Análise | Marsupilami: Hoobadventure

Disponível para PlayStation 4 e 5, Xbox One e Series, Nintendo Switch & PC

Marsupilami: Hoobadventure é um divertido jogo de plataforma aventura, nos moldes de antigos clássicos como Donkey Kong Country, protagonizado por um curioso personagem criado na Bélgica, em 1952, e que nem todo mundo deve conhecê-lo por aqui, mas talvez quem cresceu nos anos 90 assistindo ao Disney CRUJ, no SBT, vá se lembrar da pequena criaturinha amarela de longas caudas.

O personagem Marsupilami surgiu originalmente nos quadrinhos franco-belga, criado por André Franquin, autor e criador das histórias de Spirou, outro personagem bem famoso na Europa, e que conta com algumas destas obras publicadas no Brasil pela Editora Sesi-SP, incluindo O Roubo do Marsupilami, que é o ponto de criação deste personagem.

Apesar de personagem frequente no universo de Spirou até os anos 70, somente na década de 80 é que Marsupilami ganhou histórias próprias e uma reforma em seu universo, ainda guiado por Franquin, mas com outros artistas de renome envolvidos no projeto, sob uma nova casa, a Marsu Productions, que passou a ter os direitos sob a licença do personagem, a qual cedeu durante um período dos anos 90 para que a Disney fizesse uma animação que o deixou mais conhecido aqui pela América, especialmente no Brasil.

Porém esta versão da Disney não durou muitos episódios, o que acabou decepcionando a Marsu Productions, gerando um processo contra a Disney, alegando o não cumprimento do número de episódios que a série deveria ter e até mesmo a descaracterização do personagem. Levou alguns anos, mas no fim a Marsu ganhou o processo e a Disney esqueceu que um dia fez a animação. Não é pra menos que essa animação foi esquecida com o tempo, sem reprises nos canais, sem restauração em melhores resoluções, sem lançado em DVD ou até mesmo no catálogo do Disney Plus – o que é uma pena, pois apesar de tudo, foi uma animação que ajudou a popularizar o personagem, ao menos por aqui na década de 90.

Quanto ao jogo, Marsupilami: Hoobadventure foi desenvolvido pela Ocellus Studio, sendo distribuído pela Microids, e que atualmente publica diversos jogos baseados em personagens europeus, como Asterix e Smurfs. Seu lançamento ocorreu em 16 de novembro do ano passado, para todos os atuais consoles e PC.

A aventura do game em si tem como inspiração os quadrinhos originais, a qual infelizmente conheço muito pouco. Aqui somos apresentados a três Marsupilamis: Punch, Twister e Hope, em meio uma história bem simples, a qual o trio abre um estranho sarcófago perdido em uma praia, libertando um espírito preso lá dentro, que passa causar confusão pelos arredores do vilarejo a qual os personagens vivem em plena paz.

Inevitável comparação com aqueles símios

Uma das primeiras impressões que tive logo nos primeiros minutos jogando Marsupilami: Hoobadventure foi em como sua jogabilidade tem fortes inspirações nos jogos de plataformas 2D da era de ouro do Super Nintendo, em especial com a clássica trilogia Donkey Kong Country, que até voltou alguns anos atrás para mais duas aventuras – Donkey Kong Country Returns (2010) e Donkey Kong Country: Tropical Freeze (2014), mas que a meu ver não são tão revolucionários e marcantes quanto os três clássicos desenvolvidos pela Rare.

Já na parte visual, o estilo gráfico fica bem próximo ao DKC Returns & Tropical Freeze, optando pelo efeito tridimensional dos personagens e ambientação, assim como a utilização de cores vivas e fortes, tornando o universo do jogo bem expressivo em suas cores, mas sempre mantendo a jogabilidade em 2D. Também não chega a se utilizar de um 2.5D ou aquele recurso de múltiplos planos a qual a ação pode ocorrer, tais como estes mais novos DKC chegaram a brincar bastante.

Apesar de não gostar muito de analisar um game comparando-o com outros jogos, aqui fica muito claro de onde veio a inspiração, muito além da simples comparação entre gêneros de games. E isso torna impossível não mencionar tais títulos. Contudo acredito que arrancado esse band-aid, dá para seguir adiante.

O ponto é que Marsupilami: Hoobadventure tem uma jogabilidade muito bem idealizada na parte responsiva dos controles, ponto crucial da franquia Donkey Kong Country, que sempre exigiu pulos bem feitos e toda uma física própria ao pular em inimigos, acelerar e quebrar um pouco da lógica do rolar na beira de uma plataforma, afim de se estender um pouco além de sua borda e ainda ganhar um impulso para chegar ao outro lado… e tudo isso esta aventura do Marsupilami realiza com muito sucesso. Os controles são excelentes.

E é desse ponto que talvez outros elementos do game possam deixar a desejar. Por exemplo, há três personagens disponíveis para o jogador, mas são apenas skins, pois todos funcionam exatamente iguais. O que é uma pena, pois se cada um tivesse seu próprio jeito de jogar, pulassem ou corressem em intensidades diferentes, isso poderia dar um sabor adicional ao se incentivar utilizar todos quando fosse revisitar os mesmos estágios.

Além disso existe uma simplicidade em toda a obra, pois me parece que a intenção aqui é atrair um público mais novinho, que possa se sentir mais atraente pelos personagens e universo proposto. O resultado é um jogo bem fácil, que perde certa engenhosidade e diversidade de situações a qual a base que serviu de inspiração claramente sempre teve. Não tem montarias, não tem fases aquáticas, ou mudanças bruscas na dinâmica do gameplay em si.

Contudo, ainda que exista essa perda de elementos, também é realizado um esforço para que o game não fique somente na mesmice. Lembra dos barris explosivos de DKC? Aqui eles são substituídos por tucanos que podem engolir e expelir os Marsupilamis. Admito que achei muito legal isso, ainda que sua utilização seja bem mais simplificada e poucas fases realmente ofereçam um desafio acima da média com tal recurso.

Há também situações de trilhos em que o personagem precisa se prender enquanto a fase avança sozinha, exigindo que o jogador desvie, pule e se vire para continuar preso ao trilho que segue avançando. E aqui é bem inteligente a utilização das caudas dos personagens, que são realmente bem compridas. Elas podem se prender nestas argolas de uma distância realmente longa, permitindo estes malabarismos no ar, enquanto salta ou desvia de um obstáculo vindo em sua direção.

Quanto aos inimigos, estes não oferecem exatamente grandes confrontos, estando ali mais como um obstáculo para se saltar ou desviar. O jogo também peca um pouco ao não possuir batalhas contra chefes. O tal espírito solto ao iniciar o jogo apenas fica fugindo do jogador em sua fase de confronto, que é muito mais um estágio para correr de forma desenfreada, sem nunca parar, até chegar ao fim e encontrar tal espírito, a qual o jogador o soca em meio a um sistema de amassar botões, semelhante a Donkey Kong Jungle Beat (a tela é fixa e você bate afim de encerrar uma cutscene).

E por mais que esteja aqui tecendo pontuais críticas e apontando pontos fracos na hora de compará-lo com Donkey Kong Country, preciso reforçar que me diverti muito jogando Marsupilami: Hoobadventure. O que soa contraditório, eu sei. Mas talvez seja apenas a prova de que a fórmula ainda funciona e que devo estar com muita saudade desse estilo de game. Afinal já fazem sete anos desde que a Nintendo lançou Tropical Freeze. Hoobadventure mata um pouco dessa saudade.

Divertidamente curto

Talvez a minha maior decepção com Marsupilami: Hoobadventure foi descobrir que trata-se de um jogo muito curtinho, com apenas 3 mundos e um pouco mais de 20 estágios. Você o termina em poucos dias, e fica com aquela enorme sensação de que querer mais. É um daqueles jogos que quando começa a lhe dar aquela satisfação boa de estar jogando-o… ele acaba.

O começo é muito tranquilo, bem fácil mesmo, mas o terceiro mundo é quando o jogo demonstra que poderia brincar com mais elementos, desafiar mais o jogador, mas é também quando a aventura está prestes a terminar. Um das minhas fases favoritas é uma fase extra, enorme, que tem próximo a última fase do jogo e que o jogador só pode abrir se conseguir coletar um certo número de penas, que ficam espalhadas por todas as fases do jogo em locais as vezes nem simples de se alcançar ou escondidas mesmo, fora da visão do jogador. Essa fase me vez perder mais de 20 vidas para conseguir vencê-la. É esse tipo de coisa que o jogo deveria entregar mais, nem que fosse em um mundo extra após seu fim.

E tudo bem, dá para entender que trata-se de uma produção mais modesta, que não tem um orçamento ou tempo de desenvolvimento que um Donkey Kong Country pode ter nas mãos milionárias da Nintendo. Tanto o desenvolvedor quanto a publisher são empresas pequenas se comparadas com os grandes estúdios dessa indústria. Some ainda que é um jogo de uma franquia que não é tão popular mundialmente. O jogo é modesto porque não teria como ir além desse risco. Dá para entender.

Além das fases tradicionais, a qual o foco é sempre correr, pular, se pendurar e coletar frutinhas e os colecionáveis, o jogo também tem alguns desafios em um cenário chamado Dojo. A arte visual destes estágios muda em relação as fases normais, indo pelo visual a qual Rayman Origins foi um dos que popularizou o estilo anos atrás, utilizando somente as silhuetas dos personagens e dos itens a serem coletados.

O Dojo é um desafio de tempo e reflexos, a qual o jogador se movimenta por uma tela fixa tentando coletar todas as frutas ou passar por todos os anéis antes que um tempo predeterminado se esgote. Conforme o jogo avança as coisas vão ficando mais difícil. Se inicialmente você só tinha que se preocupar com o tempo, outros elementos vão sendo adicionados como inimigos ou espinhos. E se tomar dano em meio ao desafio é Game Over, sendo necessário recomeçar tudo novamente.

Estes desafios podem ser encontrados em todas as fases do jogo, por meio de portas secretas escondidas do jogador, exigindo explorar plataformas e paredes escondidas pelas fases, assim como nos 3 mapas dos mundos existem pontos de reprise de alguns destes desafios. Nos mapas, além destes desafios há fases extras, que podem ser destravadas utilizando as penas das fases ou então bilhetes dourados, que são obtidos vencendo os desafios do Dojo.

Procure destravar estágios extras, pois como não são obrigatórios para a progressão da aventura, normalmente são estágios com uma dificuldade mais elevada ou com elementos mais engenhosos em relação as fases normais.

Considerações finais

Marsupilami: Hoobadventure foi uma surpresa, no melhor sentido possível. Quando tomei conhecimento sobre este título fiquei imaginando um jogo de aventura de plataforma genérico, pensado unicamente para o público infantil, mas o resultado vai muito além disso.

O apelo juvenil ainda existe, por conta do universo destes personagens em si, mas há um charme inegável ao trio de personagens e o mundo a qual habitam, que funciona para marmanjos de qualquer idade. A direção de arte, seja nos gráficos, seja no trabalho com as cores da cenografia, tudo funciona muito bem, dando uma sensação bem agradável. Há uma fase em particular, a qual o jogador precisa ficar em cima de uma tartaruga gigante, que é uma prova visual do esforço dos desenvolvedores para entregar um jogo bonito e com muita personalidade.

Quanto ao gameplay, este é outro elemento que seria muito fácil cair na armadilha da jogabilidade genérica, contudo a decisão de se inspirar em Donkey Kong Country faz com que o resultado fuja do mundano e atinja um outro patamar de jogabilidade. E para isso foi necessário entregar ótimos controles, que refletissem com exatidão o tipo de gameplay que essa fórmula pede, e também foram muito bem sucedidos nisso. Os controles são muito responsivos.

Os pontos fracos do título ficam unicamente pelo fato de ser uma produção menor, dentro de um escopo mais indie, e por isso não consegue ter a magnitude de um jogo de grande orçamento. São apenas 3 mundos, que totalizam um pouco mais de 20 estágios, sem multiplayer, com três personagens que não tem distinções entre si na parte de jogabilidade. Dá para se concluir o game em torno de 6-7 horas, e é tão divertido estas horas, que lhe deixam com a vontade de mais.

De extras o jogo oferece um modo Time Trial, em que o jogador pode voltar as fases já vencidas e tenta vencê-las correndo contra o relógio. Particularmente nunca apreciei muito bem modos assim, mas vejo seu valor como replay, especialmente em um jogo bem curtinho. Há também uma galeria de storyboards, artes e da trilha sonora, que vai sendo liberado conforme se progride pela aventura. As penas, que são os coletadas pelas fases são tranquilas de se encontrar, mas tem uma ou outra que me escaparam, não vou negar.

No geral, Marsupilami: Hoobadventure é uma aventura para relaxar e se divertir. É excelente para brincar com uma criança. Minha sobrinha, de 5 anos, não habituada com videogames, esteve um dia em casa e se divertiu muito com o título, principalmente porque existe uma opção em que o personagem não morre ao tomar dano (basta selecionar nas opções) e pra ela, foi uma experiência incrível. O meu filho, de 9 anos, também se aventurou um pouco, e se interessou mais pelo desafio dos saltos e agilidade em algumas fases, mas no geral ele achou fácil demais. E pra mim, o que falou mais alto foi a nostalgia mesmo, vindo da fórmula DKC. É um game pequeno sim, mas com um coração enorme. Acho que essa é sua maior vitória.

Galeria

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Dando nota

Atmosfera totalmente inspirada na franquia de jogos de Donkey Kong Country - 8
Lindos gráficos 3D, ainda que a jogabilidade seja apenas 2D, com cores vivas e saturadas, dá personalidade a obra - 8.8
Ótima jogabilidade, controles respondem muito bem aos movimentos e saltos exigidos em alguns momentos das fases - 8.5
História muito simples, não serve para apresentar o universo de Marsupilami aos jogadores - 7
Aventura bem curtinha, apenas 3 mundos, deixando o jogador querendo mais - 6.5
Valor de replay fica por conta de alguns colecionáveis e do Time Trial de correr pelas fases já vencidas - 7.5
Entrega uma boa diversidade de situações nas fases, tem estágios muito bem construidos - 8

7.8

Divertido

Marsupilami: Hoobadventure é uma surpresa agradável, um plataforma 2D que emana muito do sentimento dos clássicos jogos da franquia Donkey Kong Country, mas com seu charme próprio. Com um escopo e orçamento menor, o jogo tem uma pegada mais indie e daí acaba apresentando alguns de seus pontos fracos, como ser muito curto e os três personagens disponíveis a serem jogados serem apenas skins, sem distinções entre si. Passado por isso, o resultado é um jogo tremendamente divertido, com ótimos controles e fases realmente bem planejadas. Talvez seja um jogo que vá passar batido por muitos, mas quem escolher dar uma olhada, certamente vai se divertir.

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