Life is Strange: Before the Storm – Ep. 1: Despertar | De volta à Arcadia Bay! (Impressões)

Sucesso em 2015, o primeiro Life is Strange recebeu muitos elogios da crítica especializada e angariou uma comunidade fãs ao redor do globo. Em determinado ponto ficou claro que um novo game dentro do universo da série seria apenas questão de tempo.

O que não era esperado é que um spin-off nas mãos de um outro estúdio estaria nos planos da franquia. Assim surgiu Life is Strange: Before the Storm, um prequel do primeiro game, dividido em três episódios, desenvolvido pelo estúdio norte americano Deck Nine.

Vale lembrar que o game de 2015 foi desenvolvido pelo estúdio francês Dontnod Entertainment e atualmente já está confirmado que a mesma equipe do game original está trabalhando em Life is Strange 2, ainda sem previsão de lançamento.

A Deck Nine, fundada em 1997 com o nome de Idol Minds, parece ter se envolvido como parceira da Dontnod em conjunto com a publisher da franquia, a Square Enix, justamente para saciar essa fome dos fãs de mais games do universo da série, enquanto Life is Strange 2 segue em um processo de desenvolvimento na qual não precisa ter pressa para ser lançado.

Estratégia inteligente por sinal, assim a franquia não perde relevância temporal – quanto mais tempo leva para novas sequências serem lançadas, maiores são as chances das pessoas ficarem desinteressadas pelas mesmas; a gente meio que cansa de ficar esperando, essa é a verdade – e continua angariando fãs e tendo importância tanto dentro da indústria quanto para a empresa que distribui os games que precisa de um retorno para manter a parceria de negócios. No fim, todo mundo ganha.

Claro que existe um risco nesse tipo de situação: a Deck Nine tem em mãos a missão de manter o padrão de qualidade que a Dontnod obteve com o primeiro game, caso contrário isso acaba colocando em cheque a possibilidade de novos spin-offs pelo estúdio e compromete esse prazo esticado de desenvolvimento que a Dontnod precisa para continuar trabalhando na série principal. Mas não se preocupe. Já lhe tranquilizo dizendo que Before the Storm é um ótimo spin-off.

De volta a Arcadia Bay, antes de tudo começar.

A história em Life is Strange: Before the Storm se passa três anos antes dos eventos do game original, tendo como foco a relação de Chloe Price e Rachel Amber. A ideia é mostrar essa fase da vida da Chloe e sua relação com Rachel. Como tudo isso mudou quem ela irá se tornar no ponto onde os jogadores a conheceram no jogo de 2015.

Alias para facilitar falar sobre os dois games, a partir daqui quando mencionar Life is Strange estou me referindo ao game da Dontnod e para me referir ao título da Deck Nine irei mencioná-lo apenas como Before the Storm. Combinado?

Preciso colocar um ponto em questão aqui: não cheguei a terminar Life is Strange. Cheguei a jogar o primeiro episódio na época em que o mesmo sequer ainda tinha localização em português. Fiquei animadão para continuar a série quando a localização chegou por uma atualização adicionando as legendas. Infelizmente minha lista de backlog acumulou, outros títulos surgiram e fui adiando e adiando e até então não consegui de fato continuar a história original. Lamento muito por isso.

Isso significa que não sei as respostas para certos enigmas e desfechos do jogo. O que felizmente não me gerou problemas ao jogar o primeiro episódio de Before the Storm. Muito pelo contrário, isso acabou atiçando a curiosidade para voltar ao Life is Strange. Enquanto escrevo estas impressões já estou na metade do segundo episódio (Fora do Tempo) e pretendo intercalar essa experiência do game original com os novos episódios de Before the Storm. Pretendo relatar mais sobre essa experiência nas próximas impressões de ambos os títulos.

Em todo caso, acho válido não chegar totalmente em branco para jogar Before the Storm. Recomendo muito que qualquer um interessado na franquia jogue pelo menos o primeiro episódio de Life is Strange, que pode ser baixado totalmente de graça no Xbox One, PlayStation 4 e Steam. Não custa nada ter o mínimo de contexto sobre certos personagens (Nathan, Chloe e David por exemplos) e o clima da história antes de partir para o prequel.

Saber, por exemplo, que Rachel Amber está desaparecida em Life is Strange faz com que a personagem tenha um peso maior em Before the Storm, fazendo com que o jogador entenda que ela é mais importante do que aparenta ser para aqueles que forem jogar o prequel sem saber nada da história três anos depois. Sendo assim faz muito sentido ter esse pequeno conhecimento, e o primeiro episódio de Life is Strange é o auto suficiente para isso.

Discussões e bate boca

Em Before the Storm o jogador assume o controle e a perspectiva da personagem Chloe Price, diferente de Life is Strange na qual a protagonista é Max Caufield, amiga de infância de Chloe, que passa a ter estranhos poderes de voltar no tempo em meio a uma premonição sobre um desastre que atingirá a cidade em 5 dias. Isso tem importância porque significa que aqui não há mais as habilidades de retroceder no tempo para mudar decisões e respostas dentro da narrativa que se molda conforme o jogador toma tais decisões.

Isso faz com que o jogador seja mais cauteloso no que vai responder aos personagens. Não dá mais para mudar a resposta e corrigir atitudes. Há um peso muito maior em como agir e achei isso um ponto interessante para uma experiência mais imersiva dentro da história. Percebo isso agora enquanto jogo o segundo episódio de Life is Strange, pois me pego toda hora rebobinando conversas só para saber todas as linhas de diálogos dos personagens antes de me decidir o que responder. Não ter essa capacidade dá outro tom a essa responsabilidade de conduzir a trama. Gostei muito disso em Before the Storm.

Para que Before the Storm tenha um diferencial em comparação com a habilidade de Max em Life is Strange de rebobinar o tempo a Deck Nine criou uma espécie de skill social para Chloe – que mesmo que não tenha nada de sobrenatural ainda é bem legal – chamado Bate Boca na qual Chloe pode opta por entrar em uma discussão contra alguns personagens onde ela terá alguns segundos para dar algumas respostas inteligentes e assim vencer o debate. É preciso acertar algumas vezes antes de obter êxito na investida.

Não é uma mecânica muito complexa e nem difícil do jogador fracassar. Em todos os bate bocas que entrei no primeiro episódio não perdi nenhum, ainda que tenha rolado uma ou outra situação em que quase fracassei em dar uma boa resposta. O fato de que é preciso ter atenção no que a contra parte está respondendo a Chloe e ter pouquíssimos segundos para decidir qual a melhor resposta cria uma certa tensão de momento. No geral não é difícil saber quais são as boas respostas e a localização em nosso idioma parece funcionar com a ideia de que o jogador deve se atentar as palavras chaves da discussão.

No que diz respeito as demais mecânicas Before the Storm não apresenta nenhuma outra novidade. Trata-se de um game narrativo, então o jogador vai falar com personagens, escolher respostas e tomar pequenas decisões que irão influenciar a forma como a trama vai escalonar. Explorar ambientes para encontrar conhecimento para engatar novos diálogos e respostas também é importante aqui.

Alias é essa exploração meio livre que gosto bastante e que sinto falta em outros games do gênero narrativo, como os títulos da Telltale Games que prendem demais o jogador em cenas animadas sem deixá-lo livre para explorar os ambientes. Nos jogos de Life is Strange o jogador também tem cutscenes, mas elas são intercaladas com essa exploração de ambiente em ambiente na qual colhe-se informações para engatar conversas e avançar na história.

Os colecionáveis também retornam aqui, como uma forma de incentivar o jogador a explorar todos os detalhes dos cenários. Se em Life is Strange os colecionáveis eram as fotos que Max podia tirar, aqui Chloe pode grafitar certos lugares, com o diferencial de que o jogador pode escolher dentro de duas opções o que irá estampar o grafite. Há momentos em que são desenhos, em outros são frases.

Adolescência conturbada

Como se trata de um game de narrativa moldada pelo jogador acaba sendo impossível não mencionar o principal ponto desse gênero de jogo: a trama. Nisso Before the Storm acerta em cheio, não deixando a desejar em nada ao compará-lo com o primeiro episódio de Life is Strange – seria injusto compara-lo com a trama por inteiro, ao menos enquanto a história em 3 capítulos não for concluída.

Usando esse medida de comparação de primeiros capítulos, ouso dizer que o início de Before the Storm é tão bom quanto o de Life is Strange. Claro que este novo título tem a vantagem de acontecer em um universo já conhecido por parte de seu público o que lhe garante alguns pontos extras de carisma.

Eu sinceramente gostei de conhecer melhor a Chloe de 16 anos, antes dela “azular” o cabelo. A personagem passa por uma fase muito difícil, ainda sofrendo pela perda do pai que faleceu e vendo a mãe começar um relacionamento com uma sujeito realmente estranho. É um tema que nunca sai de moda, pais separados ou na qual um deles morre e o filho precisa aprender a lidar em um ambiente com novas regras, novos adultos e tem sua vida virada de pernas pro ar. A rebeldia da Chloe é de uma certa forma… compreensível. Não que esteja dizendo que ela está 100% correta em suas atitudes (mas quando o game me permitiu decidir por ela, tentei ser uma Chloe boazinha e boa praça).

É muito legal retornar a alguns dos ambientes já visitados em Life is Strange, como a própria casa da Chloe em que Max explora no primeiro episódio de sua história. Ver as sutis mudanças e até mesmo o quanto da amiga existe nas lembranças pela casa. E a Max dessa época é meio que uma babaquinha se for pensar pelo lado da Chloe, tipo é realmente uma atitude bem escrota se afastar intencionalmente da amiga de infância apenas por estar morando em outra cidade.

O jogador irá encontrar diversos personagens que também possuem uma presença importante no jogo anterior, mas agora acabamos conhecendo um pouco do passado de cada um. Algumas dessas pessoas eram bem diferentes, enquanto outras mudaram apenas de forma sutil.

Há também alguns personagens que pra mim são desconhecidos. Não posso afirmar que são novos, pois dependo de terminar o primeiro game para ter a certeza. Achei interessante alguns, como o Frank e a duplinha de nerds que estão jogando RPG de mesa no campo do colégio e que é permitido participar em um trechinho da aventura que ali está acontecendo. Foi bem divertido e uma grande ideia dos desenvolvedores esse pequeno momento de diversão dentro da trama. Não parece acrescentar em nada na história, mas foi divertido ver Chloe participante com eles de uma partida de RPG.

Em um aspecto geral achei bem interessante esse capítulo inicial de Before the Storm. Rachel Amber é um enigma até boa parte do episódio, mas ao fim o jogador passa a entender um pouco o que está acontecendo com a jovem, que busca um pouco de aventura por meio do mundo da Chloe. Não achei que o drama de Rachel tão intenso quanto o de Chloe, mas tendo como base a idade das personagens o que as incomoda é válido para dar razão as suas atitudes.

E talvez o jogador chegue ao final do capítulo com uma sensação de que Before the Storm ainda precise de algo em sua trama, mas aí o game acaba e dá aquele clique que alguns estavam aguardando que te faz querer ir direto para o segundo capítulo. Aí sim!

Considerações finais

Life is Strange: Before the Storm é um ótimo retorno ao que já se tornou uma das mais adoráveis franquias dessa geração. Apesar de estar sendo desenvolvido por um outro estúdio que não a Dontnod, o título mantém toda a essência do primeiro game. O charme com os personagens, um bom enredo que trabalha bem com temos da adolescência – alguns destes bem intensos – e funciona mecanicamente mesmo que não utilize os recursos de rebobinar decisões, que existia no game original, sendo o sistema de bate boca talvez não tão bom quanto, mas uma ótima adição a jogabilidade do título.

Fazendo em paralelo esse retorno ao primeiro Life is Strange, já que iniciei seu segundo episódio, me deu uma sensação de que dá para sentir que é um jogo de 2015, que Before the Storm apresenta um melhor ritmo, mais dinâmico e melhor encaixado com uma interação que não faz o jogador ficar cansado de explorar. Também ficou, de uma certa forma, mais agradável ver que as decisões aqui não possuem segundas chances, o que dá mais impacto e importância antes de sair arriscando uma resposta.

Li algumas críticas internacionais discutindo algumas das mudanças no design gráfico do game, onde o estilo do primeiro game perdeu um pouco de foco para gráficos um pouco mais reais. Não sei explicar direito, admito. Percebo que mudou um pouquinho, mas não achei a mudança impactante a ponto de me incomodar. E nesse retorno que estou fazendo ao primeiro game percebo que os personagens em 2015 gesticulam de forma bem precária em comparação aos modelos de Before the Storm. Até me impressionei com essa pequena evolução.

Ao fim não dá para ter certeza se a trama em três capítulos irá causar um impacto tão grande aos jogadores como o primeiro Life is Strange causou na comunidade que o adorou. O segundo capítulo (Admirável Mundo Novo) foi lançado há alguns dias antes da publicação destas impressões e em breve irei retornar aqui para tratar a seu respeito. Uma coisa é certa: quem gostou do game anterior, de seu universo e personagens, não tem motivos para não gostar de Before the Storm. E quem nunca jogou Life is Strange tem uma interessante porta de entrada, sem medo de pegar algo na qual não vai ter carisma ou entender de forma apropriada. Pensando assim, talvez Before the Storm seja realmente uma excelente ideia para angariar novos fãs antes de Life is Strange 2 ser lançado.

Episódio 1: Despertar

Episódio 2: Admirável Mundo Novo

Começo promissor para uma trama prequel
Sem rebobinar, descisões possuem mais impacto
Serve como porta de entrada para a franquia
Bate boca é uma ótima adição à jogabilidade
Conto de rebeldia adolescente tratados com maturidade
Trilha sonora continua incrível

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