Análise | Asterix & Obelix: Slap Them All!

Disponível para PlayStation 4 e 5, Xbox One e Series, Nintendo Switch & PC

Asterix & Obelix: Slap them All é mais um jogo de beat’em up repleto de energia gaulês, com poções místicas, soldados romanos meio magricelas e muita pancadaria por meio de bons e dolorosos tapas e tabefes. O título chegou consoles e PC não faz muito tempo: seu lançamento ocorreu em dezembro de 2021. O jogo foi desenvolvido pelo estúdio francês Mr. Nutz Studio, a pedido e distribuído globalmente pela Microids, publisher que cuida de diversas licenças, além de inúmeros jogos independentes, muitos vindos de pequenos estúdios localizados em toda a Europa.

Uma curiosidade à parte, mas a Microids recentemente conseguiu a licença para desenvolver jogos de diversos personagens dos quadrinhos. Além de Asterix, a empresa conseguiu Os Smurfs (já lançado), Marsupilami (tem análise aqui) e até mesmo Garfieldeste último deve ser lançado em certo momento desde ano. Por outro lado, a Mr. Nutz Studio também revelou recentemente que está planejando para este ano um remake de Joe & Mac: Caveman Ninja, antigo jogo arcade lançado nos anos 90 em diversos consoles da época.

Um pouco de gaulês com Asterix

Para uma geração que nunca ouviu falar de Asterix, um pouco de contexto cai bem, porque é um personagem famoso, porém popularmente no Brasil tem suas idas e vindas, por problemas culturais estruturais e baixa acessibilidade de seus quadrinhos (que são meio caros) e de suas animações (raras de serem exibidas e que não estão em nenhum serviço de streaming).

Asterix é o nome do personagem principal, da série de histórias em quadrinhos de mesmo nome, criada em 1959 por Albert Uderzo e René Goscinny na França, tendo obviamente como inspiração o povo gaulês e o período histórico da transformação da República Romana em Império Romano, sob o comando de Júlio César (Julius Caesar). Historicamente as históricas acontecem em 50 A. C., em meio a resistência gaulês contra as forças de romanas de Júlio César.

As histórias são, acima de tudo, humorística e, principalmente, uma paródia a sociedade francesa contemporânea através de seus estereótipos e regionalismos, além de tradições e costumes emblemáticos de países estrangeiros.

A brincadeira com o nome dos personagens, todos terminando em “ix”, vem de um sufixo linguístico gaulês (“-rix”) presente em diversos líderes históricos (e reais) de tal período, como Vercingetorix, Orgetorix e Dumnorix. Tal sufixo tem o significado de rei/chefe/líder. Então no universo de Asterix, todos os personagens gauleses, que possuem força descomunal mediante uma poção mágica, tem essa brincadeira com seus nomes, como Obelix, Panoramix, Assuranteourix, Vitalstatistix e até mesmo o cachorrinho Ideafix. Dá uma certa imponência a proposta de resistência gaulês, por meio do bom humor e da fantasia.

Incrivelmente falando, as histórias de Asterix já foram traduzidas para mais de 100 línguas, incluindo o nosso português. Até este momento já foram lançados 39 graphic novels, além de 15 adaptações para TV e cinema (entre animações e filme), tem uma série animada em produção para a Netflix a ser lançada em 2023, existem mais de 40 jogos de videogame, 15 jogos de tabuleiros ao redor do mundo, brinquedos e até mesmo um parque temático localizado em Paris.

Aventura pela Grã-Bretanha

Asterix e Obelix têm por atividade do dia-a-dia sair derrotando romanos às centenas, para defender sua vila dos ataques dos mesmos, sempre objetivando a ocupação do território da vila, assim como do segredo da poção que tornam os gauleses absurdamente fortes. Então é claro que o beat’em up , nosso popular briga de rua, cai como uma luva no universo desses personagens.

Para nos dar um motivo para cairmos na pancadaria, Anticlimax visita Asterix, Obelix e Dogmatix e pede a ajuda deles em sua aldeia, que está sob o risco dos romanos e eles não possuem mais poções. Os heróis obviamente aceitam ajudar e escoltar o amigo. Essa premissa é uma bem básica, mas serve, já que o modo “campanha” mistura vários arcos das HQs da dupla, dividido em seis capítulos, cada qual com 10 fases contando uma história de uma das HQs famosas.

Tendo esse pano de fundo, justifica o motivo das mudanças de ares entre uma fase e outra e a história acaba por se desenrolar de forma mais ampla, envolvendo várias regiões da Grã-Bretanha, Roma e outras regiões da Europa. Para concluir as missões, surge a máxima de qualquer beat’em up (que é a sempre clássica e funcional necessidade de sempre avançar em frente, derrotar inimigos, quebrar coisas, pegar itens e derrotar alguém mais poderoso no final), e essa série vai se repetindo fase após fase, vez ou outra muda para uma atividade extra como uma corrida, ou algo do tipo, onde a velocidade no apertar dos botões é o que vai decidir a sua derrota ou vitória neste desafio.

Podemos avançar por essa empreitada sozinhos ou com um amigo ao nosso lado, dividindo a aventura e os percalços pelo caminho. Aqui podemos escolher obviamente entre controlar Asterix ou Obelix ou ambos no caso do jogo cooperativo. Ao jogarmos com Obelix teremos a simpática companhia de seu mascote, o cãozinho chamado Ideiafix. Ele não ajuda efetivamente em nada, mas é legal notarmos esse detalhe de incluir ele ao lado de seu tutor.

Se formos jogar sozinhos, ao apertarmos um dos gatilhos podemos trocar o controle e jogar com o outro personagem, cada qual com sua própria barra de saúde, mas fica uma ressalva, caso um deles seja derrotado, tendo toda a sua energia perdida, ambos são derrotados e é Game Over na nossa cara.  Não temos pontos de salvamento nas fases, se formos derrotados em qualquer parte, vamos ter que jogar toda a fase novamente. No modo cooperativo, no entanto, isso não acontece, caso um dos jogadores seja derrotado, o outro poderá ressuscitar o amigo caindo e continuar a aventura, sem a necessidade de iniciar a fase novamente do zero.

Gráficos desenhados à obra

Os gráficos desenhados a mão chamam a atenção obviamente e conseguem de forma bem convincente, colocar em movimento as imagens das clássicas histórias em quadrinho de Asterix e também emular de forma parcial os desenhos animados na parte dos efeitos sonoros e nas animações.

Eles conseguiram nos deixar controlar um desenho animado por assim dizer, não tem nenhum entrave, não há congelamento ou engasgos (pelo menos no Xbox Series S tudo rodou de forma lisa) e flui naturalmente rodando a constantes 60fps, embora os personagens sejam animados com muito poucos quadros, dando aquela impressão dos desenhos animados dos anos 50/60. Remetendo aos quadrinhos da série, temos as inconfundíveis onomatopeias sempre que você acerta inimigos ou obstáculos no caminho.

Caso você tenha tido a oportunidade de conferir as histórias em quadrinho de Asterix e Obelix (eu tive essa oportunidade quando era criança e meu pai conseguia pegar os livros na biblioteca da universidade e trazia para eu ler, toda semana tinha novidades para conferir e curtir aventuras com essa dupla de gauleses), saiba que as imagens aqui são exatamente como imaginamos na época dos livros se pudéssemos jogar elas, é sem sombra de dúvida mais bonito e polido do que muitos desenhos animados que temos atualmente. Mas como nem tudo são flores, faltou é claro uma animação nas partes de história, onde somos apresentados a telas estáticas com falas para lermos.

Aproveitando, o trabalho de áudio aqui é bem interessante, temos uma tonelada de frases curtas desferidas no momentos dos golpes dos personagens, mas exatamente por serem frases curtas, vão acabar se repetindo rapidamente. As músicas presentes se saem muito melhor, ao apresentar músicas com gaita de foles tocando ao fundo, obviamente pelo fato de estarmos ambientalmente na antiga Grã-Bretanha celta. Faz sentido e apresenta seu charme.

Sem evolução… sem emoção

Aqui fica o calcanhar de Aquiles de Asterix & Obelix: Slap Them All!, não temos evolução de habilidades, level, energia ou qualquer coisa. Desde o início temos todos os golpes tanto de Asterix quanto de Obelix disponíveis para serem executados pelo jogador. Somos apresentados a todas as opções de golpes no começo e podemos conferir eles em um menu posteriormente, temos inclusive conquistas/troféus vinculados a executar todos os movimentos de um determinado personagem na mesma fase.

O fato de não termos nenhuma evolução, nada para atualizar ou melhorar acaba por retirar um pouco do charme do jogo. O único motivo de jogar novamente algum dos níveis ou todo o jogo fica sendo somente para melhorar a pontuação adquirida anteriormente, jogar em outra dificuldade para ter um maior ou menor desafio ou partilhar o jogo com um amigo e ou familiar.

Pelo mesmo motivo de não termos algo que exija jogar e rejogar as fases, rapidamente o jogo se torna repetitivo e sem algo para lhe prender ou que acabe por lhe incentivar a conferir o que vem a seguir, já que a única mudança que vamos notar de uma fase para outra ser a troca do plano de fundo, que varia  entre florestas, prisões, barcos, montanhas…

Em pouco tempo os chefes de fase também vão começar a se repetir também, isso sem mencionar os inimigos em grande volume que sempre são repetitivos, mas isso já é comum nos jogos beat’em up, onde os inimigos mais “ralé” são todos iguais com algumas alternâncias de cores. Aqui teremos soldados, piratas e ladrões como inimigos do dia-a-dia de Asterix e Obelix.

Faltou um certo senso de progressão dentro da estrutura do jogo. Tudo que você faz na primeira fase, você faz na última. Não existe novidades significativas. Novas estruturadas de layout, novos inimigos, novos meios de combate. Nada. E se não tem evolução de gameplay, o incentivo do jogador em seguir jogando acaba consideravelmente diminuindo. A trama pela trama, por si só, e na forma como o jogo entrega, não segura ninguém. Infelizmente.

Menos socos, mais tapas

Falando sobre a jogabilidade, ela funciona exatamente por apresentar tudo o que já estamos acostumados com todos os beat ́em up e seus controles nada complexos. Aqui temos pulo, ataque, defesa, agarrão e especial. Este especial tem um contador embaixo da vida e é representado por raios, que nos remete aqui a poção que os gauleses usam para ficar fortes e o mesmo para dar algum efeito ao golpe normal.

Vou explicar melhor as opções desse especial. Estaremos automaticamente usando ele ao pressionarmos o direcional para a direita ou esquerda (com 2 toques rápidos) ao realizarmos isso vamos imediatamente sair correr contra os inimigos e isso vai espalhar eles, causando danos em todos os que foram atingidos pelo caminho, é uma ótima opção para sair de uma situação onde esteja-se sendo pressionados por um grande grupo de inimigos.

É divertido notar o impacto que Obelix faz ao realizar essa investida, já que comparado a Asterix, ele é praticamente um ônibus jogado para cima dos inimigos, atirando eles para todos os lados. Pressionando o botão de especial e um dos direcionais próximos a um inimigo iremos dar um “super soco” arremessando os inimigos para cima (no caso de pressionar o direcional para cima ou para os lados, jogando assim o inimigo na direção direita/esquerda) Esse arremesso lateral pode derrubar outros inimigos com o impacto causado pelo colega arremessado.

E ainda tem mais, se mantivermos pressionado o botão do especial, Asterix vai abrir os braços e girar como um peão limpando e atordoando os inimigos próximos, já com Obelix as coisas mudam um pouco, ele pode pular e cair com força no chão (pular e apertar o especial) causando um estrondo e atordoando os inimigos próximos.

A defesa obviamente vai defender um golpe e a opção de agarrar nossos adversários é que vai nos dar mais algumas opções, mas não tantas quando o golpe especial. Ao realizarmos o agarrão podemos fazer algumas ações dependendo de com quem estejamos jogando no momento. Asterix pode arremessar o adversário agarrado em linha reta contra outros inimigos, ou girar ele acertando todos ao redor, Obelix por ser maior e mais forte, pode segurar e esbofetear o inimigo agarrado ou batê-lo no chão, além é claro de assim como Asterix, arremessá-lo na direção dos outros inimigos.

A parte cômica desse sistema se dá pelo fato da dupla gaulesa ser tão forte que eles não fecham os punhos para bater nos romanos. Basta um tapa dos heróis para que os romanos saiam voando pela tela. Por isso o jogo insiste em colocar um grande número de adversários em tela, pois os personagens controlados pelo jogador são exageradamente fortes. Eles não precisam socar, basta sair estapeando todos os romanos que se colocarem em seu caminho.

Considerações finais

Asterix & Obelix: Slap Them All! é um bom jogo para se passar o tempo, jogar com os amigos ou para desestressar jogando um pouco por dia, pois bater em romanos com Asterix e Obelix sempre vai ser divertido. Os gráficos e o som são muito bons e são um banquete para nossos olhos e ouvidos e chamam a atenção.

É um jogo simples, com uma impressão de que parece funcionar com jogadores mais casuais ou crianças menores, dado o baixo grau de dificuldade e simplificada em sua progressão. Iniciei uma fase e vai estapeando tudo que aparece na tela. Não tem segredo, mas tem lá seu grau de satisfação. De uma certo forma serve como uma diversão relaxante para desligar o cérebro após um dia de exaustão mental.

Contudo há alguns pequenos pontos falhos que preciso mencionar. Para nós, brasileiros, começa por não ter a opção de curtir essa aventura em português, então será preciso entender inglês ou somente jogar sem aproveitar a história e as informações apresentadas. Contudo, o interlúdio entre as fases tem muitos diálogos. Não acompanhar isso parece sacrificar uma parte do conteúdo ofertado pela experiência de jogo e do próprio universo de Asterix.

Outro ponto está na facilidade dos inimigos em si, que não vão apresentar qualquer desafio alto individualmente, mas que vão causar problemas pela sua enorme quantidade e pela já comentada indisponibilidade de salvar no meio da fases, já que não temos nenhum checkpoints. Quando muitos inimigos surgirem na tela, vamos cair no já manjado apertar frenético de botões, pois quanto maior for o número de inimigos na tela, maior será o seu desespero para derrotar todos e não perder muita energia, para não sermos derrotados e não cairmos na sina de perdermos e termos inegavelmente que jogar toda a fase novamente.

A opção de mostrar e liberar todos os movimentos de Asterix e Obelix logo de cara no colo do jogador acaba tirando um pouco aquela vontade de nos empenharmos para evoluir, da sensação de progredir e ficar mais forte ao longo da aventura. Isso tira o fator curiosidade, da renovação do gameplay ao longo de sua progressão. O jogo fica manjado rapidamente.

Sobre sua duração, é um título de 5 ou 6 horas caso ligado ininterruptamente, após completar o modo Adventure temos o desbloqueio do Free Play onde podemos desafiar novamente as fases, mas como já comentei, não existe um real incentivo para se jogar todas as fases novamente.

Asterix & Obelix: Slap Them All! é uma experiência simples, um beat’em up em sua fórmula mais casual, até um pouco empobrecido. Funciona para brincar com a criançada, para pessoas que não estão acostumadas com videogames, para um público mais casual. Contudo está longe de uma experiência hardcore. Faltam elementos mais complexos para tal. Faltou aí um pouco mais de poção dos gauleses, sem dúvida alguma.

Galeria

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Dando nota

Visual é todo desenhado a mão o que dá uma característica especial e chama a atenção - 8
Multiplayer local para 2 jogadores, daqueles que nos fazem chamar amigos para dividir o sofá - 7.5
História tem partes baseadas nas HQs, contudo é uma pena não estar localizado em português - 7
Tropeça na cartilha básica de um bom beat'em up, esquecendo do senso de progressão - 6
Poder trocar entre Asterix e Obelix no single player, é uma boa ideia, cada um com sua barra de saúde - 7
Fator replay é muito fraco, todos golpes estão lá desde o começo, sem árvore de habilidades - 5
Inimigos são repetitivos e não oferecem grande desafio, ainda que surjam em grande quantidades - 7.5

6.9

Hum...

Asterix & Obelix: Slap Them All! mesmo com seu visual maravilhoso não vai muito além de um rosto bonito, possuindo vários defeitos na proposta beat'em up. Sem um senso de progressão, repetição de jogabilidade, o título segue uma proposta extremamente casual, apoiado em um excesso de simplicidade. É legal revisitar o universo de Asterix, show que tenha coop para dois jogadores, contudo, é preciso mais para que uma bom beat'em up se destaque de tantos outros que existem na atualidade.

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