The Wedding Eve – A Véspera do Casamento & outras histórias | Impressões do mangá!

Estava conversando com um amigo recentemente sobre o quão difícil é ser surpreendido por uma boa história em quadrinhos hoje em dia. Afinal as editoras anunciam de antemão seus lançamentos, as vezes com prévias, com mangás muitas vezes são obras que as pessoas já conhecem, sejam porque leram na internet, seja porque foi preciso ter sido lançado um animê antes para que a obra original tivesse potencial para nosso mercado. Mas de vez em quando ainda consigo ser surpreendido.

Quase sempre estas surpresas surgem porque determinado título acaba fora do meu radar, ainda que possa vir a ter conhecimento sobre o mesmo. Bem, não é o mesmo tipo de surpresa quando eu sei o que é, sei que as pessoas curtem, e cria-se uma certa expectativa, que também é uma faca de dois cumes.

Quer saber o melhor tipo de surpresa? É aquele lançamento que você desconhece tudo, que não criou qualquer tipo de expectativa, mas que resolveu mesmo assim conferir e ao final você descobre que a obra era realmente boa, muito melhor do que sequer fosse possível se imaginar. Bem, foi exatamente isso que The Wedding Eve – A Véspera do Casamento & outras histórias acabou sendo pra mim.

Acabei levando uma semana inteira, degustando e apreciando cada página desse mangá de volume único lançado na Panini no finzinho de julho, mas que ainda é possível encontrar em bancas pelo país (aqui na minha cidade ao menos ainda é possível encontrar). Demorei porque estava adorando. Não queria que acabasse. Li devagar, apreciando cada história.

Do que se trata?

The Wedding Eve é uma coletânea de contos curtos, de um mesmo autor, creditado na edição apenas como Hozumi. Não há muitas informações sobre a obra ou seu autor na edição, apenas que o curta que abre a edição recebeu um prêmio lá no Japão por sua excelência. Este encadernado em edição única foi lançado no Japão em 2012.

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A título de curiosidade, Hozumi também leva créditos por uma outra obra, de apenas 2 volumes, chamada “Sayonara Sorcier“. E já me pergunto se a Panini pode vir a lançar ela no Brasil futuramente, tamanha é a qualidade narrativa que Hozumi apresenta nos curtas contidos em The Wedding Eve.

Os contos desse volume trazem histórias fechadas, apresentando personagens que passam uma mensagem ao leitor, que trazem um momento na qual é possível se solidarizar com a situação, se emocionar, refletir sobre grandes momentos, pequenas situações, sobre pessoas queridas e aquilo na qual todos passamos: o crescimento e o amadurecimento.

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É difícil explicar com palavras todo o sentimento que estes contos carregam. Vou tentar exemplificar. Imagine que algumas vezes os autores escrevem histórias pensando que o primeiro capítulo é uma espécie de prólogo. Se faz necessário apresentar o protagonista, o mundo em que ele vive, o vilão, o tema da série e dezenas de outros ganchos que possam vir a ser necessário caso a serialização dê certo. Hozumi não faz nada disso nesta coletânea.

Isso significa que os contos não possuem alguma finalidade. As história são mundanas, elas não trabalham com o personagem como um protagonista. O protagonista é o momento em si, representado por um sentimento, ou uma passagem da vida. Estes elementos são os protagonistas destes contos. Os humanos estão ali apenas para desempenhar o papel emotivo na qual estes elementos requerem.

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A bem verdade é que não quero dar spoilers sobre cada um dos seis contos reunidos na obra. Não quero sequer dar a sinopse deles. São aqueles contos na qual você começa a ler sem saber sobre o que se trata, e que só vai descobrir ao vivo, enquanto está lendo a história.

Percebe o quanto isso é raro hoje em dia? Ler algo e não conseguir presumir aonde é que essa trama vai te levar. Não saber nada sobre o personagem, mas ainda assim entender que aquela história não é apenas sobre esse personagem, mas sobre uma reflexão proposta pelo desfecho da trama, pelo momento na qual o autor resolve te contar mais sobre o que está acontecendo ali. É maravilhoso poder ter uma experiência assim. É criação de roteiro em um nível na qual os mangás publicados aqui no Brasil sequer arranham (a meu ver).

Vale ou não vale?

Posso dizer que são seis história, incluindo a que dá nome ao título. E eu realmente me emocionei em pelo menos duas delas: Reencontro em Azusa nº2 e Irmãos Monocromáticos. Não posso nem sequer falar sobre o que cada uma aborda, mas dá um engasgo na garganta a revelação final de cada uma.

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Outra que me encantou bastante foi O Espantalho que Sonha, que é o maior conto da edição, pois é dividido em duas partes. É o tipo de história que eu facilmente veria sendo feita por um Studio Ghibli no Japão. É encantadora, tocante e até mesmo polêmica ao lidar com família e o sentimento de deixar uma vida para trás.

Talvez a mais previsível seja o penúltimo conto, O Pequeno Jardim de Outubro, na qual lá pelo meio da história já havia entendido o que estava acontecendo na trama. Talvez por estar amortecido pela dinâmica do autor, pelos temas abordados e como reviravoltas parecem ser um ponto chave dos curtas de Hozumi.

Ao fim, tem a E Então… que me surpreendeu. Não esperava que fosse terminar como terminou, mas o mais legal dela é ter sido um semblante de como seria uma versão japonesa e em mangá do Garfield, personagem das tirinhas norte americanas na qual sou fã desde criança. A ideia de um gato tentando se relacionar com seu dono nesse conto é realmente muito bem estruturado.

Vale elogios também o belíssimo tratamento gráfico dado pela Panini a edição. Capas com orelhas em ambos os lados, com um bonito mosaico, e todo o elenco dos curtas reunidos em uma só imagem. Papel branquinho (off-set), boa gramatura, encadernação sem entortar, impressão de alta qualidade. Acho até barato um mangá desse nível – gráfico e qualidade de conteúdo – custar apenas 15,90. É algo que certamente vou guardar com carinho. E torcer para que o outro título do mesmo autor possa vir a ser lançado no Brasil futuramente.

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É uma obra que dá para apresentar para aquele adulto, amigo, ou parente, que não curte muito mangá porque acha infantil demais. The Wedding Eve não tem nada de infantil. É uma obra que mexe com a gente, que ao mesmo tempo não é pesado demais para um adolescente. É reflexiva, chega a ser quase uma poesia de tão belo que são os contos.

O traço de Hozumi também não desaponta em nenhum momento. Há paginas e momentos em seus curtas que todo o sentimento, tudo aquilo engasgado pelos personagens simplesmente é dito sem a utilização de balões de fala, apenas pelas expressões de seus rostos, pelo movimento na forma como os quadros fluem pelas páginas. A cena do varal em Reencontro em Azusanº2 é exatamente nesse nível.

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Um outro detalhe, talvez bobo mas que eu gostei, diz respeito ao glossário. Talvez por falta de espaço, mas nesta edição as inserções e explicações que a Panini precisou explicar com relação a termos ou eventos da cultura japonesa foram feitos direto nas páginas, em notas bem discretas entre os quadros da página. Achei prático e confortável isso. Não quebrou a imersão na qual estava ao ler o mangá, precisando ir ao final do volume para ver um glossário. Por mim, isso era algo que ela poderia fazer em todos os mangás de sua linha, ao menos nos termos mais precisos (afinal o glossário em alguns mangás acabam trazendo jargões e curiosidades da cultura japonês de forma bem mais elaboradas para os leitores novatos).

Só sei que estou impressionado e surpreso com esse belíssimo título. Precisei recomendá-lo aqui. E a nota precisa ser máxima. Eu realmente não tenho nenhum demérito a edição. Gostei de tudo. E fiquei com vontade de mais histórias!

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Histórias maduras e reflexivas, que mexem com o leitor
Traço de Hozumi é altamente competente, de impressionar
Versão impressa apresenta tratamento de luxo e bom preço
Volume único não pesa no bolso para quem já coleciona outros mangás
Ótimo título para adultos que não conhecem mangás
Certamente um título inesperado no mercado nacional

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3 Comentários

  1. a unica coisa q eu nao gostei nesse mangá foi, a encadernação, nao sei se a sua veio OK. mas a minha esta parecendo q a lombada é menor do que a grossura do mangá, com isso ele ta muito duro pra abrir, e o centro, está ondulado. mas de resto, ÓTIMO mangá, gostei muito dele.

  2. Comprei esse mangá sem nenhuma pretensão, sem saber nada sobre ele. A capa e o tratamento da impressão, de algum modo, me atraiu a ponto de querer comprá-lo, mas ele ainda está embalado. Ler sua opinião sobre todo o mangá me deu o estimulo necessário para querer lê-lo agora. Ah, muito obrigada por não dar spoilers. Ótima resenha.

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