Análise | Drag x Drive
Disponível para Nintendo Switch 2

Drag x Drive é em sua essência um jogo conceito, cuja a proposta é apresentar uma nova experiência de gameplay, nunca antes vista, naquela linha criativa a qual a Nintendo é famosa por oferecer de tempos em tempos, sempre quando um novo console surge e sua tecnologia inova. E até aí tudo bem. O contra peso dessa medida é encontrar um jogo pequeno, lembrando até mesmo uma demonstração técnica, algo simples demais, cujo seu pleno potencial não é muito bem aproveitado. Há ótimas ideias, diversão e certa criatividade, mas também há limitadores insensatos. Com um conteúdo enxuto, basta algumas horas para sentir que falta algo aqui. Que o pedaço da torta é pequeno demais para saciar tamanha fome.
Lançado no último dia 14 de agosto, de forma exclusiva para o Nintendo Switch 2, ou seja, o título não roda em seu antecessor, o primeiro Switch, o jogo foi desenvolvido pelos estúdios internos da própria Nintendo, a divisão Nintendo Entertainment Planning & Development Division (EDP).
Na equipe de Drag x Drive, há dois nomes que se destacam, Yoshinori Konishi, que é creditado como diretor e programador do jogo, sendo um desenvolvedor com vasta experiência em jogos da série Mario Kart, e Hisashi Nogami, que está listado como produtor do título, e é um famoso desenvolvedor, sendo cocriador dos jogos da franquia Animal Crossing e Splatoon.

Outro ponto importante desta apresentação inicial, também é esclarecer que Drag x Drive está sendo lançado com um escopo de um lançamento mais modesto em relação a preço. Lá fora está custando U$19, enquanto na eshop brasileira, foi tabelado em R$ 120 na data de publicação desta análise. Ou seja, muito menos do que os atuais 400/500 reais de lançamento da atual geração de consoles.
Também é legal mencionar que Drag X Drive está chegando ao mercado brasileiro com localização em português em seus menus e tutoriais, sempre com legendas, pois o jogo não possui áudio de diálogos. E é muito bom ver a Nintendo tendo todo um cuidado com a adaptação e tradução de seus jogos ao nosso mercado, um contraste bem diferente dos anos iniciais do Nintendo Switch, por exemplo. O Switch 2 tem demonstrado estar recebendo um ótimo suporte ao nosso mercado nessa direção.
Drag X Drive pertence ao gênero de jogos de esportes competitivos online, simulando a experiência de jogos de basquete com cadeirantes, em partidas 3 contra 3. Sendo que seu diferencial são os controles, utilizando os joy-con 2 (ambos) na posição de um mouse de PC. Dito isso, hora de destrinchar um pouco este conceito.

Regras para iniciar
Basquete com cadeira de rodas é uma modalidade esportiva oficial das Paraolímpicas, o maior evento dos esportes envolvendo pessoas com deficiência, e parece ser a inspiração para Drag x Drive. No jogo você controla jogadores robôs que se locomovem utilizando cadeiras de rodas, em uma pista projetada especialmente para essa modalidade, permitindo locais de manobras aéreas próximo as cestas da quadra.
As regras são simples, um lado detém a posse de bola e precisa atravessar toda a quadra até a cesta adversário. É permitido passar a bola para outro membro da equipe, e pode-se lançar a bola de qualquer lugar, ao arremessar e a bola não entrando na cesta, o jogo continua com o rebote.
Existe também uma regra de ouro: com a posse de bola, você 14 segundos para arremessar para a cesta. Se não o fizer dentro desse limite, a posse de bola é dada para o time adversário de forma obrigatória. Essa condição parece existir para incentivar um jogo ágil, onde ambos os lados estão constantemente com a bola e realizando tentativas de cestas. Não dá para ficar enrolando.

Outro detalhe, quando uma cesta é realizada, a bola ressurge no chão da área de cesta do time que tomou o ponto, e durante esse momento, o adversário não pode entrar nessa área para roubar a bola se ela ainda não estiver em posse de nenhum jogador. Assim que um jogador dessa equipe pegar a bola, os 14 segundos começam e o time adversário está liberado para tentar roubá-la.
Por fim, a última regra básica: roubo a bola. Para pegar a bola de um adversário, é preciso se chocar com o jogador de frente a ele. Não adianta bater do lado ou em suas costas, ainda que você possa colidir mesmo assim e criar uma desaceleração, mas o jogador não irá perder a posse da bola. A colisão frontal faz com que a bola voe para cima, não é um roubo preciso. É preciso sair atrás da bola perdido numa colisão frontal.
Estas são as mecânicas básica. Em posso com a bola, 14 segundos para um arremesso, acertou, corre pra defender, bate de frente, pegue a bola e assim por diante. O time tem três jogadores, e você pode passar a bola para qualquer um deles, mas isso não reseta os 14 segundos. E passes errados também podem acontecer ou o adversário intervir num passe mal feito.

As partidas duram três minutos, o que garante jogos rápidos, onde a vitória fica para o time que mais pontuou nesse curto intervalo de tempo.
Basquete com Mouses!
Claro que a grande atração de Drag x Drive não são as regras ou o formato das partidas, e sim de sua jogabilidade diferenciada, utilizando os controles do Switch 2 como mouses duplos. E é justamente nesse aspecto que entram algumas das maiores contradições do jogo.
Primeiro é preciso entender como esses controles funcionam. O jogo tem um excelente tutorial inicial que vai explicar tudo com a perfeita exatidão, incluindo com instruções visuais na tela. Contudo, se na teoria parece incrível, na prático logo se percebe que existem alguns pormenores nesse conceito.

Vamos lá. Primeiro que os joy-cons 2 precisam estar posicionados como mouses. Ou seja, é preciso inserir o strap-on (as cordinhas) no pulso, porque né, sempre há o risco deles escorregarem da sua mão e na queda quebrarem. Segurando de algo nada barato sempre em primeiro lugar. E então vem o primeiro desafio: encontrar um lugar que vá funcionar para pode deslizar os controles em uma superfície plana.
Se você estivesse jogado em um PC, obviamente o mouse estaria em cima da mesa em que essa plataforma normalmente fica. Ao lado do teclado. Mas quando estamos em um console doméstico, isso não é exatamente algo óbvio. Meu Nintendo Switch 2 fica na sala de estar de casa, então a mesa de computador, que fica nas proximidades, não é o melhor espaço para isso. Ela é repleta de tranqueiras, mas o grande problema é que logo descubro que sua altura, para os movimentos que o jogo exige, são totalmente desconfortáveis, pois exigiria que meus braços se posicionem em uma altura um tanto desconfortável para os movimentos que o jogo vai exigir, e que quando estou usando o mouse nessa mesma mesa, não tem problema (porque não faço movimentos bruscos nele, claro). Drag x Drive exige todo um posicionamento corporal, que não é simplesmente o mesmo posicionamento que o uso habitual de um mouse.
Tenha em mente o seguinte, o jogo quer que você use os joy-cons 2 como se estivesse segurando os lados das cadeiras de rodas. E é preciso flexionar ambos os braços pra frente, como se estivesse empurrando as rodas da cadeira. Mas a força aplicada nesse movimento também implica na força que seu personagem irá empurrar as rodas no jogo, e com isso ter ou não velocidade.

Então se você estiver em uma posição elevada, por conta da mesa plana, ficará em uma postura meio que de “asas de frango assado“, com os cotovelos erguidos demais. Isso vai lhe deixar desconfortável e possivelmente dolorido posteriormente. E em uma mesa de centro? Sentado no chão? De joelhos? Não é uma sessão que vá durar muito, não acha? Além disso, a depender da mesa, se ficar curvado demais, suas costas são dor eventualmente.
E qual seria a melhor posição para se jogar Drag x Drive? Sinceramente? Depois de vários testes, a minha conclusão é que em uma cadeira convencional. Pode ser uma cadeira de escritório, da mesa da sua cozinha, de preferência com um encosto para as costas (não use banquetas então). E aí você usa as coxas da sua perna para posicionar os joy-cons 2. Nessa posição seus braços estarão na altura correta, cotovelos não irão ficar erguidos, nada de bunda ou joelho no chão, e costas estão apoiadas. Você está, afinal, em uma cadeira, como o personagem no jogo, e irá simular os movimentos de um cadeirante. Não há outra posição mais correta do que essa.
Em um sofá pode funcionar, mas depende do modelo e do quão confortável ele seja para se sentar com uma postura ereta. Sem ficar “largado” ou “torto“. Caso contrário, pode ser difícil ajustar as coxas para que elas funcionem como as rodas da sua cadeira, e base para os movimentos com os joy-cons. Como os movimentos são para frente e para trás… não é preciso mais do que suas coxas.

Feito toda essa preparação para o melhor posicionamento, resta entender as mecânicas. Empurrar um braço e deixar o outro em posição neutra faz com que a cadeira do personagem gire para virar. Levantar o controle e fingir um arremesso, o faz arremessar. É bem simples.
O que pega, muitas vezes é aprender a força aplicada em tudo isso. No empurrar, no girar e no arremesso. A tecnologia de movimento do controle detecta tudo isso, então é preciso colocar “vontade” nos movimentos, e não só fingir sem vontade realizá-los. Inclusive dá para ficar com os braços cansados depois de algumas partidas.
Lembra que eu mencionei um contradição no começo destas explicações? Então, se você achou incômodo todo esse sistema, saiba que Drag x Drive não traz opções de controles convencionais. Ainda que claramente fosse possível um sistema sem a utilização do modo mouse ou dos controles de movimentos. Para um jogo que tem como escopo uma modalidade esportiva para pessoas com deficiência, não ter controles com opções de acessibilidades tradicionais, parece algo estranhamente errado. Limitar depois, unicamente para forçar a experiência em si dos controles e sua nova tecnologia, não soa muito inclusivo.

Parque recreativo e partidas
Foi um longo preâmbulo para explicar todo o conceito de Drag x Drive, do que o jogo se propõem e como é sua jogabilidade, e agora é necessário mencionar seu conteúdo, e talvez aqui existe o ponto da análise que pode frustrar alguns jogadores, pois o jogo é pequeno e limitado nesse aspecto.
Sem sequer um menu de início (Press Start), uma vez realizado o tutorial do jogo, sempre que você o iniciar ele irá te colocar em uma tela onde será feito sua conexão online de forma automática. Se você quiser, nesse momento pode também optar por deixá-lo offline, o que talvez seja uma boa ideia se quiser customizar seu avatar, pois estando online, as partidas ficam inicializando em sequência e você não tem muito tempo para acertar esses parâmetros personalizados.

Uma vez conectado, ou determinado que ficará offline, o jogo irá te liberar para o que ele chama de Parque. Esse local é uma imensa arena coberta por um domo de ferro. Trata-se de um imenso circuito olímpico, com duas quadras e diversas rampas e atividades extras em seu entorno, para a realização de treinos e atividades que vão servir para você se adequar aos controles do jogo.
Nesse local o jogador é livre para ir onde bem entender, assim como pode interagir com outros jogadores que estão nessa área social online, caso esteja conectado na internet. No modo offline, você fica sozinho, nem mesmo bots aparecem nesse espaço.

De volta ao online. Com o jogo conectado, o matchmaking já começa a procurar partidas insistentemente. Há duas modalidades de jogo: partidas e atividades extras. Partidas o próprio nome já auto explica, 3 contra 3, 3 minutos de duração, ganha quem pontuar mais. Já as atividades extras, são realizadas com um número bem expressivo de jogadores, e envolvem pequenas brincadeiras competitivas no completo. Pode ser corrida, ou pegar uma bola arremessada em uma distância enorme, ou arrancar num trecho com obstáculos e etc.
Estas atividades entram dentro de uma rotatividade no matchmaking, mas não fica claro quando irão ocorrer e qual será a ordem. Ao que me parece, quando a sala está bem cheia de jogadores, o sistema se mobiliza para criar uma atividade competitiva com esse grande número de jogadores. São atividades bem rápidas e curtinhas, então são interessante para quebrar um pouco a tensão de partidas atrás de partidas.
E meio que é isso que Drag x Drive tem a oferecer. Não há campanha, nem modo carreira (comum a jogos esportivos), não tem história ou contexto para os personagens criados para o jogo. Não tem modos malucos, exceto por estas atividades aleatória.

No modo offline, é possível realizar algumas partidas com bots, em diversos níveis de dificuldade. Também há um modo espectador, caso queira apenas assistir partidas de outros jogadores.
Isso meio que faz com que em poucas horas, Drag x Drive canse um pouco qualquer jogador. O resultado é um título que não segura sua comunidade por longos períodos. Não existe um “passe de temporada”, ainda que fosse gratuito, para lhe oferecer recompensas. Não tem uma grande atrações no aspecto de personalização, já que todos os personagens usam roupas e acessórios parecidas. Mesmo que haja 3 classes de esportista (velocidade, neutro e bruto).

A única diversão do jogo está nas partidas em si. Que sim, podem ser divertidas mesmo, contudo, não entregam diversidade de cenários, situações, estilos e isso não dá dinamismo e nem ritmo ao jogo. Faltam mais conteúdos, isso é certo. Lembra quando disse, lá no início, que Drag x Drive parecia uma demonstração técnica? Agora faz mais sentido, não acha?
Considerações finais
Drag x Drive parece se encaixar muito bem nestas obras que funcionam como apresentação de um conceito novo dentro de uma nova plataforma, mas que não parecem perfurar ao longo do tempo. Talvez a comparação que mais possa fazer sentido com o jogo, seja Arms, lançado em 2017, junto a janela inicial de novos títulos para o Nintendo Switch.
Arms também foi um jogo criticado na época por ser curto e soava como uma demonstração do que os joy-cons podiam realizar na época, mas era um jogo que esbanjava personalidade, com diferentes personagens, dentro de um gênero (luta) que tem uma cauda mais curta mesmo. O título acabou vingando, funcionando, ainda que tenha caído no esquecimento ao longo dos últimos anos. Parece um mundo que a qualquer momento a Nintendo pode resolver expandir e trazer de volta. Algo que não vejo acontecer com Drag x Drive.

Fico com a impressão de que a situação aqui é um pouco diferente, no sentido de que falta aquela personalidade única da Nintendo. Como aconteceu com Splatoon, por exemplo, que no começo sofreu com críticas que diziam que somente um jogo de multiplayer online era insuficiente para um pacote completo, mas no fim não só vingou, como três jogos foram lançados.
Acredito que para Drag x Drive expandir, os personagens precisariam ganhar mais personalidade, o mundo do jogo sair do parque com suas duas quadras. O contexto do universo até poderia ser interessante, mas o que é apresentado aqui não te diz isso com todas as letras. Isso vindo da Nintendo, que brilha com a criação mascotes e design de personagens. Só o jogo, só a ideia de personagens robôs em uma cadeira com rodas não parece suficiente para a crescente e imersão que poderia ser realizado.
Mas deixando de lado essa discussão sobre mundo e apresentação do mesmo, a jogabilidade do título também tem seus inconvenientes. Encontrar uma boa posição, a melhor superfície, é um desafio, que pode incomodar muitos jogadores. Além disso, me incomodaria friccionar o joy-cons 2 com força e impacto em uma mesa, ou deixar uma criança fazer isso, e ficar com o receio de danificar os mesmos. Ao usar na coxa, esse impacto é significativamente reduzido.

Conceitualmente, Drag x Drive entrega mecânicas criativas e até mesmo inovadoras, porém é preciso refletir e pensar se apenas ser diferente é o suficiente para superar os controles tradicionais. E mesmo que fossem, será que ainda assim não seria mais democráticos oferecer ambos os tipos de controles? Estamos na era da acessibilidade, e hoje em dia, quanto mais opções melhor, não?
No aspecto online, posso dizer que o título funciona. As partidas são encontradas rapidamente, e rodam sem grandes lags ou engasgos. Não tive qualquer bug ou desconexão jogando. Contudo, houve algumas situações em que o jogo não encontrou 6 jogadores para finalizar uma equipe, e montou partidas de 2 contra 2. Não são ruins, mas me parece que o ritmo do jogo funciona melhor quando se consegue o 3 vs 3. Também significa que o título não preenche as partidas com bots (talvez devesse).

Ao fim, tudo leva a crer que é um jogo preso na obrigação de ter que demonstrar um novo meio de jogar em uma nova plataforma que trouxe tal tecnologia a sua disposição. Foi criado para demonstrar – olha aí de novo essa palavra – o modo mouse do Nintendo Switch 2. Só que ao fazer isso, esqueceu de outros elementos cruciais, seja em conteúdo, seja em acessibilidade, seja até mesmo em carisma. Pode divertir, mas não parece conseguir se manter assim por muito tempo. Que pena.
Galeria
Gameplay *via nosso canal no YouTube
Dando nota
Conceitualmente é interessante um jogo de basquete com cadeiras de rodas usando controles de mouse/movimento - 7.5
Jogabilidade com ambos os joy-cons 2 em modo mouse funciona, mas exige a busca pela posição e local adequado - 6.5
Não ser possível jogar usando os controles no modo convencional é uma contraditória barreira de acessibilidade - 5
Falta conteúdo no repertório, sem modo carreira, sem torneios, sem qualquer sistema de progressão e recompensa - 5
Parque é um espaço social bacana, bem idealizado para a experiência online - 7.5
Personagens sem carisma e personalização de baixo impacto, falta charme - 6.5
Online funciona muito bem, mas não segura o tranco de todo os deméritos - 7.8
6.5
Curto
Drag x Drive é uma experiência pequena demais, que demonstra um novo tipo de jogabilidade a qual o Nintendo Switch 2 é capaz de proporcionar, em Modo Mouse, contudo não consegue ir além de sua própria demonstração. Online é competente e funcional, mas é repetitivo e falta-lhe mais diversidade de modos, competições. Sem modo carreira, sem personalizações de alto impacto, sem muitas atividade paralelas ou senso de progressão, o jogo se atrapalha na hora de mostrar sua cauda de replay e motivações pela qual essa mesma experiência inédita possa se sustentar. Conceitualmente é bom, mas parece que faltou mais energia para que o resultado ficasse no ponto que se espera de um jogo desenvolvido pela própria Nintendo.


