com outros que estão fazendo a mesma coisa e reúne de forma mais eficiente os jogadores. Digo isso porque dentro dessa modalidade também há um busca por qualquer partida, em uma casinha de wi-fi da Toadette na área social do jogo. Mas nesse local, nunca encontro partidas prestes a começar. Pra mim funcionou ir direto para o jogo em si e começar a configurá-lo, ao final, depois de um ligeiro pensar, novos jogadores surgem para a partida.

Duas observações importantes a respeito de se jogar online Mario Party Superstars: primeiro que é preciso ser assinante do serviço online da Nintendo. Sem isso não é possível jogar com amigos online ou outras pessoas no matchmaking, e aí você terá apenas as funções offline já mencionadas. Segunda observação é que toda a comunicação é realizada por divertidas figurinhas com reações dos personagens e pequenas frases como “boa!”, “o quê?”, “ah não”! Basicamente é um sistema de emojis e stickers próprio do universo Mario. Perfeito e totalmente funcional nas partidas. A dinâmica delas é muito bacana e dá um engajamento social para você usar durante as partidas online. Gostei demais.

No mais, o título ainda oferece alguns elementos sociais e colecionáveis bem interessantes, afim de manter uma certa cauda de replay ao jogo. Todas as partidas, tanto online quanto offline, garantem aos jogadores uma certa quantidade de moedas de ouro. Estas moedas podem ser usadas para comprar itens colecionáveis na lojinha do jogo. Dentre os itens à venda, podem ser encontrados novos stickers para usar no online, músicas clássicas baseadas nos antigos games e páginas que irão preencher uma enciclopédia de dados sobre os jogos antigos da franquia, assim perfil dos personagens, curiosidade dos mini games e dos tabuleiros e afins. É um extra muito bacana para quem curte esse tipo de banco de dados.

Não só isso, mas os jogadores tem uma espécie de cartão de perfil dentro do jogo, que pode ser customizado com diversos fundos diferentes, títulos para jogador, mini games e personagem favoritos e afins. Esse cartão é usado no modo online, para lhe apresentar. Além disso, o jogador tem uma barra de experiência, do tipo que quanto mais jogar, melhor será seu nível e novos itens vão surgindo na lojinha.

Quer mais um detalhe maneiro? Ao jogar em multiplayer local no mesmo Switch, os demais players além do primeiro, podem selecionar seus próprios perfis dentro do console, e assim também ganham moedas de ouro e níveis quando jogar com o perfil principal que ativou o jogo. Normalmente o Switch não faz isso muito bem em seus jogos, sempre ativando apenas um perfil por vez. É maneiro ver um jogo que faz diferente, muito semelhante, por exemplo, a forma como se pode jogar multiplayer no Xbox, por exemplo. Ativando múltiplos perfis.

Considerações finais

Maria Party Superstars está sendo lançado em um momento interessante em relação aos eventos pandêmicos ao redor do mundo inteiro. O cenário da pandemia ainda não cessou, mas relaxou um pouco, graças a vacinação, e com isso amigos e parentes que até então se mantinham distantes estão podendo novamente se reencontrarem. Mario Party é uma ótima opção de entretenimento e diversão para esse tipo de reunião, seja com as crianças, seja com os adultos que curtem videogames.

É um excelente lançamento para as celebrações e reuniões de final de ano. Não poderia imaginar uma época melhor para esse lançamento. E se você ainda não está podendo se encontrar com outras pessoas, bem o modo online deve garantir a diversão ideal para estes cenários.

No aspecto gráfico, fazendo uma avaliação mais técnica, o título está impecável. Os tabuleiros foram todos refeitos do zero, e estão belíssimos, repleto de novos detalhes, mas sem perder um pingo sequer do charme que mantinham no Nintendo 64. Island Tropical, por exemplo, adicionou muito mais elementos de vegetação, mais Yoshis nos ambientes, é uma beleza gráfica incrível e impecável.

Os mini games também foram todos refeitos, se mantendo fiéis ao conceito original, mas o visual de alguns ficou um outro nível, especialmente aqueles que utilizam elementos aquáticos, com o efeito de água ultra realista que o Switch permite que tenham. Ficou sensacional, com muito cuidado nos efeitos de iluminação, sombra e outras texturas de objetos, preenchendo inclusive a lacuna visual que muitos tinham no Nintendo 64, que ainda tinha aquele 3D quadragésimo e pouco detalhista.

Falando nos mini games, acredito que os desenvolvedores realizaram uma ótima curadoria, escolhendo uma quantidade boa (100) e mantendo-se muito fiel a proposta de simplicidade que muitos tinham nas primeiras edições da franquia. Não exige combinações complexas de comandos, sendo tudo muito simples, mas genuinamente criativos e charmosos. Simplicidade não deve ser traduzido como fácil ou preguiçoso ou tedioso. Nada disso, pois o pouco com qualidade pode ser muito melhor do que o complexo que almeja exatamente a mesma coisa.

Os tabuleiros selecionados também foram bem escolhidos, mas sua quantidade, apenas cinco, pode sim ser um ponto de crítica em relação ao todo. Não se mantém a média de 6 tabuleiros, e se isso tiver sido culpa do cenário pandêmico, do desenvolvimento home office, tudo bem, é compreensível. Mas a Nintendo já deveria ter vindo a público mencionar que o jogo deve receber novos conteúdos gratuitos, ao menos mais um tabuleiro, depois desta janela de lançamento. Espero mesmo que seja esse o caso.

Na parte da trilha sonora, Mario Party Superstars mantém a qualidade que os títulos do universo Super Mario possuem. Muitas faixas conhecidas dos fãs, novos rearranjos de trilhas antigas da série, sem a perda da essência destas faixas e muitos mini games ganharam novas trilhas musicais, a qual minha memória não é tão boa assim a ponto de dizer se ficaram menos marcantes que as originais. Pra mim, toda a parte sonora está agradável e totalmente dentro do que esperaria de um jogo de Mario e seus amigos.

Não há que se reclamar de controles e suas repostas. A jogabilidade e a reposta dos controles são perfeitos. Quanto online, é perceptível microssegundos de lentidão nos comandos em alguns momentos, mas se for algo que todos os jogadores estão experimentando, isso não impacta de forma significativa o gameplay. E ainda que impactasse, Mario Party não é só sobre vencer mini games. Gosto muito a simplicidade dos controles para esta edição, sem sensores de movimento, se mantendo mais fiel possível a experiência clássica que muitos tiveram no Nintendo 64.

Certamente a localização em português, com dublagem, é um grande diferencial ao nosso mercado. Resta torcer para isso atrair mais jogadores, resultas em vendas que possam ser perceptíveis de que a iniciativa precisa continuar em futuros lançamentos. Que esse não seja o primeiro e único título desenvolvido pela Nintendo a ser localizado em nosso idioma. É um pontapé inicial muito promissor.

Por fim, Mario Party Superstars entrega um pacote louvável de conteúdo, sabiamente resgatando um conteúdo perdido no tempo, que nunca daria certo se fosse simplesmente remasterizado para o atual console. É muito importante que o jogo tenha esses tabuleiros e mini games refeitos graficamente do zero. E apesar da jogabilidade clássica, o jogo se porta como uma iniciativa moderna, permitindo que até mesmo os fãs possam jogar com outros fãs de qualquer lugar do globo, por meio de um sólido sistema de multiplayer online. Algo que na era do Nintendo 64 seria totalmente inconcebível. É um título que promete diversão e que consegue entregar isso com maestria. Quem nunca jogou vai encontrar algo maravilhoso, belo e surpreendentemente moderno. E se você jogou, além de tudo isso, virá uma maré de nostalgia um tanto quanto mágica.

(Super) Galeria

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Dando uma nota

Sabe olhar para o passado, mas sem se prender demais - resgata, mas também moderniza diversos elementos - 9
Completamente localizado em português, e não só textos e menus, mas até mesmo com dublagem. Sensacional! - 10
Cinco excelentes tabuleiros, contudo deixa com vontade de que o jogo tivesse mais um ou dois... - 8
100 excelentes mini games que atravessam 10 jogos da história da franquia, uma ótima seleção e em boa quantidade - 9
Sólido sistema de partidas online, com matchmaking, figurinhas sociais e conexões estáveis - 9.5
Simples em suas premissas, sem complexar ou inflar demais regras e mecânicas inchada pelas últimas edições da franquia - 9
Bons extras, como enciclopédia, músicas antigas entre outros mimos - 8.5

9

Fantástico

Mario Party Superstars é uma divertida viagem no tempo por uma franquia de tremendo sucesso. Tem como proposta voltar as premissas da série Mario Party, trazendo de volta cinco clássicos tabuleiros da trilogia original (lá do N64), e uma seleção dos melhores 100 mini games de 10 jogos da franquia. Tudo visualmente remodelado para gráficos da atual geração, o que entrega um visual soberbo. Na parte do gameplay, a simplicidade faz parte do mérito, sem uso de controles de movimentos, com mecânicas acessíveis a qualquer tipo de jogador, sem nunca perder a diversão. E mesmo com um pé em seu glorioso passado, o lançamento não esquece premissas da era moderna, oferecendo um sólido sistema de partidas online, com pequenos mimos adoráveis, como figurinhas sociais e conexões super estáveis e que não encerram partidas caso alguém decida sair. Ao olhar para o passado, e trazê-lo para o presente, o resultado aqui é um dos melhores Mario Party já feitos. E totalmente localizado em português (com dublagem)! Simplesmente imperdível!

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