Análise | Monster Hunter Stories 2: Wings of Ruin

Disponível para Nintendo Switch & PC

Monster Hunter Stories 2: Wings of Ruin é uma perspectiva alternativa em relação a clássica fórmula da franquia Monster Hunter, aqui transformada em um JRPG de batalhas em turno, mas repleta de elementos que consolidaram esse universo de caçadores e enormes monstros a qual os papéis de presa e predador podem se inverter em instantes no calor de uma batalha. Uma experiência lançada no último dia 9 de julho, e exclusivamente ao Nintendo Switch e PC.

O título foi desenvolvido pela Capcom, juntamente com o estúdio japonês Marvelous Inc. – a qual sua menção é feita somente nos créditos finais do jogo, resultado de uma mesma parceria que deu origem ao primeiro título desta série, lançado originalmente em 2016, a qual se chamava apenas Monster Hunter Stories, para Nintendo 3DS, Android e iOS.

Não jogou o primeiro? Não faz mal, pois sua sequência tem uma história totalmente independente do jogo anterior, apresentando um novo protagonista, em uma nova aventura. Personagens do primeiro game aparecem aqui ou ali, mas sem necessariamente obrigar que o jogador entenda qualquer narrativa estabelecida pelo título de 2016. Quem jogou o primeiro irá curtir as referências, quem não jogou vai apenas entender que se trata da aventura anterior e tudo bem.

Outra informação bacana de se entregar logo de cara é o fato de Monster Hunter Stories 2 estar inteiramente localizado em português, por meio de legendas para todos os diálogos e cutscenes. Menus e tutoriais também estão muito bem traduzidos ao nosso idioma, facilitando e muito o acesso a compreensão de tudo que um RPG precisa lhe ensinar. Enquanto isso, os áudios dos personagens possuem duas opções: japonês e inglês. Normalmente há sempre muita crítica a dublagem em inglês de jogos japoneses, porém neste caso tenho que dizer que gostei bastante do trabalho de dublagem que fizeram para as vozes em inglês.

Despertar de uma aventura predestinada

Sendo Monster Hunter Stories 2 um JRPG, isso significa que o ponto narrativo aqui tem um papel muito maior do que outros títulos da franquia principal, como World ou Rise. Existe um trabalho dos desenvolvedores de apresentar um sólido protagonista, um jovem montador (não se usa o termo caçador aqui) de monsties, uma forma domesticada a qual os monstros são apelidados por aqueles que se vinculam aos mesmo.

Este protagonista pode ter a aparência customizada pelo jogador, podendo ser um personagem masculino ou feminino. Dá até mesmo para o nome, sendo que os nomes padrões dado pelo jogo são Leo e Leia, dependendo do sexo escolhido. As opções de customizações são relativamente bem generosas, possuindo diversas opções de rostos e cabelos. Não é algo complexo como um Fallout, mas está bem longe da simplicidade de um Pokémon, por exemplo. Dá para criar um personagem realmente com a sua vibe, a qual o jogador se sinta bem representado. O meu tem olheiras enormes, o que me representa muito bem.

A história não chega a ser um sucesso em termos de roteiro. De fato a trama é bem clichê ao que se pode esperar do universo de Monster Hunter. Uma fera mística é incomodada por caçadores e um grande mal parece ter despertado na Ilha Hakolo, a qual seu protagonista vive. Logo se descobre que um estranho evento é despertado e monstros de regiões próximas também estão sendo afetados, tornando-os extremamente agressivos. O jogador, no papel de Leo ou Leia ou qualquer nome escolhido, entra com tudo nesse mistério.

O protagonista é um jovem montador, pertencente a uma tribo que sempre tratou muito bem os monstros da Ilha Hakolo, a qual coabitam em certa harmonia. Essa tribo obtém ovos de monstros (roubando os mesmos de seus ninhos) e ao chocarem o montador mais próximo cria um vínculo especial com esse monstro, a qual nesse ponto já é chamado de monstie, uma forma carinhosa de dizer que a criatura é uma forma de pet/pokémon.

Enfim, o personagem principal ainda em processo de treinamento, é neto de um lendário montador, a qual no passado já salvou o mundo e viajou por terras muito distantes. A todo momento o jogo cai naquele clichê do personagem que é tão bom ou assim como corajoso e competente ou possui as características honrosas de seu parente distante. Nesse caso, o grande herói conhecido como Red.

A trama dá como pontapé o despertar de um lendário Rathalos, a qual seu ovo acaba sendo entregue a você, para tão logo descobrir que o bebê Rathalos que irá nascer desse ovo trará consigo uma tenebrosa profecia de final dos tempos e extinção de toda a vida no planeta. Caberá ao jogador descobrir a verdade e para um cataclismo em andamento.

Para isso, é claro, você irá contar com diversos companheiros que irá encontrar ao longo do caminho. Nem todos irão lhe acompanhar até o fim, enquanto outros persistiram mais. Um destes que ficam contigo o tempo todo é Navirou, um falante Felyno que se auto proclama lendário, pois ajudou a salvar o mundo uma vez no passado. Bem, Navirou é um personagem que acompanha o protagonista do primeiro Monster Hunter Stories, apesar de aqui ele sofrer certos lapsos de memória a respeito de tais eventos. O gato serve como guia para o jogador e alívio cômico para dar leveza a trama, quando necessário. Acaba que Navirou estabelece um elemento fixo a esta série de Monster Hunter, a qual não imagino um terceiro a qual ele não possa seguir exatamente no papel até aqui exercido.

Para um JRPG, a trama de Monster Hunter Stories 2 cumpre bem o papel. Existe um grande plot ao fundo da trama, com muitos perguntas a qual as respostas serão dadas ao longo da jornada. Um protagonista que é herói predestinado, seja por sua linhagem sanguínea, seja por seus méritos próprios. Enquanto isso uma aventura que tem início em uma pequena ilha, tão longo abre seu escopo para uma enorme região, de diferentes biomas, todas com suas peculiaridades e vilas que também sofrem com problemas causados pelo mal que despertou no mundo. Você conhece vilas e tribos diferentes, NPCs cheios de tarefas para um montador que dá conta de qualquer monstro, enquanto vai descobrindo pistas do que realmente pode estar acontecendo. Enfim, tem todas as premissas básicas de uma aventura RPG.

O que há de se elogiar nesse sentido da narrativa são as muitas cutscenes animadas dentro da história. Existe as cenas com os clássicos diálogos em caixas de textos e personagens parados? Existe sim, mas há também uma impressionante quantidade de cenas animadas com gráficos in-game que dão vida a aventura. Nesse sentido, há que se elogiar a direção de cenas do jogo, pois em muitas vezes você parece estar assistindo a um filme de animação 3D mesmo. Dá um senso de apresentação muito deslumbrante ao título. Deixa o jogador satisfatoriamente imerso na aventura proposta.

Criaturas selvagens sabem batalhar por turnos

Diferente dos jogos tradicionais da franquia Monster Hunter, aqui temos uma proposta diferente de combate contra as icônicas criaturas deste universo. Monster Hunter Stories 2 é um JRPG e, para tal, se utiliza da clássica fórmula das batalhas por turnos. Aquele sistema em que cada personagem, seja jogador, seja CPU, esperam a sua vez de atacar. Sem tempo para lhe acelerar, com todo o tempo do mundo para pensar o que fazer.

Ao se deparar com um monstro no mundo livre para exploração do jogo, deve-se encostar no mesmo para acionar uma batalha, com o tradicional corte de cena para uma arena de tela fixa, mas aqui dinâmica, que fica sempre mostrando diferentes ângulos e closes do combate. Nesse quesito, a movimentação da câmera dá um ritmo mais apresentável a batalha a qual ninguém se mexe se não for a sua vez de atacar.

A dinâmica de batalha também oferece algumas ideias bem originais, e amplamente inspiradas das características dos combates hack & slash da franquia Monstar Hunter, como a possibilidade de quebrar partes das criaturas, além da troca de armas para exatamente atingir estes pontos fracos dos monstros. Mas deixe-me ir com mais calma e mais detalhes para explicar como funcionar estes empolgantes e estratégicos combates apresentados em Stories 2.

Para início de conversa, as batalhas funciona no clássico esquema pedra, papel e tesoura. No caso esse sistema aqui é renomeado para ataque forte, ataque técnico e ataque rápido. Forte bate técnico que bate rápido que bate forte. E não se preocupe em ter que decorar isso, pois não é necessário, o layout do menu de combate, que representa estes ataques em um sistema circular, deixa bem claro qual tipo bate o quê. Cabe ao jogador ver os padrões dos inimigos, que sempre seguem o mesmo padrão. Ou seja, uma fera da classe de ataques fortes, sempre irá usar estes ataques para iniciar um embate.

O divertido nesse sistema é que as feras podem e irão mudar os padrões de seus ataques em diversas situações dentro da batalha. Especialmente porque cada animal tem um momento de fúria, a qual seu padrão muda totalmente. Existe ainda certos casos em que o monstro pode ter um terceiro status de ferocidade, e mudar para o terceiro tipo de ataque. E com isso o jogador vai sempre aprendendo quais são os padrões e se adaptando. O seu personagem sempre irá poder usar qualquer um dos três padrões de ataque.

E porque é importante usar o ataque correto? Porque se a criatura lhe atacar diretamente, a batalha corta para uma cena de embate tipo duelo, e o vencedor do esquema forte, técnico e rápido anula o ataque do oponente, a qual só o vencedor vai causar dano nesse caso.

Contudo esse sistema vai além. Para isso tenho que explicar que além do seu protagonista, é obrigatório levar seu monstie adestrado para o combate, formando assim uma dupla de combate. Se o monstro oponente atacar seu monstie, e este usar um ataque que seja superior ao ataque do monstro, e o jogador usar esse mesmo tipo de ataque, ambos criam um ataque duplo devastador no oponente, causando dano massivo e ainda anulando mais um vez o ataque do inimigo. Essa técnica também vale se o oponente lhe atacar e você combinar com seu monstie um ataque de tipo superior. E para isso se torna essencial entender as técnicas de cada um das grandes feras do jogo.

A grande pegadinha dessa fórmula ocorre que, ao contrário do jogador, seu monstie normalmente só tem um padrão de ataque, ou ele é forte, ou técnico, ou rápido. Então seu monstie pode entrar em desvantagem na batalha contra uma criatura que seja do tipo de ataque superior. O que o jogador deve fazer então? Levar consigo diferentes tipos e classes de monstros, com diferentes tipos de ataques. Durante os combates, e uma vez por turno, pode-se trocar de monstie sem que isso lhe custe o turno. Isso cria um ritmo bem interessante em diversos confrontos, a qual o jogador acaba usando diferentes parceiros em uma mesma batalha, conforme as mudanças dos padrões de ataques. Ao todo é possível levar cinco monstie em sua equipe – seis se você contra um que é obrigatório para a trama depois de um certo ponto da campanha.

Mas não é só isso que tornam as batalhas de turnos de Monster Hunter Stories 2 interessantes. Sabe as classes de armas que existe na franquia principal? Bem, todas estão presentes aqui, e o jogador sempre pode carregar três delas, de preferência classes distintas. No geral, pode-se dividir as armas em três categorias: cortantes (espadas), contundentes (martelos) e perfurantes (flechas). Assim como a troca de monsties, o jogador pode trocar para qualquer uma de suas três armas livremente ao começo de cada turno e, mais uma vez, isso não lhe custa o turno. É uma ação livre de qualquer penalidade.

Os inimigos do jogo também podem variar para qual arma são mais resilientes ou não. Uma criatura com um casco, por exemplo, tende a tomar mais dano contra um martelo, enquanto uma fera voadora apanha melhor de uma arma perfurante, como uma flecha. Uma vez utilizada certa arma contra um monstro, o jogo memoriza a ação e lhe diz se ela é a arma certa para o monstro ou não. E essa informação sempre irá voltar a se repetir contra batalhas futuras contra essa mesma espécie. O que convenhamos, é uma mão na roda.

Outro fator importante para entender dentro do sistema de combate são os ataques com efetividade e o preenchimento de uma bolha de mana que fica na indicação inferior da tela. Esta barra permite o jogador usar golpes mais potentes, seja do seu personagem, seja do seu monstie. Ao usar estes ataques, essa barra vai se esvaziando, enquanto ela se recarrega aos poucos conformes seus ataques vão se contra ponto aos ataques do inimigo e anulando-os. O mais interessante ocorre quando essa barra se enche por completo.

Quanto isso ocorre, é permitido que o jogador monte em seu monstie. Quando isso ocorre, as barras de saúde de cada um se fundem e se restauram completamente. Unidos, o jogador tem a opção de atacar seus oponentes de cima de sua montaria. Se antes eram dois ataques por turno, seu e de seu monstie, agora é só um ataque por turno. Isso é uma desvantagem? Sim e não. O jogador segue podendo escolher entre os três padrões de ataques e sua barra de mana passa a encher novamente para um segundo nível. Cada nível vai intensificar um ataque especial que pode ser usado ao se montar em seu parceiro e que fará encerrar tão momento. O ataque tende a ser devastador e quando ambos voltam a se separar, toda a barra de saúde de ambos voltam a ficar plenamente restaurada.

Falando em barra de saúde, outro elemento primordial desse esquema de batalha diz respeito à forma de como o jogador pode ser derrotado, utilizando um sistema de três corações. Você seu monstie compartilham entre si três corações. Um coração é perdido quando a sua barra de saúde sua ou a de seu monstie chega a zero. Quando isso acontece o coração se parte, e sua barra de saúde volta a se encher. Ao perder três corações, a batalha é perdida. E é fácil perder um coração na batalha? Sim, pode acontecer. Até porque sua barra de saúde não é gigantesca. Existem certos monstros que possuem ataques especiais em momentos de fúria a qual se o jogador não acertar o padrão da pedra, papel e tesoura, esse ataque devasta por completo sua barra de saúde.

Importante reforçar que não existe uma opção de defesa nesse sistema, dada é importante justamente esse sistema de interromper o ataque adversário. A melhor defesa nesse caso é um ataque eficiente. É possível usar itens para curar sua barra de saúde? Sim, existem poções e ervas, tal qual na franquia principal. Usar itens custam um turno. É possível restaurar corações? Sim, entretanto é um item bem raro de se obter e nem sempre é recomendando se usar sem pensar. E sim, houve momentos em que precisei restaurar meu coração em algumas intensas batalhas de chefes dentro do jogo, em especial por ter trocado monsties e usado ataques errados em consequência disso.

Quanto ao tamanho dos personagens dentro dos ambientes de combate. As batalhas podem acontecer contra até três criaturas ao mesmo tempo (essa é a média geral). Normalmente uma forte e duas medianas, ainda que exista um chefe da história em que tive que batalhar com duas grandes criaturas e foi um sufoco. No lado do jogador, além do seu monstie, você irá contar (em boa parte da campanha) com um aliada da tribo a qual está visitando, a qual estará acompanhado de seu próprio monstie. Não é possível controlar os atos desse aliado na hora da batalha, a qual ele presta um suporte muito decente no combate, inclusive lhe curando e anulando ataques dos inimigos. Mas esse aliado normalmente não vence a batalha sozinho, é preciso que o jogador acerte os padrões.

No geral o sistema de batalha de Monster Hunter Stories 2 é muito bem planejado, com muitos elementos que exigem que o jogador conheça bem seus oponentes, dá mesma forma como ocorre com a fórmula da franquia principal. Há um forte elemento de estratégia e atenção presente aqui. As batalhas são intensas e muitas vezes longas. Por sinal, isso cria uma pequena contradição nesse sistema: o jogador não se sente estimulado a ficar batalhando muitas vezes contra as mesmas criaturas já vencidas, pois os padrões foram aprendidas e as batalhas tendem simplesmente a se tornarem repetitivas.

E o curioso é que os desenvolvedores parecem ter percebido isso, tanto é que o jogo lhe dá monsties que são muito bons em evitar batalhas quando desejados. Um pode berrar perto de outros monstros, assustando-os, enquanto outro, ainda melhor, pode simplesmente ficar invisível e passar, sem encostar, dos inimigos, evitando assim acionar o gatilho dos combates.

Aí você me pergunta: “e evitar os combates não vai deixar o nível do personagem fraco eventualmente?“. Aparentemente não. O jogo parece ter um bom sistema de balanceamento de nível dos oponentes, pois a experiência ganha nas batalhas obrigatórios de novos monstros e chefes, sempre dá o nível necessário para o jogador avançar para as próximas batalhas, sem a necessidade de grinding. O que já digo que achei genial.

Aprendendo a roubar ninhos

Outro elemento importantíssimo de Monster Hunter Stories 2, e que não necessariamente tem a ver com a fórmula clássica de um RPGs , diz respeito ao sistema de roubo de ovos de criaturas selvagens para que eles lhe tornam seu monstie parceiro de luta. É um sistema que soa muito como o efeito colecionável de um Pokémon, por exemplo.

Pode-se dizer também que tem parte de inspiração em jogos como Chocobo’s Mystery Dungeon, a qual os inimigos são coletados e se tornam aliados do jogador. Aqui a premissa é bem semelhante. Boa parte das criaturas a qual o jogador irá batalhar pode vir a se tornar um aliado, por meio do roubo de um ovo em seu ninho. O jogador conta com um dispositivo de afinidade com monsties recém saídos de seus ovos, semelhante ao efeito de uma pokébola, por exemplo.

Ao longo da exploração das regiões presentes dentro da campanha principal, o jogador irá ter missões que irão exigir que ele saia para explorar certas masmorras, como florestas e cavernas. Seja até o caminho para estes locais, seja até mesmo dentro destes locais, existem pequenas localidades denominadas ninhos de monstros. Ao adentrar dentro destes locais, que funcionam como pequenas masmorras, o jogador deve andar até encontrar um ninho enorme. Lá deve coletar um ovo. As vezes pode ter uma criatura rodando e você deve batalhar, as vezes essa criatura está dormindo e, em outras, essa criatura pode chegar enquanto você está escolhendo um ovo. Porém as vezes nada também pode acontecer e você sai com o ovo de boas. É possível carregar diversos ovos ao mesmo tempo, enquanto para chocá-los deve-se voltar a vila principal para que eles sejam chocados em um estábulo.

Ninhos tem ovos de diferentes tipos de monstros, a qual o jogador deve aprender a reconhecer as cores e formas de cada ovo para que saiba o que está roubando. No menu é possível consultar os ovos de monstros já encontrados e chocados, caso o jogador deseje não repetir o ovo de um monstro já capturado. Contudo, tal como ocorre em jogos como Pokémon, ovos iguais, de um mesmo monstro, pode contar status diferentes, assim como atributos bônus e genes especiais. Ou seja, as vezes é uma boa ideia pegar ovos de monstros iguais para ver qual terá o melhor bônus e atributos na hora em que os ovos chocarem.

E não fica só por aí não. Cada monstro tem uma árvore de habilidade, umas já com genes especiais de nascimento, enquanto outras podem ser preenchidas por um esquema de fusão de monstros. É isso mesmo! O jogador pode fundir um monstro no outro, pegando um gene bom de um e inserindo em outro. Loucura, mas é possível e imagino que, assim como ocorre em Pokémon, há criadores de monsties nesse exato momento fundindo monsties afim de obter o melhor resultado genético.

Trata-se de um recurso interessante, mas penso que é muito mais voltado ao pós-ending game, já que a campanha principal pode acontecer de forma bem tranquila, sem que você tenha que ficar se preocupando em caçar ovos dos mesmos monstros afim de obter alguma raridade genética. Aliás, é até recomendando fazer isso mais perto mesmo do fim, já que existem ninhos super raros, de alta dificuldade, a qual não devem ser explorados nos momentos iniciais do jogo, ainda que já sejam visíveis ao jogador desde o início. As cavernas tem uma abertura de ouro, indicando a classe alta do ninho daquela monstro e sua dificuldade caso tenha que batalhar.

Entretanto é difícil não pensar em como esse recurso é legal e como é inevitável parar sua jornada aqui e ali, afim de catar alguns ovos, só para depois realinhar sua equipe ao longo da progressão da história. Até porquê o jogo tem um ótimo balanceamento no sentido de que novos monties em sua equipe, apesar de iniciarem com level 1, tão logo participem do grupo de batalhas, sobem rapidamente de nível até quase se equipararem aos que estão há mais tempo com o jogador. É bem equilibrado esse aspecto, justamente para não prender o jogador com os mesmos monsties só porque estiveram em sua equipe desde o início.

Outra questão importante na mudança de monsties na equipe se dá por habilidade que cada um tem de exploração de ambiente, sem correlação com suas habilidades de batalha. Existem monsties que podem subir paredes com cipós, enquanto outros nadam, alguns caçam ninhos ou itens, outros quebram pedras e abrem novas passagens pelo mapa. Vale apenas apontar que a progressão da história não será barrada porque você não está com um monstie com alguma habilidade que se faz necessário para seguir viagem. Normalmente estes caminhos alternativos podem servir apenas como atalhos ou para encontrar ninhos ou baús valiosos. Ainda assim é um grande incentivo para o jogador balancear sua equipe com monsties com habilidades diferentes de acessos a tais partes do mapa de cada um das cinco grandes regiões do jogo.

Por falar nas regiões do mundo do jogo, Monster Hunter Stories 2 faz um belo papel em apresentar uma diversidade de biomas, assim como selecionar que cada um destes biomas serão representados por diferentes criaturas. Claro que existirá uma boa parte de ambientes envolvendo florestas e grandes pastos verdejantes, mas ainda sobra espaço para desertos, praias, áreas vulcânicas e montanhas e cavernas geladas. E são áreas realmente grandes, ainda que muitas vezes segmentadas por masmorras que exigem que o jogo faça a transição de tela para a área, por meio de um pequeno (porém notável) loading. Bacana também que as regiões exploram um pouco de verticalidade de sua geografia, com grandes planaltos e morros, a qual o jogador pode observar o horizonte de uma visão superior. Visualmente, para um título presente no Nintendo Switch, os gráficos não deixam em nada a desejar.

Multiplayer opcional

Seria impossível encerrar está análise sem mencionar um pouco a experiência multiplayer cooperativa ofertada para este lançamento, especialmente porque sabemos o quanto Monster Hunter World e Monster Hunter Rise exploram esse elemento dentro de sua campanha principal. A bem verdade, seja para o bem, seja para mal, Stories 2 não tem a mesma obrigação, sequer a mesma preocupação com isso. A experiência desse título é muito mais single player do que os jogos da franquia principal, cujo a ajuda de outros jogadores online se torna imprescindível para vencer grandes feras.

A modalidade multiplayer de Monster Hunter Stories 2 está acomodada à parte da aventura principal, em um mural de missões opcionais, a qual pode lhe reunir com um outro jogador para expedições e batalhas contra feras. Missões estas que garantem recompensas, monsties entre outros itens que podem ser transportados para a aventura solo, é claro. Para isso usa-se o básico sistema de abrir salas online e esperar que alguém entre na sua sala. Ou encontrar uma sala, e que esta não tenha senha (o que significa que é alguém jogando com um amigo em específico e não está aberto a jogar com qualquer um).

Pude testar algumas partidas assim, e posso dizer que é um ideia realmente bem interessante para um RPG. Em uma das partidas, fui parar em uma missão de invadir o ninho de um jogador a qual estava buscando ajuda.  Como dono da sala, quando o mesmo entrar em uma área, fui transportado para junto dele. Caso alguém entre em batalha com algum monstro, um indicado no jogo é realizado e é preciso que o parceiro vá até o local para adentrar também na batalha. Enquanto isso no combate, cada um faz seu movimento e controla seu monstie. Bem eficiente, ainda que nas vezes em que tentei, encontrei bastante lag entre as minhas ações e a do meu parceiro online na hora dos combates, nem tanto na parte da exploração pelo mapa em si.

Nesse aspecto do multiplayer existe, contudo, uma modalidade que achei bem interessante: a de batalhar contra outros jogadores, seu montador e seu monstie contra outros jogador e o monstie deste. Aliás na campanha single player também ocorrem algumas batalhas assim contra alguns NPCs, e são bem empolgantes, porque envolve justamente quebrar os três corações da dupla adversária. Essa modalidade de batalha lembra bastante as ofertadas pelas batalhas dos jogos de pokémon, a qual um oponente está tentando quebrar o ataque do outro. E o multiplayer aqui suporta batalhas um jogador contra um jogador, ou em duplas, dois jogadores contra outros dois jogadores.

Aqui a sensação de ser um conteúdo após o final de jogo fica ainda mais claro, dado a como as batalhas são de jogadores muito bem preparados – semelhante ao que ocorre com as batalhas online em jogos de Pokémon. A dificuldade de achar salas também me pareceu um pouco maior do que as missões de expedições. Tive uma ocasião em que batalhei contra uma dupla de jogadores orientais e tomei uma surra, por mais que o jogo tenha balanceado todo mundo para nível 50. O ruim nessa modalidade é que não existe indicador em quem seu parceiro irá bater, ou em quem seus adversários irão atacar. É tudo muito as escuras mesmo, o que escala ainda mais a estratégia do combate. Nessa partida em que levei uma surra, ficou bem claro que meu montador era muito fraco em relação aos outros membros da minha equipe. E aí não teve jeito, os outros adversários se focaram muito nele.

Em todo caso, acho que ambas as modalidades são adições muito importantes para Monster Hunter Stories 2, que vem de uma franquia que possui essa forte identidade em cima de aspectos multiplayer e de comunidade online. Penso que são conteúdos valiosos uma vez esgotado a campanha single player do jogo, enquanto também é um meio para pausar um pouco a aventura e realizar algumas partidas afim de ganhar alguns itens raros e monsties que ainda não tenham aparecido dentro do jogo.

Considerações finais

Chegando ao final desta longa análise, acredito que tenha ressaltado todos os pontos importantes acerca de Monster Hunter Stories 2: Wings of Ruin. Poderia ficar mais um tempão aqui escrevendo sobre diversos outras mecânicas menores que estão presentes na série, e que certamente enriquecem o gameplay como um todo.

Alguns exemplos nesse sentido: os estábulos, local a qual se cria os ovos e que cuidam dos monsties que não estão na sua equipe, possui uma modalidade de expedição, a qual seus monsties reservas saem em expedições automáticas em regiões já exploradas, afim de coletar mais itens, materiais de monstros e também subirem de level. Bem legal para dar um UP em alguns monties reservas.

Itens e materiais também são ponto importante do jogo, assim como são na franquia principal. O jogador pode inclusive criar novos itens a partir daqueles já coletados. Como a erva virar poção e a poção se tornar mega poção, algo muito presente nos jogos da franquia. Materiais de monstros permitem que novas armaduras sejam criadas, assim como novas armas. E itens como minérios entre outras partes de monstros também fazem que suas armas e armaduras possam subir de nível. Não é um aspecto que trava o jogador de avançar, mas é um elemento muito importante para todo fã da série, que curte customizar o personagem com armas e armaduras baseadas nos monstros mais raros presentes no jogo.

No geral, Monster Hunter Stories 2 é um título muito competente e até mesmo surpreendente. Admito que não esperava ficar tão imerso assim em sua trama, ainda que a mesma desacelere um pouco depois das duas primeiras regiões, quando se chega na vila da neve e a história pede que você se torna o faz tudo da vila. Ainda assim é uma trama que te compele a querer seguir em frente. Além disso o combate mantém o DNA da franquia, mas muito bem convertida em uma modelo de batalha por turno de um RPG clássico. O mundo é cativante, ainda que um pouco vazio dado as limitações do Nintendo Switch, contudo ainda assim impressionante em diversos momentos, existe capricho na direção de arte.

Uma indagação que havia feito no começo do ano, quando a Capcom anunciou dois jogos de Monster Hunter para este ano, com um intervalo de poucos meses entre si, era se um não poderia tornar o outro irrelevante, afinal não seria experiências parecidas? Hoje já posso responder que cada título é bem diferente entre si, e entregam experiências muito distintas entre si. Monster Hunter Rise é uma versão menor de Monster Hunter World, muito bem adaptado a uma experiências contida do console da Nintendo, baseado no hack & slash e em uma forte cooperatividade online. Diferente de Monster Hunter Stories 2, cuja a proposta é trabalhar uma narrativa dentro de um universo rico em contexto, mas entregando uma ação mais de estratégia, baseado nas clássicas regras de RPG, com elementos próprios, mas sem a perda do DNA. Ambos fazem parte de um mesmo universo, contudo entregam experiências bem diferentes em termos de jogabilidade e apresentação narrativa. Vale a pena, sem dúvida alguma, jogar ambos.

Galeria

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Dando uma nota

Entrega uma bela apresentação, com regiões diferentes e bem representados por uma diversidade de criaturas - 9
Trama típica da jornada do herói de um RPG, mas interessante o suficiente para motivar a querer ir adiante - 8
Combate por turno adapta muitos elementos da franquia Monster Hunter, dando um ar bem original - 9
Sistema de colecionar ovos e ter monstros em sua equipe dá um ar meio Pokémon/Chocobo Dungeon a proposta - 8.8
Jogo entende que batalhas podem ser repetitivas, por isso monstros tem habilidade para evitar batalhas caso o jogador deseje - 7.5
Localização em português para um JRPG faz diferença em termos de tornar acessível ao público daqui - 10
Multiplayer online acrescenta um prescioso valor de replay, versus entre jogadores também é uma ótima ideia - 8.5

8.7

Incrível

Monster Hunter Stories 2: Wings of Ruin é uma excelente ideia dentro do universo de uma consagrada franquia. Apesar da mudança de gênero, saindo do hack & slash online para o JRPG tradicional, toda identidade da série se mantém presente aqui. A trama, ainda que nada excepcional, é envolvente, com personagens simpáticos e uma história que vai crescente ao longo da jornada. Nas mecânicas de jogabilidade, o título se mantém divertido, interessante e com uma boa dose de estratégia. O combate empolga, ainda que não incentive demais a repetição, enquanto o jogo entende isso e não faz questão que o jogar fique repetindo batalhas apenas para subir de nível. A localização em português também torna o título muito acessível ao nosso mercado. Ao fim, o jogo entrega uma experiência excepcional.

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