Análise | Shovel Knight Pocket Dungeon

Shovel Knight Pocket Dungeon é uma aventura em blocos do querido herói de armadura azul, e seus estranhos companheiros, os quais se encontram presos em uma incomum masmorra. O título abraça os gêneros ação, aventura e quebra cabeça, além de brincar com elementos roguelike, tendo sido lançado em 13 de dezembro do ano passado para PlayStation 4, PlayStation 5 (via retrocompatibilidade), Nintendo Switch e PC.

O que temos aqui é um jogo de blocos, que tem um pouco de Tetris em seu DNA, mas não no ato de encaixar as peças e formar linhas, mas nos blocos em si, a qual também caem da parte superior da tela e todos são únicos, cada peça que cai do céu é um bloco em si e eles estão muitas vezes vivos. Sim, meu amigo, os blocos que citei são inimigos, bombas, baús, chaves, poções e outras coisinhas mais.

Porém, antes de continuar, vale relembrar. Shovel Knight já é um antigo conhecido dos jogadores, seu primeiro jogo saiu lá em 2014, tem uma análise aqui caso tenha curiosidade de conhecer a seu respeito. E mais uma vez é um jogo lançado pela Yacht Club Games, criadora e detentora dos direitos da franquia Shovel Knight, a qual desta vez fez parceria com outro estúdio, chamado Vine,  no suporte do desenvolvimento para Pocket Dungeon. Além disso, trata-se de um dos vários jogos que expandem o próprio universo de Shovel Knight, dentre as expansões do jogo original, do multiplayer versus de Shovel Knight Showndown e do, ainda não lançado, Shovel Knight Dig.

Torna-se natural e nem um pouco culposo, olhar para Shovel Knight Pocket Dungeon e a primeira vista pensar: “Ok, é algo que tem a ver com o Shovel Knight, logo deve de ser um mini game para esperar até o próximo jogo da série principal ser lançado…” e é aí que mora o erro. Assumo que a primeira vista ele parecia simples, algo fácil para se jogar durante um final de semana e que cairia no esquecimento na semana seguinte, até porque particularmente não joguei muito os jogos de Shovel Knight então não me sentiria culpado por não me apegar ao novo título.

Contudo, para minha surpresa, eu estava redondamente enganado. Shovel Knight Pocket Dungeon não é algo simples, não é fácil e ainda tem fases geradas aleatoriamente dentro de um tema específico, o que também não é um elemento comum a “minha praia“, mas é extremamente viciante, daqueles jogos que fazem pensar em jogar só mais uma vez e quando você se dá conta se passou uma hora e você continua ali, jogando, perdendo e mesmo assim querendo tentar só mais uns minutinhos.

E se torna fácil de explicar isso, já que temos aqui algo com uma visão a ser apresentada, um projeto feito com cuidado e uma nova visita muito bem feita ao mundo dos puzzles de blocos em queda pelas mãos da Yacht Club/Vine. E um alerta aos brasileiros: o jogo está totalmente em português, então não tem desculpa para ficar de fora deste quebra-cabeça.

O que é a “Pocket Dungeon”?

A história apresentada não é das mais complexas, mas faz o que tem que fazer, resumidamente acompanhamos Shovel Knight, o protagonista dos jogos de mesmo nome, em sua descoberta de um cubo mágico. Assim que ele interage com o mesmo é imediatamente sugado para uma dimensão específica (dentro do tal cubo).

Após pegar o cubo e ser transportado, Shovel Knight rapidamente se depara com Chester e Puzzle Knight personagens que fornecem maiores detalhes sobre o local ao qual todos estão no momento, a terrível Pocket Dungeon. Este é aparentemente um quebra cabeça sem solução (até o momento). Chester explica que eles estão há anos presos e que sempre oferecem ajuda aos aventureiros, como Shovel, que acabam caindo no local, e menciona que nos últimos tempos a quantidade de recém-chegados têm aumentado consideravelmente (sim, a trupe de Shovel Knight está envolvida nisso).

Então encontrar com King Knight, Mole Knight, Specter Knight, Tinker Knight, Scrap Knight e outros do universo dos games anteriores vai ser uma questão de tempo e destreza na jogatina. Inclusive podemos jogar com cada um deles e até mesmo finalizar o jogo com eles, o que vai render troféus/conquistas exclusivos para os colecionadores de plantão. Para conseguir sair dessa dimensão devemos buscar as partes da chave que vai abrir a passagem que permitirá sair desta realidade.

Para tanto iremos ter que percorrer uma série de 10 níveis, quase todos baseados nos ambientes do Shovel Knight original, inclusive apresentando os mesmos inimigos que você normalmente encontraria neles. As Planícies contam com Beetos, Boneclangs e Blorbs, já a Baleia de Ferro é o lar dos resistentes ​​Hermittacks e na Clockwork Tower além de esteiras transportadoras vamos ter os ágeis Electrodents que rapidamente vão bagunçar toda a fase ao se moverem e mudarem as peças de lugar.

Vamos a destruição dos blocos

Entre os modos disponíveis, contamos com o Modo Aventura (história em si), o Modo VS onde podemos jogar contra um amigo ou contra a CPU (podemos aumentar ou diminuir a dificuldade para irmos aprendendo com o jogo, mas aqui os blocos destruídos pelo jogador são enviados ao adversário e vice versa). E temos também o Desafio Diário, onde teremos um quebra cabeça específico para ser solucionado com as condições apresentadas de forma aleatória, e somente temos uma chance, sendo que o desafio muda a cada dia, e assim nosso recorde vai parar em uma classificação global.

Para começar as explicações, Puzzle Knight rapidamente nos coloca em uma situação onde aprendemos na marra o seu funcionamento, em uma grade de 8 x 8, blocos devem ser atacados para serem destruídos, destruir uma sequência de blocos do mesmo tipo que estejam em contato uns com os outros vai ocasionar na destruição de todos os blocos, os inimigos também funcionam da mesma forma, mas eles vão causar dano ao jogador (mas somente o inimigo em contato com o jogador, outros na mesma cadeia não vão lhe causar dano). Então se atacarmos sem trégua nós é que seremos derrotados.

Isso pode ou não ser uma consequência grave, depende da escolha do jogador. Podemos escolher se jogarmos ao estilo Estoque Único, nessa opção será um roguelike e seremos derrotados quando perdemos toda a vida, sem poder continuar mesmo que a tela ainda não esteja cheia de blocos. Evidentemente desta forma o jogo é mais difícil e desafiador, ao perdermos iremos retornar imediatamente a base e teremos que jogar tudo novamente. Para quem não quer um desafio tão grande, temos a opção Estoque Infinito, que permite o ressurgimento após a derrota do cavaleiro, novamente dentro da mesma fase, mas no entanto não vai aliviar a barra no caso da tela ser preenchida por blocos, se isso acontecer a derrota vai vir da mesma forma e também perderemos todo o progresso até o momento.

Então vamos lá, nas fases em si, a missão de fazer combos de blocos, poções ou inimigos é o que dita as regras, combos maiores vão limpar mais rapidamente a tela, dar mais cristais (usados na aldeia para comprar artefatos que por sua vez podem vir a ser encontrados dentro dos baús nas fases) e também permitem o acesso posterior a fases mais avançadas através do pagamento da viagem em um canhão.

Conforme vamos derrotando os blocos nas fases, baús e chaves vão aparecer, ao abrir um baú, vamos receber de forma aleatória algum dos artefatos comprados na loja, e estes artefatos fornecem melhorias temporárias como mais vida, ressurgimento após derrota, maior poder de ataque, congelamento de inimigos e outros bônus. O banco de cristais fica salvo e mesmo após a derrota alguma coisa vai para a aldeia.

Alguns baús ainda podem nos levar a uma loja especial, onde teremos outros artefatos a nossa escolha, mas estes somente podem ser adquiridos com os cristais coletados na fase em andamento e outros baús podem nos levar até um portal que vai necessitar de chaves para ser aberto (então às vezes é melhor guardar algumas chaves e não abrir todos os baús que aparecerem) após o surgimento de alguns baús e chaves (que varia de fase para fase). Após a limpeza de praticamente todos os blocos da fase, vamos ter um portão que vai precisar de outra chave e ao ser acessado vai nos levar a próxima fase, sem parada para descansar e recarregar.

Algumas fases vão ter algum dos outros cavaleiros como chefes em seu final, sempre de forma aleatória, então teremos embates contra uma galera velha conhecida de Shovel Knight. Cada confronto com eles vai envolver alguma particularidade baseada na fase em si e nas habilidades de cada um deles, as mesmas que vamos poder utilizar quando estiver controlando-os. Note que obviamente e para dificultar propositalmente esses encontros, eles contam com mais vida do que quando vão ao controle do jogador. No momento em que conseguirmos derrotá-los eles irão para o acampamento e na próxima visita ao local poderemos trocar de personagens (basta bater 2 vezes na direção deles para trocar de personagem).

Cada novo personagem apresenta uma característica única como sua marca, por exemplo, Tinker Knight pode acumular metais e montar um mecha que será vestido por ele, aumentando o poder para derrotar os blocos; Specter Knight vai perder vida ao pegar as poções de cura, mas vai recuperá-la ao atacar inimigos; Plague Knight pode envenenar os inimigos atacados; e Propeller Knight é bom para derrotar inimigos solitários, mas é punido ativamente quando tenta acorrentá-los em combinações. Cada um dos cavaleiros tem uma habilidade própria e única, então descobrir a forma como cada uma delas vai se adaptar a sua forma de jogar vai lhe levar a testar todas e jogar mais um pouco.

A dificuldade pode assustar?

De certa forma e para algumas pessoas, no primeiro momento, sim. Temos aqui um jogo que recompensa o jogador habilidoso, ao mesmo tempo em que pune impiedosamente por seus erros. Não importa o quão bom o jogador se ache ou seja de fato, precisará de uma pitada de sorte na aleatoriedade da disposição das peças a cada tentativa pode fazer uma estratégia instantânea e que não desabe em um instante. É um jogo que se for jogado perfeitamente, sem erros e com uma grande pitada de sorte, pode durar pouco mais de 1 hora, mas caso você seja um jogador que não consiga controlar a sorte, ele irá lhe entreter, mas dificilmente será solucionado por você.

O fato que salva Shovel Knight Pocket Dungeon de ser somente aproveitado por um nicho específico é exatamente o fato de nenhuma derrota parece boba ou merecida pelo jogador, a única coisa que vai lhe levar a derrota aparentemente é a sorte e sua falta de habilidade estratégica de pensar na melhor solução para aquela situação, mas sempre vai ficar aquele pensamento de “tentar mais uma vez”, não aceitando a derrota e entrando novamente no desafio, o qual por ser aleatório, não vai ser o mesmo oferecido anteriormente, logo cada tentativa é única por parte do jogador.

Mas a Yacht Club ainda incluiu algumas alternativas para quem ainda achar essa jornada muito difícil e quiser aliviar um pouco a barra. A escolha inicial entre ter somente uma vida ou várias não vai afetar o desbloqueio das conquistas/troféus para os colecionadores, mas outras como alterar a saúde inicial e a quantidade de dano causado vão impedir o desbloqueio destas conquistas, enquanto tais opções estiverem ativas. Mesmo assim é uma boa alternativa para aqueles que sentirem uma grande dificuldade.

Considerações finais

Sem sombra de dúvidas Shovel Knight Pocket Dungeon é um título que vale a pena conhecer e experimentar. A cada tentativa sempre iremos aprender alguma coisa, seja algo da mecânica em si, sobre o comportamento dos inimigos ou de formas de fazer combos maiores. Com esse aprendizado adquirido, jogar mais uma vez vai se tornar natural e vamos melhorando com isso. Após algumas tentativas sucessivas, o jogador acaba adquirindo uma memória muscular do que vivenciou na jogada anterior e vai saber como evitar os mesmos erros, cabe então ao jogo e sua aleatoriedade trazer novos desafios. É um aprendizado constante, que em algumas ocasiões pode lhe levar a jogadas espetaculares ao passar por várias fases em sequência, até encontrar a derrota.

Mesmo não sendo fácil, o jogo lhe fornece motivos para jogar novamente, pois temos todos os cavaleiros de Shovel Knight para serem encontrados, derrotados e destravados como personagens adicionais (totalizando 12 personagens no total), temos ainda um mini game de destruir blocos que vão surgindo aleatoriamente em combos de 4 e que explodem ao não ser destruídos dentro de alguns segundos (dentro do acampamento, desbloqueado conforma  progressão do jogo, falar mais seria spoiler dessa parte). E não podemos nos esquecer do desafio diário, que como o nome sugere só pode ser jogado uma vez por dia.

Pocket Dungeon é um jogo difícil pelo seu próprio design e por sua aleatoriedade, mas caso você decida sacrificar ou não se importe com as conquistas, ele pode se tornar tão fácil quanto você quiser, e essa opção acaba inegavelmente em torná-lo mais acessível para jogadores com diferentes graus de habilidade. Uma ressalva que não posso deixar passar é que seria bem interessante se o Modo Versus possuísse a possibilidade de ser jogado online também com os amigos, mas é algo que talvez seja ajustado em futuras atualizações que já foram anunciadas pela produtora, resta esperar e torcer para essa ser uma das novidades vindouras.

No mais, trata-se de um jogo para quem gosta de puzzles, assim como para os fãs do universo de Shovel Knight. A trilha sonora é impecável, na qualidade que a série de jogos da franquia é altamente elogiada, os gráficos são um charme a parte. E é um estilo de puzzle game que foge um pouco do senso comum que é o estilo Tetris. Não é sobre encaixar, mas destruir, ajeitar e impedir, claro, que a tela fique cheia. Tudo isso controlando personagens dentro do diagrama, enquanto o mesmo também pode tomar dano das peças. É diferente, é criativo, e casa totalmente com a identidade de Shovel Knight. É um agradável jogo para passar o tempo, sentir o desafio, e tentar mais um vez, dia após dia.

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