Especial Literário: O Xangô de Baker Street! (+Reflexões sobre Literatura Clássica Nacional)

Rá! Sobrou pra mim fechar a semana do livro aqui no Portallos! Durante toda a semana todos os membros da nossa equipe criaram seus posts literários, em comemoração à data de hoje, 23 de Abril: Dia Internacional do Livro. Perdeu algum post? Basta clicar neste link para ver todos os especiais literários.

A minha escolha é um pouco incomum, até porque não é um livro tão famoso assim, ou uma obra clássica da nossa literatura e o autor do mesmo é mais famoso pelo seu trabalho na TV do que pelos seus livros: O Xangô de Baker Street de Jô Soares!

E o livro é milhões de vezes melhor que o filme, antes que alguém diga alguma coisa a respeito. Se você já assistiu a versão para o cinema, perdeu um excelente livro. Recomento expressamente que você corra para uma livraria e compre a versão em páginas, porque o filme não dá nem para se comparar com o livro, por mais fiel que os roteiristas tentaram ser.

Entretanto antes de comentar sobre o livro, preciso abrir um parentese e explicar uma coisa, aproveitando a oportunidade sobre o tema: Eu odeio Literatura Clássica Nacional! E vou explicar o motivo.

Literatura Clássica Nacional? ECA?

Se você quer saber apenas sobre o livro de Jô Soares, pule os parágrafos abaixo e vá direto ao texto sobre o livro. 😉

O meu problema com a literatura clássica do Brasil é a forma como ela é apresentada ao brasileiro: na escola. Veja bem, não acho que a literatura clássica nacional seja ruim, pelo contrário, ela reflexe a história brasileira de grandes autores e da vida nos tempos antigos no páis, é um retrato histórico do país, mesmo que sejam fictícia. Mas vamos admitir, muitos clássicos são apresentados cedos demais aos jovem brasileiro.

O maior problema destas obras é a linguagem utilizada. Parece um outro português, quase uma língua morta. São tantas conjugações verbais bizarras, tantas formas de tratamentos antiquadas, tantas palavras que só o dicionário para explicar, não são obras de fácil digestão. E isso assusta qualquer pessoa não habituada com a leitura de livros. As histórias são antigas e muitas das situações também são complexas para o jovem entender, pois muitas situações históricas também são aprendidas na escola, mas não vamos nos esquecer que são 8 anos de ensino fundamental e mais 3 de ensino médio. Não era incomum, usando eu como exemplo, ter que ler um livro de um determinado período histórico que ainda nem tinha visto como era na aula de história, isso quando víamos, porque se tem um matéria que é extremamente mal ensinada na escola é história brasileira. Era difícil encontrar um professor da matéria que sabia mais do que o livro escolar ensinava. Então temos duas situações que afugentam os jovens, a linguagem arcaica e o fator histórico inconpreensivo as vezes.

Novamente, as obras não são ruins, só que a forma como tomamos conhecimentos delas é totalmente inapropriada. É bem comum você encontrar um aluno de ensino fundamental e médio que odeie ler. E se lê, limita-se apenas aquelas às quais é obrigado, porque fica com aquela idéia de que todo livro é complexo, chato e arcaico como os apresentados na escola. E assim surge aquele “pré-conceito” de que o hábito de ler está longe de ser algo prazeiroso. Não é à toa que a literatura moderna brasileira não é tão rica quanto a internacional. Existem poucos autores que realmente ganham fama e trazem conteúdo de qualidade, afinal falta brasileiros com o hábito da leitura para comprar estes livros. E a culpa começa lá na escola, com a professora fazendo sua classe engolir tais obras clássicas, não quero nem citar exemplo para não ofender ninguém. Tudo bem que parte dessa culpa não é bem da professora, mas do Ministério da Educação, que obriga que as escolas tenham tais obras no curriculum escolar.

É um problema que também é difícil de se solucionar. Pois, os jovens tem que se habituar com o hábito da leitura e perceber o quão prazeiroso isso pode ser, mas o que dar para o aluno ler? Obras juvenis internacionais? Não seria menosprezar o conteúdo nacional? Coisa que parece que o nosso Governo tem um medo danado de acontecer. É complicado, porque temos livros de leitura fácil, mas estão longe da qualidade de enredo que um livro como Harry Potter pode causar ao jovem. Me lembro vagamento da coleção Vaga-Lume, alguém se lembra? Eu lia isso na escola por obrigação, a leitura é realmente bem mais simples e leve do que literatura clássica, mas admito que na época já achava muita das histórias tediosas e chatas, afinal, também já era leitor de quadrinhos da Disney, Marvel e até Turma da Mônica, que sempre tem uma linguagem mais juvenil. Quem tiver curiosidade, segue o link com a lista da coleção Vaga-Lume.

E chegamos naquele impasse. Nossas obras clássicas são complexas para a garotada, porém a literatura infanto-juvenil também é pra lá de bobinha frente aos enredos que esse público encontra em outros meios de entretenimento, como HQs, Videogames e Séries na TV. Não sobram muitas escolhas para agradar o estudante e o convencer que a leitura é algo bacana e que livros são essenciais para um certo senso de cultura.

Eu vivenciei isso, até hoje, mesmo sabendo que as obras são assim e por isso são clássicas, ainda não consigo ter prazer ao ler algo arcaico. Por sorte na escola em que estudei tinha uma biblioteca que era rica em outros livros mais interessantes, até hoje me lembro o quanto ficava empolgado lendo Viagem ao Centro da Terra de Julio Verne. Peguei o gosto da leitura assim, com livros bacanas, em geral internacionais, encontrados ocasionalmente na biblioteca da escola. Mas em contrapartida, sempre odiava aqueles nas quais os professores me obrigavam a ler.

Enfim, fiz a minha reflexão. Vamos então retornar para o propósito do post:

O Xangô de Baker Street!

É verdade que este foi o primeiro livro nacional que me apaixonei logo na primeira página. Foi aqui que percebi que o Brasil tem potêncial para bons romances, só falta mesmo maior paixão pelos brasileiros em ter o hábito de ler. Jô Soares é um excelente contador de histórias, uma pena que ele não tenha muitos livros, já que obviamente seu principal trabalho é como apresentador na TV.

Apesar do livro retratar um Brasil antigo, datado de 1886, tempos de Dom Pedro II, o autor tem uma linguagem bem mais acessível do que qualquer clássico da literatura, sempre explicando cenas e momentos de forma bem extremista, de modo que o leitor consiga imaginar perfeitamente o que está acontecendo dentro das páginas do livro.

O livro é um misto de ficção, obvimamente, mas com tons de realidade, muitos personagens do livro realmente existiram e o retrato da realidade assombroso. Também gosto do fato da obra não se deixar ser indimidada pelo o uso de um dos maiores personagens do mundo litarário: Sherlock Holmes e o Dr. Watson. A obra até chega ao ponto de servir como um prequel, não oficial é claro, para um dos livros oficiais do Sherlock (não me recordo qual neste momento).

Jô Soares usa elementos de suspense, mistério, mas também dita tons de comédia, característica da simpática figura que o próprio é. Um serial killer no Brasil em 1886 e a convocação do maior detetive da Inglaterra para a solução do caso. E o livro é um emaranhado de situações, mortes e pistas para todos os cantos sobre quem é realmente o brutal assassino, que só vai ser revelado praticamente na última página do livro. É de tirar o fôlego.

Li esse livro quando era bem novo e ainda não tinha o hábito de ler tanta coisa, tinha meus 14/15 anos. Ficava impressionada com a forma com que os assassinatos eram narrados no livro, as cenas mais “calientes” e assim como Sherlock Holmes, ficava perdido em meios a tantas pistas e fatos históricos do Brasil daquela época. Não tem nada mais prazeiroso do que não adivinhar o final do livro, sim eu não adivinhei quem era o assassino. O que é ótimo, porque ler o livro com a charada resolvida não seria tão legal quanto ser surpreendido com um ótimo final, que a obra com certeza possui. Mas tinha 14/15 anos, não sei se o meu eu de hoje, aos 25 anos, também não adivinharia o final, mas não me surpreenderia se também não adivinhasse. Claro que se você assistiu ao filme, se for ler o livro agora, perdeu parte da graça, conforme mencionei lá no início do post.

O interessante é que são raros os livros em que você puxa da memória e consegue lembrar com muitos detalhes de um cena ou situação. Não consigo deixar de esquecer a cena da autópsia em onde Sherlock, Watson e outros personagens do livro estão ali, analisando a vítima do serial killer, já morta claro, e retiram um dos orgão da coitada e neste momento chega alguém na sala (não lembro quem) e para que essa pessoa não veja o que eles estão fazendo, um começa a jogar o orgão para o outro, escondidos para que esta pessoa não note. É uma cena bem engraçada e muito bem narrada. Outra cena que não dá para não citar é quanto o Sherlock experimenta a nossa comida típica da época, com muito tempero e horas mais tardes, devido a certos acontecimentos, Sherlock se vê sozinho numa biblioteca escura com o serial killer, a perseguição rola. Cena bem tensa, até que o Sherlock começa a passar mal e tem uma diarréia no meio da perseguição. Hilário! XD

O livro ainda trás outros elementos como a atriz francesa Sarah Bernhardt e o famoso violino Stradivarius. Tudo isso num Rio de Janeiro governado pela monarquia no finzinho do século XIX. Mas o genial do livro é ver o maior detetive do mundo sendo ludibriado pela cultura brasileira da época, seja em nossas comidas, nossas bebidas e até mesmo nas nossas mulheres!

Sinceramente O Xangô de Baker Street, lançado em 1995, é sem dúvidas o melhor livro do Jô Soares.

O autor ainda tem duas outras obras que fiz questão de ler: O Homem que Matou Getúlio Vargas de 1998 e Assassinato na Academia Brasileira de Letras de 2005. Se o Xangô é nota 10, o Getúlio seria um 8 e o Academia Brasileira de Letras um 7. O de Getúlio chega a ser uma pouco mais complexo em termos de tempo histórico, pulando para várias épocas, mas ainda mantém o bom humor e suspense, já o da Academia Brasileira de Letras, estamos de volta ao tema serial killer, mas os personagens não são tão simpáticos como o Xangô e eu acabei descobrindo quem era o assassino cedo demais, e o livro não teve o mesmo impacto do que o do Xangô. Ambos são ótimos livros, mas não superam o de 1995. Jô Soares ainda tem um outro livro de 1985, Astronauta sem Regime, mas nunca li nada sobre o mesmo, nem sei se trata-se de um romance.

Mas Jô Soares pra mim, é um belo exemplo de como a Literatura Nacional pode ser fantástica. Um dos primeiros livros que tive o prazer de ler e com certeza está cravado na minha memória e fico muito feliz de compartilhar essa recomendação hoje para os leitores do blog no dia Internacional do Livro. 🙂

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2 Comentários

  1. Admira-me muito a sua falta de talento ao escrever e o desconhecimento absurdo com que fala dos clássicos. Como um texto com tantos erros de português como este que acabei de ler, pode se referir com tanta arrogância e prepotência a uma parte tão valiosa de nossa cultura. É claro que o livro de Jô Soares, por ser um contemporâneo nosso, vai se referir com muito mais detalhes ao Brasil de 1886. Que necessidade teria um livro de 2010, descrever detalhadamente a Avenida Rio Branco, uma avenida que é conhecida por todos nós? Machado De Assis por exemplo, fala da Rua Do Ouvidor sem grandes detalhes históricos, por ser uma rua conhecida de todos de sua época. Já li os livros ao qual o texto se refere, gostei muito do Xangô De Baker Street e muito pouco do infantil enredo imaginário de Júlio Verne, ainda menos das absurdas “provas cientificas” que o livro trás. E por gentileza, amigo, não se refira mais à linguagem clássica como arcaica, isso e um desfavor que o senhor, com esse texto pobre, faz aos leitores principiantes. Clássico é clássico.

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