Análise | Marvel’s Spider-Man 2

Disponível para PlayStation 5

Marvel’s Spider-Man 2 funde a experiência obtida nos dois títulos anteriores do universo criado pela Insomniac Games, reunindo aqui Peter Parker e Miles Morales numa trama que envolve um Kraven inesperadamente perigoso, em meio ao aguardado (e misterioso) surgimento de Venom, agravando ainda mais a loucura e selvageria dessa nova história, entregando um gameplay refinado e muito bem estruturado para uma proposta de ter dois protagonistas.

Seu lançamento aconteceu no último dia 20 de outubro, e o título está disponível com exclusividade no PlayStation 5. Isso mesmo, sem PlayStation 4 desde vez, mesmo que Marvel’s Spider-Man (2018) e Marvel’s Spider-Man: Miles Morales (2020) também estejam na biblioteca do console que antecede o atual.

Fica claro que o fato do novo jogo estar apenas no PS5 permite que o mesmo vá além dos limites técnicos que o PS4 acabaria impondo. Dito isso, também já se sabe que esta sequência deve receber uma versão para PC futuramente, mas nenhuma data até então foi oficializada, e certamente não ocorrerá tão breve assim.

A equipe de desenvolvimento segue com os mesmos envolvidos pelos jogos anteriores, lá da Insomniac Games, estúdio responsável pelos jogos da franquia Ratchet & Clank, da primeira trilogia original de jogos do dragãozinho Spyro e até mesmo do injustiçado (porém excelente) Sunset Overdrive. Lembrando que agora que o estúdio entregou Spider-Man 2, o foco deve se voltar aos trabalhos da produção de Marvel’s Wolverine, próximo projeto do estúdio.

De volta à Nova York e seus dois Homens-Aranha, Marvel’s Spider-Man 2 chega ao mercado nacional contando com uma ótima localização em português, com menus e textos todos traduzidos, e também dublagem nos diálogos em áudio para todos os personagens do jogo. Contudo, segue a mesma estranheza que ocorre nos jogos anteriores, a qual todos os nomes de personagens é mantido no original em inglês.

Então, nada de ouvir os personagens dizendo “Homem-Aranha“, “Gata Negra” ou “Lagarto” e sim, “Spider-Man“, “Black Cat” e “Lizard“, um decisão sinceramente bem ruim, que diverge da forma como esse universo tradicionalmente é tratado por aqui em outras mídias, desde os desenhos e filmes, quanto aos quadrinhos. Não faz sentido essa imposição colocada nos jogos da Insomniac, sabe-se lá por quem.

No mais, Marvel’s Spider-Man 2 segue como um jogo de aventura de mundo aberto, na mesma estrutura dos anteriores. O jogador está novamente em Nova York, indo e vindo se balançando entre prédios, cumprindo missões principais e opcionais, enquanto o mundo ganha vida por pequenas interações aqui e ali, além de diversos colecionáveis. Em alguns momentos a missão te levará a locais fechados e exclusivos da missão, em outros, a ação ocorrerá no próprio mundo aberto em si. Há momentos de abordagem furtiva, combate contra inúmeros inimigos, grandes batalhas contra chefes e fantásticos momentos de ação e perseguição.

O caçador e o simbionte

A história de Marvel’s Spider-Man 2 dá continuidade construida em ambos os jogos anteriores, agora com Peter Parker e Miles Morales, este ainda num status de aprendiz do primeiro Homem-Aranha, patrulhando Nova York de eventuais novas ameaças. Ambos já lidaram com diversos vilões, e ambos sofreram duas perdas enormes que impactaram suas vidas. Quem não jogou o primeiro jogo, vai tomar estes spoilers por aqui, mas vou evitar dizê-los caso você ainda tenha a intenção de jogar o primeiro antes de começar o segundo.

Peter está tentando retomar sua vida pessoal, ainda naquela situação em que não sabe o que fazer profissionalmente, enquanto tenta dar um novo passo em seu relacionamento com Mary Jane, a qual a mesma ainda tem alguns receios, sentindo uma responsabilidade maior do que talvez possa lidar, o que também a deixa dividida com o que fazer em relação a tudo.

Miles ainda está aprendendo mais sobre esse mundo de super herói, enquanto parece ter uma base de apoio  e suporte muito maior que Peter, contudo ainda guarda muito sentimentos de culpa e rancor quanto pensa na pessoa que perdeu, e isso escala muito quando o vilão responsável começa a dar as caras na trama. MilesPeter como seu grande mentor, e deseja muito ter o reconhecimento de também ser um legítimo Homem-Aranha.

A grande plot de Marvel’s Spider-Man 2 tem início quando Kraven, o Caçador chega a Nova York com uma enorme infraestrutura de caçadores para caçar os muitos vilões que existem pela cidade. Os caçadores de Kraven se tornam uma das novas facções de inimigos do jogo, e o jogador os encontrará em diversos pontos da cidade, escondidos em bases, enquanto também cometendo outros crimes pelo mundo aberto.

Claro que o choque e o confronto contra os Aranhas será inevitável, o que irá despertar o interesse de Kraven nos heróis, colocando ainda mais conflito entre os jogadores e esse grande vilão. As coisas pioram muito quando Kraven resolve soltar vilões presos, apenas para poder caçá-los pela cidade, causando grande caos na cidade.

O Kraven adaptado pela Insomniac Games é sensacional, desde a sua apresentação, que deixa bem claro o quão ameaçador o personagem é, quanto em diversas situações que em o vilão vai se apresentar no jogo, quando a sua história de fundo, que o jogador vai descobrindo quando começa a invadir covis em missões opcionais, e descobre mais sobre sua família. Um vilão impiedoso, que não teme a morte, e que não hesita em matar, e que usa tudo que estiver a sua favor para caçar e colocar medo no que ele considera sua presa.

Venom, este sim é um personagem que demora muito tempo a aparecer no jogo, sendo mostrado quase próximo ao fim, meio que abrindo o ato final da campanha. Aqui não temos o clássico Eddie Brock, famoso e clássico Venom dos quadrinhos, o que admito que me deixou com algumas dúvidas sobre quem assumiria esse papel dentro do jogo. Dito que o encaixe ficou ótimo e gostei demais desta versão criada pela Insomniac.

E é interessante como alguns aspectos do jogo mudam quando há essa troca de vilões. Os segmentos de Kraven são repletos de adrenalina e selvageria, muitos inimigos de diferentes tipos, explosões, cenário de um insano confronto militar, mas essa intensidade baixa quando Venom entra em jogo, dando um ar mais amedrontador em diversos momentos, com momentos de escuridão, rosnados de simbionte saindo do controle, gritos e pura tensão por não saber o que vem a seguir. Ainda haverá muitos confrontos e batalhas, mas as surpresas são maiores na adrenalina da tensão do ato final.

Inclusive gostei muito que o ritmo e a dinâmica do jogo muda nestes níveis emocionais quando se atinge mais de 70% da campanha, pois renova e muito a aventura. O primeiro ato da campanha, tirando o prólogo intenso com o Homem-Areia, é um pouco lento a meu ver. Mas entendo a necessidade de ir com calma, para não assustar o jogador com tantas mecânicas e possibilidades existentes.

Não que ir com calma seja ruim, mas em certos momentos a trama em seu início se perde quando se está realizando algumas coisas mais opcionais. Por exemplo, toda a sequência em que o Miles fica ajudando uma galera pra um baile de formatura é uma chatice que só, ainda que essa sequência seja completamente opcional. Felizmente isso é um aspecto bem pontual e na maior parte do jogo, a narrativa se desenvolve de forma bem mais interessante.

Mesma fórmula, porém com melhorias

Quem jogou os títulos antecessores, irá notar que a fórmula geral da série se mantém quase que intocada aqui, dando apenas espaço para pequenas melhorias que dão mais ritmo e dinamismo ao gameplay. Além disso, Marvel’s Spider-Man 2 une o sistema de batalha do primeiro jogo com a aventura solo feita para Miles em 2020, expandido o leque de golpes e combos, para ambos os personagens jogáveis nesta sequência.

Porque sim, aqui o jogador terá acesso aos dois Homens-Aranha, podendo a qualquer momento alternar entre Peter ou Miles como bem entender, se atentando apenas que existem missões principais tanto para Miles, quanto para o Peter, e aí não faz sentido permitir essa troca durante estes segmentos. Mas no geral há uma grande flexibilidade para o jogador escolher qual o herói que mais lhe agrada.

Independente de quem o jogador escolher, ambos os Spiders possuem golpes equiparados e semelhantes, com pequenas diferenciações, mas na mesma quantidade num menu radial existência ao segurar o bumper da esquerda do controle (L1). Já no bumper da direita (R1), o menu radial é para dispositivos eletrônicos que ambos os heróis compartilha sua utilização.

Então assim, se Peter tem um golpe de amplo aspecto, que atinge vários inimigos de uma só vez, é certo de Miles também terá um golpe parecido. Enquanto Peter utiliza um exoesqueleto de metal em seu uniforme para estes golpes, Miles tem seus poderes elétricos que cumprem a função de realizar golpes também poderosos. Mesmo bem balanceado, e ainda que seja uma impressão muito pessoal, tive a ligeira impressão de que com o Miles é muito mais fácil lidar com múltiplos inimigos no começo da campanha, enquanto Peter vai se fortalecer mais à frente, quando o arco do Venom começa a esquentar as coisas.

Existem também atividades dentro do jogo que serão realizadas apenas pelo Miles, enquanto outras somente Peter poderá lidar. Dou exemplo, só Miles pode procurar por recursos nos esconderijos de seu tio, utilizando um radar e suas habilidades para hackear estes locais. Miles também usará muito esse poder eletrificado para ligar geradores ao longo da aventura. Já Peter, vai ter diversas missões envolvendo pesquisas científicas, seja controlando uma abelha ou mexendo com o DNA de plantas. Até um teste numa bicicleta de bateria ecológica vai acontecer. Mas tudo isso são momentos que servem para dar distinção e qualidade a ambos os heróis protagonistas e provar que os dois possuem mundos e particularidades distintas.

De volta ao combate, é preciso entender que é um combate de ação e reação. Um botão serve para atacar, enquanto outros vão criar diferentes oportunidades para seguir atacando, seja uma esquiva que será indicada pelo sensor aranha que é indicado visualmente na cabeça do personagem, seja a utilização das teias que possuem diferentes funções, desde prender inimigos em balaços de gosma de teia, seja usando ela para ir rapidamente até o inimigo ou puxá-lo para si. Há um estilo muito influenciado pela franquia Batman Arkham, mas que os desenvolvedores aqui conseguiram dar uma leveza, agilidade e característica muito própria.

O Homem-Aranha é um personagem leve, que salta, pula, faz piada e não para quieto cercado por inimigos, e isso se reflete também nessa jogabilidade. Inimigos atacam em conjunto, você esquiva pulando, passando por baixo de suas pernas, e segue a sequência de chute, socos e teias. Há diversas possibilidades nesse leque de combos, desde segurar um botão pra um ataque carregado que tira o inimigo do chão, a combos aéreos que o jogador faz puxando inimigos pra cima com a teia, e indo de lá em cá, quase como uma dança acrobática no ar.

Não posso deixar de mencionar que o jogo também possui um parry, ou seja, uma esquiva que deflete um ataque poderoso do inimigo, e o deixa vulnerável para um contra ataque pelo jogador. O sensor aranha avisa quando um ataque forte pode ser defletivo, e o tempo de resposta para a realização dessa manobra é bem generosa. Então, não vá esperando um Dark Souls, sem frustrações nesse sentido.

E enquanto está socando inimigos nesse sistema mais básico, seus golpes especiais estão sendo carregados em indicadores pela tela. Golpes que não eliminam certos inimigos logo de cara, mas causam um dano devastador nestes. Golpes perfeitos para se usar quando se está cercado. O menu radial deixa 4 golpes prontos para serem usados pelo controle, mas ao longo da aventura você aprenderá outros que poderão substituir as quatro opções originais.

Já os dispositivos tecnológicos não. Estes serão apenas 4 opções do começo ao fim. Um dispositivo para concussão dos inimigos, deixando-os brevemente atordoados, um outro que libera uma teia que os puxa pra perto uns dos outros, e quando não tem inimigo o bastante também atrai objetos, como barris, que acabarão também causando dano, um outro dispositivo que libera uma descarga de energia que eletrifica e arremessa os inimigos no ar, e por fim, um dispositivo que arremessa teia para todo o lado, prendendo os inimigos. Todos estes dispositivos tem cargas individuais de utilização, então uma vez que se usa algum, é preciso aguardar um tempo para voltar a usá-lo novamente.

No que diz respeito a sensação de progressão, o jogador irá encontrar três árvores de habilidade: uma para Peter, outra para Miles e uma terceira que servirá para ambos os heróis. Pontos de experiência para colocar nestas árvores são concedidas subindo de nível ao realizar missões dentro do jogo, e podem ser usadas pra qualquer uma delas. Nestas árvores estão habilidades que envolveram novos golpes ou o fortalecimento de golpes já desbloqueados, além de melhoria geral de atributos como avançar mais rapidamente pela cidade por teia ou até mesmo o combate básico com mais variedade de combos e possibilidades.

Além das árvores de habilidades, seus dispositivos tecnológicos também podem receber melhorias, utilizando as fichas de moedas colecionáveis recolhidas pela cidade. E não só cada um deles, mas o traje geral dos Aranhas, também recebem melhorias com estas mesmas moedas, de categorias como travessia mais ágil, ou então mais saúde em sua barra, ou maior poder de dano em seus ataques, e talvez o mais importante de todos: melhoria e aumento da sua barra de foco.

A barra de foco é uma das coisas mais importantes no combate de Marvel’s Spider-Man 2, pois quando essa barra está completamente cheia o jogador pode tomar uma de duas decisões: utilizar uma finalização que vai nocautear o inimigo imediatamente em cena coreografada, ou então revitalizar sua barra de saúde se estiver numa situação delicada de saúde. Inicialmente você tem uma barra, mas até o final da aventura, é possível expandir para possuir três barras. Sua barra de foco se enche derrotando inimigos e realizando esquivas perfeitas quando o sinal lhe alertar.

Indo para um aspecto além o sistema de combate, pensando num jogo de mundo aberto realmente grande, a mobilidade e travessia entre os pontos de interesse do jogador são importantíssimos, e aqui o jogo também cumpre muito bem estas mecânicas, sendo muito fácil se locomover como um legítimo Homem-Aranha. A novidade para a sequência fica para as travessias em que ao invés do Aranha se balançar pelos prédios, ele meio que abre os braços e sai planando pelo cenário, dada uma nova aerodinâmica dos uniformes de Peter e Miles.

Pode soar meio cafona essa ideias do Homem-Aranha sair planando pela cidade no lugar do clássico sistema de balançar suas teias, mas o ponto é que isso é muito prático, além do fato de que o jogador vai continuar se balançado de forma intermediária a esse novo esquema de travessia. O que dá pontos extras a essa ideia são os pontos de túneis de ventos que estão espalhados por toda a cidade, ligando partes importantes do mapa. Quando se está em um destes túneis, o vácuo gerado faz com que você se mantenha viajando, enquanto fora deles o planar vai perdendo altitude de forma constante.

Como existem imensas áreas de mar aberto, com pontes ligando Nova York em suas diferentes áreas, faz sentido você atravessar essas áreas marítimas planando, usando os túneis de ventos criados para tal. Não dá para balançar suas teias em áreas em que elas não tem onde grudar. Alias, a física disso segue muito bem apurada, pois a altura do balançar segue a altura dos prédios, sem ultrapassar esse limite de onde elas podem se agarrar.

No mais, toda a mobilidade é bem idealizada. O Aranha pode correr verticalmente ao topos dos edifícios, pode se impulsionar para qualquer beiral que passar de forma muito prática, pode realizar um mega salto quando se está no chão ao carregar dois botões, da mesma forma que também tem outras manobras de navegação, como virar rapidamente uma esquina com seu balançar de teia quando certa habilidade é desbloqueada. É muito pratico se mover rapidamente pela cidade, seja até o topo de um edifício ou no meio das árvores do Central Park.

Um aspecto que retorna na sequência são segmentos em que há uma abordagem mais furtiva. Com o Aranha no topo do cenário, observando os inimigos, tentando nocauteá-los um a um. Aqui uma novidade, e uma excelente: a possibilidade de criar linhas de teias em qualquer direção, afim de poder se mover mais livremente acima da cabeça dos inimigos. Só essa nova mecânica expande e melhora infinitamente a abordagem furtiva. Dando a chance do jogador limpar uma base inteira com sua própria estratégia de se mover pelas sombras, sem que nenhum inimigo o detecte. Sinceramente achei sensacional essa nova possibilidade, especialmente frente a bases de inimigos absurdamente numerosos em alguns cenários com Kraven.

Falando em inimigos, gosto da variação em que o jogo apresenta, e até mesmo do cuidado para não apresentar inimigos minions clones muitos semelhantes entre si. Quer dizer, mais ou menos. Na facção de bandidos comuns de Nova York, é meio difícil reparar em dois bonecos iguais, ainda que você verá as mesmas skins diversas vezes ao longo do jogo. Na facção dos caçadores, essa repeteco visual é um pouco mais comum, porque eles estão de uniformes e por isso se parecem bastante, mas nesta facção tem inimigos mais perigosos, a ponto de não deixar o jogador ficar olhando se são iguais ou não.

No grupo de Kraven tem inimigos básicos, que morrem rápido, mas também alguns que utilizam espadas de energia, e que bloqueiam muito bem o jogador, assim como cães e aves robôs (usando a tecnologia do Abutre), que são mais ameaçadores, sendo que os cães inclusive conseguem emitir um pulso que desliga seus golpes especiais. Há também brutamontes com machados enormes e inimigos com armas de longa distância, como rifles de sniper e até mesmo bazucas. E eles sempre pedem reforços, então sempre acaba chegando mais inimigos. Por isso, em muitas situações, a abordagem furtiva acaba sendo a melhor solução.

Desta vez não há tantas facções como nos jogos anteriores, o Homem-Areia fornecerá alguns inimigos nesse conceito, mas será uma missão opcional de colecionáveis, enquanto há uma facção no ato final do jogo que não vou revelar muito, mas que dará mais trabalho ao jogador. Há também um culto do fogo, cujo seus inimigos mais complicados, estarão armados com lança-chamas e bastões em chamas. Estes são perigosos se o jogador lutar com eles da forma como luta com os demais inimigos do jogo. O ideal é usar teias, golpes especiais e manter distância quando os mesmos atacarem.

Falando em missões secundárias e opcionais, estas também me soaram melhores e mais estruturadas em relação aos jogos anteriores. Mas é preciso entender que há missões alternativas únicas, enquanto há momentos que ficam se repetindo no mundo aberto, como os crimes habituais de Nova York. Estes crimes ocorrem a todo momento e nunca cessam. Se o jogador der muita corda pra isso, nunca que vai progredir na aventura, mas existem variações dos crimes, desde perseguições de carros aos roubos em si, seja da facção de bandidos normais, quanto de caçadores quando estes se instalam pela cidade.

Contudo as missões únicas tendem a não se repetir. Claro que existe certo padrão em algumas. As dos caçadores, com suas bases escondidas no topo dos edifícios é um bom exemplo. Estas estão sempre ali e funciona exatamente iguais, mudando a intensidade dos inimigos e o layout do local, o objetivo ali é encontrar a base mestre da região, que é única e gigantesca, perfeita para usar as mecânicas de furtividade dos Aranhas.

Cada uma destas missões, quando prestes a ser completadas, levam o jogador a uma missão de história final, e todas são muito bem projetadas e idealizadas narrativamente. O que dá um perfeito senso de recompensa ao finalizá-las. Além disso, muitas destas missões somente são liberadas após alguns eventos chaves da campanha principal, não deixando tão aberto assim a possibilidade do jogador se perder fazendo apenas estas missões. Gosto inclusive que uma das últimas missões do Culto da Chamas, por exemplo, daria perfeitamente plot para uma expansão adicional de campanha, já que certo ponto da trama fica em aberto.

Fator Venom

Falando um pouco mais, e fique tranquilo que será sem spoilers, sobre o elemento do Venom em si no jogo, dá para dizer que parte da estrutura do gameplay com o Peter muda um pouco quando o simbiose gruda em seu corpo, o que não é uma novidade, já que ocorre em toda adaptação com o Venom, e a Insomniac inclusive já havia mostrado parte disso em trailers antes do lançamento deste jogo.

Quando então o simbiose entra em cena, os golpes de Peter mudam um pouco, ele deixa de usar suas articulações mecânicas de aranha e passa a usar a gosma do simbiose no lugar. Estruturalmente ainda é a mesma roda radial de golpes, mas existe essa sensação de que eles causam muito mais dano e derrubam os inimigos muito mais rapidamente. Conforme a campanha progride com esse uniforme, aí sim novos golpes são inseridos e entregam uma variação bem interessante, como um golpe em que ele agarra ou repele todos os inimigos que estiverem próximos dele, num golpe devastador. Ainda que, Miles também faça coisas assim com seus poderes elétricos.

Mas é muito legal, por exemplo, quando uma barra de especial se enche e você passa pra um estado em fúria com o Peter, sendo muito letal aos inimigos, pois nesse momento o DualSense passa a emitir barulhos do simbionte, demonstrando suas raiva e agressividade, enquanto o controle trabalha muito pra entregar a imersão do momento, com a vibração diferenciada pelos ruídos e impacto dos golpes. Miles também tem um especial de fúria, mas não tem o mesmo impacto que o do simbionte de Peter.

Também gostei muito quando próximo ao ato final do jogo, missões secundárias envolvendo o simbionte dá as caras. São missões bem diferentes de tudo que havia aparecido no jogo até então. Até esse momento o jogador já invadiu bases, caçou furtivamente inimigos, fez perseguições áreas e até mesmo missões de ciência com o Peter, resolvendo puzzles e tal, mas aqui, com o simbiontes, rolam várias missões de tempo e hordas de inimigos, a qual é pura pancadaria desenfreada. Não vou dar muitos detalhes pra não estragar a surpresa, mas apenas reforçar que é muito bom realizá-las antes do ato final

Ainda pensando no Venom, também achei excelente como a Insomniac buscou adaptar o personagem, fugindo um pouco do clichê de precisar inserir um Eddie Brock aqui para competir profissionalmente com o Peter, que nesta aventura, sequer trabalha num jornal, ou pro J.J.J., deixando este papel para a Mary Jane. Admito que em certo ponto da história estava legitimamente curioso para saber quais dos potenciais personagens ali da trama acabariam se tornando o famigerado vilão de muitos dentes e língua enorme, mas depois acaba se tornando bem claro que só tem uma opção… e ela funciona muito bem.

Não só isso, mas os desenvolvedores guardaram diversas surpresas envolvendo o Venom, em segmentos que o jogador sequer imagina que irão ocorrer, e que não vou dizer mais nada por isso. Mas adorei quando o personagem é apresentado finalmente, e como a jogabilidade se desenrola depois. Dá um gostinho diferente de possibilidade, que poderia funcionar em outro jogo, com certeza. Além disso, quando Venom enfim surge, claro que Peter perde seus poderes, mas o jogo dá um jeito muito inteligente de equiparar elementos que até então estávamos usando com o simbionte. Ficou sensacional.

Considerações finais

Marvel’s Spider-Man 2 não só é uma sequência madura de excelente jogos que a antecederam, como também não tem medo de impulsionar esse universo para novos horizontes ainda não anunciados. Não é só uma sequência que veio, fez algo, passou e a história retorna ao seu ponto inicial. Nada disso, pois o título consegue levar esse universo adiante e se um novo jogo ou expansão surgir, os eventos desse jogo precisarão ser respeitados e aceitos, tal como o mesmo faz com os eventos do primeiro Marvel’s Spider-Man.

E se bons acertos são feitos na narrativa, o mesmo também se reflete na jogabilidade, que não mexe muito em time que está ganhando, mas refina um pouco as coisa, dando ao jogador mais opções de golpes, tanto de poder quanto de dispositivos, traz meios muito interessantes de locomoção no mapa aberto, que quase nos faz esquecer a viagem rápida pelo mapa, ainda que quando utilizada, funciona quase que instantaneamente (é incrível isso), e entrega uma variedade muito boa de atividades e missões variadas, tanto com os Aranhas, quanto com outros personagens.

Entendo que houve certas reclamações da comunidade sobre as missões com Mary Jane no jogo anterior, e que ainda estão de volta aqui. Sinceramente? Eu as adorei. Não são tantos momentos assim, e tão pouco duradouros. E cada uma delas, acrescenta elementos na jogabilidade furtiva com a personagem. Inclusive uma destas missões, que ocorrem num túnel escuro, consigo dizer que é um dos melhores momentos da campanha. Sai desse segmento todo arrepiado de tão bem executado é a combinação de história em trilhos, mas com o jogador no poder de seguir adiante do momento em si. Ficou animal!

Também tive a impressão de que dada as muitas mecânicas e poderes de combate dada aos Aranhas, este é um jogo relativamente mais fácil do que os dois anteriores. Os chefes, que não são tantos, são empolgantes, mas não me fizeram morrer muitas vezes. É questão de se atender aos momentos de ataques, não ter medo de usar o generoso parry, e contra atacar com teias, golpes especiais e dispositivos. Tanto é que o meu filho, de 11 anos, travou várias vezes no primeiro jogo, mas aqui tem ido muito bem sozinho pelos combates e batalhas, sem necessitar da minha ajuda. Prova de que houve uma preocupação em tornar a aventura mais acessível a todos os tipos de jogadores, incluindo os mais novinhos.

E isso não significa que o título está mais fácil, pois se não usar as técnicas que o jogo te dá, e deixar ser cercado pelos inimigos, não vai sobreviver aos seus ataques. Não é um combate de esmagar botões, não funciona fazer isso. É preciso desviar, fugir, atacar quando oportuno e usar as cartas que se tem em mãos, independente de qual Aranha estiver usando.

Por sinal, achei curioso um jogo em que há dois Homens-Aranha na capa oficial oferecer apenas uma campanha single player, sem que houvesse qualquer modalidade de multiplayer cooperativo. Fiquei com a impressão de que o título poderia ter apostado, nem que fosse somente algumas missões opcionais ou um pequeno modo à parte, a possibilidade da tela dividida e permitir que dois jogadores controlassem junto os Aranhas. Teria sido divertido isso. Tanto é que em diversos momentos da campanha, o jogador se alia a personagens companheiros para lutar contra bandos de inimigos, realizando finalizações juntos, como uma equipe, quase simulando um segundo jogador.

Já nos aspectos mais técnicos, Marvel’s Spider-Man 2, roda lindamente. Visualmente os gráficos de ambientação são um show à parte. Nova York tem diversas iluminações, lindo céu azul, anoitecer alaranjado, noites repletas de estrelas, nublado e chuva em vários momentos do dia. O tráfego de veículos é outra coisa que se pode sentir evolução, havendo muitos mais carros nas ruas do que nos jogos anteriores, a cidade está mais viva, mais movimentada. Se você ficar parado no chão, personagens param para interagir com o jogador, pedindo um abraço ou simplesmente cumprimentá-lo. Também não presenciei nenhum bug grosseiro, ainda que houve um momento na missão do parque de diversões em que ao sentar num banco não conseguir sair dele, sendo necessário reiniciar o save e voltar uns minutos antes disso.

No geral, é isso. Marvel’s Spider-Man 2 é mais uma entrega fantástica da Insomniac Games, que parece muito confortável com o universo que criou, e com libertada para adaptar e fazer o que quiser com os personagens conhecidos dos quadrinhos e outras mídias, dando a eles versões próprias dentro desse universo em que o estúdio possui. Sempre com muito carinho e respeito ao que estes representam aos fãs. Está bem feito. Mas sigo imaginando se um futuro jogo não poderíamos sair desse clichê de Nova York e nos deixar visitar outros lugares. Por exemplo, nesta sequência, faltou muito pouco para irmos a Paris. E teria sido incrível se isso tivesse acontecido.

Assim, a aventura consegue renovar a jogabilidade, dando pequenos novos elementos, que por mais que sejam pequenos, refinam muito certos aspectos do jogo, tanto do combate, quando da abordagem furtiva ou locomoção pelo mundo aberto. Tudo está melhor, mais gostoso de ser realizado com o controle. O próprio DualSense trabalha muito aqui para entregar tudo que a tecnologia desse controle pode fazer, vibrar todo diferente, emitir sons aqui e ali, certos momentos com os gatilhos de pressão. É o pacote complete, que infelizmente parece que só os exclusivos da Sony tem conseguido usar todo seu potencial com tamanha qualidade.

Termino dizendo que Marvel’s Spider-Man 2 não é uma sequência “mais do mesmo“. Ela tem sentido existir, consegue evoluir o universo até então criada, e que por mais que seja um jogo de mundo aberto, não tem uma experiência exaustiva ou tediosa por meio de ciclos de tarefas repetitivas. Os desenvolvedores conseguiram trabalhar muito bem no ritmo e na dinâmica do jogo para não ter esse efeito colateral do gênero. E tudo isso com dois protagonistas que não dá para apontar um ou outro como favorito, sendo que ambos funcional perfeitamente bem em todos os cenários em que são colocados, e não rivalizam momentos a qual o jogador irá achar um chato porque não está jogando com o outro. É de fato uma aventura protagonizada de dois Homens-Aranha, e que não poderia ser diferente!

Galeria

Este slideshow necessita de JavaScript.

Dando nota

Visualmente é um espetáculo em todos os aspectos, ambientes lindos, mesclando jogo com uma experiência cinematográfica - 9.5
Narrativa que empolga, Kraven é um grande vilão e Venom encerra a aventura de uma forma a criar um baita impacto - 9.5
Ter dois Aranhas funciona muito bem, Peter e Miles são grandes personagens, igualmente divertidos - 10
Jogabilidade aposta em sua formula de sucesso e pouco a modifica, apenas aprimorando e dando mais recursos ao jogador - 9
Experiência de mundo aberto com boa dinâmica e ritmo, ainda que Nova York seja velha conhecida de todos - 8.5
Incrível dublagem em português, mas segue a irracional decisão de manter os nomes originais em inglês - 8
Ótimas missões secundárias, colecionáveis divertidos e muitos trajes dentro de uma progressão que recompensa muito bem o jogador - 9

9.1

Fantástico

Marvel's Spider-Man 2 representa tudo que se pode querer de uma sequência, mas acima de tudo, prova que a Insomniac Games sabe o que quer em seu universo próprio do Homem Aranha, dando aspectos únicos a estes personagens tão conhecidos pelos fãs e com tantos histórias recontadas tantas vezes. O jogo acerta em dar sua própria versão. Na jogabilidade, a fórmula de sucesso segue com todos seus acertos e refina ainda mais o que pode, dando mais poder de combate aos jogadores, dois protagonistas, melhorias na travessia de mundo, além de se aproveitar todos os aspectos técnicos que o PlayStation 5 pode oferecer, com gráficos incríveis e total uso de toda a tecnologia do DualSense. O resultado é uma experiência ímpar, que segue em seu auge e entrega um das grandes aventuras desse ano.

Isso também pode lhe interessar
Botão Voltar ao topo

Adblock detectado

Dê uma ajuda ao site simplesmente desabilitando seu Adblock para nosso endereço.