Scott Pilgrim e Kick Ass: o que eles têm em comum? O preço salgado nas livrarias!

kick ass scott pilgrim

Tudo bem: em comum eles também têm que foram adaptados para o cinema… Mas, eu não ia perder a piada!

E também têm o fato de terem protagonistas meio esquisitões e carismáticos… bom, mas vamos parar por aí e falar do que importa: o preço nada amigável e nem um pouco convidativo.

Antes, uma “reflexão histórica”! Não é de hoje que os quadrinhos vão ficando mais caros: pra quem não sabe, quando os mangás chegaram ao Brasil, popularmente falando, pela Conrad, JBC e cia, custavam R$3,90 e R$2,50, respectivamente!!

Tudo bem que nossa moeda desvalorizou bastante e, há 10 anos atrás, R$0,50 da época equivalia a cerca de R$1,00 de hoje (em 1994 valia o,25!)… Mas, temos outros fatores: a primeira edição de Cavaleiros do Zodiaco e Dragon Ball tinham papel de beeem melhor qualidade, uma capa “meia durinha”, de um material meio com relevo, granulado, ou seja: bem mais resistente.

Lembro que, quando houve a mudança, lá pela edição 10 de CDZ por exemplo(não lembro bemm então perdoem se caso foi na edição 7 ou 12 etc.), eu entrei em contato com a Conrad e eles me informaram que a mudança tinha agradado a todos – menos a mim! Vixe!

Mas, aí, começou a busca louca pelo lucro e chegamos ao papel horroroso de hoje, o qual fica logo amarelado, bem fraquinho, difícil de conservar e colecionar. Alguns vão dizer: “ah, mas, no Japão mesmo, é ainda pior! Quase lista telefônica!”. E eu vou dizer de volta: é verdade, mas, é também barato (aquele grandão, com um monte de histórias, custa cerca de 400 ienes = R$7,90) e descartável. Barato porque temos que saber também quanto eles ganham de salário, proporcionalmente. Somente as edições de muito sucesso ganham formato de “luxo” (leia-se um papel melhor) e o japonês lá pode comprar de recordação, colecionar…

O que é o nosso caso: custando o que custa atualmente, a gente tem mesmo é que guardar! E haja plástico, embalagem, e fita, e num sei quê mais, para que as folhas não fiquem amarelas, não soltem e tudo mais.

Mas, o que tem isso a ver com Scott Pilgrim e Kick Ass?

scott

Nada e tudo ao mesmo tempo! É que no Brasil fica mais difícil a cada dia, colecionar alguma coisa e o acesso a este tipo de cultura fica ainda mais restrito.

Scott Pilgrim custa R$35,00, pela editora Companhia das Letras. A versão americana, sai a cerca de R$15,00, sem frete etc (os volumes separados – encardenado, como no Brasil, que reúne dois volumes em uma edição, sai a U$$10,95). Mas, como americano não vai pagar frete, porque pode comprar em qualquer lugar, fica fácil um adolescente tirar lá seu U$$8,63 e puf (!): ter mais um quadrinho em casa! Convertendo, pagando os direitos de distribuição, de imagem e todo o resto, acrescentando os custos e um lucro interessante, dava pra cobrar uns R$25,00, tranquilão, não dava? Afinal, embora esteja com filme chegando e tudo mais, a história do canadense Bryan Lee O’Malley, não é tão novinha assim: 2004. Não é lá tããão salgado afinal, mas, para a realidade da população em geral…

Agora, salgado mesmo, nível hipertensão é Kick Ass, publicado pela nossa amiga Panini. Só pode ser brincadeira… Tudo bem que tem capa dura, papel bonitão, com uma qualidade muito boa de impressão, cores, gramatura, etc. Mas, custar R$60,00 um encadernado das edições de 1 a 8 (completo)… não é aceitável (um eufemismo pra não xingar logo todo mundo!).

As primeiras edições americanas estão valendo muito no ebay e amazon– mas, isso é pra colecionar que quer a primeira edição de cada revisitinha separada… o encardenado, capa dura, bonitão, igual ao do Brasil, custa U$$16,95.

É impressionante a diferença! Um americano de renda média consegue comprar sem apelar para cartão de crédito, parcelamento, carnê, cheque pré datado… Afinal, é o equivalente a algumas promoções do Burguer King, por exemplo – que lé tem o Whooper a U$$2,99… Enfim.

A ideia é clara: o quadrinho está ficando cada vez mais adulto (entenda, caro), para dois tipos de adultos: os nostálgicos, que compram reedições de luxo e os que curtem conteúdo adulto mesmo (mais violento, graphic novel, essas coisas). E não sou eu quem está dizendo, são as estatísticas. Adolescente não quer saber mais de Marvel, DC etc… A coisa agora é Mangá! E internet, é claro.

Afinal, quantos adolescentes e crianças consomem quadrinhos americanos aqui no Brasil? Quantas convenções temos? E agora, compare com o universo pop japonês?

Não é nenhuma critica, de forma alguma: é um fato. Podia ser diferente, mas é uma questão que vai bem além dos preços: são décadas contando a mesma história – no que se refere ao comics (mas isso é uma discussão pro futuro e pra gente que sabe mais de comics do que eu aqui da equipe). Eu mesmo prefiro muito mais o universo japonês, que se renova, tem começo meio e fim, etc. Mas, isso é outra discussão.

kick ass

E assim, nós, pobres mortais, estudantes, récem formados e toda essa classe desprovida de uma renda boa, mensalmente, se mata para comprar os quadrinhos que “tem que” comprar (quem não se lembra de Watchmen a R$120,00?). E o mercado vai segmentando e procurando cada vez mais o público real do quadrinho americano: o pessoal acima dos 25 (pra não ser cruel). E tirando o máximo do papel tosco dos mangás de futuras páginas amareladas e soltas, a R$10,90 – porque, apesar de tudo, gostamos de colecionar (talvez esse seja o problema).

Mas, a Dakini tem algo a dizer, relevante em relação ao que pode ser feito com um pouco de boa vontade das editoras (boa vontade, leia-se necessidade, redução de custos e “ganhar na quantidade”):

@Dakini – E a situação das revistas nacionais de games? Sem querer entrar no mérito da questão de se estão morrendo ou não devido à internet, falo mesmo é do preço. A EDGE chegou no Brasil há pouco mais de um ano custando R$14,90 por edição, um preço inédito para qualquer revista do gênero no país e que deixou todo mundo se perguntando o porquê do valor superior.

Apesar disso, como é de costume por parte da Editora Europa, junto ao lançamento da revista veio a promoção de assinatura com cerca de 50% de desconto, o que certamente garantiu muitos leitores antes mesmo de a revista chegar às bancas. Eu inclusa. Um ano depois, chega a edição de aniversário aqui em casa e a primeira coisa que noto é a mudança no formato. Agora ela é somente grampeada e não tem mais aquela barrinha lateral onde ficava escrito “EDGE | nº da edição | mês da edição | assunto de capa | www.gameblog.com.br | símbolo da revista”. “Por que fizeram isso?”, me perguntei, e aí notei a estampinha na capa “agora por apenas 9,90”. “Ahhhhh, tudo faz sentido.”

E não foi só a EDGE que sofreu queda de preço, a NGamer, também da Europa, passou de 10,90 para 7,90 e também perdeu a barrinha lateral. Não duvido de que as outras publicações da editora também tenham seguido similar caminho, e aí fica a pergunta: o mercado nacional está mal das pernas a ponto de forçar uma queda de preço ou isso foi mera reformulação dos padrões da editora?

Pagar 14,90 em uma única edição, por mais que tenha 100 páginas, é abusivo sim, mas vinha funcionando seja devido aos ótimos descontos das assinaturas ou à qualidade da publicação, então, como alguém que ainda gosta muito de ler as coisas em mãos e de guardar todo esse material como coleção, fiquei um pouco preocupada com esse novo panorama e torço pra que não sirva de exemplo pras outras editoras.

E agora, voltando a mim, para concluir de vez: Assim, os lançamentos dessa forma de arte vão ficando cada vez mais distantes de algumas prateleiras e restritos (no que se refere ao quadrinhos) e tudo vai se adpatando aos novos meios e público.

A solução, vocês perguntam: “esse cara vem aqui só reclamar? Dá uma alternativa!”. Aí, eu digo de volta, pra encerrar bonito e otimista: é esperar sentado que o lançamento deixe de ser lançamento e se torne “velho”. Dessa forma, em alguma feira ou evento por aí, a gente consiga um descontão de uma grande loja… É o jeito pra quem curte colecionar, de verdade.

Scott Pilgrim: Companhia das Letras. Originalmente em seis volumes, aqui são três, cada um com dois volumes internamente. 368 páginas. Leia um trecho.
Kick Ass: Panini, Originalmente publicada em oito volumes. Aqui, saíram os oito de uma vez. 212 páginas.

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