Análise | Tales of Xillia Remastered
Disponível para PlayStation, Xbox, Nintendo Switch & PC

Tales of Xillia Remastered dá seguimento as celebrações de 30 anos da franquia “Tales Of“, trazendo mais uma joia perdida no tempo para uma nova geração de jogadores. Um mundo de humanos e espíritos convivendo juntos em harmonia, até a criação de uma arma que coloca toda a existência desse equilíbrio em xeque. Um clássico que traz duas perspectivas, a depender do protagonista selecionado.
O título está sendo distribuído globalmente pela Bandai Namco, sendo que foi o último desenvolvido pelo encerrado “Namco Tales Studio“, hoje totalmente integrado aos estúdios internos da Bandai Namco. Contudo coube ao estúdio japonês DokiDoki Groove Works Inc. cuidar da versão remasterizada. Esta nova edição foi lançada no último dia 31 de outubro, para as plataformas PlayStation 5, Xbox Series X|S, Nintendo Switch (e compatível ao Switch 2) e PC.

Tales of Xillia é, originalmente, um JRPG de ação lançado para PlayStation 3 em 2011 no Japão, e em 2013 no restante do mundo, para comemorar o 15º aniversário da série Tales of. Para dar uma pincelada no contexto e localização – que vou explicar melhor em seguida – temos aqui um jogo que se passa no mundo chamado de Rieze Maxia, local onde humanos e espíritos etéreos vivem pacificamente e em harmonia.
Nuances importantes
A história acompanha Jude Mathis e Milla Maxwell, que escapam de autoridades governamentais após sabotarem uma arma de destruição em massa conhecida como Lança de Kresnik. A proposta diferente é que podemos jogar com Jude ou com Milla, o que traz visões diferentes sobre determinadas passagens. Xillia é um exemplo de como a equipe de desenvolvimento se empenhou ao máximo para conseguir criar (para a sua época, claro) a experiência definitiva da franquia Tales of.

Aproveitando a deixa de que os protagonistas são foragidos da lei, essa urgência imediata de estar “em fuga” injeta na aventura uma energia diferente de outros jogos da série. Isso é reforçado pela narrativa de um modo geral, sendo totalmente diferente dos outros jogos da série, que apresentam uma abordagem lenta e metódica.
Uma experiência de campanha que vai exigir por volta de 40 a 50 horas para apresentar sua totalidade, mas que sabe nos jogar rapidamente em sua história principal. Isso ajuda fortemente Tales of Xillia a evitar um problema comum em RPGs, onde depois de visitar a história de cada membro do grupo eles simplesmente ficam sem aparecer por um longo tempo, isso quando não desaparecem sem deixar vestígios.
Quanto a dupla protagonista: Milla é um espírito que assumiu forma humana e ainda precisa aprimorar suas habilidades de interação social, mas também inspira os outros e desenvolve um forte carinho pela humanidade. Ela possui um jeito reservado e isso acaba proporcionando muitos momentos divertidos. Já Jude, por sua vez, é um estudante de medicina que trabalha duro e tem um forte desejo de ajudar os necessitados, mesmo que isso o prejudique, e ao jogarmos sua aventura acabamos descobrindo mais sobre o que o motiva e as dificuldades que ele continua a enfrentar, apesar de sua atitude positiva.


Aqui tudo vai acontecer integralmente, e não vamos esquecer de nenhum dos membros do grupo. Fica bem evidente o cuidado e a atenção dedicados a cada personagem e à forma como eles se conectam ao mundo, algo reforçado pelo sistema de diálogos característico da série Tales. São aqueles diálogos que surgem no meio da exploração, que podemos acompanhar pressionando um botão, ou ignorá-los para conferir depois, em um dos menus, ou nem conferir, caso você não se importe com isso, mas é fortemente recomendado conferir, pois temos muitas pérolas ali escondidas. Uma pena que o jogo não esteja localizado em nosso português, pois isso facilitaria tanto a exploração desse recurso.

O mundo de Rieze Maxia é bem vasto, com muitas cidades para explorar, além de uma variedade de masmorras, que frequentemente incluem novos elementos de jogabilidade; como encontrar buracos secretos para achar tesouros, escalar através de vinhas, ter que pular em quedas para visitar andares inferiores e ainda minerar rochas para descobrir passagens.

Há muitos itens colecionáveis e baús de tesouro para encontrar pelo caminho, e o tamanho das masmorras é perfeito para manter o jogo interessante. O fato de Tales of Xillia Remastered ter um mapa de mundo aberto com muitas missões secundárias e recantos para explorar também contribui para a diversão da aventura.
Mundo dividido
Há aproximadamente 2 mil, anos os humanos conseguiram desenvolver o Spyrix, uma fonte de energia que absorve espíritos. Em resposta a isso, o poderoso espírito chamado Maxwell reuniu alguns humanos, que compartilham de uma relação simbiótica com os espíritos e os abrigou em uma terra isolada, protegida por uma barreira, a qual fica então conhecida como Rieze Maxia e as terras exteriores (onde foi criado o Spyrix), fica sendo chamada de Elympios.
Os espíritos se tornam necessários para sustentar a natureza do local e Maxwell fica na espera do dia em que todos os humanos que ficaram em Elympios morram, para então finalmente poder dissipar a barreira e tornar o mundo um só novamente, sem perigo para os espíritos ou aos humanos que escolheram proteger esses espíritos do poder subjugante de Spyrix.

Muito tempo depois, mas ainda a 20 anos do tempo em que iremos jogar a aventura, um navio cruzeiro de Elympios acaba ficando preso em Rieze Maxia e seus tripulantes então, acabam formando o grupo terrorista conhecido como Exodus. Já que estão em território “inimigo” este grupo trabalha desde então, com os militares de Elympios para encontrar uma maneira de destruir a barreira criada por Maxwell.
Nos dias atuais, Rieze Maxia é governada por dois países chamados Rashugal e Auj Oule. Embora para os desavisados parece que eles coexistem em harmonia, ambos na verdade iniciam operações secretas na tentativa de conquistar o outro na esperança de unificar Rieze Maxia em um único país.
Quando o jogador assume o controle, Jude Mathis, um estudante de medicina acaba indo investigar uma instalação de pesquisa militar em busca de seu professor desaparecido. Lá ele se encontra com Milla Maxwell a atual sucessora de Maxwell. Juntos eles descobrem uma arma movida a Spyrix (a Lança de Kresnik) que acaba absorvendo todo o mana e mata dessa forma o professor de Jude e outras pessoas que foram capturadas também. Por ter visto o que não devia, Jude é a próxima vítima com toda certeza, mas ele acaba sendo salvo por Milla Maxwell.

Para não deixar as coisas saírem do controle, a lança é ativada e acaba por absorver os 4 espíritos elementais que são companheiros de Milla, forçando-a a recuar. Milla decide fazer de tudo para destruir tal arma criada pela rei de Rashugal e recuperar seus espíritos, e Jude acaba indo no embalo, já que agora é declarado e procurado como um possível criminoso.

Durante esta longa viagem a dupla acaba conhecendo e reencontrando pessoas, e logo a trupe acaba se formando, com as entradas no grupo de Alvin (um mercenário), Elize Lutus (jovem mestra em magia espiritual das trevas e artes de cura.), Rowen J. Ilbert (mordomo e estrategista) e Leia Rolando (enfermeira e melhor amiga de infância de Jude). Afinal todo bom JRPG precisa de companheiros, e de uma jornada, certo?
Parceiros de combate
O sistema é bastante simples e intuitivo, consistindo em pressionar botões para usar habilidades e artes que você desbloqueou e atribuiu aos botões e/ou combinações do controle. Um elemento de jogabilidade único é a possibilidade de trocar rapidamente o membro do grupo com quem você está emparelhado, o que concede diferentes benefícios, como Elize, que rouba itens dos inimigos, ou Alvin, que pode quebrar a defesa de alguns inimigos com seus tiros.
Há no total seis personagens jogáveis e cada um possui um estilo de combate completamente diferente. A série Tales of já havia, nessa época, se consagrado como um série de jogos que tem seu foco voltado para batalhas intensas (em tempo real) com muita ação acontecendo na tela ao mesmo tempo. Não há turnos, toda a ação precisa ser decidida rapidamente, ainda que existam recursos que possam pausar momentaneamente a batalha.

Além de possuir estilos diferentes de combate, cada personagem possui suas próprias habilidades, aqui chamadas de Artes, que são desbloqueadas ao longo do jogo em um sistema de upgrade (orbes de Lírio) que é forjado ao se abrir módulos conforme vamos subindo de level ao longo das batalhas. Os orbes são colocados em uma teia, e conectar todos os orbes em uma área ao redor desbloqueando uma nova habilidade passiva ou ativa; como melhorar sua capacidade de defesa ou conceder uma nova magia.

Cada um dos personagens tem sua própria rede de nós, cabe ao jogador configurar cada um deles como bem entender, dentro das opções disponíveis. Isso permite escolher técnicas ou atributos específicos, o que pode transformar um personagem em um lutador físico (brawler) ou curandeiro (healer). Como no caso de Jude, que é estudante de medicina e pode atuar no suporte de cura do grupo, mas também possui poderes formidáveis de combate com seus punhos, o que pode fazer ele tenha ataques devastadores também.
O diferencial que temos em Tales of Xillia é o sistema Linked Arte, que permite a conexão do golpe de 2 personagens por meio de uma corrente etérea, desbloqueando uma variedade de novas opções, como combos e artes vinculadas entre os membros participantes do link.

Cada combinação dos seis membros do grupo possui um estilo e uma seleção de ataques diferentes, oferecendo uma gama impressionante de combinações que permite encadear combos incríveis sem esforço. Você pode vincular artes diferentes para cada combinação de botões, e ter diferentes combinações numa mesma batalha ao usar um técnica que se conecte a outra utilizada por um dos outros membros da equipe.
As batalhas contra chefes são espetaculares e memoráveis, especialmente quando se consegue executar com sucesso as sinergias com os personagens. Mesmo contra grandes grupos de inimigos, a remasterização roda de forma estável e os gráficos extremamente nítidos, mesmo com toda a loucura acontecendo em tempo real na tela, com os ataques seus e de seus oponentes simultaneamente.

Diferenças remasterizadas
Embora algo em versão remasterizada seja basicamente uma melhoria direta, no caso de Tales of Xillia Remastered foram adicionados alguns recursos importantes que aprimoram e facilitam a experiência do jogador para com a experiência da obra original. Isso torna o jogo mais “palatável” a tempos modernos.
Para começar, a atualização em HD de Xillia é notável se comparada ao seu lançamento original, e até posso ser audaz e comentar que ficou melhor do que a feita em Tales of Graces f Remastered lançado mais no início de 2025. Tales of Xillia tem e mantém o estilo artístico que privilegiava a estética etérea e espiritual, mantendo muito da identidade da Direção de Arte original.

Há também uma série de outras mudanças, pequenas é claro, mas relevantes para a experiência; como marcadores de objetivo mais claros, um mini mapa reformulado, a possibilidade de desativar encontros com inimigos e até de repetir batalhas difíceis. Essas alterações eliminam as pequenas frustrações que atormentavam jogadores no lançamento original
Não só isso, mas antes de iniciar o jogo, assim como aconteceu em Graces f é permitido ligar ou desligar facilitadores, como dobrar a experiência das batalhas, , causar mais dano, aumentar o limite de itens a carregar no inventário entre outras coisas. Isso ajuda jogadores com menos tempo para explorar e cria uma experiência que foca na imersão narrativa, ao invés do desafio da jogabilidade repetitiva inerente do gênero em si.
São recursos que permitem subir o nível de seus personagens de forma mais agradável, além do menor desafio para os momentos de combate. Isso claro, para quem busca uma experiência mais suave. Pois, caso contrário, basta não ligar nada disso e manter a dificuldade original.

Por fim, nas versões para consoles está fixado uma taxa de quadros de 60 FPS (e 120 no PC), o que melhora com eficiência a fluidez do combates e da exploração como um todo.
Considerações finais
As remasterizações da série Tales of parecem estar focadas em trazer de volta jogos que podem ter sido esquecidos pela maioria dos jogadores que não são fãs da série, e que podem nem mesmo ter conhecido estes jogos em seus lançamentos originais, ou terem passado batido por eles. E há valor nesse resgate pode são obras icônicas, em uma período em que a franquia reescrevia os JRPGs de ação.
Eu mesmo, apesar de ter jogado muito Tales of Symphonia (no Gamecube) somente conhecia de nome Tales of Xillia, e como os jogos dificilmente saiam oficialmente por aqui, e a importação se dava apenas para jogos mais conhecidos e famosos, acabei nunca experimentando este e muitos outros Tales of que agora estou podendo aproveitar essas versões remasterizadas.

A Bandai Namco está sabendo manter a essência desses jogos antigos ao remasteriza-los, adicionando algumas melhorias visuais e simplificando a jogabilidade, o que torna este e todos os outros remasters suas melhores versões para serem aproveitadas nos consoles atuais. Fora que achar esses jogos em suas versões originais, pelo menos aqui no Brasil se torna algo complicado senão, algo muito caro com jogos antigos custando mais do que os mais novos em algumas lojas de jogos antigos e sites de leilões.
Meu único puxão de orelha fica para a falta de localização, porque se já está sendo feito o resgate, e entendendo melhor o mercado global, toda a modernidade atual, tecnologia e seus recursos cada vez mais acessíveis, além de todo o debate que se tem hoje em dia sobre acessibilidade nos videogames, seria precioso olhar para estes clássicos e realizar um esforço para novos idiomas. Incluindo o português.
Meu conselho final para encerrar essa análise, é a recomendação de se jogar primeiro com Jude, já que estamos nos inteirando do mundo e história, e o personagem acaba sendo a entrada perfeita para este mundo como um todo, já que ele não possui o conhecimento que Milla possui.

E este é um outro elogio que se pode ser feito a obra, pois existem duas histórias e duas perspectivas a serem apresentadas em uma única jornada. Depois em um New Game+ jogar com Milla lhe dará outra experiência, outras cutscenes e momentos singulares, permitindo acompanhar vários acontecimentos em outro ponto de vista, e participando de batalhas diferentes em momentos que os personagens não estão juntos na exploração.
Tales of Xillia Remastered oferece mais uma viajem nostálgica a uma fase memorável desta franquia, cuja sua fórmula espelha muitos JRPGs de ação atual, e até mesmo as últimas entradas da franquia. E esta é um título que tem sua própria personalidade, dupla de protagonistas, o sistema de linkar um parceiro, mundo totalmente original, história sólida e personagens encantadores. O resultado é uma preciosa remasterização.
Galeria
Dando nota
História prende o jogar e não fica enrolando, indo direto aos pontos necessários para seu desenvolvimento - 9
Masmorras tem diversas interações novas e muito, mas muitos itens para serem encontrados - 8.5
Sistema Linked Arte de golpes de personagens nas batalhas traz uma nova tática para todas as batalhas - 9
Facilitadores que podem ser ativadas são ótimos para quem quer curtir a narrativa e não possui tantas horas livres - 8.5
Cenas animadas são incrivelmente detalhadas e belas - 9
Não tem localização em português, único pecado desta nova oportunidade de se conhecer tal clássico - 6.5
Desempenho do jogo e sua trilha sonora são muito bons e cumprem com o esperado de uma remasterização - 8.5
8.4
Ótimo
Tales of Xillia Remastered combina seu charme com os ajustes modernos, como salvamento automático, bônus de exp e demais facilitadores. Esta nova edição entrega um polimento visual, tornando-o um clássico do PS3 que definitivamente vale a pena jogar agora se você gosta de JRPGs com combate frenético. Todas as mecânicas de combate ainda se encaixam gradualmente bem, criando o sistema de combate rápido e taticamente diversificado pelo qual o original era famoso. Um pecado não ter sido localizado em português, mas ainda é uma experiência digna de um clássico de sua era.


